Africa

Viagem ao Marrocos

Viagem ao Marrocos

Viajar é viver duas vezes! ”

Ibn Battuta, viajante marroquino.

       A decisão de fazer esta excursão, tem uma história. Num certo momento, minha amiga Marialva Golin, como eu também, professora aposentada na Universidade Federal de Santa Catarina, comunicou-me: Anita, o rei de Marrocos tem um programa de incentivo ao turismo. Haverá um voo fretado para 200 brasileiros. Se você quiser participar, teremos que fazer rapidamente a inscrição. E assim, foi que, sem esperar, sem conhecer quase nada sobre este pais da África, fiz a inscrição.

       Minha primeira ação foi pesquisar algo sobre a história e a geografia de Marrocos. À medida que eu ia me informando, fui descobrindo, por exemplo, que essa região do Magrebe é parte de um país ocidental, mas com tradições orientais, milenares; que seu povo berbere islamizado, participou da invasão da península ibérica, onde permaneceu por 800 anos e lá deixou como herança, magníficos exemplos de sua arquitetura; que no século XIX, durante a expansão do colonialismo europeu, esta região foi submetida à França e que , como consequência , Marrocos herdou, deste domínio de 46 anos, a língua francesa, hoje falada pelos marroquinos.

       Em Marrocos se falam o francês e o berbere, além do árabe. Após essas rápidas informações, vamos iniciar o relato desta viagem, que para mim se transformou, em algo inesquecível.

Eu e as Viagens

       É minha prática, ao viajar, transformar a viagem numa imersão cultural. Conhecer parte da história do lugar, sua geografia e o caldo das culturas dos povos que aí viveram e vivem, bem como admirar paisagens, encontros, conhecimentos novos, sabores, natureza, emoções. Tudo isto, para mim, é parte fundamental desta imersão. Excursões me acrescentam algo mais consistente do que aquilo que se adquire ao olhar, com olhos de turista, lugares desconhecidos.

       A viagem tem sempre três fases distintas: planejamento, viagem propriamente dita e os posteriores relatos sobre a mesma, quando o conhecimento adquirido, pode ser aprofundado através da pesquisa.

       Na primeira fase, além dos cuidados materiais e jurídicos necessários, são feitas leituras, com o intuito de construir um primeiro conhecimento sobre o país a visitar. O que posso hoje dizer sobre Marrocos? É um país muçulmano da linha Sunita, mas não é um país árabe. Fisicamente situado na região noroeste da África é banhado pelo oceano Atlântico e pelo mar Mediterrâneo e está separado da Europa pelo estreito de Gibraltar. Seu território é, em parte, plano e, em parte, cortado por altas cordilheiras. Seu clima é, de modo geral, menos quente e seco que o dos países vizinhos. As montanhas têm um importante papel na vida econômica do país, pois são as principais geradoras de água para irrigação das planícies. Nas montanhas nascem os grandes rios permanentes que correm para o Atlântico.

Como se pode ver no mapa, há uma grande planície que margeia o Oceano Atlântico a leste e também, o Mar Mediterrâneo ao norte, neste território habitado, historicamente, por autóctones denominados berberes, nome este que lhe foi atribuído pela civilização greco-romana por serem estrangeiros a esta civilização. No entanto, a si próprios, eles os berberes, se chamavam Imazighen, ou seja, “homens livres”.

       Atualmente, a língua berbere está em processo de valorização:

“A língua berbere está sendo hoje valorizada nos países do norte da África. Como acontece com todas as culturas que foram desvalorizadas e correm o risco de ser esquecidas, em 1996, uma reforma da Constituição argelina reconheceu a importância berbere para o país, ao lado do árabe e do islamismo. Paralelamente, as autoridades lançam um Alto Comissariado para o Amazigh (língua berbere). No ano 2000, a partir de Paris, entrou no ar a Televisão Berbere. Em 17 de outubro de 2001 o rei Mohammed VI de Marrocos criou o Instituto Real da Cultura Amazigh (IRCAM) para promover a cultura berbere”.

Alguns dados Históricos sobre Marrocos

       A história de Marrocos, uma região de grande riqueza agrícola e mineral, foi o ponto de chegada e de conquista de diversos povos estrangeiros e de diferentes impérios. Vemos a chegada dos primeiros colonizadores às terras dos berberes, em mil anos A.C. A partir do século XI A.C. os fenícios, originários da terra de Canaã, instalam seus primeiros estabelecimentos na costa de Marrocos.

       Acima um mapa, onde são demonstradas as colônias fenício púnicas e também as colônias gregas no século IV AC. Neste século aparece, no norte de Marrocos, a primeira organização política do país, como resultado da federação de diferentes tribos berberes impregnadas dos valores fenício-púnicos de estado unitário. Trata-se do reino da Mauritânia, uma organização centralizada em torno do rei, que detinha todo o poder. As cidades eram administradas por magistrados chamados sufetes, inspirados do modelo cartaginês.

       No processo de expansão do Império, os romanos chegaram a Marrocos, por volta do século II A.C., após a destruição de Cartago, aliando-se ao rei da Mauritânia. A Mauritânia tornou-se então um reino vassalo, um “estado-cliente” que, apesar de depender muito de Roma e participar em todas as lutas internas do Império, continua a ser de fato, independente. A partir do terceiro século e no processo de enfraquecimento, o Império Romano do Ocidente recuou e cai em 476 DC. A ruína do Império Romano do Ocidente não implicou na desestabilização do Império Romano do Oriente, que, desde os primeiros sinais de decadência ocidental, historicamente passou a se chamar de Império Bizantino ou Reinado Bizantino, que tinha autonomia sobre quase toda a costa mediterrânea.

A Marrocos chegam os árabes

       No processo de expansão do Islã, os árabes, provenientes da península arábica, chegam ao norte da África, no Magrebe, em 649 D.C. Enfrentando uma feroz resistência berbere, somente com a quinta campanha (681D.C), é que entram em Marrocos.

       Os berberes, habitantes históricos do norte da África, tanto os da montanha quanto o das planícies marroquinas e argelinas, ofereceram dupla resistência: aos árabes e também resistência ao Império Bizantino. E para adiantar alguns dados, sabemos que o chamado Império Bizantino nada mais é que o Império Romano do Oriente, que foi conquistado, mais tarde, em 1453 pelos turcos Otomanos, com a tomada de Constantinopla .

Mas voltando à história:

Em 708 D.C, a antiga Mauritânia é maciçamente convertida ao Islão. Esta conversão, que afetava as populações que nunca haviam sido cristianizadas, em nenhum momento, foi contestada pelos berberes. A região conheceu depois revoltas anti-árabes, mas, o interessante é que as revoltas, nunca foram antimuçulmanas. Rapidamente, os muçulmanos usam a capacidade guerreira dos novos convertidos: a Espanha visigótica é conquistada em três anos, as tropas árabes e berberes chegam a Navarra na Espanha em 715 D.C.

       Em 1415, a Espanha empreende a conquista de Ceuta e, no século seguinte, a maior parte do litoral marroquino estava nas mãos de portugueses e espanhóis. Ceuta continua sob soberania espanhola até hoje.

No início do século XX, os nacionalismos europeus dividem entre si, o território da África:

“Em 1904, na Conferência de Algeciras, a Inglaterra concedeu à França o domínio de Marrocos, cujo sultão tinha contraído uma grande dívida com aquele país da Europa. Em troca, a França concordou que o Reino Unido governasse o Egito. Em 1859, a Espanha anexara Marrocos, anexação essa que terminaria quando o sultão marroquino Moulay Abd al-Hafid aceitou em 1912 o estatuto de protetorado francês.

       Em 1912, os conflitos de interesses entre Espanha e França continuam na região. O Tratado de Fez, estabelece, então, um Marrocos Francês (capital Rabat) e outro Marrocos Espanhol, minando a soberania de Marrocos.

O Sultão Mohammed V, retoma Marrocos

       No fim da Segunda Guerra Mundial, de acordo com a Carta do Atlântico assinada em 1941 por Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt, as forças vivas de Marrocos exigiram o regresso do sultão Mohammed V e, em 1955, a França, que já se encontrava a braços com insurreição na Argélia, concordou com a independência da sua colônia, que foi celebrada dia 2 de março de 1956. Em agosto de 1957, transformou Marrocos em um reino, passando a usar o título de rei.

Até aqui alguns dados sobre a milenar história de Marrocos.

Marrocos Hoje

       Marrocos é um país muçulmano, mas não é um país árabe! Tem uma forte identidade cultural e cultiva suas tradições. Além de riquezas minerais, possui uma fértil agricultura em campos irrigados por todo o interior do país. O turismo, tem um grande potencial e nele 40.000 pessoas trabalham. Banhado em toda a região leste pelo Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo no Norte, o país é rico em pesca, da qual possui inúmeras indústrias. Suas terras ocultam 75% das reservas mundiais de fosfato sendo o maior exportador deste precioso produto.

       Hoje, Marrocos é um Estado unitário, uma Monarquia constitucional, e o sistema de governo é o Parlamentarismo. Sua capital é a cidade de Rabat, a moeda é o Dihram marroquino e seu rei é Mohamed VI.

       Marrocos é uma nação de árabes e berberes. Atualmente ainda existem muitos descendentes do povo berbere, considerado como o mais antigo em território marroquino, mas os árabes marroquinos são quase dois terços da população de Marrocos. Por isso, muitos marroquinos dizem ser descendentes de árabes e berberes. Atualmente 99% dos marroquinos são berberes muçulmanos”. (MARROCOS.COM).

       Após estas notas históricas sobre Marrocos hoje, nossa viagem começa.

Viagem a Marrocos

20 a 30 de novembro de 2013

       No dia 20 de novembro de 2013, Marialva e eu, após rápido planejamento, partimos de Florianópolis para São Paulo, num avião da TAM. Nosso objetivo era participar, acompanhadas de outros 200 turistas brasileiros, de uma excursão, que foi organizada por empresa de Portugal, em voo fretado, atendendo a uma política de implementação do turismo pelo Rei de Marrocos.

       Chegamos a São Paulo na véspera da viagem e fomos, em uma VAN para o hotel IBIS, já reservado. Descansamos à tarde no hotel, pois à meia-noite iriamos partir para o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, pois o voo partiria às 6 h. No hotel, durante o jantar, conversamos com um simpático casal de gaúchos que havia trabalhado nove anos na Inglaterra e estava voltando para o Rio Grande do Sul. No início da noite, acertamos as contas no hotel.

       Nossa política é: “boas contas, bons amigos”. Esta frase eu a ouvi de minha amiga Tamara Benakouche, colega do departamento de Ciências Sociais da UFSC e companheira da viagem para o Equador. Achei esta máxima de grande sabedoria e como tal, coloquei-a logo em prática! Fizemos então as contas do dia 20: táxi em Florianópolis R$30,00. Almoço R$26,00. Janta R$17,00. Hotel R$178,00. No hotel, tentei usar a internet, mas não foi possível. De outro lado, percebi que, para usar meu tablet, recém-comprado para esta viagem, eu precisaria ainda de muito aprendizado.

Dia 21 de novembro de 2013 – quinta feira

       Saímos do hotel, à meia hora da manhã, pois teríamos que chegar com antecedência de 3 horas para o voo da Royal Maroc Airlanes. Às 3 horas fizemos o check in, encabeçando uma fila de 200 pessoas. Após, tomamos um café e entramos no free shopping. Nesta altura, após idas e vindas pelo aeroporto, os pés estão pedindo um pouco de descanso.

Esperando no salão do aeroporto, conseguimos, ao lado de dois simpáticos jovens, Thais, psicóloga, e Moisés, empresário, em viagem para o México, encontrar um bom lugar para descansar um pouco. Com muita simpatia conversamos durante um bom espaço de tempo com eles, quando nos falaram de um mecanismo para a moderna comunicação, na internet, chamado “WhatsApp”. E esta foi a primeira vez, que eu ouvi falar deste moderno meio de comunicação. Agradeci a informação. Em seguida, fizemos uma foto para marcar este agradável encontro. No saguão falamos, também, com Ademar, médico e com sua mulher, fazendeira, que também viajaram conosco.

       Ao adentrar o avião, logo percebi que todas as aeromoças falavam francês. Fiquei contente, pois adoro a língua francesa desde quando comecei a estudá-la e nunca, a partir daí, deixei de me interessar pelo francês. Ao mesmo tempo, surge uma pergunta: por que falavam francês se vamos para Marrocos? Logo nos demos conta de que os quarenta e seis anos em que Marrocos foi transformado num protetorado francês, deixaram esta consequência.

       Procurando a nossa poltrona, tivemos uma grata surpresa: por muita sorte, no nosso bilhete marcava uma poltrona na classe executiva, um local mais amplo, que fica logo depois das poltronas da 1ª classe. Com sentimento de gratidão, me acomodei. Ao meu lado, está Iner, uma paulistana que fala francês, pois foi secretária-executiva de uma empresa francesa.

       Nosso voo decolou às 6h30, num céu nublado, quando o sol se esforçava para aparecer e nos brindar com seus primeiros raios, vencendo a resistência das nuvens e da neblina, daquela manhã em São Paulo. Durante grande parte da viagem, pude acompanhar, no mapa, o voo da Royal Maroc Airlanes. Interessante a sensação de voar sobre o oceano Atlântico, rumo a Marrocos, um país, cuja geografia, história e cultura, eu conheceria, em breve.

       Sobrevoando a região, vê-se a Cordilheira do Atlas, que se estende por 2400 km através de Marrocos, Argélia e Tunísia. É composta de três outras: Anti-Atlas (3304 m); Atlas Médio (3356 m); Alto Atlas (4167 m) coberto com as neves eternas. A cordilheira abriga diversos povoados de tribos berberes. Lá está também o estreito de Gibraltar fazendo a fronteira entre Marrocos e a Península Ibérica.

       Pelas 9h, tomamos um ótimo café com sucos, croissant etc., trazido pelas aeromoças. As francesas se aproximam e falam conosco, de forma simples e descontraída, após o trabalho de servir os viajantes. Esta simpatia, das aeromoças, agrada muito.

       Tanto Iner quanto eu, tínhamos feito leituras sobre Marrocos e conversamos, com outros turistas, sobre os dados que conhecíamos. Nesta conversa, logo no início, a primeira descontração, dividida com Marialva e vizinhas de poltrona. Iner nos alerta sobre um dado da cultura marroquina, que era o seguinte: se uma mulher estrangeira encarar um marroquino, isto já representa um convite. E nós nos perguntamos, após abaixar a cabeça e cobrir os olhos com as mãos: e como falar com eles sem olhá-los? rs rs. Sem nos darmos conta da passagem das horas devido à conversa que está muito boa, já estamos recebendo o almoço que, por sinal, estava especial. A ótima comida, tipo aquela da saudosa Varig, feita e apresentada com muito gosto: peixe, arroz, salada, lentilha, vinho de Marroc, sobremesa, pão, manteiga, café.

       Pelas 13h30 começamos a sobrevoar o Saara. As nuvens eram abundantes e lá está uma paisagem não familiar. Montanhas de areia num deserto sem fim. Ao sobrevoar o continente africano, senti-me impactada pela grandeza e a imensidão do deserto de Saara. Perceber as formações do deserto neste lugar tão inóspito e ver suas montanhas de areia movediça foi emocionante e mesmo, inesquecível. É muita interessante, observar uma paisagem jamais vista na realidade! O que me vem à mente e ao coração, é somente viver este presente num grande agradecimento! Entendo a palavra “presente” nos dois sentidos: como momento verdadeiro, único e fugaz e, também, como uma dádiva, recebida com gratidão.

       Muitos colegas não param em suas poltronas, levantam e vão conversar com outros colegas de excursão. É o que acontece comigo que também gosto de sair para conversar e trocar ideias, pois aprecio esses momentos que me enriquecem sempre mais. Numa dessas saídas de minha poltrona, aprendi com uma guia que tinha organizado um texto para os turistas de São Paulo, com algumas palavras em árabe.

Sim = naam;

Não = lá;

Obrigada = shukran;

Ok = muwáfiq;

Por favor = min fadlik;

Até logo = ilál-liqá ou beslama;

Bom dia = sabáhal-jir ;

Perdão = ismahi

       Algumas dessas palavras foram usadas por mim, muitas vezes. Quando eu precisava dizer não, eu dizia em árabe, fazendo com o indicador o sinal de negatividade: la…la…la…E sempre que eu agradecia, usava a palavra árabe: shukran. Mais tarde, o guia também começava sempre suas comunicações com uma saudação ou cumprimento em árabe, a qual nós respondíamos, sentindo-nos bem com esta atitude, pois estávamos numa terra estranha e demonstrávamos, assim, que apreciávamos seu povo e sua língua. 

A viagem continua. No avião não há turbulência! Os minutos se sucedem e eu acompanho o que aparece no mapa à minha frente.

Com emoção, vejo uma paisagem só encontrada no mapa: lá, ao vivo, na costa do Oceano Atlântico, na região de Magrebe, aparecem as cidades que visitaremos: Casablanca, Rabat , a capital, Fez, Essaouira, Marraquexe, Meknes etc.

O avião está se aproximando do solo e eu admiro num lindo espetáculo, o grande espaço dedicado à agricultura, com a terra preta, limitada em grandes retângulos e quadrados, já preparada para o plantio. É uma paisagem bonita de se ver, que nos fala de planejamento, cultura, dedicação e também, possibilidades do solo. Na verdade, esta imensa planície agrícola, num país, que também tem sua parte sul como deserto, convida a este aproveitamento e organização do solo. Vejo agora que Marrocos é um grande produtor agrícola.

       Após 8 horas de tranquilo voo, num pouso suave, acompanhado pelas palmas dos viajantes, expressando a alegria da feliz chegada, tocamos o chão do aeroporto de Casablanca, às 16h35, hora local. No nosso relógio, hora do Brasil, eram 14h35, portanto o fuso horário tem duas horas de diferença. Após esperarmos por nossas malas, já no lado de fora, o primeiro encontro com uma nova cultura: um casal com trajes típicos, a mulher de burca e o homem de gelaba, me chamam a atenção. Na verdade, há uma grande quantidade de outros turistas, cada qual ostentando as vestimentas de suas regiões e de sua cultura.

       Estávamos na África e precisamos da moeda local: dihrams marroquinos. Fomos fazer o câmbio e vimos que 1 dólar valia 8 dihrams marroquinos. Saindo do aeroporto, nos esperavam diversos ônibus. Após uma desorganização inicial, quando havia muito serviço e pouca gente para atender 200 turistas brasileiros, fomos alocados nos ônibus, que eram identificados pelos números 1, 2, 3 e 4. Daqui para frente, nosso ônibus será o de número 4. O respectivo guia nos vai acompanhar em todos os city tours e passeios opcionais desta excursão. Percorrendo a cidade rumo ao hotel, percebemos, em muitos lugares, a foto do rei Mohamed VI.

       Chegamos ao Hotel Golden Tulip. Após um ótimo jantar e de ter saboreado delicados doces à francesa como sobremesa, tentamos, Marialva e eu, ligar a Internet. Não foi possível. Paciência! Estávamos muito cansadas e fomos descansar. É a primeira noite em Casablanca, cidade cujo nome soa bem aos nossos ouvidos, pois o nome já era conhecido, por causa do célebre filme.

“Casablanca é o nome de um filme norte-americano de 1942 dirigido por Michael Curtiz. O filme conta um drama romântico na cidade marroquina de Casablanca sob o controle da França de Vichy. A França de Vichy foi o Estado francês dos anos 1940-1944, que era um governo fantoche da influência nazista, opondo-se às Forças Livres Francesas, baseadas inicialmente em Londres e depois em Argel”.

       Casablanca, a maior cidade de Marrocos, na Costa Atlântica do país, e uma das maiores do Norte de África , tem cerca de 5,5 milhões de habitantes.

       Com a ocupação dos mercadores espanhóis, esta cidade, que já teve diversos nomes, entre estes, o nome árabe de ad-Dar-al-Bayda, cuja tradução é Casa Branca, em português, passa a ser conhecida como Casablanca, espanhola. Foi ocupada em 1907 pelos franceses que promoveram o seu desenvolvimento. Durante a Segunda Guerra Mundial, em janeiro de 1943, Casablanca foi o palco de uma conferência entre o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill.

Dia 22 de novembro de 2013 – sexta feira

         Às 7h30, iniciamos este dia, com um café, muito bem servido: doces especiais à “La francesa”.

       Olhei a paisagem interna e externa do hotel e estava muito interessante e bonita. Às 9h25, estávamos tomando o nosso ônibus, de número 4, num trânsito engarrafado, neste dia frio e nublado. Nosso guia Anis se apresenta e, ao longo do primeiro city tour, nos dá as primeiras explicações: em Casablanca há 3 milhões de veículos e o porto marítimo desta grande cidade representa 88% de todos os portos de Marrocos, que são em número de oito. O comércio aqui foi sempre muito forte! Marrocos sempre teve e tem muito o que exportar! Hoje a cidade apresenta aspectos interessantes de seu recente passado francês.

        Anis fala sobre a história desta cidade: relembra que, em 1755, houve o grande terremoto de Lisboa cuja intensidade foi tal, que a cidade de Casablanca foi destruída. Em 1768, um sultão a reconstruiu. Ficou como protetorado francês durante 46 anos, entre 1912 e 1957. Os franceses aqui construíram praças, ruas, jardins e cidades e deixaram para este povo a língua francesa, falada, hoje, por quase todos aqui, como uma segunda língua.

       No tour de reconhecimento da cidade, o guia Anis nos mostra a Praça das Nações que antes se chamava Praça da França. É interessante perceber que, no momento da transferência de comando da França para o reino de Marrocos, os bairros, as praças, as ruas mudam de nome. Ouvi muitas vezes esta frase: “isto se chamava… e agora se chama…” Aqui os franceses construíram, também, o bairro Francês. Os nomes das ruas eram: Paris, Bordeaux, Marseille.

O fim da presença Portuguesa em Marrocos

       Anis comenta, também, que, na história milenar de Marrocos, houve, muitas vezes, a presença portuguesa. Ele nos dá informações sobre algumas cidades portuguesas, como por ex. a atual cidade de “El Jadida”, antigo sítio de “Mazagan” ou “Mazagão”, que tem uma história interessante.

       Em 1769, a ocupação de Mazagão, então a última das fortificações portuguesas em Marrocos, chegou ao fim, após a assinatura de um Tratado de Paz, com o sultão Mohammed III, de Marrocos, que reinou de 1757 a 1790. As forças portuguesas abandonaram a cidade pela Porta do Mar no dia 10 de março, deixando minada a entrada principal, que explodiu quando as forças marroquinas forçaram a entrada, o que provocou a destruição do chamado “Baluarte do Governador”. O abandono de Mazagão marcou o fim da presença portuguesa no Norte d’África. A povoação permaneceu desabitada por quase meio século, vindo a ser denominada de “al-Mahdouma”, que significa “as ruínas”.

       E aqui uma interessante informação: o marquês de Pombal, ministro de José I de Portugal, decidiu que a população de Mazagão seria transferida para a Amazônia, no Brasil, outra região sob controle português que necessitava de garantia de soberania. Desse modo, foi fundada a vila de Nova Mazagão, atualmente apenas Mazagão, no atual estado brasileiro do Amapá.

       Em 1824, o sultão Abderrahman determinou ao paxá da região de Doukkala e Tamesna, Sidi Mohamed Ben Tayeb, que restaurasse a antiga povoação portuguesa, reerguendo as fortificações e construindo uma Mesquita.

        Durante o Protetorado Francês do Marrocos, a fortaleza foi restaurada segundo o traçado primitivo. As fortificações portuguesas de Mazagão foram inscritas na lista do Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2004. Do conjunto, destacam-se a antiga Igreja da Assunção e a antiga cisterna, em estilo manuelino. Em 2009 a Fortaleza de Mazagão foi classificada como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.

       Mazagão, considerada uma vila portuguesa em terras marroquinas, esteve sob o domínio da Coroa portuguesa desde 1486, embora os portugueses apenas nela se tenham instalado a partir de 1502, quando ergueram uma torre e algumas instalações de campanha. Aqui deixaram construções famosas, como por exemplo, a Cisterna Manuelina e a Fortaleza.

“A majestosa cisterna cativou Orson Welles, que em seu interior, filmou algumas sequências do seu filme “Othello” (1952). Do mesmo modo, cenas dos filmes “La Vuelta Del Marco Negro”, produzido por Francis Ford Coppola, e do filme “Harén”, de Arthur Joffé, também foram filmadas aqui”. Mazagão, após a sua destruição, em meados do século XVIII foi reconstruída vindo a ser denominada de “el Jadida”que quer dizer “a nova”.

       A primeira parada desse nosso city tour foi na antiga Praça da República, hoje chamada Mohamed VI, nome do atual rei que é o 19º rei da dinastia Alauita. Esta praça abriga os edifícios públicos, a maioria em Art decô. A atual dinastia Alauita reina em Marrocos desde 1666. Eles se consideram descendentes do profeta Maomé, através de seu filho Ali, e por esta razão, o nome desta dinastia é dos Alauitas. (Mohamed V, após a independência, reorganizou aqui, o reino de Marrocos).

Nesta praça, admirando a paisagem urbana, fizemos fotos. Ali havia muitos pombos. Havia também, como de costume, muitos vendedores.

       Continuando o city tour, passamos depois pela Rotunda, vimos a praça dos bancos. São diversos: o BMCE — banco marroquino do comércio exterior. CMH — É o primeiro banco do estado. O login deste banco é a figura de um cavalo. Continuando o City tour, estamos agora na Avenida Hassan II, nome do rei, pai do atual rei Mohamed VI. Percebi que, em quase todas as cidades, as ruas principais recebem os nomes dos reis marroquinos.

       No ônibus, nosso guia Anis, fala sobre religiões e sobre transferências de populações. Em Marrocos vivem em paz as três religiões monoteístas com seus respectivos locais de oração: cristãos, igreja católica; Judeus, Sinagogas; Muçulmanos , Mesquitas. O filho de muçulmano já nasce muçulmano e nesta religião não há batismo. Não é permitido, aos muçulmanos que troquem de religião, mas há tolerância quanto às outras religiões. Após a independência de Marrocos, houve um movimento de retorno de franceses e judeus a seus países de origem: os franceses foram para a França, e, em 1948, os judeus foram para Israel. Aqui em Casablanca sempre houve a presença de judeus em grande número e hoje, há somente 3.000 judeus.

“A grande maioria dos israelitas do norte da África era nativa da região. Descendentes de antiquíssimas e sucessivas ondas migratórias judaicas por todo o Mediterrâneo, como a de comerciantes israelitas, que lá chegaram junto com os mercadores fenícios no século IX A.C. Também descendentes de tribos berberes convertidas ao judaísmo e de refugiados que fugiram da Inquisição na Península Ibérica”.

       Ao fim deste relatório como anexo I, está um estudo sobre os judeus, de autoria da professora Sarah Sussman – Universidade de Stanford.

       São 11 horas e nosso ônibus está na Medina Nova, no Habbous, um bairro construído para os franceses. Aqui fizemos mais uma parada para conhecer uma igreja católica: a igreja de Nossa Senhora de Lurdes, dos padres franciscanos. Anis nos informa que, em 1959, a comunidade franciscana católica veio para Marrocos.

E aqui uma pergunta:

Por que a religião católica não se sustentou no norte da África?

“Segundo a perspectiva histórica convencional, a conquista islâmica do Norte de África pelo Califado Omíada entre 647 e 709 acabou de forma efetiva com o catolicismo na África, durante vários séculos. A teoria mais aceita é que a Igreja desse tempo, ainda não era sustentada numa tradição monástica e ainda sofria com a ressaca de heresias, entre as quais a donástica, e isso contribuiu para a extinção rápida da Igreja no atual Magrebe. Alguns historiadores realçam o contraste dessa situação com a do Egito, onde se considera que a forte tradição monástica copta que foi um fator determinante para a sobrevivência do cristianismo no país até depois do século XIV”.

       Para nós, foi muito interessante a visita a esta magnífica igreja onde o que mais nos impressionou foram seus muitos e belíssimos vitrais que iluminam todo o interior da igreja. Seria preciso ficar mais tempo diante de tão incrível obra de arte, vitrais estes desenhados por Gabriel Loire, que nasceu na França em 1904.

A construção desta igreja foi o último empreendimento francês que iniciou em 1953 e terminou em 1956, pouco depois de Marrocos conseguir sua independência. Quanto à devoção à Nossa Senhora, pelos muçulmanos, é muito interessante o que diz um arcebispo de Trento – Itália:

“Se há uma figura que pode representar a ‘mulher do encontro’ entre o Islã e o cristianismo, esta é Maria, a veneração que é cercada não só – é claro – pelos cristãos, mas também pelos seguidores do Profeta é prova positiva”.

       Aqui é um bairro onde está a nova classe média, nos diz o guia Anis. E mais: à época francesa, quando os franceses queriam separar-se dos muçulmanos, sempre criavam um bairro novo. É o que se pode ver em diversas cidades visitadas depois. A temperatura estava amena e nós continuamos o passeio.

       Às 11h25, nosso ônibus para e nós estamos diante de um magnífico palácio que antigamente era um tribunal do Paxá.

O guia nos diz que aqui , não há tribunais muçulmanos, pois temos o código napoleônico. Aqui não existe a “charia”= olho por olho. Os antigos tribunais, de modo geral, se transformaram em palácios.

“Mahkamat al-Pasha é um edifício administrativo construído entre 1941-1942 no bairro Hubous de Casablanca, Marrocos”.

De nossa parte, foi muito gratificante e também emocionante, ter a oportunidade de ver tanta beleza nesta construção magnífica! O que nos chama a atenção é a perfeição de cada detalhe. Para onde se olha, seja no alto, ao lado, nas paredes ou no chão é tudo exuberância e beleza e excelência. É uma grande emoção estar num lugar tão especial. O guia explica: cada governante, fiscalizava, pessoalmente, os projetos destas obras de arte, e empregava as populações para fazer estas maravilhas, no intuito de superar a beleza das que já foram construídas e assim se eternizar na história. Era a época em que o tempo não significava dinheiro.

       Os materiais e as técnicas usados aqui, pelos artistas e artesãos, em grande parte do palácio, são gesso e cola, formando verdadeiras obras de arte. Tem-se a impressão de que são esculturas. À primeira vista, estas obras de arte, se parecem com baixos e altos-relevos em pedra. O que nos surpreende é o espaço imenso que é dado a esta arte que decora o teto, as paredes. No chão, vemos os maravilhosos mosaicos. É sempre a perfeição!

       Anis nos explica que as palavras gesso e azulejos são palavras portuguesas derivadas do árabe (Gils), assim como azulejos (zelis). Há também aqui e em os demais palácios, muita madeira nobre: o cedro, por ex., que vem da cordilheira do médio Atlas. Esta árvore é perfumada= odor de felicidade. A arte árabe muçulmana usa a madeira nobre talhada a mão. Nos palácios há diferentes compartimentos e, também, diversos pátios. No primeiro pátio, há a sala do rei; no segundo pátio, a sala de audiências, e, no terceiro, a residência do rei.     

 Após esta visita, a excursão continua e nós fomos conhecer a parte externa do palácio real, residência do rei quando está em Casablanca. Belíssimos trabalhos, verdadeiras obras de arte, em seus portões. Achei bonita a singeleza deste canteiro de flores, nossas conhecidas, ao lado do palácio.

       Depois de admirar a parte exterior do palácio real de Casablanca, Anis nos fala, durante o trajeto de ônibus, sobre o que é proibitivo para os muçulmanos: comer em público durante o jejum de Ramadã, manifestações de carinho como o beijo, especialmente os gays não são aceitos, tomar álcool em público. O país fabrica cerveja e vinho e álcool, mas não se pode consumir em público.

Nosso ótimo guia nos fala também sobre o Hégira, que significa exílio e nos lembra que Maomé, natural de Meca, tinha mais de cinquenta anos de idade quando se tornou famoso por seus ensinamentos. Como mensageiro de Deus, ele pregava reformas tanto da religião judaica quanto do cristianismo, além de atacar o paganismo de seu país. Os cidadãos de Meca se lhe tornaram tão hostis que, em 622, Maomé foi obrigado a se refugiar em Medina. Maomé já vinha prevendo que teria que fugir de Meca para Medina há algum tempo, e vários de seus familiares já haviam se estabelecido lá. Maomé morre com 61 anos, em 632, em Medina. Por esta razão, as duas cidades sagradas dos muçulmanos são Medina e Meca.     

Nossa próxima parada é na parte exterior da Mesquita Hassan II. Foi impressionante a visão externa desta belíssima e imensa Mesquita que é a terceira maior Mesquita do mundo.

São 12 h, hoje é sexta feira, dia sagrado e de descanso e no pátio da grandiosa Mesquita vemos um espetáculo sui generis: tocam as sirenes e, de todos os lados, acorrem os fiéis para a oração de meio dia, uma das cinco orações diárias de todo muçulmano. Muitos estão vestidos com a gelaba. Hoje só conhecemos a parte externa da Mesquita, que não comporta só a visão da grande Mesquita, mas de outras partes pertencentes a esta instituição muçulmana. Esta Mesquita, nos fala Anis, ocupa dois hectares, ou seja, 2x 10.000 m². Uma grande parte foi construída sobre o mar. Em seu interior podem se acomodar 25.000 pessoas e na parte exterior 80.000 pessoas. Hoje não poderemos entrar, pois a Mesquita não abre durante as orações, e ali só os muçulmanos podem estar. Os não muçulmanos podem visitar esta Mesquita, mas nunca durante as orações dos fiéis. Construída num rápido espaço de tempo, de 1986 até 1993, quando operários, artistas e arquitetos trabalharam noite e dia para terminar a obra, em seis anos. Diante desta grandiosa Mesquita com um só minarete, nossos olhos se extasiam. O minarete, para uma Mesquita, é como se fosse um farol, nos informa Anis. É o “Al minar” que orienta o fiel. A pessoa que chama os fiéis para a oração se chama “Al Moazir”.

     

Vejo a bandeira de Marrocos tremular em muitas partes da cidade. Anis nos informa, também, que aqui os muçulmanos são da linha Sunita e também que para os muçulmanos, o número 5 é um número sagrado e a estrela verde que existe na bandeira, tem cinco pontas. A estrela dos judeus tem seis pontas!

       Continuando o city tour pelo litoral de Casablanca, vimos bairros com ótimas casas. Passamos por outras Mesquitas, e, em todas, os fiéis estavam em oração, às vezes até na parte externa, como nos mostra a foto abaixo. É sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos.

Fomos almoçar no restaurante “The Ranche”, um local típico e muito aconchegante. Lá havia muitos turistas. Foi muito interessante a forma como serviram o almoço, cujos pratos já vieram prontos: o 1º prato foi salada; o segundo prato, peixe e aipim; o terceiro prato, três frutas.

       Voltamos ao hotel “Golden Tulip”. O trânsito estava muito congestionado. No hotel, após a chegada, haveria uma reunião onde seriam dadas aos turistas as explicações sobre os passeios opcionais. Ao adentrar o “Golden Tulip” recebemos o aviso, de que deveríamos mudar de hotel, pois havia tido um engano. Fomos, depois de algumas indagações e muitas indignações, para o hotel Casablanca. Não foi fácil aceitar este sinal de desorganização da empresa.

       Neste novo hotel, Casablanca, Marialva e eu e mais alguns turistas, participamos de uma reunião, onde compramos, para o dia 25 de novembro, por 65 dólares, um passeio opcional para a cidade portuguesa Essaouira, que fica no litoral. Havia outras opções de passeios, como, por exemplo, ir e passar a noite no deserto. Talvez teria sido interessante passar uma noite no Saara, mas como já havíamos estado no deserto de Dubai, optamos por não fazer este passeio opcional. Amanhã viajaremos para o sul para conhecer a cidade de Marraquexe, apelidada de “Pérola do Sul” e também, “Cidade Vermelha”. Na verdade, aqui há quatro cidades conhecidas pelas cores: Rabat é branco, Fez é azul, Meknes é verde e Marraquexe é vermelha. No dia de hoje tínhamos já visto e ouvido o bastante. Fomos para a Internet, mas não houve maneira de nos comunicar. Jantamos e fomos dormir.

Dia 23 de novembro de 2013 – sábado – Casablanca – Marraquexe

      Após o café da manhã, às 8h45, partimos em viagem e vamos percorrer 300 km, rumo à cidade Imperial de Marraquexe. Inicialmente passamos no hotel Zênite para que outros turistas se juntassem a nós.

       São 9h30. Alegro-me ao pensar que, fazendo uma viagem de ônibus, posso admirar as paisagens, momento após momento. Esta viagem vai oportunizar conhecer o interior e, certamente, escutar mais explicações sobre a história e culturas marroquinas. Anis, após a saudação em árabe, nos informa: agora saímos do centro-oeste Atlântico, para o centro-sul, visitando Marraquexe, a cidade Imperial, que nos séculos XI, XII, XV e XVI, foi capital de três dinastias. Marrocos então era um Império dos Almorávidas, uma dinastia berbere.

Estamos percorrendo a estrada Casablanca-Marraquexe uma das ótimas construídas no tempo de Mohamed V. Vejo diversos grandes conjuntos de edifícios populares, demonstrando o processo de urbanização que aqui também se dá, intensamente.

       Está garoando e a paisagem agrícola é bonita O clima é mediterrâneo. Neste trajeto Anis continua a nos dar, demonstrando satisfação em poder falar sobre sua terra, mais informações sobre a riqueza de Marrocos: o que vemos aqui são latifúndios. Depois vem o semiárido, de caráter continental, perto da cordilheira do Atlas. Chove muito entre outubro e abril. Tudo é muito verde! Estamos passando pelo Marrocos fértil, a terra dos cereais. Por causa desta abundância de cereais, há muitos portos no sul de Marrocos, que é, por sua vez, deserto estéril. O primeiro recurso de Marrocos é a agricultura e 52% de mão de obra ativa está na agricultura, numa superfície agrícola de 8.300.000 ha. Aqui se planta trigo e cevada em 5 milhões de hectares. Outros 3 milhões de hectares se dividem entre a oleicultura, com o cultivo de oliveiras, e também os laranjais. A laranja é árvore do sul mediterrâneo. O sul de Marrocos é seminômade, e faz fronteira com Argélia e a Mauritânia. Continua anis: Marrocos é um país que não tem petróleo e nem gás. A gasolina é caríssima. Um litro de gasolina custa um euro e vinte centavos. O país a importa do Médio Oriente e da Argélia, com quem faz fronteira. A Argélia tem muito petróleo. Os ônibus e os caminhões vão a diesel. Ter um carro aqui em Marrocos é um luxo. Marrocos tem muito fosfato e este é nacionalizado. Com ele, fazem fertilizantes e os exportam para o mundo. Marrocos pesca um milhão de toneladas de peixe em seus 1.500 km de costa Atlântica e Mediterrânea. É o primeiro país na produção de sardinha. Marrocos exporta sardinha em conserva para França e Espanha. Quanto à riqueza agroalimentar, Marrocos exporta frutas: laranjas pequenas e grandes. A laranja pequena se chama Mandarina e Clementina e a laranja grande chama-se Navel. Exporta legumes e também tomates , tomate marroquino e conservas de modo geral.

       Hoje vamos conhecer a antiga cidade portuguesa de Santa Cruz do Cabo de Gué, chamada Agadir, que significa ‘muralha, fortaleza ou cidade’ em berbere. É um porto sardinheiro e o tipo de indústria é manufatureira.

       O setor turístico é o terceiro setor do país. Recebe 5 milhões de turistas europeus, mais de 1 milhão de franceses, 500.000 espanhóis e turistas também de Bélgica, Itália e Alemanha, em crise. Agora Marrocos se abre para o turismo da Rússia, do Brasil, da China e também para o mercado nacional. A classe média alta agora viaja. Marrocos está se planejando para receber 10 milhões de turistas para o ano 2020.

       Neste momento, ao observar como Anis está desempenhando bem sua tarefa de orientar-nos, estou avaliando a importância de um bom guia de turismo. Concordo com a afirmação de Osvaldo Ballarin, em seu livro Viajar encanta, onde enaltece o papel do guia:

“Graças à perspicácia do guia que sabe tudo, compreenderemos e apreciaremos belezas que talvez passassem despercebidas, como acontece quando mergulhamos sozinhos num ambiente diferente: ficamos entre admirados e perturbados pelos aspectos físicos e humanos que surgem diante de nós. Realmente, com frequência precisamos não só ver, mas também compreender. Trata-se, sem dúvida, de uma profissão que oferece atrativos e desafios: do seu desempenho depende o sucesso de uma viagem turística”.

       Cabe aqui um elogio a nosso ótimo guia Anis, professor universitário aposentado. Ele nos passou a impressão de um homem que conhece seu país, tem formação e informação e que tem o evidente prazer em transmitir este conhecimento aos visitantes.

       Anis fala sobre um muçulmano, que no século XIV, escreve sobre sociologia. Trata-se de Ibn Khaldoun, que nasce em Tunis, na Tunísia, em 27 de maio de 1332 e falece no Cairo, Egito, em 19 de março de 1406. Astrônomo, economista, historiador, jurista islâmico, advogado islâmico e por fim, erudito islâmico é considerado o pai da sociologia. É autor de “AL MOKADIMA”, ou seja, “A Introdução”. Gostei de saber sobre este autor, que muito antes do Ocidente, se debruçou sobre o estudo sociológico. Para nós, a sociologia, como ciência, começa somente no século XIX com Augusto Comte, na França.

“Na verdade, ninguém antes de Ibn Khaldoun estudou os fenômenos sociais de forma analítica, que produziu resultados como os produzidos pelo estudo de Ibn Khaldoun, em especial porque este pensador muçulmano estudou estes fenômenos sociais a partir de sólidas e saudáveis fontes históricas, assim como os cientistas estudam física, química, matemática e astronomia. Ele é considerado o primeiro a submeter estes fenômenos sociais a um método científico, empírico, que o levaram a muitos fatos fixos que parecem leis. Assim, o que Ibn Khaldoun atingiu de teorias, continuará sendo um trabalho pioneiro no campo dos estudos sociais na marcha do pensamento humano”.

A cultura do chá em Marrocos

       Nosso guia Anis nos dá informações sobre as culturas do chá, dizendo:

Aqui se toma muito chá, dois quilos por pessoa, e Marrocos não o produz mas o importa da China. O chá pode ter muito açúcar ou pouco açúcar. No século XV e XVI, o açúcar no chá foi utilizado como alimento contra a fome. Era a energia necessária para subsistir. Não se deve tomar chá antes da refeição pois tira a fome, nos alerta Anis. Os nômades do deserto tomam chá forte e sem açúcar. Ele corta a sede. Aqui se tomam 13 quilos de açúcar por pessoa. O chá é onipresente, tanto nas sobremesas, quanto com doces. Ele tem muitas virtudes e entre outras, ele é antioxidante. Aqui o consumo do chá é utilizado em diferentes situações:

• Forma de receber;

• Ritual;

• Digestivo;

• Discussão de acordos;

• Tudo acontece ao redor do Chá.

Anis fala também do calendário agrícola. Tem que haver chuva para se plantar. A terra preta se chama tirs e se adapta a todos os cultivos.

       Agora são 11h30 e a temperatura, no interior do ônibus é de 23 graus. A paisagem está mudando. Ao longe se veem montanhas. Anis fala da culinária na cultura marroquina, cujos pratos típicos e sagrados são:

1) Cuscuz é o prato mais famoso de Marrocos e em qualquer celebração haverá este prato como principal. Anis explica: se for um prato campeiro, na sua feitura se usa sêmola de trigo, verdura, carne e cevada. Se for na cidade se usa cebola, canela, carne e passas para fazer o Cuscuz.  

2) O Tajine é também um prato festivo = numa caçarola de barro, deixa-se cozinhar lentamente, carne, frango ou peixe com legumes, batata ou aipim. A comida de Marrocos não é picante. Ao contrário, é doce.

       Às 12h19, estamos viajando no semiárido, ouvindo Anis que nos fala de uma fruta, o Fícus dos cristãos, ou fícus da Índia chamada, também, fícus barbárica. Este cacto apresenta uma linda flor e depois dá um figo arroxeado e ovalado, cheio de espinhos. Saboreei este fícus da Índia, na praça Djemaa El Fna, na Medina de Marraquexe. Vi esta fruta também, ao longo do caminho, entre Marraquexe e Fez! Tem a cor de vinho.

       Outra árvore nativa é o Arganus, que é uma árvore muito espinhosa, que cresce no pequeno Atlas, ou antiatlas. O azeite de Argan serve para alimento e também é usado na indústria de cosméticos. Anis fala também que são três as árvores faladas no livro do Alcorão: Tamareira que possui 300 variedades, Romã e Oliveira. Quanto a tamareira, se não há “chergi” ou vento quente de 52 graus, a tâmara não amadurece.

       Estamos entrando em Marraquexe, chamada “Cidade Vermelha” e também denominada “Pérola do Sul”. São 13h24 de uma tarde ensolarada. A cidade nos surpreende, pois todas as casas e edifícios têm a cor de barro, um adobe que se destina a absorver o calor de 50 graus. Estamos passando pela zona francesa.

Aqui vemos a foto da Universidade pública de Marraquexe. A título de informação, a Universidade fundada em 1978, é uma das principais Universidades do país. Tem 13 faculdades e escolas superiores, oito delas em Marraquexe, uma em Essaouira, uma em El Kelaa des Sraghna e três em Safim. A universidade tem 926 funcionários, 1 361 professores e 62.000 alunos.
Chegamos ao nosso hotel, Atlas Medina Spa. Em frente ao hotel, Marialva, Cristina e eu fizemos esta foto. O hotel é muito bonito. 

          Em seguida, Marialva e eu saímos para almoçar, percorrendo a Avenida Hassan II. Esta avenida tem muitos canteiros cheios de rosas multicores. O restaurante era perto do Hotel.

        Às 15h30 vamos, como excursão, visitar a Medina, a parte antiga de Marraquexe! Sabíamos que ia ser surpreendente.

Um portão.

“Em Marrocos, as Medinas mais conhecidas são as de Fez, Marraquexe, Rabat, El Jadida, Essaouira, Casablanca, Chefchaouen, Asilah e Taroudannt. Apesar das Medinas mostrarem uma certa desorganização visual, na verdade estas seguem determinadas ordens urbanísticas e regras estabelecidas. No centro das Medinas, há sempre uma Mesquita, chamada normalmente de Grande Mesquita. Há Medinas que são organizadas por separação étnica ou religiosa, localização de atividades laborais, ou seguindo uma certa hierarquia social ou comercial. Dentro das Medinas há vários bairros, mercados e zonas de oficinas e comércio”.

       Realmente não é fácil percorrer deste labirinto e aí, também, muito fácil se perder. Por esta razão, já que queríamos passar por toda a Medina, nós íamos, rapidamente, seguindo os guias, pois não podíamos nos perder, de forma alguma. O espaço da Medina é um verdadeiro labirinto, onde há de tudo: atelier, lojas de artesanato, comércio de todo tipo, animais carregando mercadorias, lojas de temperos, escolas, universidades. As placas dando os nomes das ruas estão escritos em árabe e em francês. Um “Derb” é um beco. Não vá por aí. Siga apenas pelas “Rue”. Acima de tudo é movimento, exotismo, história, tradição, comércio e pechincha! Alguém disse: “Negociar não é apenas o meio de vida dos marroquinos, faz parte de sua cultura e eles o fazem com imenso prazer”!

     Após percorrer toda a Medina, chegamos à praça principal, imensa, chamada Djema El Fna. Foi um espetáculo à parte, poder chegar, nesta hora mágica do crepúsculo e poder observar esta praça que fervilhava de pessoas, vendedores, turistas, artistas, encantadores de serpentes, mulheres pintando de hena mãos e pés dos turistas, carros de mola, puxados por cavalos, barracas de comida, etc.

       Nas fotos acima, estamos no segundo andar de um bar, tomando o celebre chá verde com hortelã, cercadas de turistas, com uma visão privilegiada da praça iluminada à nossa frente. No firmamento vemos a silhueta da histórica Mesquita Koutoubia, emoldurada com o colorido do horizonte em festa. Este se veste de nuances de cores diferentes a todo instante que passa , nesta hora do tramonto, como dizem os italianos.. Estamos curtindo um momento muito lindo e especial.

       Depois desta vivência na praça mais importante e mais representativa de Marraquexe, voltamos a nosso hotel Atlas Medina Spa, que, por si só, já é uma maravilha, tantos são os ambientes e recantos do bom gosto da arte muçulmana. Tudo é beleza que alimenta nosso espírito, com momentos de pura emoção.Hoje à noite, há mais um programa que promete: vamos assistir um show folclórico. O ônibus levará os turistas que optaram pelo show, que nos foi oferecido por 65 dólares, com jantar incluído, para um local não muito distante.

       O jantar, num ambiente muito festivo, foi um mergulho na cultura marroquina. Foram oferecidos os pratos típicos muito especiais, em mesas preparada com toalhas e pratos especiais. O primeiro prato, de saladas; o segundo, num prato redondo no centro da mesa com uma grande parte de carne de carneiro; o terceiro, Cuscuz e o quarto, mandarinas. Tudo foi servido por marroquinos vestidos a rigor com seus trajes típicos.

       Houve apresentações com danças e música instrumental, tanto de homens quanto mulheres com trajes típicos, músicas tocadas com instrumentos tradicionais, dança do ventre, etc. Fizemos muitas fotos desta linda festa em que não faltaram momentos de pura beleza, tanto dentro do salão onde houve janta com o Show, como também, na parte externa.

       Nos shows externos, um espetáculo interessante foi a corrida de cavalos e de seus ágeis cavaleiros. Numa exibição muito festiva, apreciamos a arte marroquina de cavalgar, na praça iluminada, culminando com rajadas de tiros disparados por grupos de cavaleiros que passavam em disparada. Ficamos muito satisfeitos com esta demonstração da cultura marroquina. Podemos apreciar também, demonstrações de trabalhos artesanais tradicionais. Voltamos ao hotel com muita satisfação por ter tido a oportunidade de participar deste momento cultural.

Dia 24 de novembro – domingo – Marraquexe

Nesta foto, nosso guia Anis.

       Após o café saímos de ônibus para uma visita cultural nesta Marraquexe, que pode ser dividida em três áreas principais:

1) a Medina, coração da cidade antiga e o lugar com mais atrações turísticas;

2) a Nouvelle Ville, área mais nova, construída pelos franceses durante o período do protetorado, com um jeito de cidade mais parecido com o que estamos acostumados; e

3) o Palmeraie, que já foi uma grande plantação de palmeiras e tamareiras e que hoje vem sendo ocupado por resorts, hotéis de luxo, clubes de golfe e similares”.

       Nesse trajeto passamos primeiro pelo bairro Invernage, construído pelos franceses, que aqui vinham para passar o inverno. Visitamos, em primeiro lugar, os Jardins de Menara , um parque e conjunto de hortas a oeste do centro de Marraquexe, relativamente próximo do sopé da cordilheira do Alto Atlas. Neste local há um pavilhão com telhado verde piramidal, existente nos jardins, construído no século XVI pela dinastia saadiana, uma dinastia árabe. Foi renovado em 1869 pelo sultão Abd-el-Rhaman, que ali costumava ficar no verão. O pavilhão e o lago artificial estão rodeados por pomares e oliveiras. O lago artificial tem como função irrigar os jardins e pomares à volta, usando um sofisticado sistema de canais subterrâneos chamados Qanat. A explicação deste processo do manejo da água, desconhecido na nossa cultura, mas muito usado aqui e no Irã.

“Qanat é um sistema de gestão de água utilizado para garantir um fornecimento estável de água em centros populacionais urbanos e prover irrigação em regiões situadas em climas áridos, semiáridos quentes… A tecnologia dos qanats teria sido desenvolvida pelos persas em algum ponto do primeiro milênio a.C., e de lá se espalhou lentamente para o ocidente e o oriente. O valor de um qanat está diretamente associado à qualidade, volume e regularidade de seu fluxo de água. Historicamente, boa parte da população do Irã e de outros países áridos da Ásia e do Norte da África dependeram da água dos qanats; os centros populacionais correspondiam às áreas onde a construção de qanats era possível”.

 Estamos perto do reservatório de água do Menara, que tem dois metros de profundidade e uma superfície de 100 m x 100 m.

Ultimamente havia-se planejado construir aqui um local de divertimento, com luzes e sons, nos explica Anis. Mas o projeto não foi adiante e aqui só restam as arquibancadas. O reservatório serve para regar as plantas somente. O lago artificial, por sua vez é abastecido com água através de um antigo sistema hidráulico, que retira a água das montanhas a aproximadamente 30 quilômetros de Marraquexe.

Anis fala das Cataras (século XII), que é um sistema de irrigação que preserva a água da evaporação através da canalização abaixo da terra. Muito bonito este lugar. Muito me agradou esta aprendizagem sobre os qanats.

A cultura da azeitona

       Perto do reservatório, em frente a uma oliveira, Anis nos fala e explica sobre a cultura da azeitona: nesta plantação, a azeitona é pequena e chamada picholina. As azeitonas, conforme o grau de maturação, se prestam a usos diferentes:

1) a verde, colhida no mês de outubro, é a precoce e se presta para o azeite extra virgem.

2) a vermelha, colhida no mês de novembro, serve para fazer o prato típico – Tagine com frango, azeitona vermelha e limão.

3) a preta é colhida em dezembro. Esta é para o consumo e para o azeite comum. O caroço da azeitona é usado como combustível natural para os fornos de cerâmica.  

Marcelo, colega de excursão e excelente fotógrafo, gentilmente, fez uma foto minha, diante de uma árvore de azeitona. A palavra azeitona é de origem árabe, zeiton. Anis nos dá mais um informe sobre a conservação da azeitona na cultura marroquina: há um procedimento campeiro, uma receita antiga para conservá-la: coloca-se na água e sal e se cobre com limão. Passeando por este lugar fizemos algumas fotos!

   Daqui famos visitar os arredores da Mesquita Koutoubia.

“O nome deriva do árabe al-Koutoubiyyin, que significa bibliotecário, pois a Mesquita costumava estar rodeada por vendedores de manuscritos. O seu interior é constituído por seis salas, uma por cima da outra, atravessadas por uma rampa que permitia o almuadem, que no Islão, é o encarregado de anunciar em voz alta, do alto dos minaretes, o momento das cinco preces diárias. Foi construída no estilo tradicional almóada e a torre é adornada com quatro globos de cobre. Começou-se a construir sob o mandato de AbdAl-Mumin e acabou-se na época de Abu Yusuf Yaqub Al-Mansur. Com os seus 69 metros de altura é o edifício mais alto de Marraquexe, sendo proibida a construção de edifícios mais altos. A parte superior é rodeada por uma balaustrada ameada que se coroa, como é habitual neste tipo de construções, por três bolas, hoje em dia de bronze e, segundo dizem, nas suas origens de ouro, procedente das joias de uma das esposas de Yaqub Al-Mansur entregues como penitência por ter roto o jejum do Ramadão. A maior destas bolas tem 2 metros de diâmetro”.

     Esta Mesquita foi restaurada faz sete anos. A Mesquita Koutubia está situada a sudoeste da praça DJEMAA El FNA, ao lado da avenida Mohamed V. O viajante muçulmano Ibn Battuta, em 1352, a descreve do seguinte modo:

“Há grandiosas Mesquitas, como a sua alfama, a conhecida por Kutubiyyin, que tem um enorme e colossal minarete, ao que subi, mostrando-se à vista a totalidade da povoação”. Não entramos na Mesquita.

Ao visitar o Palácio Bahia, conhecemos mais um exemplar da arte de Marrocos.

O Palácio da Bahia é um palácio construído no final do século XIX em estilo árabe-andaluz. O nome Bahia significa “brilho”. Bahia era a esposa preferida do GrãoVizir. Entramos no palácio e fizemos muitas fotos. Realmente aqui estamos vendo uma grande maravilha. O palácio, um dos mais impressionantes de Marraquexe, situa-se na Almedina, a parte antiga da cidade, junto ao lado norte da Mellah, o bairro judeu.

Sobre os bairros judeus:

“Nas cidades, o Mellah estava rodeado por uma muralha com uma porta fortificada. Em geral, os seus habitantes desempenhavam um papel importante na economia local. Os mellahs situavam-se junto ao palácio real ou à residência do governador, para assim ser mais fácil proteger os seus habitantes dos distúrbios recorrentes. A população judia de Marrocos começou a ser confinada em mellahs no início do século XV, um processo que se intensificou a partir do início do século XIX. Atualmente, e desde os anos 1950 e 1960, todos os mellahs se encontram abandonados ou encontram-se ocupados por não judeus […]A etimologia popular atribuía a origem do termo mellah á ‘terra salgada e maldita’ ou um lugar onde os judeus salgavam as cabeças dos rebeldes decapitados, destacando as conotações pejorativas associadas a sal ou salina (mellah)”.

Anis nos aponta outro palácio importante, o hotel “La Mamounia”, onde se pode apreciar beleza!

“No início do século XVIII o sultão Sidi Mohammed Ben Abdellah deu de presente de casamento para o seu filho, o príncipe Moulay Mamoun, mais de 15 hectares de belos jardins nas proximidades de Marrakesh, capital do Marrocos. Dois séculos depois, em 1923,foi construído neste terreno, o hotel La Mamounia. Misturando arquitetura tradicional marroquina e Art Déco num bairro com prédios do século XII, e a passos das mais belas atrações da cidade, não deixa nada a desejar aos mais caros e luxuosos palácios parisienses.

A hospedagem em Marrocos

       Além dos grandes hotéis, outro lugar interessante para se hospedar são os Riads. Riad também grafado ryad é a designação dada a casas ou palacetes que constituem o habitat tradicional das almedinas de Marrocos. A capacidade turística em Casablanca é de 30.000 leitos.

       Na internet, há muitas orientações e fotos de Riads das diferentes cidades de Marrocos que vale a pena visualizar.

25 de novembro – segunda-feira – Marraquexe – Essaouira

       Hoje vamos partir de Marraquexe para uma visita à antiga cidade portuguesa de Essaouira, no litoral de Marrocos. Mais uma vez a oportunidade de ver e conhecer melhor outra parte importante de Marrocos. O antigo nome desta cidade era Mogador.

       Durante a viagem, nestes 170 km que distanciam as duas cidades, em boas estradas asfaltadas, vejo muitos pés de laranjas pequenas, cujas folhagens recortadas, formam desenhos interessantes. Chamam também minha atenção as casas e pequenos edifícios de três andares, onde não há telhados. O pé direito é sempre alto e depois vemos mais um ou dois andares de habitação. Vejo também muitas casas em que o segundo andar termina sem teto, mas com o local das janelas aberto, por onde, às vezes, aparece um morador.

       Nossa viagem começou ainda cedo e, mesmo assim, vejo grupos de pessoas fazendo a refeição ao redor de uma mesa, no lado externo, quase na rua. Vejo, também, ao longo do caminho, grandes terrenos agrícolas, cujos limites são marcados por fileiras de árvores de oliveiras, algumas com azeitonas, outras árvores com troncos grossos, pintados de branco, cujos ramos, galhos e folhas novas, verdes e exuberantes, denotam que são muito antigas e que estão sendo continuamente podadas. É um lindo espetáculo do renascimento contínuo destas velhas árvores. O céu está nublado!

       Muda a paisagem agora, com grandes extensões de vinhedos, sendo Marrocos um grande produtor de vinho. Da mesma forma, vejo muitas plantações de verduras, cobertas com plástico. Agora o relógio marca 9h18. Os terrenos estão à espera da chuva. Há muitas plantações de frutas e também muito pedregulho. De vez em quando passa um pastor com seu rebanho de ovelhas, que é lindo de se ver. Esta paisagem se repetirá, algumas vezes, nestas paragens. Há muitos arbustos verdes, que se parecem com arbusto de cacau. O guia disse que é um falso pimenteiro e é plantado para conter a erosão. O céu agora está ficando limpo e azul.

       A paisagem que me encanta é a contínua presença do figo da Índia. Às vezes estes cactos têm a função de servir como cerca ou, também, fazer o limite entre as propriedades. Às vezes, grande quantidade de figos está crescendo, perto da casa, como num quintal! Como eu já saboreei este fruto em Marraquexe, sinto muita alegria ao ver que aqui, ele existe em grande quantidade. Certamente é um ótimo alimento para estas populações!

       Neste trajeto para o litoral, o que mais se vê são sempre muitíssimas plantações de oliveiras. Às 10h fazemos uma parada técnica. Tomei um chá junto com uma excursionista de nome Rosana e com Marialva, minha colega de excursão. No quintal adjacente ao restaurante, havia árvores de laranja muito estranhas: o tronco era fino e muito liso. Neste local havia uma loja que vendia, a preços muito altos, todas as possíveis lembranças de Marrocos.

       Às 10h25 partimos! Estamos num mundo marroquino campeiro, agrícola, continua Anis e neste mundo rural, passamos pela cidade de Chichaoua.

       Vejo, sempre de novo, plantações de oliveiras novas e, ao lado, oliveiras centenárias, com troncos muito grossos e retorcidos. As plantações de oliveiras novas me falam de esperança neste cultivo. Continuamos a viajar e a paisagem muda! Agora, mais rebanhos de ovelhas e muito pedregulho. É zona árida e aqui chove pouco e não há pasto natural. Anis nos informa que é aqui que estão as minas de fosfato. Consegue-se acessar ao lençol freático aos 60 metros de profundidade.

       Agora, os muros e limites das propriedades não são mais de oliveiras, mas de pedra. Nestas paragens não havia nem uma forma de agricultura.

       Anis nos fala sobre o lado da organização social destas regiões: há escola e correio e no centro da zona rural o representante do monarca é o Ali. Quanto à expectativa de vida, na cidade é de 69 anos e no campo, 75 anos. No campo, os casais podem ter 6 filhos. Na cidade 2 filhos. O médico daqui é generalista.

Quanto às mulheres, no campo são muito ativas e se organizam. Mesmo sendo a maioria analfabeta, lutam contra o analfabetismo rural. Usa-se a escola para as mulheres adultas poderem também aprender. Os jovens foram estudando engenharia agrícola e ultimamente o governo ajudou com crédito para estes jovens empreenderem no setor da agro- alimentação.

       Uma novidade em relação aos direitos da mulher é que o Código familiar foi mudado e agora as mulheres podem, também, pedir o divórcio. Aqui há também ministras e advogadas. Não se pode pensar em mulher independente se não houver independência econômica. As mulheres se organizam em associações agrícolas. É o caso da associação cooperativa para a fabricação do óleo de Argan, que vamos visitar em seguida.     

       São 10h47 e passamos por um outro centro onde havia um mercado. Aqui só participam homens onde observo um dado cultural interessante: todos os homens vestem a gelaba que é camisão com capuz. Diferentes regiões se distinguem se pela cor da gelaba, nos informa o guia Anis. Para mim, pareceu muito estranho, passar por um lugar, em que todos estão vestidos de camisão, com um capuz na cabeça. 

Em Marrocos, sempre é possível encontrar pessoas com esta vestimenta, mas ver que, neste lugar, todos os homens estão de gelaba, foi realmente uma sensação entranha.

       Estamos na cordilheira do anti Atlas, a cordilheira menor e nosso ônibus faz uma parada numa plantação de Argan, onde um lindo espetáculo nos esperava para muitas fotos.

As cabras, em grande número estavam em cima do arbusto espinhento de Argan, comendo suas folhas e frutos. As cabras ajudam neste processo de colher e utilizar a semente do Argan para a posterior extração do óleo. O homem, não pode conseguir o fruto por causa dos muitos espinhos. A cabra come o fruto tirando-lhe a parte mole e depois, o homem recupera a noz, cuja casca é partida e dela se extrai a semente, a amêndoa.

       Logo após, paramos em uma cooperativa de mulheres, onde foi interessante escutar as explicações e também observar seu processo de trabalho. Imediatamente, veio à minha lembrança, o trabalho parcializado, das mulheres costureiras de Rodeio, alvo de minha pesquisa, na década de 70.

       Aqui, vejo mulheres sentadas no chão, cada uma realizando, num trabalho contínuo, uma determinada parcela do processo: uma quebra a noz e retira a semente, outra esmaga a semente com uma pedra redonda, própria para este trabalho, e retira da semente de Argan, o precioso óleo. Avalio quão cansativo deve ser, para elas, permanecer, muitas horas nesta posição. Mesmo assim, é preciso dizer que é o primeiro passo para a independência econômica da mulher.

       A amêndoa moída, resulta em dois produtos: o óleo comestível e a massa resultante da semente espremida, matéria prima para o uso na cosmética. Isto tudo tivemos a oportunidade de observar no trabalho das mulheres da cooperativa. Antes de ser descoberto como ótimo na cosmética, o óleo de Argan foi alimento básico destas populações berberes. 

Aqui nesta cooperativa de mulheres, após ouvirmos as explicações sobre o Argan e acompanharmos o processo da extração do óleo, fomos recebidos com uma mesa muito bem preparada. Na mesa, uma belíssima toalha cujo motivo floral era o fruto e as folhas da oliveira. Os utensílios usados eram de cerâmica vidrada com cores e motivos da oliveira.

         O objetivo era mostrar e nos permitir experimentar e saborear o alimento básico e muito energético dos povos berberes: mel, óleo de Argan, pão e amêndoas. Foi como voltar na história e participar de uma mesa de comensais berberes. Muito emocionante! Este momento, por ter sido tão intenso, tornar-se-á, para nós, inesquecível pela generosidade deste encontro, quando fomos acolhidos e alimentados. Tivemos oportunidade de ser informados sobre esta iniciativa de integração das mulheres ao mercado de trabalho. O nome deste alimento é AMLO: “mistura dos berberes”, e o alimento é usado como almoço. Foi muito alegre estar aí. Saímos de lá com muita gratidão por receber esta dádiva.

       Mas o almoço, neste dia, será mais tarde, em Essaouira, uma cidade de origem portuguesa localizada no litoral, para a qual vamos nos encaminhando.

     

Ao lado desta cooperativa, havia uma loja de produtos de artesanato: cerâmica vidrada, produtos de palha e produtos de barro. Não resistimos e fizemos uma foto ao lado do ônibus. 

Lá comprei algumas lembranças, inclusive, um presente para minha querida sobrinha-neta Anna Maria D. Moser, que está se formando em 13 de dezembro de 2013, em Psicologia, pela Universidade em Blumenau-SC. É interessante este dia 13/12, pois é o dia de aniversário de Giovanni Moser, meu pai, falecido em 1981, bisavô de Anna Maria.       

       A excursão prossegue. “Essaouira, a bem desenhada”; antigamente a portuguesa Mogador, é uma cidade da costa sudoeste de Marrocos, capital da província homônima, que faz parte da região Marraquexe-Tensift-Al Haouz. Em 2004, Essaouira tinha 69.493 habitantes.

“A cidade é considerada por muitos, a estância de praia mais agradável de Marrocos, pelos seus extensos areais, dunas e pelo centro histórico, classificado pela UNESCO como Patrimônio Mundial em 2009, uma mistura de cidade do século XVIII com um povoado medieval, cercado de muralhas que, por sua vez, estão rodeadas de canteiros de flores e pelo Oceano Atlântico. É conhecida pelos amantes do windsurfe pelos seus ventos.

       Chegamos com a emoção de conhecer a antiga cidade portuguesa de Essaouira e nos deparamos com a muralha da Medina, que vamos logo percorrer. Nosso guia empunha a bandeira do Brasil, para se diferenciar dos muitos outros grupos de turistas que estão na cidade.

       Na Medina de Essaouira, além do que é comum em todas as Medinas amuralhadas, podemos apreciar um atelier onde se faz marchetaria em madeira. São verdadeiras obras de arte. Na verdade, as famílias trabalham em casa este especial trabalho de incrustar madeira na madeira, formando assim, desenhos maravilhosos. Não sabemos como se paga este trabalho das quase 400 famílias que a ele se dedicam. A loja vende esta arte a preços consideráveis.

       Depois que saímos da Medina, fomos ao porto e depois ao restaurante, cujo menu era salada marroquina e sardinhas assadas, prato típico desta região. O restaurante estava repleto de turistas e a partir de seu interior, muito artístico, se tem uma bela imagem do exterior. Na saída, admiramos as muralhas da Medina, as praças com os transeuntes, muitos vestidos com a gelaba, os edifícios, o porto e as lindas praias de Essaouira, das quais gostei muito. Mas vamos voltar a Marraquexe.

       Quando chegamos ao hotel Atlas Medina Spa já era tarde da noite. Jantamos e fomos descansar.

26 de novembro – terça-feira – Marraquexe

       Neste dia, muitos colegas de excursão farão uma viagem para o deserto do Saara, lá pernoitando. Marialva e eu resolvemos não fazer este passeio opcional. Optamos em sair pela cidade, para conhecer um pouco mais do que Marraquexe tem a nos mostrar. Nosso objetivo, além de sair livremente por ruas e lojas, era conhecer a célebre ferroviária e também a Ópera de Marraquexe, ver o espaço Ives Saint Laurent e Museu berbere na Majorelle e, depois, ir ainda à praça principal, a DJEMAA El FNA.

       Saímos tranquilamente, sem a excursão, pelas 9 horas. Em frente do hotel estava pronto o local do Festival de Música que começaria no dia, em que, infelizmente, vamos deixar Marraquexe. Andando a pé, com um forte sentimento de liberdade e bem-estar, chegamos até a moderna estação do trem.

 

Entramos na ferroviária que é ampla e arquitetonicamente muito bonita. Um quadro marcava os locais e horário das passagens. Achei muito interessante saber sobre as muitas possibilidades de viagens de trem em Marraquexe. Aqui nesta belíssima estação de trem, há o lugar de oração dos muçulmanos, uma pequena sala forrada de tapetes.

          Em seguida, logo em frente à estação ferroviária, fomos ver o edifício do Teatro Royal ou a Ópera. Percorremos todo o edifício por dentro e por fora. Conhecemos todo o ambiente do qual gostamos muito. Uma parte do edifício estava em construção.Saímos e, ainda andando a pé, entramos numa loja onde vimos roupas e depois mais uma loja onde apreciamos artesanato. A seguir, sentamos à mesa em um café e descansamos tomando o célebre Tchai. Em seguida, com um carro de mola, uma condução muito usada aqui, por 60 dirhams, fomos até o “Jardin de Majorelle”, um lugar muito bonito. Abaixo alguns dados :

“O pintor Jacques Majorelle nasceu em Nancy, no Nordeste da França, em 1886. Filho do famoso fabricante de armários Louis Majorelle, uma das principais figuras da École de Nancy, cresceu no meio artístico da Art Nouveau. Parecia destinado a seguir as pisadas do seu pai, mas, depois de estudar Écoles des Beaux-Arts em Paris, Majorelle decidiu dedicar-se à pintura. Viajou para Espanha, Itália e Egito. Em 1917, quando convalescia de tuberculose, foi para Marrocos e apaixonou-se pela intensidade da luz. Ajudado pelo Marechal Lyauteu, fixou-se em Marraquexe na sua vila hoje famosa, pelos Jardins Majorelle. Fascinado com os souks, kasbahs e aldeias do Alto Atlas, ficou em Marrocos até a sua morte em 1962”.

       É um espaço de rara beleza, imperdível mesmo, não só pelo imenso jardim, rigorosa e belamente limpo e organizado, com uma infinidade de cactos e outras plantas do mundo todo, como também, por ser um espaço rico em detalhes arquitetônicos da casa de Majorelle. Lá está a exposição de Ives Saint Laurent, uma boutique com obras de arte e também, literatura. Neste local, há o museu berbere. Recebemos neste local um folder sobre o local, e eu, como não entrei no museu, traduzi do francês o que segue. “Foi dentro do atelier de Majorelle que foi inaugurado em 2011, o Museu Berbere. Ele apresenta um panorama de extraordinária criatividade deste povo, o mais antigo da África do Norte. Do Rif ao Saara, mais de 600 objetos atestam a riqueza e a diversidade de uma cultura sempre viva”.

       Daqui pegamos um táxi (60 dihrams) que nos levou até a praça. No caminho admiramos o La Mamounia, do qual já tínhamos ouvido falar. Deixo aqui, alguns ados sobre este maravilhoso hotel “La Mamounia”.

“No início do século XVIII o sultão Sidi Mohammed Ben Abdellah deu de presente de casamento para o seu filho, o príncipe Moulay Mamoun, mais de 15 hectares de belos jardins nas proximidades de Marraquexe, então capital do Marrocos. Dois séculos depois, em 1923, foram construídos, neste terreno, o hotel La Mamounia. Misturando arquitetura tradicional marroquina e Art Déco num bairro com prédios do século XII, e a passos das mais belas atrações da cidade, não deixa nada a desejar aos mais caros e luxuosos palácios parisienses”.

       Chegamos na praça DJEMAA El FNA, onde há sempre muito que ver. Meu objetivo, nesta ida para a Medina, era reencontrar a loja, cujo vendedor havia vendido óleo de Argan, cujo preço era de 80 dirhams e eu, ao pagar me deixei enganar, pois fiz a conta com dólares e reais. Não houve jeito de encontrar a tal loja. Muito mais atenção é necessário ter, quando se paga alguma compra em moeda estrangeira. Nesta visita à Medina, comprei lembranças com a mão de Fátima, em chaveiros e bolsinhas. Estávamos na praça principal de Marraquexe. É sempre novo tudo o que se vê nesta praça. Mas o sol estava se pondo e as luzes estavam se acendendo na praça, e nós clamando por descanso. Decidimos pegar um carro de mola e retornar ao nosso hotel Atlas Medina Spa. Jantamos num ambiente muito agradável.

               No fim deste dia, na bela Marraquexe que, na verdade, conhecemos tão pouco, pois o tempo foi escasso, vale ler o que alguém colocou na Internet, sobre esta cidade, a Pérola do Sul. Eu amei este texto, pois retrata bem as emoções que se vivem ao estar aqui.

“Quando o turista põe os pés em Marraquexe, certamente fica impressionado com o contraste das suas cores — o ocre das muralhas de adobe e os exteriores cobertos de buganvílias, ao lado de grandes ramos de palmeiras e uma explosão de vegetação exuberantemente exposta. Uma magnífica variedade arquitetônica diante de um pano de fundo com os picos nevados das montanhas do Alto Atlas, sob um brilhante céu azul que revela a verdadeira natureza da cidade — um exuberante e ensolarado oásis, inebriante com os aromas de jasmim e flor de laranjeira que ornam os jardins. […] Dentro dos seus muros de adobe, à sombra do sol, as ruas cheias da Medina pulsam de vida com o movimento. Um burburinho de vozes para todos os lados, cores vibrantes, o ar coberto pela fragrância da madeira de cedro e incontáveis especiarias. Sons, cores e cheiros se unem gloriosamente para compor uma estonteante sinfonia sensorial. Marraquexe, uma cidade lendária, uma capital cultural, inspiradora de artistas, modas e eventos; Marraquexe com as suas galerias de arte, festivais e exibições; Marraquexe com as suas celebridades, luxuosos palácios e vida noturna cintilante. […] Marraquexe, uma sedutora de turistas por mais de cem anos, ardilosamente aliando os tesouros da sua era dourada com a vibrante energia de culturas vivas. Sim, Marraquexe é uma experiência inesquecível. Novas descobertas nos esperam sempre que retornamos — e muitos voltaram para nunca mais deixá-la”.

Dia 27 de novembro – quarta feira Marraquexe – Beni Mellal Fez

       Após o café, o ônibus está à nossa espera, assim como, os insistentes vendedores de artesanatos e típicas vestimentas de Marrocos. Comprei algumas lembranças. Daqui passaremos para outro hotel para que integrem o grupo turistas que partem também para a Cidade Imperial de Fez.

       A cidade de Fez foi fundada em 789 por Idris I, que iniciou a dinastia de Idríssidas. São 8h30, Bassan é o guia representante da “Travelers”, a empresa portuguesa que organizou a excursão e ele se apresenta. Anis nos fala que hoje vamos percorrer 500 km. Em primeiro lugar percorreremos uma planície agrícola árabe na Cordilheira do Meio Atlas. Depois, a planície árabe de Tadlia. No Médio Atlas tudo é berbere.

       No caminho, estou observando tudo: às vezes, estamos ladeados por grandes eucaliptos mal podados, depois vemos um mercado de barro com muitíssimos vasos. Passamos também por um cemitério abandonado. E, por falar em cemitérios, por aqui, já vi muitos, e estão todos muito abandonados.

       Nesta região, não há plantação do Argan, a árvore espinhenta da qual se tiram as amêndoas para fazer o precioso óleo. O que há aqui é uma profusão de oliveiras: algumas secas, outras verdes, umas velhas e outras novas.

       De vez em quando, passam caminhões carregados de azeitonas. Grande quantidade de figo da Índia, ao redor das casas e também como limite entre as propriedades, enfeitam a paisagem. À direita, vejo plantações antigas de laranjas, e também me deparo com grandes plantações novas.

       Ao longo da estrada, havia condutores de água. Anis nos lembra que os romanos levaram água para as casas, e os árabes a levaram para os campos. Há em Marrocos 8 milhões e quinhentos mil ha de agricultura, e desta, 60% é irrigada. Não se pode pensar em civilização sem água. Esta água não se paga, mas, há horário para utilizá-la. Há em Marrocos um Tribunal da Água criado pelo monarca, nos informa Anis.

        Aqui se veem rebanhos de cabras e este animal come no Erg, neste deserto de pedra, mas que tem vida. Nesta região não há camelos.

       Anis nos lembra, novamente, que os berberes foram assim chamados pelos gregos, mas que a si mesmos chamavam de Imazighen, ou seja, “homens livres”. Achei muito interessante saber, por exemplo, que santo Agostinho era de origem berbere. Mas, há outros personagens que são desta mesma origem berbere: São Cipriano; Ibn Battuta e Zidane, o jogador de futebol.

Anis nos lembra que aqui, nesta região, foi feito o filme “Sob o céu protetor”.

“Neste filme, Bertolucci explora a crise do capitalismo, quando mostra três ocidentais vagando pelo deserto do Saara. Procurando respostas para sua crise existencial, os protagonistas têm de construir o sentido para suas vidas a partir de sua própria história. Sob o céu que nos protege podemos encontrar o amor e a morte, a liberdade e a escravidão. Um filme extremamente erótico e lúcido, pois expõe os personagens nesta dicotomia entre a vida e a morte, a paixão e o desespero. ” Fiquei com vontade de assistir este filme.

Condições sociais vividas em Marrocos

       O guia Anis fala sobre algumas condições sociais vividas em Marrocos: o ensino e os hospitais são públicos. Na família, mais importante que o amor é sua estabilidade. A cozinha é a alma da cultura marroquina. A família adequada deve saber cozinhar. É um saber que passa de mãe e pai para os filhos. Os pratos preparados são um poder. Por ex., nos explica Anis: os pratos afrodisíacos que a mulher prepara, também, para levar o homem para cama numa noite de amor.

       Chegamos à cidade de Beni Mahal, capital da planície agrícola de Tadla, nome este de uma tribo árabe. A cidade tem 50.000 habitantes. Nesta cidade, às 12 h, almoçamos num restaurante muito frequentado. A oferta foi de pratos comuns, onde cada pessoa podia se servir de verduras, batatas, lentilhas, arroz, macarrão, mandarinas. Saímos do restaurante às 13h45 e percorremos uma paisagem que continua bonita: azeitonas e laranjas a perder de vista. É um local onde vejo muitos rebanhos de carneiros.

       São 14h35 e estamos no Médio Atlas, subindo a serra. Depois de passar por um grande lago, neste povoado berbere, encontramos alunos, sem uniforme, saindo da escola. Na paisagem me chamam a atenção as casas construídas, mas, incompletas, pois os ferros usados nas colunas, estão lá, se projetando para o alto para mais construção. Não entendi e nem perguntei sobre a razão.

       Às 15h30, fizemos uma parada para o café. Estamos na região de Khenifra que tem uma história para nos contar:

“A região de Khenifra sempre teve grande valor estratégico, pois permite controlar o acesso às regiões de Tadla, a sul e de Fez e Taza, a norte.Os dois monumentos mais antigos da região atestam o passado da região. A Kasbá (fortaleza) de Mouha ou Hammou Zayani (homónima de um líder da resistência às forças coloniais francesas do século XX), foi construída pelo sultão almorávida Ibn Tachfin à beira do Oum Errabiaa e foi restaurada pelo sultão Alauita Moulay Ismail em 1688, usando prisioneiros portugueses presos em Meknès”.

       Agora são 16h50, vejo quatro pessoas semeando, um espetáculo raro de se ver. A subida da montanha leva-nos até Azrou, uma povoação de origem berbere.

“Azrou é um importante povoado berbere localizado no interior do Médio Atlas, onde vivem mais de 80.000 habitantes. A cidade é conhecida pelos bosques de cedros que o rodeiam e os macacos que ali vivem”.

É conhecida localmente como a “Suíça Marroquina”. Estamos a 1665 metros de altura e Anis nos fala na Universidade “Dois irmãos’, que foi construída aqui, conjuntamente pelo rei Hassan II de Marrocos e o sheik da Arábia Saudita, ambos muçulmanos da linha sunita.

              Nestas alturas da Cordilheiras do Atlas, os franceses criaram estações de esqui. Nesta cidade, num restaurante da rede Segafreedo, fizemos uma parada técnica, e tomamos um lanche. É um restaurante belíssimo, onde permanecemos por mais tempo. Já havia escurecido e estava frio na chamada Suíça Marroquina, quando deixamos o restaurante.

       Estamos a caminho de Fez e já são 19h45. Na entrada da cidade de Fez, uma larga avenida arborizada e muitas rotundas, muitas rótulas, cada qual diferente da outra e todas me chamam a atenção por sua arquitetura e beleza. Uma tem em seu interior muitas palmeiras; outra, lindas fontes de água iluminadas; outra, grande número de lustres.

Chegamos no hotel Zalagh, que não fica no centro da cidade de Fez. É um artístico hotel, que nos impactou de início, mas que, apesar disso, verificamos depois que não era de todo bem cuidado.
Lá jantamos e admiramos a beleza dos diversos recantos, especialmente os lindos mosaicos.

Dia 28 de novembro – quinta feira — Fez

       Após um ótimo café, com muitos turistas, nos preparamos para partir para conhecer Fez, a cidade medieval mais antiga do mundo. A cidade foi o centro de tudo, capital durante quatrocentos anos, até o momento em que Fez se transformou, no início do século XX, em um protetorado francês.

       Da internet colhi estas palavras sobre esta cidade de Fez:

“Localizada no norte do Marrocos, no Médio Atlas, cercado por oliveiras está a joia da coroa das Cidades Imperiais do Marrocos, com mais de 1,4 milhão habitantes. Fez é uma das capitais culturais, científicas e religiosas importantes do mundo islâmico. Tem 785 mesquitas e é a mais antiga das quatro Cidades Imperiais do Marrocos. Embora tenha uma parte moderna, chamada Ville Nouvelle, é nas Medinas, como são chamados em árabe os antigos centros comerciais e residenciais emuralhados, que se concentram suas maiores atrações”.

       E mais:

“Fez era o centro da política, dos negócios, do turismo, da vida […] Hoje, perdeu a política para Rabat, os negócios para Casablanca e o turismo para Marraquexe. […]. Contudo, sobrou-lhe a vida, o encanto dos souks e das ruas estreitas, dos pregões e da confusão. Não lhe tiraram os artesanatos tradicionais, os curtumes ancestrais do couro, a tecelagem nas rodas de águas, os cheiros. Tiraram-lhe as roupas, mas deixaram-lhe a alma”

“A Cidade Imperial de Fez é patrimônio protegido pela UNESCO. A sua Medina é a maior do Mundo e foi fundada no Séc. VIII. E dito assim, pode ter pouco significado. No entanto, é a maior zona urbana do mundo sem carros com centenas de km de ruelas estreitas”.

E Fez continua cercada por muralhas imponentes, até os dias de hoje. A Medina de Fez tem 15 km de muralhas e 30 km de ruas. São 9400 ruas, que são de todos os tamanhos possíveis. Na internet leio que o número é de 7500 ruelas sinuosas, estreitas e labirínticas.

Nosso guia local se chama Idriss. É professor universitário com especialidade, em línguas. Ele nos dá as primeiras informações. Chegando à cidade, fizemos a primeira foto, diante do palácio real, o palácio maior de Hassan II, que ocupa 82 hectares.

              Depois fomos conhecer a Medina de Fez, onde não há carros, mas há grandes hotéis, casas do século VIII, riads, comércio, artesanato, alimentação, transportes com animais. Nas Medinas, que são centros antiquíssimos, se podem observar diferentes profissões do passado longínquo, que persistem ainda hoje. Aí encontramos alfaiates e esta palavra portuguesa, relembra Idris, é de origem árabe. A nossa língua portuguesa incorporou 3000 palavras desta origem e o espanhol tem 7000 palavras de origem árabe nos informa o professor Idriss, nosso excelente guia.

       Percorremos a Medina amuralhada, começando pelo bairro judeu-Mellah. Somente percorrendo estes ambientes de comércio, Mesquitas, universidades e moradias milenares, é que se tem a clara ideia do que é a organização de uma Medina.

Dando acesso à Medina, onde vivem 350.000 pessoas, temos 7 grandes portões, nos informa o guia. A imponência e a beleza destes portões nos emociona, tanta é a sua beleza.

       Aqui em Fez, há uma bonita história ligada a uma mulher tunisiana, Fátima el Fihria, herdeira da riqueza deixada por seu pai, um grande comerciante. Ela fundou, em 859, a Universidade de Quaraouiyine Al Karaouine, para sua comunidade, um conjunto de cerca de 2000 famílias originarias de Kairouan na Tunísia, que se instalaram em Fez, após uma fuga da sua terra de origem, devido a perseguições religiosas.

Sua impressionante biblioteca, fundada na metade do século XIV, considerada a universidade mais antiga do mundo, abriga mais de 32.000 volumes, num grande número de manuscritos e livros raros. Junto à universidade há “La médersa Bou Inania” que é uma escola alcorânica construída entre 1350 e 1357 pelo rei Abo Inan Almarini da dinastia dos Merínidas.

Abaixo alguns dados sobre as dinastias berberes, sua organização e a sua permanência em Granada-Espanha e a reconquista pelos cristãos:

“Os Merínidas foram uma dinastia berbere que reinou em Marrocos após a queda do Califado Almóada entre os séculos XIII e XV. Em 1248 o chefe da tribo, Abu Yahya, conquistou a cidade de Fez e nos dez anos que se seguiram conquistou todo o Marrocos, com exceção de Marraquexe, tomada em 1269 pelo seu irmão e sucessor, Abu Yusuf. Depois de terem derrotado o Califado Almóada, tentaram apoderar-se dos domínios que estes possuíam no Magrebe e na Península Ibérica, mas as suas tentativas revelaram-se fracassadas. Enviaram vários contingentes de tropas para o reino de Granada, tendo dessa forma contribuído para a sobrevivência desse reino face às agressões cristãs. Em 1340 os Merínidas foram derrotados pelos cristãos na batalha do Salado, numa batalha decisiva no processo da Reconquista. Os Merínidas destacaram-se como grandes construtores, tendo fundado a nova cidade de Fez, que funcionou como capital da dinastia”.

       Andando pela Medina, encontram-se, pelas ruelas, a todo o momento, mercadorias e toda sorte de frutas, no lombo do cavalo ou então, em carrinhos puxados por cavalos ou também carregados nos ombros pelos homens. E assim, com qualquer material, é sempre um cruzar, em ruas muito estreitas, com todo o tipo de transporte e comércio. Andando por estas ruelas, às vezes, muito movimentadas, nosso guia nos mostra as casas de dois pisos e explica: no primeiro piso se mora no inverno e no verão se usa o segundo piso.

Há, por toda parte da Medina, muito movimento no comercio, mas há um local, visitado por todos e que chama muito a atenção: são os curtumes da Medina.

Convidados que fomos, subimos ao segundo andar de uma loja onde havia diversos trabalhos artesanais à venda. De lá nós pudemos observar o espetáculo deste trabalho artesanal de origem milenar, que datam do século XIV., que são os curtumes da Medina.

       A primeira impressão que temos nos parece algo surrealista. Quantidade imensa de tanques coloridos com homens, num trabalho insalubre, trabalhando o couro, com as pernas mergulhadas na água, seja em soluções para retirar da pele restos de carne e pelos, ou seja, para mergulhar o couro, nestes reservatórios circulares cheios de pigmentos naturais. Posteriormente, as peles são colocadas a secar pelos terraços da Medina. O curtimento das peles é uma arte milenar que permite transformar a pele dura dos animais, em couro muito macio. Ficamos observando durante algum tempo este trabalho, uma tradição de Fez Tradicionalmente estes curtumes ficavam longe das áreas residenciais e próximo dos cursos de água, mas aqui, as tinturarias e alcaçarias ficam no coração da Medina. Apesar da má fama do cheiro nauseabundo que emana destes locais, são áreas ímpares em termos culturais. Lojas e moradores chamam o visitante para subir nos terraços e acompanhar o trabalho dos funcionários tingindo o couro. Foi o que aconteceu conosco.

       Após ver este local cultural, muito interessante, fomos conhecer uma loja que vende tapetes. Vimos um lindo tapete azul que é a cor de Fez. Também, vimos uma escola corânica e depois uma loja de teares e produtos de fazenda.

       Entramos também num maravilhoso restaurante, com uma grande quantidade de pétalas de rosas em um receptáculo circular. Estes enfeites com pétalas de flores perfumando o ambiente são muito comuns aqui, em geral, na entrada dos hotéis.

       A cidade velha, a Medina, e seu mercado, chamado souk. são, pois, labirintos com ruas intermináveis, onde se pode encontrar de tudo: a grande beleza e o trivial cotidiano de cultura milenar. Considero que aqui há também um perigo: a grande possibilidade de se perder.

       Quanto aos palacetes de luxo onde residia, há séculos, a elite do Marrocos, estão sendo transformados em hotéis que se chamam riads. É possível, pela internet, ver fotos de todos estes hotéis menores em que se transformaram as casas de luxo. Em geral, os artistas e pessoas importantes se hospedam nos riads, por serem menores e mais reservados.

       Após estas visitas e já era hora do almoço, fomos a um lindo restaurante, cujas paredes artisticamente trabalhadas lembravam os palácios já visitados. O preço dos pratos era em torno de 150 dihrams. Marialva eu pedimos uma refeição excelente. Primeiro prato: verduras: cenoura, berinjela e azeitona com bastante azeite extra virgem. O segundo prato bolinho de arroz e canela e um Tagine chamado Pastilla= prato de carne com ameixa-preta. Foi muito gostoso saborear este prato da cultura marroquina. Como sobremesa, as frutas da estação: mandarinas e bananas.

       Saímos da Medina às 15h49 e fomos conhecer uma escola de cerâmica e mosaicos. Foi muito interessante a visita a esta escola de aprendizagem, onde são exercitados e conservados estes saberes e ofícios culturais. O guia nos informa que, depois do trabalho de curtição do couro, este é um dos ofícios mais duros. Os fornos vão a 1200 graus e são alimentados com a casca da oliva, que produz muito calor e muita fumaça. O artesão nos explica também, que na temperatura de 1200 graus, a cor violeta se transforma em azul índigo.

       Voltando ao nosso hotel jantamos e, como sobremesa, tivemos frutas, entre elas, grandes romãs. É claro que fiquei muito feliz.

29 de novembro – sexta-feira – Fez – Meknes – Rabat – Casablanca

       Após o café da manhã, inicia-se o extenso programa para o dia de hoje: saída da cidade Imperial de Fez para a cidade de Meknes e, no caminho, visita às ruinas da cidade romana de Volubilis.

Saímos de Fez às 8h22. As paisagens, sem fim, são dominadas pelas oliveiras ora grandes ora pequenas, velhas ou novas. Há muitas extensões de terra com plantações novas, indicando a validade econômica desta cultura. Seguir por uma estrada ladeada por oliveiras é diferente de tudo o que estamos acostumados a apreciar! Ver, durante uma hora, somente oliveiras em seus diferentes estágios é bonito. Ás vezes, as oliveiras fazem também, o limite entre as propriedades.

       Agora são 9h36. Estamos numa planície com o terreno muito acidentado. Um pouco adiante, ao longe, vislumbro ruínas. O ônibus faz sua primeira parada com a finalidade de conhecermos a cidade romana de Volubilis. Aí me vem à cabeça, a primeira pergunta, que me emociona: mas esta região já foi dominada pelo Império Romano? A resposta é positiva.

       Saindo do ônibus, somos apresentados a um guia que nos fala sobre esta célebre cidade romana, quase totalmente escavada, e hoje, um museu arqueológico a céu aberto. Aqui abaixo estão parte das ruínas.

Habitada desde 3.000 anos A.C, foi uma cidade berbere, que fazia parte da Mauritânia Tigiana.

       O guia nos fala da história deste local, que anteriormente foi um assentamento cartaginês e quando os romanos chegaram, no primeiro século antes de Cristo, arrasaram os bosques para plantar trigo e converteram Volúbilis na dispensa do Império. Foram os romanos, no primeiro século da era cristã, e durante sua permanência, que lhe deram o aspecto atual. A cidade e muitos de seus habitantes, eram muito ricos, o que pode ser demonstrado pela excelência das casas de residência, com seus espetaculares mosaicos.

O guia nos informa que foi em 1915 que esta região de Marrocos, como protetorado francês, foi parcialmente escavada. Nesta oportunidade os franceses levaram tudo o que puderam para o museu arqueológico de Rabat, a cidade que a França escolheu como capital do protetorado de Marrocos em 1912.

A cidade romana de 15 mil habitantes, foi fundada no ano 40 D.C. e se distinguia na planície, pois estava situada numa pequena colina. Dedicava-se ao comércio de olivas e, devido a uma planície muito fértil, cultivava e comercializava cereais e outros produtos também. Depois de Roma se ter retirado da Mauritânia, no século III, a cidade regrediu. Os romanos foram suplantados, depois, pelas tribos que lá habitaram, após ano de 285 D. C. Hoje, mesmo abandonada e danificada pelo terremoto de Lisboa de 1755, conserva ainda os traços fundamentais que possuía como importante cidade romana.

“Quando a Mauritânia foi anexada, pelo imperador romano Cláudio, em 45 d.C., Volubilis ascendeu ao estatuto de ”municipia” que significa “cidade livre”, tornando-se uma das cidades mais importantes de Tingitana. Os edifícios públicos de Volubilis no bairro nordeste, datam do século I e os que rodeiam o fórum datam do século II”.

       Percorrendo a cidade com os colegas de excursão, observo que, em Volubilis, havia, realmente, centenas de edifícios importantes e era uma cidade romana completa. Havia muitos lindos e sofisticados mosaicos espalhados pela cidade, seja em locais públicas ou no interior das residências, ainda em bom estado. A basílica era o palácio de justiça e os templos eram dedicados a Júpiter, Juno e Minerva. A cidade possuía aqueduto, cloaca, um reservatório de Água, o relógio do sol, um solarium, onde fizemos fotos, o frigidárium, o vomitório muitos outros lugares que faziam parte desta cultura etc. Visitamos o lupanar, com o símbolo da fertilidade e nele o falo esculpido em pedra em alto-relevo, onde os guias de excursão sempre aproveitam para fazer uma brincadeira, quando os homens caem em uma cilada.

       O que aparece aqui também é o símbolo universal do ciclo do nascimento e renascimento, muito valorizado em todas as civilizações antigas, que é a Suástica.

       Seria necessário permanecer durante mais tempo nesse lugar para avaliar cada parte que compunha esta magnífica cidade romana. Foi muito impressionante percorrer seus espaços e sentir a cultura romana em cada parte de suas monumentais construções e locais de convívio e lazer.

Ao longe, cerca de três km, está Moulay-Idriss, primeira cidade Árabe, fundada em 788. Fiz esta foto tendo ao longe, (3 km) esta primeira cidade árabe. Quando a vimos, pela primeira vez, percebemos que, de longe, a cidade tem a forma de um dromedário.

       Às 10h55 m retomando a viagem, deixamos Volúbilis, com a boa sensação de ter visto em Marrocos, uma cidade romana, que me encantou. Lá estava, encantando nossos olhos e nossa imaginação, não só as características culturais da época, mas também os sinais de riqueza de seus habitantes.

Às 11h32, entramos na cidade de Meknes. Aqui, nosso guia local é Abdel, um professor da Universidade, formado em línguas, que, em homenagem ao dia sagrado, sexta feira, vem com o traje tradicional, a gelaba, era assim que escutei este nome.

Na internet, encontrei o que segue: “Em termos de roupa tradicional, a djellaba é uma das peças mais importantes do vestuário marroquino. É uma peça tradicional, larga, comprida e com mangas largas, que pode ser usada tanto por homens como por mulheres”.

       A cidade histórica é rodeada por uma enorme muralha de 45 km e 32 suntuosas portões e torres ricamente trabalhadas. Os portões nos chamam a atenção pela imponência e pela beleza.   

Fazendo parte da planície fértil do Saïs, Meknes se situa, ao norte da Cordilheira do Atlas Médio, a 150 km a oeste de Rabat e 60 km a leste da cidade de Fez. 

Fundada no século X, embora pequena e provinciana, Meknes, foi tornada capital pelo sultão Moulay Ismail, entre 1672 e 1727, da chamada dinastia aluita, que está até hoje no poder em Marrocos. Este sultão era sempre muito lembrado pelo nosso guia, por sua admiração a Luís XIV, o Rei Sol da França. Por esta razão, este sultão, construiu palácios e Mesquitas e portões suntuosos que dão entrada a Medina de Meknes, transformando-a na conhecida “Versalhes marroquina”. Após sua morte, em 1727, Meknes sucumbiu aos seus sucessores e ao terremoto de 1755, que também destruiu Lisboa. Quanto à geografia, vimos que Meknes é o ponto central de Marrocos: está situado à mesma distância tanto do Oceano Atlântico quanto do Mar Mediterrâneo. 

 Na sua produção industrial, predominam a transformação de frutas e verduras, a elaboração de azeite de palma, fundições de metal, destilarias, o fabrico de cimento e o artesanato, sobretudo de tapetes e lã. As principais produções agrícolas são cereais e frutas. A cidade está rodeada por uma cintura tripla de muralhas que abriga o palácio do sultão e uma cidadela do Califado Almóada.

       A cidade de Meknes nos explica o guia Anis, é uma das mais fascinantes cidades de Marrocos, com a sua vibrante vida noturna e excelentes restaurantes.

Uma das principais atrações de Meknes é o Palácio de Dar El Kebira construído pelo sultão Moulay Ismail no séc. XVII. Idriss nos fala que Moulay Ismail embelezou a sua capital, graças ao dinheiro confiscado aos marinheiros cristãos capturados no mar e presos na imensa prisão subterrânea que ainda hoje se pode visitar sob a Almedina de Meknes. Lembro da minha emoção ao pensar sobre as condições das pessoas que foram confinadas aí, quando estávamos caminhando sobre este espaço.

       O sultão Moulay Ismail, construiu portas monumentais, fortificações, edifícios, jardins, muralhas gigantescas cujo perímetro ultrapassa 40 km e numerosas Mesquitas com belos minaretes. Por essa razão, Meknes é chamada: ‘a cidade dos cem minaretes’. Ao mesmo tempo em ouvíamos estas explicações nos admirávamos ao presenciar as construções e os belíssimos mosaicos que tornavam estes monumentos muito especiais.

Meknes, é uma das chamadas “cidades imperiais”, com Fez, Marraquexe e Rabat. Foi chamada, durante o protetorado francês, de “Versalhes Marroquina” e “Pequena Paris”, nomes que realçam sua beleza. Frequentemente é considerada a mais bela das quatro cidades imperiais”.

Após estas explicações sobre a cidade de Meknes, recomeça a nossa viagem.

       Nesta cidade, veremos uma parte antiga, uma parte nova e a parte Imperial. O centro histórico de Meknes está classificado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, desde 1996.

Vemos, em primeiro lugar, uma das mais importantes portas de Meknes, chamada Bab Mansour el Aleuj, porta monumental da cidade imperial, construída em 1732.

É uma das mais belas obras de Moulay Ismail, e a porta mais imponente de Marrocos, senão mesmo da África do Norte. Conhecemos mais algumas magníficas portas que dão entrada para a Medina.

Após fazermos fotos diante do palácio real, diante da porta Bab Mansur, passamos por um grande tanque de água que historicamente, tinha a finalidade de fornecer água para os 12 mil cavalos do rei e também água para molhar as plantas. Em frente ao grande tanque há uma obra de arte, chamada o “Aguador”.

       Aí tivemos oportunidade de visitar e conhecer locais interessantes e históricos.

“Famosa pelos seus 40 quilómetros de muralhas, Meknès encerra o celeiro e as cavalariças reais, conjunto arquitetural gigantesco edificado por Moulay Ismail desdobrado numa arcaria infinita cujo ambiente refrescante convida a percorrê-la devagar, ao ritmo do embalo do muezzin que se solta do minarete mais próximo”.

       Chegamos no local dos graneleiros, os silos do sultão Moulay Ismail. São construções imensas, com a finalidade de estocar grande quantidade de cereais para alimentar os animais. Em certos momentos históricos, toda a produção do lugar era estocada aqui, e os representantes das comunidades e aldeias berberes tinham que receber, do rei, a parte que lhes caberia. Isto ocasionou muitos conflitos.   

Visitando os graneleiros, percebemos que tinham uma abertura na parte superior, para que, pudesse ser acrescentado grãos ao espaço ainda ocioso. As paredes de 4 metros de largura foi uma construção que resistiu ao terremoto de Lisboa. Na verdade, resistiu nos explicou nosso guia, por causa do modo de construção do teto que era abaulado.

         Ao lado vimos, a fantástica construção das cavalariças reais. Estas fabulosas construções, com 360 colunas de 2mx3m, sustentavam toda a estrutura, para abrigar os inacreditáveis 12 mil cavalos. No terremoto de Lisboa, como o teto era plano, este desabou, nos informa Abdel. Os animais podiam ser observados através da visão em diagonal das cavalariças, tanto que um homem poderia observar 36 cavalos ao mesmo tempo. Todas estas estruturas vão ser recuperadas. Muita coisa já foi recuperada nos assegura o guia. 

Após esta visita e observando as imensas muralhas que cercam a cidade, passamos por ruas com belos edifícios. Muitas pessoas estavam vestindo a gelaba. Neste caminhar, vimos um lugar plano, que tinha muitos respiradores.

 O guia nos falou que embaixo havia a prisão. Imaginei as condições deste lugar.

Em seguida, fomos visitar o palácio das artes e tradições. Lá conhecemos o processo de trabalho dos artistas com a arte chamada Damasquino. É um trabalho que consiste em incrustar fios ou folhas de ouro e prata em aço ou ferro. E o nome se refere à cidade Síria de Damasco.

 A especialidade de Meknes era incrustar filigranas de prata no ferro.

Muito interessante observar toda uma série de objetos de arte berbere, naquele palácio das artes. Neste local, além de uma série de joias e de trabalhos de todos os tipos, vimos, também, a exposição de bordados de crianças órfãs, em linho e seda, usável nos dois lados. Foi bonito observar a perfeição: o lado avesso tinha a mesma perfeição que lado direito. Eram crianças alunos de um colégio católico, sob a orientação de religiosas franciscanas.

       Passamos pela Medina de Meknes admirando diversos ofícios! Os mosaicos de Meknes tem as quatro cores das quatro cidades imperiais: branco, verde, vermelho e azul

O guia nos passou muitas informações sobre a Versalhes Marroquina, que fala do grande Moulay Ismael. Ao ver esta maravilha todos ficamos encantados.

Não me recordo deste nosso excelente guia ter falado sobre o outro aspecto da via deste sultão. Ao fazer a pesquisa, encontrei estes dados na internet, que julgo importante inserir aqui:

“Ismail é famoso como uma das figuras marcantes da história de Marrocos, bem conhecido pela sua crueldade lendária. Para intimidar tribos rivais, ordenou que os muros da cidade fossem «adornados» com 10 000 cabeças de inimigos assassinados. Lendária é a facilidade com que condenava à decapitação ou à tortura os criados que considerava preguiçosos. Nos 20 anos do regime de Ismail, cerca de 30 000 morreram como consequência de suas decisões. Ismail usou cerca de 25 000 prisioneiros cristãos e 30 000 criminosos comuns como trabalhadores escravos na construção da sua grande cidade. Foram capturados mais de 16 000 escravos da África subsaariana para servir a sua guarda negra de elite. Pela altura da morte de Ismail, a guarda crescera para o décuplo, o maior exército da história marroquina”.

       São 13h30 e agora vamos almoçar em Meknes e depois seguiremos para a capital, Rabat.

       Na saída de Meknes, um edifício, intitulado “Palais de Foire”- corpo de bombeiros, me diz que esta terra já foi francesa (durante 46 anos, Marrocos foi um protetorado francês). Ao lado da estrada, muitas árvores, cortadas com estilo, cheias de laranjas. Passamos por mais um cemitério abandonado, o que é comum aqui em Marrocos.

       Pelo caminho, vejo só terra preta preparada para iniciar o plantio das azeitonas. Estamos subindo e a estrada, agora, é duplicada. No alto, um cemitério no meio do campo, também abandonado.

       Estamos viajando faz uma hora numa região de pequenas propriedades cujos limites são feitos com oliveiras. Aqui, também, vejo muito figo da Índia, já maduro. Este delicioso figo o experimentei em Marraquexe e aqui, era abundante e estava ao alcance da mão. Nã hora me veio este pensamento: quem tem esta abundância não passará fome, jamais. Compondo a paisagem, um rebanho de cabras e depois planície a perder de vista. Agora uma cidade e depois a paisagem rural se repete.

       São 16 horas. Passamos pelo “Gare de Peage” = pedágio. Novamente a herança francesa em Marrocos.

       A viagem continua e eu observo, além das árvores de azeitonas muito velhas e retorcidas, grandes plantações de sobreiros, árvores que produzem cortiça. Minha memória recupera outra lembrança ao observar estas árvores com o tronco descascado. Recordei minha viagem a Portugal, quando, entre Lisboa e Évora, vi milhares de pés destas árvores, e a pergunta que fiz então foi: qual a razão de estarem com o tronco descascado deixando o tronco da oliveira com uma cor avermelhada? Recebi a informação que do tronco da árvore tinha sido retirada a cortiça. Além da cortiça, o sobreiro produz um fruto, as bolotas das quais as varas de porcos se alimentam. Naquela oportunidade também aprendi que o célebre “Presunto Ibérico Pata Negra” provém da carne destes porcos, assim alimentados.

       Aqui mais algumas informações, que obtive na internet, desta árvore tão especial.

“Esta árvore tem uma casca que é única dentre todas as árvores do mundo. A casca da árvore é ‘descascada’ do tronco e, novamente nasce uma outra casca no lugar. Assim, todas as árvores são uma fonte de matéria-prima. A primeira casca é obtida quando a árvore atinge 25 anos de idade. A casca pode ser extraída de 9 em 9 anos, geração após geração e a árvore pode ter até 200 anos de vida. Uma árvore com 80 anos pode produzir até 200 quilos de cortiça quando extraída”.

       Viagem para a capital Rabat e finalmente chegada em Casablanca à noite.

E assim observando e conversando com colegas da excursão vamos chegando a Rabat, a capital do antigo Marrocos francês.

       Em Rabat, vive o atual rei Mohamed VI! É uma cidade de funcionários, militares e universitários, nos informa nosso guia.

Mohammed V, o avô do atual rei, foi chamado o pai da nação, porque lutou 43 anos pela independência de Marrocos e iniciou o processo de modernização do país. Aqui em Rabat tem seu mausoléu, que será visitado pela nossa excursão.

     Nossa primeira visão ao chegar à cidade capital foi ver a torre inacabada e junto a ela o Mausoléu onde jazem o rei Mohammed V de Marrocos (1909–1961) e os seus dois filhos, o rei Hassan II (1929–1999); pai de Mohammed VI, que foi coroado em 1999 e de Moulay Abdallah.

Em Rabat, a capital, vamos visitar também os Jardins do Palácio Real, a torre Hassan, o Mausoléu Mohammed V, aos jardins Oudaya e o Chellah. 

Entramos no Mausoléu construído onde estava parte da mesquita da torre inconclusa.

       Os franceses fizeram de Rabat uma cidade Jardim! Além de construir um jardim Botânico, criaram uma cidade verde, com os eucaliptos da Austrália.

“Rabat foi considerada a “Cidade Verde“ em 2010, dispondo atualmente, de 230 hectares de espaços verdes, para além dos 1063 hectares de floresta de Maamora, que rodeiam a cidade. Esta mancha verde marroquina continua a ser a maior floresta de cortiça em todo o mundo.

E aqui nos encontramos novamente com a história remota:

“A torre inacabada é uma das obras emblemáticas da arquitetura almóada, construída no século XII. A sua escala monumental não tem paralelo no Magrebe da sua época e é considerada um dos melhores exemplares da arquitetura islâmica ocidental. O seu estilo é similar ao de outros dois minaretes célebres construídos durante o reinado de Yakub al-Mansur: a Giralda de Sevilha e a Koutoubia de Marraquexe, sendo este último o mais antigo. ”

       A Medina, ou centro comercial de Rabat é muito antiga e imensa. Nós não tivemos oportunidade de conhecê-la, cercada de imensas muralhas, como acontece em todas as cidades antigas. São 17h45 e estamos partindo para Casablanca. Aqui já anoiteceu. A viagem foi tranquila. Chegamos a Casablanca às 21h.

30 de novembro – sábado – Casablanca – São Paulo

       Hoje é o dia de conhecer a majestosa obra de arte, a Mesquita Hassan II.

Neste dia de céu muito azul, saímos do hotel às 9 h passamos pelas praças onde alguns turistas ficaram. Estou junto com aqueles que haviam comprado a entrada para a Mesquita, ao preço de 15 dólares, e nos dirigimos a este magnífico templo.

Desta vez, poderemos entrar nesta Mesquita do mundo árabe muçulmano sunita. Ao chegar, fui tomada pela surpresa de ver um local de tanta suntuosidade e arte. Além de servir como Mesquita, sobretudo às sextas-feiras, quando é capaz de albergar até 100.000 fiéis: 80.000 no pátio e 25.000 na sala de orações, o edifício tem outras funções: una madrassa (escola corânica), salas de conferências, hammams (banhos), bibliotecas especializadas e um estacionamento subterrâneo.

Estamos no interior da grande Mesquita Hassan II e desde logo podemos dizer: esta visita é imperdível Anis nos informa que sua construção deixa transparecer, na arquitetura, o desejo da união das religiões, por apresentar outros elementos religiosos, além dos da religião muçulmana. Como dissemos, a Mesquita é diferente de todas as outras: ´Suas dimensões são imensas. A base é retangular (100 m x 200 m) como as catedrais góticas. A altura é de 60 metros. Há nas alturas, 360 alto-falantes camuflados em ricos detalhes.

       A torre e o minarete têm 200 metros. A Mesquita está construída, em parte, sobre o mar. onde grossas colunas encontram, após 60 metros dentro do mar, o seu ponto de apoio. Só mesmo vendo com seus próprios olhos, toda esta exuberância do fazer humano. Os ambientes todos muito amplos e diversos: sala de oração, salão de purificação.

O interessante é que o lugar das abluções tem a forma de flor de lótus. (Cultura budista) etc.

Os materiais usados, em grande quantidade, são: cedro, travertino, mármore de Carrara, granito, lustres de murano, (uma tonelada) mármore, etc. O teto pesa mil e cem toneladas e se abre para deixar entrar o ar). A mesquita contempla, pois, os três elementos: água, ar e terra.

       As mulheres rezam na parte de cima como na sinagoga, onde podemos ver o muxarabi.

“O muxarabi é um recurso criado pelos árabes, muito parecido com o Cobogó, para fechar parcialmente os ambientes de maneira que quem está dentro possa ter visão total do lado externo, porém de forma a preservar sua intimidade (a principal função do muxarabi no mundo árabe era proteger as mulheres de olhares masculinos). Cobogó é a denominação dada a elementos vazados, normalmente feitos de cimento, que completam paredes e muros para possibilitar maior ventilação e luminosidade no interior de um imóvel, seja residencial, comercial ou industrial. Seu nome deriva das iniciais dos sobrenomes de três engenheiros que no início do século XX (1929 ou 1930) trabalhavam na cidade brasileira do Recife e conjuntamente o idealizaram: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis”.

É inenarrável a beleza desta Mesquita Hassan II , a 3ª maior Mesquita do mundo muçulmano, cuja construção custou 800 milhões de dólares.Em grandiosidade a primeira Mesquita é a de Meca e a segunda a de Medina.

“Foi desenhada pelo arquiteto francês Michel Pinseau e os trabalhos de construção começaram em 12 de julho de 1985. Foi inaugurada em 30 de agosto de 1993 etc. O custo aproximado da mesquita foi de 5494 milhões de dirham (cerca de 504,85 milhões de euros). A sua localização (junto ao mar) deve-se a Hassan II se ter inspirado no seguinte versículo do Corão: “O trono de Deus encontrava-se sobre a água”.

       Diversas entidades ajudaram na construção desta fantástica Mesquita, ou seja, o rei de Marrocos, os países árabes, a Arábia Saudita, os residentes estrangeiros, etc.

       Trabalharam em sua feitura 78 arquitetos marroquinos e um francês. Nela também trabalharam 10.000 artesãos e 2.500 operários, durante 6 anos, noite e dia sem parar. Artesãos marroquinos trabalharam com mármore, granito, madeira, mosaicos, estuque e outros materiais para elaborar os tetos, pavimentos, colunas. Hoje trabalham na Mesquita 360 pessoas e há um grande retorno financeiro para Casablanca e Marrocos.

A torre da Mesquita é sempre voltada para Meca. Na religião muçulmana não há intermediário, nem confessionário, e nem batismo.

Possui seu minarete como o maior do mundo (210 m de altura). 

       Saímos encantados todos, com tanta beleza! E se alguém quiser conhecer o interior desta Mesquita, pode acessar á Internet, que apresenta ótimas fotos do interior e do exterior. Ao sair da Mesquita, no lado oposto está o grande porto de Casablanca. O céu estava azul e o mar o refletia.

       Fomos ver também uma loja onde a maioria das excursionistas fez muitas compras. Lá comprei pequenos camelos, camiseta, chaveiros, marcador de livros, e toalha para presentear. Ao voltar para o ônibus pensei que tivesse perdido o caderno das anotações. Mas, graças a Deus, estava bem guardado.

       Tarde livre. Marialva e eu fomos ao shopping. Em seguida, antes de ir para o aeroporto fizemos um tour pela praia. Na oportunidade , vimos também o farol de Casablanca.

“O termo farol deriva da palavra grega Faros, nome da ilha próxima à cidade de Alexandria onde, no ano 280 a.C., foi erigido o farol de Alexandria— uma das sete maravilhas do mundo antigo. Faros deu origem a esta denominação em várias ínguas românicas; como em francês phare, em espanhole em italiano faro e em romeno, far”.

Translado ao aeroporto para embarque com destino a São Paulo.

11º Dia – São Paulo

Chegada e fim dos serviços!

Adeus Marrocos!

       Os dias em que estive nas cidades de Marrocos foram poucos para poder ver e admirar o muito desta cultura milenar que lá existe.

       No entanto, o pouco que vi, me deixou a certeza de que há muito mais para conhecer neste país que guarda muitas histórias em suas planícies, seu mar, montanhas, deserto, cidades novas e nas amuralhadas medinas milenares em sua cultura.

       Foi uma experiência maravilhosa e muito rica esta de visitar Marrocos!

Gratias a la Vida

Florianópolis, 31 de janeiro de 2018

Anexos

A POPULAÇÃO JUDAICA NA ÁREA CONTROLADA PELOS FRANCESES NO NORTE DA ÁFRICA

Sarah Sussman – Universidade de Stanford

Em 1939, a região do Norte da África, controlada pelos franceses era composta por três colônias: Argélia, Marrocos e Tunísia. A maior parte da população das três colônias era de árabes e berberes de religião islâmica. Havia um grande número de colonizadores franceses e de outros países do sul da Europa, principalmente na Argélia, e os judeus constituíam a menor porcentagem da população das colônias. A Argélia era tecnicamente parte do estado francês, mas a Tunísia e o Marrocos eram protetorados franceses. A Argélia e a Tunísia haviam tido regimes locais controlados pelo Império Otomano desde o século 16, mas no século 19 foram conquistadas pela França e transformadas em colônias. As tropas francesas que invadiram a Argélia em 1830, durante os 30 anos seguintes estabeleceram seu controle sobre o restante do território, ali criando uma colônia de assentamento. No início da Segunda Guerra Mundial a população argelina era de cerca de 7.235.000 pessoas, sendo a grande maioria, mais de 6 milhões, composta por árabes e bérberes.

Em 1881, a Tunísia tornou-se um protetorado francês, e o governo do líder local, o Bey, teve seu poder reduzido apenas à esfera doméstica. Diferentemente da Argélia, que era governada diretamente pela França, o país pode manter sua soberania, ainda que apenas nominalmente, pois seu território estava sob o controle de um governador francês, o Residente-Geral, e de tropas militares francesas. Em 1936, a população tunisiana era de cerca de 2.600.000 pessoas, das quais 2.336.000 eram árabes e berberes de crença islâmica, e as demais eram de origem judaica ou eram colonizadores de origem europeia.

O Marrocos nunca esteve sob o controle do Império Otomano, mas sim sob a dominação do sultanato sherifiano, exceto nas áreas ao norte, as quais estavam sob domínio espanhol. Em 1912, o Tratado de Fez transformou grande parte do Marrocos em protetorado francês, contudo a monarquia sherifiana foi mantida, apesar da presença militar francesa e da presença de um Comissário-Geral encarregado da segurança doméstica e de todos os não-marroquinos que ali viviam. Durante o período em questão, a população marroquina total era de cerca de 7 milhões de pessoas, com aproximadamente seis milhões de árabes e berberes de fé islâmica, e o restante era constituído por judeus que ali viviam há séculos, e por europeus de diferentes nacionalidades.

No início da Segunda Guerra Mundial, cerca de 400.000 judeus viviam na região sob controle francês no norte da África, representando apenas 3% da população local. A maioria destes judeus africanos havia migrado de vilarejos para cidades coloniais: no Marrocos para Casablanca, Rabat, e Fez; na Argélia para Argel, Orão, Tremecém, Sidi-Bel-Abbès e Constantina; e na Tunísia para Túnis, Sfax, e Sousse, onde constituíam parte significativa da população não-muçulmana naquelas áreas urbanas.

A grande maioria dos israelitas do norte da África era nativa da região, descendente de antiquíssimas e sucessivas ondas migratórias judaicas por todo o Mediterrâneo, como a de comerciantes israelitas que lá chegaram junto com os mercadores fenícios no século 9 AEC, de tribos berberes convertidas ao judaísmo, e de refugiados que fugiram da Inquisição na Península Ibérica, e em outros países mediterrâneos, entre os séculos 13 e o 16. No norte do Marrocos, e no oeste da área argelina de Orão, vivia um número considerável de judeus espanhóis e de falantes do Ladino; e na Tunísia e na Argélia viviam, predominantemente, judeus com raízes no centro comercial de Livorno, na Itália. Os judeus nativos dos três países falavam “judeu-árabe” e “judeu-berbere”, a despeito do fato de que estas línguas houvessem perdido sua importância frente ao idioma francês durante o período colonial. No norte da África vivia também um pequeno número de imigrantes israelitas, recém chegados de diversas partes da Europa.

Na Argélia, de acordo com um censo realizado pelo governo de Vichy, em 1941, viviam cerca de 111.000 judeus argelinos e 6.625 judeus estrangeiros. Em 1870, o Decreto Crémieux havia concedido a todos os judeus locais a cidadania francesa plena, e eles participavam ativamente das instituições educacionais, políticas, e sociais da colônia. Entretanto, os judeus do Marrocos e da Tunísia, assim como seus conterrâneos islâmicos e cristãos, não receberam cidadania francesa, e permaneceram como meros colonos sob o domínio francês. A Tunísia era o lar de 68.000 judeus tunisianos, 3.200 judeus italianos, 16.500 judeus franceses, e 1.660 judeus de outras nacionalidades, principalmente britânicos. O Marrocos tinha o maior contingente populacional israelita da região, com um total de cerca de 200.000 pessoas, sendo que aproximadamente 180.000 delas eram nascidas no Marrocos, 12.000 eram judeus franceses, e o restante era composto por israelitas estrangeiros.

A população judaica do norte da África era dividida social e economicamente. Embora existisse uma próspera classe média, formada por profissionais liberais, ela representava apenas 6% da população judaica na região. A maioria das famílias judias, nas três colônias, era pobre, e mais da metade era constituída por artesãos, operários, ou trabalhadores assalariados. Os maiores grupos ocupacionais trabalhavam no comércio, na agricultura, ou nos vários segmentos da indústria têxtil. Apesar disto, no início do século 20 a maioria dos judeus norte-africanos, particularmente os da Tunísia e da Argélia, havia se assimilado à sociedade e à cultura francesas.

A principal característica da sociedade argelina colonizada era o antissemitismo. Na visão dos colonizadores, a concessão da cidadania francesa aos judeus argelinos, com a consequente garantia de direitos políticos para eles, era considerada perigosa para a sociedade argelina que desejavam criar. No início do século 20, jornais antissemitas prosperaram na Argélia, e os políticos das principais cidades foram eleitos graças às suas plataformas anti-judaicas. Os antissemitas europeus que viviam na Argélia também tentaram induzir os islâmicos a se voltarem contra os judeus e, embora não houvessem obtido grande sucesso, não causa surpresa que aquele ambiente tenha se tornado solo bastante fértil para a criação de medidas anti-judaicas inspiradas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os antissemitas europeus lançaram boatos culpando os israelitas pela derrota francesa frente à Alemanha, e incitaram a população a cometer assassinatos em massa, ospogroms. Em setembro de 1940, as lojas de propriedade de judeus na Argélia foram atacadas e saqueadas, sem praticamente qualquer reação por parte das autoridades. Como decorrência do fato de que o Marrocos e a Tunísia tinham um menor número de colonizadores europeus do que a Argélia, naqueles dois países as organizações francesas de direita tiveram um impacto menos acentuado.

Entretanto, no final da década de 30, a Alemanha nazista e a Itália fascista tentaram exportar o anti-semitismo europeu para os dois protetorados e para a Argélia, disseminando propaganda política direcionada aos islâmicos que viviam na área ao norte da África colonizada pelos franceses, em uma tentativa de incrementar sentimentos anti-judaicas locais. Jornais, panfletos e programas de rádio nos idiomas árabe e berbere incentivavam pogroms, boicotes econômicos ao comércio de propriedade de israelitas, e também promoviam o pan-islamismo e o nacionalismo entre aqueles povos. Os serviços consulares italianos nas colônias francesas espalharam boatos, acusando tanto os judeus marroquinos e tunisianos de serem agentes da dominação francesa, quanto os judeus palestinos de fazerem parte do imperialismo britânico no Oriente Médio. No Marrocos e na Tunísia, os italianos proprietários de negócios eram pressionados para demitir os funcionários israelitas.

Todas essas medidas resultaram em um crescimento do sentimento antissemita por parte dos islâmicos, e na subsequente onda de violência contra os judeus e seus bens.

4 Comentários

  • ILSE MARIA JAPP

    Liebe Anita, é sempre uma alegria imensa “viajar dentro e através dos seus relatórios” e acompanhar o seu olhar característico para os mais diversos detalhes das paisagens, dos habitantes, da cultura e dos ambientes visitados. As suas observações particulares enriquecem cada momento vivenciado, cada trecho percorrido e literalmente nos estimulam a querer ver e saber mais e mais. Sinto-me profundamente grata pela sua disposição e empenho em elaborar e compartilhar este material tão precioso! É inestimável a sua contribuição àqueles que realmente desejam conhecer o próprio lar… nosso planeta Terra!

    • Anita

      Querida Ilse, como é bom e gratificante ler os seus especiais comentários, após leres com persistência cada um dos longos relatos de minhas curtas viagens, pelo planeta Terra, como lembras, com tanta amorosidade. Eu também, sinto-me profundamente grata pela valorização que fazes a respeito das vivencias e dos conhecimentos, com que enriqueço cada momento vivido. Teus comentários sempre são um grande estímulo que recebo com alegria, pois eles me incentivam a continuar. Receba meu grand abraço, amiga!

  • Evanilda Teixeira

    Maravilhoso Anita, seus relatos de viagem são verdadeiras aulas de história; eu também já viagei por estes lugares, porém não vi metade desta riqueza de detalhes que você relatou.

    • Anita

      Querida Evanilda, que conheci nas nossas inesquecíveis aulas de espanhol e desde aquele tempo, nunca deixamos de nos comunicar, juntamente com os outros colegas, que hoje consideramos amigos. Gostei de ler seu comentário, onde chamas a atenção para os detalhes e para o que consideras verdadeiras aulas de história. A explicação é simples, pois ao visitar lugares desconhecidos com olhos de plena atenção, muitíssimas perguntas me interrogam e eu sinto a necessidade de , em seguida, procurar estas respostas. Como aposentada, tenho tempo para me dedicar, depois de voltar da excursão, àquilo que gosto: pesquisar e depois escrever elaborando o conhecimento. Faço isto com paixão e da mesma forma, o compartilho, aguardando com muita alegria os que, numa troca, escrevem seu comentário. Receba meu grande abraço, Evanilda

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