Portugal – Espanha – Inglaterra – Escócia – Riviera Francesa – Itália
Viagem a Portugal – Espanha – Inglaterra – Escócia – Riviera Francesa – Itália
“O fato é que meu interesse pelo mundo se renova; testo o meu poder de observação e examino até onde vão minha ciência e meus conhecimentos, se meus olhos estão limpos, veem com clareza, quanto posso aprender em meio à velocidade, e se as rugas sulcadas e impressas em meu espírito, podem ser, de novo, renovadas”.
Goethe, J.W, Viagem à Itália 1786-1788, São Paulo, Companhia das letras, 1999
[Estação Santa Apolônia – Lisboa – Portugal – 1999] Li, em algum lugar:
“Os diários são um maravilhoso meio de resgatar significados e valores de sua vida, tornando-se os companheiros perfeitos do processo de parar. O ato de colocar por escrito os acontecimentos e os sentimentos da vida nos faz observá-los, dar-lhes importância e conservá-los. Talvez queira, simplesmente, reunir suas próprias frases e epígrafes favoritas e mantê-las num lugar especial”.
“A REALIDADE SUPEROU OS MAIS LINDOS SONHOS”
Tomei notas para este relatório, dia após dia, durante os dois meses em que eu estive viajando por Portugal, Espanha, Inglaterra, Escócia, Riviera Francesa e Itália. Saí de Florianópolis no dia de 1 de agosto e voltei no dia 1 de outubro de 1999.
A sensação que me acompanhou ao escrever, dia após dia, este diário, foi como se eu não pudesse deixar perder, da minha memória, as paisagens, as pessoas, os conhecimentos, as sínteses e as alegrias que as experiências que eu ia fazendo, me possibilitavam. Aqui deixo registrado o prazer que sinto, ao acordar, agora, minha memória afetiva. Nesta viagem, tão prazerosa, encontrei tantas pessoas queridas, que jamais esquecerei. Houve, também, momentos de muita tensão que me impulsionaram a descobrir que uma boa dose de paciência, de relaxamento e de confiança na vida, poderia fazer-me “aprender a arte de transformar situações desagradáveis em ações criativas”.
Gostaria de iniciar este meu escrito com o relato de meu encontro com leituras que pude fazer, antes e também depois desta viagem.
Após voltar, chamaram a minha atenção relatórios de viagem que estavam nas estantes das livrarias. Lá descobri o livro de Goethe intitulado “Viagem à Itália 1786-1788” e o livro de Osvaldo Ballarin com o título: “Viajar encanta – notas e crônicas de viagem”.
Deixo aqui o que o autor Osvaldo Ballarin, sob o título “Voemos”, transcreve nestes versos de C. Puskin (1799-1837):
“Somos pássaros livres, já é tempo, já é tempo
Para lá onde atrás das nuvens embranquecem as montanhas
Para lá, onde as orlas marinhas se tornam azuis
Para lá, onde somente passeamos o vento e eu”!
E também:
“Se é verdade, como se afirma, que viajar ajuda a formar a juventude, não há dúvida de que ao propiciar novas paisagens e novos contatos com pessoas de outras nacionalidades, de outras culturas, as viagens agem como um estimulante da vitalidade”.
E conclui:
“viaje logo, o mais cedo possível, se ainda quer achar encantos por todos os cantos”.
O autor relembra as três etapas de uma viagem! Sempre fazemos uma viagem, num tríplice desdobramento no tempo: ao projetá-la, ao realizá-la e ao relembrá-la. A 1a, que é uma mistura de sonho e planejamento, precedem os preparativos para a partida. A 2a, nos faz pensar nas peripécias, dificuldades e imprevistos que quase sempre, surgem na sua realização. A 3a, nos faz ver a importância de revocar as sensações experimentadas: sou de opinião que ver e rever é viver.
Na verdade, identifico, que na minha longa viagem sucederam estes três desdobramentos. A 1a etapa, ou seja, o planejamento, posso dizer que foi razoavelmente preparada. Tive contato com a história e geografia de Portugal, através de extenso material, gentilmente emprestado pelo Consulado de Portugal, em Florianópolis, na época sendo o prof. João Lupi, professor de Filosofia da UFSC, Cônsul Honorário do Brasil. Manuseei muitos livros e revistas que continham os aspectos histórico, geográfico e cultural de cada cidade e região de Portugal. Aí me surpreendi com o que eu desconhecia: a imensa riqueza histórica de deste país. Eu me dei conta que conhecia pouco esta história, até então. Logo percebi que eu ia me encontrar com um mundo fantástico.
Nesta 1ª fase de planejamento, falei também, com algumas pessoas amigas que já haviam viajado muito ou que moraram naqueles lugares da velha Europa. Sobre a Espanha falei com meus amigos Angel e Maria Helena. Também me foram apresentados dados sobre lugares interessantes, como por exemplo Londres, nas conversas com Clélia, com Nelma e com Noronha. E de todas essas pessoas, eu ouvia: você não pode deixar de ver isto, de experimentar isto (sobre pratos típicos) de fazer esta viagem, de ver este castelo ou museu e mais isto e mais aquilo! E aqui, deixo a estas amigas e amigos, o meu agradecimento.
Nas revistas especializadas em viagem, eu tomei notas sobre coisas práticas e que, conhecê-las numa viagem, faria a diferença: aeroportos, dinheiro, tempos melhores para viajar e uma infinidade de dicas que não podem ser desconhecidas, para quem, quer fazer uma viagem sozinha. E assim eu ia tomando nota de tudo, fazendo vislumbrar, que esta viagem ia ser realmente fantástica! Importante foi ter em mente que, o Império Romano e a dominação de 800 anos pelos árabes na Península Ibérica, deixaram testemunhos em pedra e na cultura desta história, que eu teria a oportunidade de conhecer nesta viagem. Viajei sozinha sim, para conhecer povos e terras diferentes, tendo no entanto, importantes pontos de apoio, em diferentes países. Posso dizer que minha viagem foi um encanto! Eu tomava nota de todas as vivências, diariamente, com o objetivo de depois, elaborar este relatório. E talvez, como diz Goethe, dizer aos meus amigos e a quem se interessar por ler estes relatos, onde estive e quantas coisas históricas existem para se conhecer, neste nosso mundo.
De outro lado, após voltar a Florianópolis, li o livro de Goethe intitulado: “Viagem à Itália: 1786-1788”. Lá encontrei alguns dados interessantes nas experiências de viagem deste autor, que muito me gratificaram, pois com algumas características apontadas por ele, eu me identifiquei. Percebi no poeta Goethe, um homem que convivia com o despertar do pensamento científico e, ao mesmo tempo, este cientista geógrafo, tinha o olhar de poeta. Em seu relatório da viagem que fez à Itália em 1786 –1788, ele deixou todas as impressões e as observações e o encantamento que a viagem, no sacolejar de uma carruagem, lhe proporcionara. Entre outras coisas, ele deixa transparecer que quer dar a seus amigos a noção daquilo que ele mesmo viveu, quando diz que, ele organiza o que escreve para que “meus amigos possam ter um breve panorama de minhas aventuras”.
Goethe nos diz que o seu plano de viagem foi longamente arquitetado, mas sua execução lembra mais uma fuga sob o manto do impulso e do anonimato. Fala, também, de um estado de espírito, que eu também experimentei: ele se moveu sempre em estado de encantamento. Tanto que, as tarefas mais simples como trocar dinheiro, carregar malas, procurar um quarto, fazem nascer em seu espírito “uma elasticidade inteiramente nova”.
Diz Goethe que “nada escapa ao viajante: a cor e o aroma das frutas, os rostos de homens e mulheres, a poeira da estrada – nada escapa ao viajante que de coração aberto, acolhe cada um dos dados dos sentidos, como uma dádiva”. Goethe observa: os paralelos e a latitudes: “escrevo isto à altura do paralelo 49”. Fala da composição do solo e da geografia que localiza tudo o que vê: “os rios correm ao nosso encontro”. “Faço logo uma ideia de toda e qualquer região, quando me ponho a pesquisar seu mais minúsculo curso d’água, para bacia a que pertence estabeleço relação entre montanhas e vales”. Diz quantas horas percorreu de uma a outra localidade. Nota a mudança de solo. Percebe muitas igrejas e muitos conventos e louva os Jesuítas e sua inteligência na construção de tão lindas obras de arte. Fala da natureza e dos encontros humanos: “Parti de Munique às 5 horas, com enorme massa de nuvens que se detinham firmes sobre as montanhas tirolesas”. “Conta o encontro na carruagem com a menina”. “Fala do reino animal, mineral e vegetal. Fala da influência da latitude sobre as plantas. Caules maiores nas baixas e enormes e delgados nas altas”.
Sobre a aparência das pessoas no Tirol austríaco, ele escreve: “A gente é brava e honesta. Todos trazem uma flor ou uma pena no chapéu”. Goethe estava em Trento, na Itália, em 11/9, e isto me faz recordar a terra de meus bisavôs, Cândido Pintarelli e Pietro Moser.
A VIAGEM NO ESTADO DE ENCANTAMENTO
Este foi, como já afirmei, também o estado em que eu me encontrava neste tempo de gratuidade da Vida, quando nada havia para resolver, somente me abrir ao novo que a todo dia me era oferecido, graciosamente. O meu olhar e a minha atenção se abriram para a oportunidade única de admirar, não só natureza, mas as diferentes pessoas com suas culturas, as culturas com sua arquitetura e sua história. Possibilitaram-me, acima de tudo, completar as aprendizagens que, ao longo da vida eu tinha somado e construído, no entanto, somente com uma visão teórica.
Espero que cada linha que eu escrevi, na sua aparência tão simples e sem importância, deixem transparecer o que eu senti. O prazer de alguns relacionamentos que fiz, alguns muito rápidos, como uma hora de conversa no trem ou no avião ou no ônibus ou na fila das agências de viagem ou na porta de uma Igreja ou na frente de uma banca de jornais ou numa feira ou numa praça. Ou a alegria de ver paisagens tão inusitadas e diferentes das nossas ou os momentos de êxtase silencioso admirando as obras de arte de um Museu Prado, em Madrid ou na Nacional Gallery, em Londres. Estes agradáveis momentos ficarão para sempre marcados na minha memória e serão sempre recordados com igual prazer.
E concluo que quando a gente quer, pela atenção que se presta a pequenos gestos, as pequenas e grandes coisas, descobre-se sempre novas razões de viver e novos espaços de convívio humano, que são, com toda a certeza, muito gratificantes. Se a maior parte do que nós somos é recordação e memória, certamente este investimento que fiz, será, para sempre uma parte de mim, que me proporcionará muitos momentos de felicidade, cada vez, que por um passe de mágica, eu puder recuperar o tempo que já passou, por esta maravilha de instrumento que nós temos, que é a nossa memória.
E sobre o fato de, 20 anos após ter feito o relatório desta viagem, eu estar agora, enriquecendo-o com mais pesquisas, agregando-lhe novos mapas e fotos, tornam mais cheio de significado o que vi e vivi naquela oportunidade! Poder socializá-lo na internet é um motivo a mais de gratidão à Vida. Agora, quando recordo todos os trajetos que fiz pela velha Europa, na aparência quase inacreditáveis, relembro que os fiz com tempo e tranquilidade, pois os meios de transportes que estão à disposição de todos, assim os possibilitaram.
E a viagem chegou ao seu término, mas, na volta de Madrid a Florianópolis, aconteceu outra sincronicidade que enriqueceu a experiência feita: encontrei, na última página de uma revista, no avião, uma carta escrita por um jornalista J. O., que traduzi e aqui transcrevo, por que relata bem o enriquecimento que proporciona uma viagem.
A VIAGEM E O LIVRO DA VIDA
“Dizem que a vida é um livro e que muitos morrem sem havê-lo lido ou simplesmente não passam da 1a página porque só se limitam a conhecer seu país natal. Todas as páginas deste livro são constituídas por países, gentes, costumes, experiências, odores, sons, paisagens, climas, surpresas, lugares insólitos e personagens que permanecem na recordação e formam parte da vida de cada um”.
“Eu, que tenho viajado profissionalmente pelos cinco continentes; que tenho contemplado extasiado em centenas de aeroportos os personagens mais variados e surpreendentes; que minha imaginação tem construído sobre cada personagem toda uma história de novela, tenho chegado a lembrar-me de cada país, por alguém que conheci e que conseguiu me impactar, emocionar-me ou surpreender-me. Sempre associo os países com pessoas a quem posso pôr rosto e até nome. Às vezes me esqueço dos monumentos artísticos, das belezas naturais e dos hotéis, e só funciona a máquina da recordação quando a cada país ponho um nome, um apelido, um rosto. Viajar forma parte do livro da vida sempre que a viagem não seja ir de um lugar ao outro. Para viajar há que se fazer trabalhar a imaginação, a curiosidade, a fantasia e a ilusão. Viagem é nascer e morrer a cada passo; e sobretudo, conhecer gente, penetrar na alma humana, tentar entender os países através de seus habitantes, de suas tragédias, de suas misérias.”
“Dizem que a vida é um livro. E um livro, neste caso o livro da vida, tem que lê-lo sempre completo”. J. O.
RELATÓRIO DE VIAGEM
1 de agosto a 1 de outubro de 1999
Portugal, Espanha, Inglaterra, Escócia, Riviera Francesa e Itália.
1 a 2 de agosto – domingo e segunda-feira
Estou iniciando minha viagem, de dois meses, para a Europa. Meu primeiro destino é Lisboa, com uma parada anterior de um dia em Madrid, como programa da empresa aérea.
Saio num voo de Florianópolis para São Paulo no dia 1 de agosto e do aeroporto de Guarulhos, parto às 16:30 horas. Após 11 horas de uma viajem ótima e serena, chego, no dia 2, às 6 horas, em Madrid. Troco dólares no aeroporto e, às 11 horas, consigo entrar no Hotel Gran Colon.
Após descansar, saio e tomo o ônibus para conhecer o centro da cidade. Vejo a “Porta do Sol” e entro em algumas lojas. Mas como sei que voltarei em outra oportunidade a esta bela cidade de Madrid, não faço grandes esforços para andar muito por lá.
3 de agosto – terça-feira
Saio do “Hotel Gran Colon”, às 9:30 horas. Um carro da empresa aérea veio me buscar e às 12.30 horas, parto num voo para Lisboa, chegando lá, às 13 horas. Espero muito pelas malas e às 14 horas chego de Taxi, em Carcavelos. Pago 30 dólares ao taxista.
Aí em Carcavelos o prof. Fritz e Victor me esperavam com uma Mercedes, para me levar a Cascais. Este professor da Universidade eu o conheci um ano antes, na Lagoa da Conceição, onde ele passava férias. Seus amigos de Florianópolis, lhe haviam mandado, por mim, alguns presentes. Combinamos que eu ficaria em sua casa em Cascais, nos primeiros dias em Lisboa.
Chegando em sua casa me oferece café e conheço o meu quarto. Aí entrego ao Prof. Fritz os cinco pares de sapatos que seu amigo prof. Nelson mandou e mais os 6 panos de prato que ele mandou fazer, como presente. Ele gostou muito destes presentes. Elogiou os bordados dos panos de pratos. Entrego então os meus presentes: uma obra minha, feita em cerâmica; duas pedras de ágata que servem como suporte de livros e o livro “As barbas do Imperador”, (D. Pedro II) prêmio Jabuti de 1999. Subi então ao meu quarto e dormi o resto da tarde satisfeita por ter chegado, enfim. À noite o prof. Fritz me convida e também a Manoel, seu amigo português, que vive na Suíça, para um jantar: um bacalhau gostosíssimo, que ele mesmo fez. Conversando, à noite, com Manoel este me disse que iria para Algarves nos próximos dias. Lá mora sua família. Coloca-se à disposição para me dar uma carona. Eu aceito esta carona, muito agradecida.
Depois neste jantar, conversamos sobre a visita que eu faria, no dia seguinte, a Lisboa, para conhecer a cidade e alguns dos principais monumentos. É muito bom receber orientações de quem conhece o local e isto, o prof. Fritz, fez sempre. Victor, o jovem nicaraguense, vai me acompanhar e isto me deixa, também, muito grata!
Coloco aqui o mapa de Portugal, com as diferentes regiões.
4 de agosto – quarta-feira
Levantei, tomei café e com Victor fui de metrô, a Lisboa. Victor trabalha na casa e na conversa com ele, me diz que se comunica frequentemente, por cartas, com sua família. Em Lisboa desembarcamos no ponto de Belém. Vi o belíssimo Centro Cultural de Belém, onde todos os dias entre 17 e 19 horas, há espetáculos gratuitos. Percorremos o Centro Cultural. Visitamos o imponente Mosteiro dos Jerônimos, que impressiona pela grandiosidade, por suas obras de arte e sua arquitetura imponente e majestosa.
O Mosteiro dos Jerônimos é um dos mosteiros mais bonitos da Europa. Idealizado em 1496 pelo rei Dom Manuel I. Sua construção levou mais de 90 anos para ficar pronta e depois da inauguração, o Mosteiro dos Jerônimos era um dos maiores de Portugal recebendo em 1907, o título de Patrimônio Humanidade pela UNESCO. Está situado próximo às margens do Rio Tejo e é um dos pontos turísticos mais importantes e visitados de Portugal. Vale a pena visitá-lo.
Em seguida, entramos no edifício do Museu da Marinha. O que lá se vê é uma verdadeira ovação ao espírito inventivo e ao conhecimento do mar dos navegadores portugueses. Gostei muito de ter visitado este importante Museu.
Mais tarde fomos almoçar no ótimo restaurante deste Museu da Marinha. Havia lá muitos turistas provenientes do mundo todo.
Continuando nosso passeio por Lisboa, subimos à torre de Belém, que é considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO. É um dos símbolos de Portugal pois de lá partiram, em 1500, as caravelas que aportaram ao Brasil. A Torre de Belém ou Torre de São Vicente foi construída no século XVI, em estilo manuelino, às margens do Rio Tejo. No início funcionava como fortaleza, contando com vários tipos de artilharia medieval.
“O monumento destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitetura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna)”.
“Parte da sua beleza reside na decoração exterior, adornada com cordas e nós esculpidos em pedra, galerias abertas, torres de vigia no estilo mourisco e ameias em forma de escudos decoradas com esferas armilares, a cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas, como um rinoceronte, alusivos às navegações”.
Visitamos também o “Padrão dos Descobrimentos”, cuja construção fez parte das celebrações do aniversário de 500 anos de morte do Infante D. Henrique, incentivador da expansão marítima do país. É um importante monumento, construído em homenagem aos tempos gloriosos de Portugal como pioneiro marítimo, de 56 metros de altura, circundado por 32 estátuas.
“O grande marco lisboeta tem o formato de uma caravela se lançando ao mar, com a estátua de Infante D. Henrique em sua proa, comandando a maior equipe de navegadores do mundo. Nomes como Vasco da Gama (primeiro a chegar à Índia por vias marítimas), Bartolomeu Dias (desbravador do Cabo da Boa Esperança), Fernão de Magalhães (o primeiro a cruzar o Estreito de Magalhães!) e Pedro Álvares Cabral se fazem presentes nas grandes estátuas. Até o poeta Camões também figura no ‘hall de famosos’ devido à sua importância ao escrever o grande clássico da literatura do país, Os Lusíadas, relato sobre as vitórias marítimas portuguesas”.
A concepção arquitetônica é de Cottinelli Telmo e as esculturas são de Leopoldo de Almeida. O dia está lindo, o sol brilha e como é verão, a temperatura é muito elevada. Foi muito bom poder conhecer este monumento!
Partindo deste local, fomos visitar o Centro de Lisboa – a cidade antiga. Para isto tomamos o trem e fomos para o Cais Sodré e depois de rua em rua, percorremos a cidade antiga e paramos num restaurante, na “rua do Ouro” e sentamos a mesa, para tomar um refrigerante. Aí conhecemos dois garçons paulistas com quem conversamos e também tivemos uma agradável e instrutiva conversa com o dono do restaurante, um simpático português que entusiasmado, nos falou da história de Portugal. Mostrando-nos os grandes edifícios (lindos!!) nos disse que este lugar foi destruído pelo terremoto em 1750 e depois foi reconstruído pelo Marquês de Pombal.
Meus olhos podiam ver e ouvir agora o que eu só sabia pelos livros de história. Sobre os Templários, os Monges Guerreiros, também nos explicou que cuidavam dos peregrinos que visitavam Jerusalém e que se tornaram tão poderosos que ameaçavam o rei e por isto o papa os destituiu. Falou também sobre os Cruzados, que para ele, foram, nada mais, que saqueadores. Estávamos falando com alguém da terra, que vive e sente sua história e tem um prazer imenso ao contá-la. Foi ótima esta conversa! Após nos despedirmos e continuamos admirando a paisagem urbana.
À noite, Victor, eu e Manoel, fomos para Estoril, onde havia uma linda festa popular. Nesta festa, experimentei a comida típica da região. Visitamos a feira que mostrava os artesanatos dos diferentes regiões de Portugal. As cerâmicas, especialmente, eram belíssimas! Assistimos, também, um maravilhoso folclore. Valeu poder ter participado nesta noite, desta linda amostra da cultura de Portugal, que muito me encantou!
Às 22 horas, telefonei para o Brasil, para minha irmã Erica e soube que tudo estava bem. Disse-lhe que, no dia 5, pretendia ir mais para o sul de Portugal. Chegamos em casa às 11:30 horas e fui dormir, satisfeita por tudo o que tinha vista e ouvido.
5 de agosto – quinta-feira
Viajo para Évora, aproveitando uma carona com Manoel, que vai seguir, neste mesmo dia, para Algarves. No caminho, Manoel vai me dando explicações sobre a natureza, que meus olhos admirados contemplam. Considero esta oportunidade de assim conhecer Portugal rural, com alguém me explicando e respondendo minhas perguntas, tanto uma loteria como uma benção. No caminho até a belíssima cidade de Évora, vejo sobreiros que é a árvore da cortiça, a perder de vista e também pés de oliveiras, carregados de azeitonas. É uma paisagem linda! E aqui começo a conhecer algo muito importante, da realidade de Portugal.
A árvore da cortiça, da qual Portugal é o principal exportador, ocupa planícies imensas, ostentando milhares de pés de sobreiros. Há também grandes extensões de oliveiras. Os sobreiros são de um verde-escuro e os pés de azeitonas são de um verde bem esmaecido. As árvores de azeitonas estavam carregadíssimas. De alguns sobreiros já tinha sido tirada a casca, ou seja, a cortiça, apresentando esta parte de seu tronco, uma cor avermelhada. Todos os sobreiros estão, devidamente, marcados. De nove em nove anos se tira a casca da árvore, cuja parte mais vermelha atesta a operação feita. E Manoel vai me explicando e respondendo todas as minhas perguntas. Depois, nova paisagem encanta minha vista: vinhedos, quilômetros e quilômetros de vinhedos! Vejo as típicas casas alentejanas, baixas e retangulares e pintadas de branco e azul. A paisagem de grandes planícies é lindíssima! Também vejo pés de Azinheira, os quais produzem as célebres bolotas dos quais se alimentam os porcos, criados livres nesta imensidão portuguesa. É da carne deste “porco ibérico” que se fabrica o celebérrimo presunto “Pata Negra”!
Chegamos, finalmente, à Évora, às 11 h. Fazemos um primeiro reconhecimento passeando pela cidade e tirando algumas fotos.
Visitamos o templo de Diana, a deusa grega e também vi a Catedral, mas não entrei desta vez. Na Agência de Turismo, pegamos, não só material sobre a cidade, mas também a programação cultural daquela semana. Recebi assim as primeiras informações sobre a histórica cidade de Évora.
“A cidade de Évora, localizada na região do Alentejo em Portugal, é uma das povoações de maior importância histórica no país. Os vestígios de seu rico passado levaram seu centro histórico a ser classificado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1986”.
Após esta primeira incursão por Évora, procurei em diversos hotéis e residenciais, um local adequado, onde poderia me hospedar. Conheci o Residencial Giraldo, que fica perto da praça principal de Évora. Considerei este residencial um bom lugar para estes três dias, que permanecerei nesta cidade e arredores. Pago 5.000 escudos por dia, por um quarto com televisão e banho.
Fui almoçar com Manoel num restaurante perto do hotel. No cardápio havia: lula grelhada com azeite extravirgem, batata sauté e salada mista. Tudo supergostoso e muito bem preparado. Após o almoço, me despedi de Manoel, que ficou de me telefonar no dia seguinte.
Fui para o hotel, tomei banho, já bastante cansada. Entreguei-me, então, à maravilhosa tarefa de deitar a cabecinha no travesseiro e finalmente dormir até as 18 horas. Aí, mais descansada, me dirigi à praça de Évora, que ficava a uns 20 metros do residencial Giraldo. O sol estava ainda alto e aqui, no verão, só desaparece após as 21 horas. A cidade que tem uma história de cinco milênios, apresenta a praça principal, idêntica à que existia na Idade Média, onde turistas do mundo todo estavam dividindo seu espaço histórico. Passei por sob os arcos, arrumei meus óculos e depois comprei 5 passes. Tive então a ideia de pegar um ônibus (N14) e fazer um giro pela cidade velha, onde vivem talvez ¼ das pessoas e também passei pela cidade nova, que fica fora dos muros e onde vivem ¾ das pessoas que moram em Évora. Foi muito lindo! Nesta viagem de reconhecimento pela cidade, falei com Arlete, uma senhora que foi me explicando tudo. Vi de perto, o Aqueduto e a Muralha Medieval. Neste passeio, falamos sobre a cidade de Montserrat e a cidade de Vila Viçosa, que espero, sinceramente, poder conhecer.
Após este agradável giro, voltei para o Residencial Giraldo e agora, às 21 horas eu estou no quarto assistindo um lindo programa da RTP, sobre a história do fado, programa apresentado por Carlos do Carmo. Este, além de mostrar todo o “Museu do Fado e da Guitarra Portuguesa” apresentou artistas que falaram e cantaram o Fado de todas as formas. O Museu do Fado foi inaugurado a 25 de setembro de 1998 e é um museu consagrado ao universo do Fado e da Guitarra e localiza-se no bairro de Alfama, em Lisboa. Amei este meu primeiro encontro virtual com o Fado! Carlos do Carmo se definiu como “um homem de afetos” e pronunciou também esta frase: “o Fado não se explica”. Neste instante decidi que queria ver in loco, “o Museu do Fado e da Guitarra Portuguesa”, logo que me fosse possível. Mais tarde, em Algarves, Maria da Conceição Lago Bom, uma amiga com quem comecei uma amizade na praia de Quarteira, vai me falar, novamente, das características do Fado.
Às 22 horas saí para telefonar, para a amiga Impéria, em Verona, na Itália, com a qual me encontrarei nesta viagem, mas o telefone estava ocupado. Também telefonei para meu irmão Jaime, no Brasil. Terezinha minha cunhada me disse que a querida sobrinha Bete, estava melhor. Ela fez o exame e o tumor tinha diminuído. Fiquei aliviada! Depois disto, assisti na TV, um programa em que o Ministro Soares entrevistava Fernando Henrique Cardoso.
Nesta noite quase não dormi, era barulho demais. Bem embaixo das janelas do meu quarto, os carros chegavam buzinando alto, na madrugada. As pessoas descarregavam coisas e falavam igualmente muito alto, sem se importar com o avançado da hora. Isto me causava espanto! Além disto, de meia em meia hora, os sinos dobravam 2 vezes, em diferentes igrejas. Não descobri qual a razão do repique dos sinos, nesta hora da madrugada.
6 de agosto – sexta-feira
Na parte da manhã, visito, novamente, a histórica cidade de Évora, com suas ruas estreitas, suas praças, seus museus, suas lojas. Évora é realmente uma cidade que vale a pena conhecer e para isto necessita-se mais tempo. É uma das povoações de maior importância histórica no país e apresenta os vestígios de seu rico passado.
A localidade de Estremoz, que eu tinha uma orientação de visitar, eu decido conhecer após o almoço. A minha visita, apesar de curta, foi muito proveitosa!
“A cidade de Estremoz está dividida em duas zonas. Uma é a zona baixa e comercial, chamada ‘Vila Nova’, que se prolonga pela área plana da cidade. A outra, a ‘Cidade Velha’, situa-se na zona alta, junto ao Castelo, onde se chega passando entre ruas labirínticas e sinuosas. Estremoz é um local de um patrimônio riquíssimo, tanto do ponto de vista cultural como arqueológico, patente nos inúmeros monumentos espalhados pela cidade. É chamada a ‘cidade branca’ do Alentejo, não somente pelas suas casas brancas, mas, também, porque é conhecida a nível internacional pelas jazidas do célebre ‘Mármore de Estremoz. Portugal é o segundo maior exportador do mundo, contribuindo Estremoz com cerca de 90% do total de mármore”.
Desembarco na rodoviária! Lá me chamam a atenção os lindos azulejos portugueses, que enfeitam seu exterior. Orientada por um transeunte, passo por uma praça e em seguida encontro o “Museu Rural”. A visita a este Museu, foi simplesmente, um presente para mim. Este é um local imperdível, pois historicamente retrata a vida cotidiana do povo rural do Alentejo, onde a matéria prima para a produção de sua vida material era a cortiça.
Aqui vai o endereço deste estabelecimento, recebido da excelente funcionária Catarina: Museu Rural – Avenida 9 de abril 81 – 1o – 7100 Estremoz – Telefone: (068) 333146
Catarina é uma pessoa muito simpática. Seu trabalho diário, neste Museu, é pago pelo fundo desemprego e do qual recebe 61.300 escudos mensais. A funcionária me mostra e dá explicações sobre este importante e bem equipado Museu Rural Alentejano, formado de uma infinidade de peças expostas, que retratam o cotidiano do povo rural do Alentejo. Ao iniciar a rica explicação a pronúncia de algumas de suas palavras chamam minha atenção e me causaram estranheza: “chinco” em vez de cinco. “Pochinho” em vez de poço, “chaudade” em vez de saudade. Mais tarde, vejo que há diversas regiões de Portugal que tem esta pronúncia.
Olhando as múltiplas peças desta cultura, vejo diferentes tipos de carimbos de madeira usados para marcar os pães. Tiro uma fotografia admirando esses carimbos que as diversas famílias traziam para identificar o pão que cozinhavam, no forno comum.
A minha experiência de professora de sociologia do trabalho na UFSC me aguça a curiosidade, pois aí vejo os instrumentos que retratam a forma da produção da vida, a partir dos processos de trabalhos específicos daquele povo e daquele tempo. Diferentes materiais do lugar especialmente a cortiça e a madeira foram utilizadas, para a produção e para a conservação da vida, naquelas paragens.
Olhei as peças que estavam expostas! Ainda me recordo de algumas: um grande fogo no chão com as panelas ao redor. Esta era a forma de cozinhar e de manter as outras panelas sempre quentes, nesta zona tipicamente rural, onde a vida era muito dura e o inverno muito rigoroso. A cortiça, que é extraída da árvore do sobreiro, é o material mais usado para quase todos os pertences e utensílios. Lá estão também, um par de pantufas de cortiça para usar em casa e aquecer os pés no inverno. Na lavoura, um espantalho também feito de cortiça, que se move com o soprar do vento, afastando os pássaros das lavouras. Há uma prensa de fazer mel e vinagre também de cortiça. Vejo peças de artesanato em madeira, muito bem trabalhadas: colheres de diversos tipos, por exemplo. Estas peças, disse-me Catarina, foram oferecidas, pelos pastores de gado, aos médicos de família, que se deslocavam para as aldeias e atendiam os doentes, sem nada cobrarem. Os aldeões ofereciam estas peças de madeira, muitas como miniaturas, que faziam com o canivete, enquanto guardavam o gado. Muitas destas peças me impressionaram, pois traziam à minha memória a forma de viver de alguns períodos históricos na Europa, como por exemplo: o pastor com os sinos; os chavões para marcar o pão que cada família levava ao forno comum; os descascadores de maçaroca (espigas de milho cobertas); as moringas com dois bicos; as cornas (azeitonas, azeite, vinagre) penduradas na chaminé para o azeite não ficar espesso no inverno; a provadeira que é uma peça com uma colher em cada ponta, que comunica o líquido de uma para a outra: (Isto para que aquela que se usa para provar, não seja a mesma que vai na panela).
Também apreciei as colheres todas trabalhadas em madeira; as bolsas de cortiça para uso social das senhoras: os tarros em cortiça, onde levavam o alimento para o campo (a cortiça é hermética); as tarretas que guardavam o resto da alimentação (de cortiça). Retratavam-se também os dias de festa: os bonecos de madeira, tão bem-feitos onde se consegue ver até as veias dos bonecos e, cada um, com seus trajes típicos. Era a reprodução das festas que se faziam na comunidade rural, sempre que se festejava o término da colheita. Lá estavam também bonecos representando as diversas profissões daqueles tempos: o semeador, o manageiro (bate a azeitona e orienta as mulheres para ajuntá-la); o gadanheiro — (foice grande), o pastor de porcos. Vejo depois, também, uma miniatura de casa alentejana: comprida com um largo, um roccio (pátio interno) com um poço no meio. Os quartos dos donos ficavam perto dos estábulos para os donos da casa poderem ser acordados, caso chegassem ladrões. Como não sair encantada após esta oportunidade única de encontro com esta cultura do uso da cortiça, em sua vida cotidiana? Agradeci muitíssimo, para a excelente funcionaria Catarina.
Após ver o Museu saí e orientada por Catarina, fui ver, em primeiro lugar, ainda em Extremoz, a histórica Igreja dos Congregados.
Paguei entrada e a funcionária começou as explicações: esta Igreja foi usurpada dos católicos, pelo Marquês de Pombal, quando ele trabalhou no governo português. (1750 e 1777). Em 1830 houve a luta política entre os michelinos (adeptos do rei) e os liberais, que foram os vencedores nesta disputa.
Por esta razão, ainda não foi desta vez, que a entregaram para a Igreja Católica. Foi em 1996, somente há três anos, portanto, é que esta igreja de mármore foi terminada e pertence agora, novamente, à Igreja Católica. Na reforma, todas as cadeiras foram forradas de veludo vermelho. No coro há a sala de reuniões da paróquia.
Vi, também, o tesouro da Igreja para o qual se paga mais uma entrada. Subi, em seguida, à torre para ver toda a cidade. Tirei fotos. Campos infindáveis de sobreiros, uvas, sol e luminosidade. É verão! Depois, ainda em Extremoz, visitei o Castelo imenso, bem no alto do monte. Hoje este castelo é um hotel, cinco estrelas, sofisticadíssimo! O castelo foi construído pela Rainha Santa Izabel, no século XIII. O imponente e belíssimo hotel estava ocupado por turistas. É simplesmente luxuoso! Valeu a pena conhecê-lo. De lá ele nos oferece uma vista panorâmica de Extremoz. Na escada de acesso ao Castelo, fiz esta foto!
Descendo a ladeira, passei por um restaurante para provar uns doces típicos. Deliciosos!!!! Andei também pela praça da cidade e de lá saí às 17:55 horas. Cheguei à conclusão que foi um privilégio para mim, ter conhecido Extremoz, mesmo que apenas nesta rápida passagem. A cidade de Estremoz é muito antiga, foi muito importante através da história e aqui há muito a se conhecer, porém, desta vez, fiz somente uma pequena e proveitosa vista.
No caminho de volta para Évora, do ônibus, vi duas fábricas que manufaturam cortiça. Ao meu lado estava uma japonesa chamada Kanne, com quem falei um pouco, em Inglês. Ela me disse que amanhã iria para Monsaraz. Fiquei com vontade de conhecer esta cidade também. Mas não foi nesta viagem que consegui chegar lá!
Então copiei, da internet, esta foto da belíssima cidade de Monsaraz e também estes textos:
“Suspensa no tempo, a histórica povoação alentejana, uma das mais antigas de Portugal, é um destino obrigatório na sua lista de lugares a visitar no Alentejo. Especialmente depois de, em 2017, ter vencido na categoria ‘Aldeias Monumento’ do concurso 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias.”
“Foi lá, em um restaurante com mais de 700 anos de idade que pertenceu aos Templários, que me emocionei profundamente durante uma apresentação do Cante Alentejano – grupos corais voluntários formados por agricultores – já reconhecido pela Unesco como um Patrimônio da Humanidade”.
A viagem de volta à Évora, pela zona rural, foi muito interessante! Conversei com uma senhora do local, que me falou sobre o que estávamos vendo: imensos campos de trigo, cevada e centeio que tinham sido já ceifados e agora, ficaram só os fardos de palha, muito bem organizados, encima do chão amarelo, ao longo da linha do trem.
A paisagem muda, mas agora vejo imensas extensões de sobreiros (a fruta chamada “alandrias” serve para fazer farinha para o gado) e as milhares de azinheiras, cujas frutas chamadas “bolotas” também servem para o gado e para os porcos. A eles se mesclavam grandes extensões de girassol, de uvas e de oliveiras. É simplesmente linda esta paisagem, um verdadeiro colírio para os olhos! Passamos de trem pela graciosa Montevora ou Évora Monte, fundada no século XIII, com suas casas brancas e seu imponente Castelo. A viagem de Extremoz para Évora custou 570 escudos.
Chego em Évora e vou para o Residencial Giraldo, preparar-me para assistir, às 22 horas, na Praça do Giraldo, o “Festival de Verão”. Estes festivais acontecem todos os dias, em alguma praça da cidade. O festival apresentado por mulheres artistas, de diferentes países que cantaram e dançaram, foi um banho de cultura e de sensibilidade! A cantora principal, Rosa Zaragoza, é da Catalunha e as canções escolhidas para esta noite, fazem uma viagem pela cultura do mediterrâneo. Ouvimos músicas litúrgicas dos judeus e canções árabes. A cantora explica, antes de cada canção, alguns detalhes que a tornam mais compreensível: “os árabes, sempre cantaram em sua língua e tiveram as suas canções cantadas sempre por todos”. Uma bailarina do Canadá dançou a dança do ventre. Maravilha! Tirei foto do palco e da bailarina, mas mal e mal se vê, pois não havia luz suficiente.
Parece-me que no dia 14 de agosto, a noite estará a cargo do brasileiro Martinho da Vila. Que pena que já não estarei mais aqui! Neste dia telefonei para o Brasil de um telefone público, após meia-noite e soube que tudo estava bem com a família.
7 de agosto – sábado
Levantei às 7 horas e às 9 horas telefonou-me de Algarve, Manoel conforme me havia prometido. Conversamos! Ele partirá depois para a Suíça onde vive com sua família. Agradeci novamente a carona e lhe desejei uma boa viagem para a Suíça. Saio novamente às ruas para ver, observar e escutar e, sobretudo, admirar. Évora é uma cidade sui generis. Não é uma cidade para se conhecer só de passagem. Deve ser, sim, uma cidade destino, como leio numa revista de viagens. Falam-me que aqui havia inúmeros conventos e, igualmente havia muitas famílias nobres, que, por sua vez, tinham suas próprias Igrejas. A lei, proibindo os conventos em 1836, fez com que muitos fossem destruídos e outros mudassem de função. Falam-me também, de nomes de famílias nobres em Évora. Fiquei sabendo que o sobrenome “Costa” era de uma família nobre de Évora.
Aqui abaixo vemos a Catedral de Évora, cuja construção, iniciada em 1186 foi concluída apenas em 1250. A igreja Catedral, conhecida também como Basílica Sé de Nossa Senhora da Assunção, já tinha sido consagrada em 1204.
É a maior Catedral Medieval de Portugal, um monumento fascinante e imponente. Toda em granito, é marcada pela transição do estilo românico para o estilo gótico.
Visitei, também, outro templo interessante: a Igreja de São Mamede, que é muito linda e está classificada pela UNESCO como Patrimônio Mundial e Monumento Nacional. A Igreja é toda forrada de Azulejos. Ao lado desta igreja, havia uma praça linda, com bancos vermelhos, que me chamaram a atenção.
Visitei também a Universidade de Évora que foi fundada em 1 de Novembro de 1559 pelo Cardeal D. Henrique, Arcebispo de Évora, mais tarde Rei de Portugal, a partir do Colégio do Espírito Santo.
Nesta época Évora era uma metrópole eclesiástica e a residência temporária da Corte. A Universidade foi a segunda Universidade a ser fundada em Portugal, após a fundação da primeira, a Universidade de Coimbra. Foi instituída por bula do Papa Paulo IV, como Universidade do Espírito Santo e entregue à Companhia de Jesus, que a dirigiu durante dois séculos. Em 8 de fevereiro de 1759, foi cercada por tropas da cavalaria em função da expulsão e banimento dos Jesuítas e encerrada por ordem do Marquês do Pombal.
Continuando minhas andanças na cidade de Évora, entro na Casa Sour, que é uma livraria. Percebo que uma de suas paredes é parte da antiga muralha da cidade, que foi descoberta na década de 60. Aí observo e também compreendo, a função das diferentes portas da cidade com seus diferentes nomes: as portas de Moura de onde se saía para Moura e portas de Aviz, que saía para Aviz etc. Neste passeio fui ver o Museu da Cidade no antigo paço arquiepiscopal e fiz estas fotos abaixo. Num país com tanta história, pode-se ver que, no interior há grandes escavações, cercadas de conchas imensas. As escavações permitem obter dados das épocas romanas, visigóticas, islâmica e medieval cristã. Vejo também brasões da ordem de São Jerônimo.
Os alemães estão fazendo escavações perto do templo Romano de Évora e encontram construções da época dos romanos.
Este templo Romano de Évora, de forma quadrangular e em estilo coríntio, foi construído no século I d.C. e fica situado no Centro histórico, ao lado de outros monumentos importantes, como a catedral de Évora e a Biblioteca Pública. Erroneamente chamado de Templo de Diana, foi classificado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1986.
Apesar de seus 2000 anos de existência, hoje em dia, o templo ainda conserva a base, escadas e 14 colunas com capitel exuberante, feito de mármore branco de Estremoz.
Continuando a visitação ao “Museu da Cidade”, após algumas observações por mim mesma, peço que uma funcionária seja meu cicerone, para conhecer melhor este Museu. A funcionária, muito atenta e simpática, me acompanha e me fala, explicando cada detalhe, como por exemplo, sobre a forma de atribuir nomes aos filhos, em Portugal, a partir do próprio nome dos pais. Começa me explicando seu próprio nome: Maria João Pombinho Caldinhas. Seu tio morreu pouco antes de nascer e por isso herdou o nome: João (tio), Pombinho (mãe), Caldinhas (pai). Ela me mostra o “contador”, um móvel bonito e muito bem trabalhado. O armário em forma de escrivaninha com uma porção de gavetas, era usado para conter as inúmeras especiarias que, trazidas da Índia, eram vendidas aqui, com preços muito altos. Um armário semelhante a este, encontrei-o também em outros museus. Vejo a sala dos retratos de pessoas do século XVII (em negro) – Uma interessante observação: nesta época não se pintam mais santos e sim pintam-se pessoas comuns. A mobiliária, do século XVIII, é em estilo barroco. E agora verifico um dado muito interessante: num canto do Museu vejo diversas pinturas onde aparece, junto a outros desenhos, o desenho de uma caveira. A explicação num cartaz, à parte, informa que no século XVII, se popularizam novas técnicas de meditação que se espalham pelo mundo católico, através dos franciscanos da Igreja Reformada. O tema básico destas novas técnicas de meditação se resume na frase: “tudo é vaidade, tudo é vão”. A caveira passa a fazer parte então de muitas obras de arte de fundo religioso. Muito interessante! Vejo depois a sala Josefa de Óbidos – século XVII – aqui, me explica a cicerone, começa-se a pintar natureza morta. Vejo também um quadro de D. Afonso IV, ainda criança, brincando com um menino negro. O menino negro era, para o príncipe criança, um brinquedo. Este quadro, esteve no Brasil por ocasião da feira do brinquedo. Observo a sala de pintura holandesa e o quadro de Catarina de Bragança. E aqui um dado interessante: esta princesa, se casou com rei Inglês e introduziu, aqui, em Évora, o chá das cinco.
Saindo do museu, no canto da praça de Évora entro na Igreja de Santo Antão. Estilo renascentista (grandes colunas de pedras redondas, altares barrocos (séc. XVII).
Nesta Igreja de Santo Antão, no canto da praça Giraldo, que está intacta desde a Idade Média, senti uma sensação estranha depois de saber que, no adro desta igreja armavam-se as mesas e estrados, para ler os autos de fé, do Santo Ofício. Liam-se as sentenças dos condenados pela inquisição e depois, entregavam-se os réus ao braço secular.
Em seguida fui, também, a Igreja de São Francisco onde havia a exposição “biombos portugueses”. Muito bonita a igreja e também os biombos que eram coloridos.
“O Convento de São Francisco de Évora terá sido a primeira casa da Ordem Franciscana em Portugal, fundada no século XII. Durante as guerras napoleônicas no início do século XIX a cidade foi invadida pelas tropas francesas que saquearam a igreja, levando seus tesouros. O assalto dos franceses ao convento foi extremamente violento, causando muitas mortes. Neste mesmo século XIX, o convento foi demolido. Já então estava caindo aos pedaços por conta da extinção das ordens religiosas. Para nossa imensa sorte, a igreja sobreviveu!”
Da praça Giraldo, fui de ônibus para a rodoviária, com a finalidade de comprar uma passagem pois tenho o desejo conhecer o sul de Portugal. No entanto, aqui acontece um imprevisto: peguei o ônibus trocado e por isso, aproveitando o engano vou dar um passeio pela cidade. Passo pela “Avenida heróis de Ultramar” – toda ladeada por laranjais, cheios de frutas. Em seguida, pelo bairro “Nossa Senhora da Saúde”. No ônibus, um senhor, José Rosado, (apelido do pai), me fala de Évora. Diz-me que a cidade foi emuralhada 3 vezes: começando com os romanos terminou com os reis portugueses. Foi muito bom este passeio de ônibus, simplesmente olhando a paisagem e ouvindo portugueses, que me falam de sua cidade, com todo o orgulho e simpatia. Sinto, a cada momento, que os portugueses são muito afáveis com os brasileiros.
Na rodoviária, quando eu estava com a passagem na mão e estava aguardando o ônibus, vejo o casal, que eu havia encontrado um dia antes, quando tínhamos conversado e nos apresentado. Eles também estavam viajando para Faro. Era o casal Simon (australiano) e Mágica (italiana de Turim). Considerei um caso típico de sincronicidade. Já tenho mais uma companhia!! Às 14 horas, parto num ônibus de dois andares, chiquérrimo, para a cidade de Faro, na região de Algarves. No meio do caminho paramos para almoçar e eu tirei foto em frente a um monte de lascas de cortiça, com Mágica. Portugal exporta para diversos países, 100.000 toneladas de cortiça por ano. Estou me dirigindo para a cidade de Faro e aqui, abaixo, deixo um pouco de sua história.
“Os primeiros marcos remontam ao século VIII a.C., ao período da colonização fenícia do Mediterrâneo Ocidental. O seu nome de então era Ossónoba e era um dos mais importantes centros urbanos da região sul de Portugal e entreposto comercial, integrado num amplo sistema comercial, com base na troca de produtos agrícolas, peixe e minérios. Entre os séculos III a.C. e VIII d.C., a cidade esteve sob domínio romano e visigodo, vindo a ser conquistada pelos mouros no ano de 713 d. C, os quais ergueram ali uma fortificação (reforçada por uma nova muralha). Durante a ocupação árabe, o nome Ossónoba prevaleceu, desaparecendo apenas no século IX, para dar lugar a ‘Santa Maria do Ocidente’”. “Era então capital de um efêmero principado independente. Na sequência da independência de Portugal, em 1143, o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques e os seus sucessores iniciam a expansão do país para o sul, reconquistando os territórios ocupados pelos mouros. Depois da conquista por D. Afonso III, em 1249, os portugueses designaram a cidade por ‘Santa Maria de Faaron’”. […] “Nos séculos seguintes, Faro tornou-se uma cidade próspera devido à sua posição geográfica, ao seu porto seguro e à exploração e comércio de sal e de produtos agrícolas do interior algarvio, trocas comerciais que foram incrementadas com os descobrimentos portugueses”.
Chego em Faro, dia 7, às 18.30 horas. Era difícil encontrar hospedagem porque lá estava ocorrendo, um festival. Um senhor proprietário de um Residencial que já estava lotado, me levou e apresentou-me a d. Glória, na rua Miguel Bombarda. Esta, alugou me um quarto no seu apartamento.
Fiquei muito agradecida a este proprietário do Residencial. Após o pagamento do aluguel 5.000 escudos e após arrumar as roupas e tomar um bom banho, saí para participar de uma festa popular: “A festa da rua Formosa”.
A festa popular estava movimentada. Comi uns petiscos desconhecidos até então: uma “Sapateira”, que é um siri grande com a casquinha (titica). Também pedi 250 gramas de camarão. Encontrei um casal simpaticíssimo de Lisboa: Sandra e Luis com quem conversei, nesta animadíssima festa portuguesa. Diversas moças, vestidas a rigor, passeavam pela festa, oferecendo nozes e outras frutas secas. Por um descuido meu, ao quebrar uma vagem seca com os dentes, quebrei um dente, recém-feito no Brasil. Ainda bem que, as consequências deste incidente este não era visível! Às 23 horas voltei a pé, para o apartamento de Dna. Glória, que me tinha afirmado, anteriormente, que eu não precisava ter medo, pois aqui não havia perigo. Eu estava prestando atenção a tudo para não ser surpreendida por nada. Afinal estava andando sozinha, em terra estranha. Ao chegar em casa, Dna. Glória me convida a ir em sua companhia, no dia seguinte, para a praia de Quarteira, neste litoral sul de Portugal. Convite aceito, com prazer e gratidão!
8 de agosto – domingo
É domingo e hoje vou conhecer a praia de Quarteira. Dna. Glória vai visitar a filha Helena e o neto João Felipe de 6 anos. Saímos de casa e esperamos o autocarro “Eva”. Na viagem ela me conta mais, sobre esta relação afetiva forte, entre a avó com o neto. Isto faz muito bem para a criança e para a avó, certamente!
Passamos por Vilamoura, onde se localiza o famoso complexo turístico de Vilamoura.
“A área de 1.600 hectares foi criada pelo banqueiro português Artur Cupertino de Miranda, ainda nos anos 1960. No entanto, na área de Vilamoura onde há muita história, situam-se as ruínas romanas do Cerro da Vila, onde é possível ver um complexo de banhos e os mosaicos de uma residência representando peixes. Consiste principalmente nas ruínas de uma antiga povoação romana do Século I a.C., formada por uma abastada casa rural, um centro produtivo baseado na agricultura e na pesca, uma necrópole e várias estruturas portuárias. A povoação continuou a ser habitada durante os períodos visigótico e islâmico, sendo abandonada no Século XI”.
Finalmente chegamos na praia de Quarteira. Depois de nos encontrar na praia com a filha de d. Glória e o neto, fomos tomar alguma coisa num bar e nos sentamos numa mesa, onde Maria da Conceição da Silva Aguiar Lago Bom, já estava lá sentada. Após as primeiras apresentações, tomamos uma água e nesta agradável companhia, conseguimos passar três horas de uma agradável conversa.
A tarde estava esplêndida e no céu de brigadeiro, o sol brilhava com toda a força do verão de Portugal. O céu não podia ser mais azul e a praia estava coberta de barracas de praia. Conceição falou de mil coisas lindas e com ela me identifiquei em muitos valores. Conceição Lago Bom é funcionária pública, secretária do Departamento Jurídico I.N.F e de medicamentos! Tem dois filhos! Se tivesse uma filha colocaria o nome de Marta Sofia, por causa da filha da pensão onde ficou para estudar. Tiramos diversas fotos. Algumas frases pronunciadas por Conceição ficaram na minha memória, e certamente, servem como uma boa orientação para a vida: “Adoce o seu coração e terás mel para dar a todos”. E mais: “O ser humano se envergonha do que é bom e não se envergonha de continuar fazendo o mal”.
Na conversa, mais uma vez, aprendi e também me surpreendi com palavras e expressões usadas pelos portugueses que soam um tanto estranho para nós, pois são palavras que tem outro sentido ou são desconhecidas em nosso vocabulário. Por ex.: nas frases: cuidar para não “maçar” a avó= incomodar. Iá= sim, na gíria usada na África, ou eu pensei que os sapatos dourados fossem muito “fuleiro”= que não vale nada, ou “piroso” ou “espampanante”. Em Angola ônibus é machimbombo. E também a expressão: fico “parva”= pasma. Aqui também Conceição tem esta pronuncia: “Chaudade” em vez de saudade, “nachi” em vez de nasci. Fala-me da pronúncia na cidade do Porto. Lá se diz “baca” em vez de vaca e “voi” em vez de boi. No Porto a palavra “asneira” é cultural e de lá para baixo, esta palavra denota falta de educação. Com Maria da Conceição trocamos muitas ideias. Disse-me que o pai dela era muito “mimoso”. Ela também me contou que disse para a mãe dela que dissesse para os filhos, muitas vezes, que os amava. Conceição falou sobre o Fado: disse-me que até as 2 horas o fado é profissional e depois começa a ser sentimental. Aqui tudo se cala!!! Só há a alma do artista. Fala-me das fadistas mais importantes que são: Amália Rodrigues (80 anos) e Hermínia Silva (fado vadio). Tomamos água mineral. Lá a água (150 escudos) é mais cara do que o café (80 escudos).
Antes de partir de Quarteira, fizemos na cidade, uma foto e trocamos endereços e e-mails. Nos despedimos dos amigos que fizemos neste dia, levando saudades!
Dna. Glória e eu pegamos o ônibus e, na volta enfrentamos um grande engarrafamento até Faro. O motorista “Marçal” estava muito nervoso com os passageiros. Só ficou tranquilo quando entraram suas passageiras, 3 moças, que fazem naturalmente todo o dia, este caminho. Elas pagam15 mil escudos, pelo cartão mensal, me disseram. Quando saí, o motorista se dirigiu a mim, muito educadamente, me desejando uma feliz estada em Algarve.
Retornando a Faro, a paisagem que vi na ida me encantou novamente nesta volta: muitas chaminés nas casas brancas de Algarve, que se mostravam imponentes e singelas, nas imensas planícies verdes. Cheguei em casa feliz, mas morta de cansada. No convívio com d. Glória, eu percebi mais um dado da realidade portuguesa. Como ex angolana ela estava se queixando sempre, da desventura dos portugueses que “tinham tudo em Angola”, “perderam tudo” e sem nada, ao chegar a Portugal “não encontraram acolhida”. Isto foi um dado que se repetiu muitas vezes.
Naquela noite eu quis sair, mas a perna começou a me doer. Eu interpretei como se não devesse sair. Organizei as coisas e às 22 horas, assisti, junto com Dna. Glória, programas da TV portuguesa. O primeiro apresentava um festival em “Elvas”, uma cidade cuja especialidade é a cerâmica e que eu teria gostado muito de conhecer. Em frente a uma Igreja do século XVI, os jovens de lá cantavam para uma grande multidão que assistia. O primeiro artista canta (de Fafá de Belém) = Vermelho. Após de 50 jovens terem cantado, dois foram classificados para a final. Foi muito bonito assistir, pela TV, a este festival e conhecer, um pouco, desta cultura portuguesa. Apesar de não ter conhecido esta cidade, me encantei com o festival que estes jovens vibrantes apresentaram na TV. Deixo aqui uma foto da cidade de Elvas, onde casas são todas brancas e onde, certamente há muita história a ser conhecida.
“Os godos e os celtas terão sido os primeiros povoadores desta autêntica ‘cidade-fortaleza’, que hoje se estende para além das suas muralhas em forma de estrela. Em 714, os Árabes conquistaram-na e deram-lhe o nome ‘al-Bash’, deixando estas tantas marcas da sua presença que algumas ainda perduram até aos nossos dias. No reinado de D. Afonso Henriques, mais precisamente em 1166, Elvas foi conquistada aos mouros pela primeira vez. Posteriormente foi reconquistada pelos muçulmanos e reconquistada de novo pela cristandade, sendo integrada definitivamente em território português por D. Sancho II, em 1229.”
Depois, continuei a assistir na TV outro programa. Numa praça de touros nos apresentam uma forma Portuguesa e diferente de dominar o touro. Dizem-me que são os toureiros, a cavalo, os que ganham as grandes fortunas. O cavaleiro encima de um garboso cavalo, enfrenta o touro e depois, quando o touro está bastante cansado, alguns rapazes, num ritual que é um misto de coragem, de beleza e exercício da solidariedade, entram em cena. São os artistas, chamados “os forçados” que são de 6 a 8 homens, devidamente vestidos, os que auxiliam, àquele “forçado” que pega o touro pelos chifres, dominando-o a sair assim de cena. Assisti também outro programa: um filme sobre o feminismo onde uma frase do autor me chamou muito a atenção. O autor declara da personagem principal: “Tinha o cérebro preso num corpo de mulher”. E isto é muito denso para refletir.
Foi assim que passei o final deste rico domingo, conhecendo, pela TV, um pouco deste inesquecível Portugal.
9 de agosto – segunda-feira
A histórica cidade de Faro é a capital do Algarve. Aproveitei este dia e fui dar uma volta pelo centro histórico da cidade.
“O centro histórico, além de ter cafés, bares e restaurantes de renome, está cercado de construções centenárias, como as muralhas da Cidade Velha, a Sé, o Paço Episcopal, o Seminário de São José de Faro e o Museu Regional de Algarve. Alguns destes são ruínas ou reconstruções do que restaram de um terremoto que aconteceu em Portugal em 1755”.
Neste passeio pela cidade, fiz esta foto, em frente da Igreja da Sé de Faro. E logo após o portal que dá entrada na cidade antiga, passo por uma livraria das Paulinas e encontro uma religiosa de Concórdia de sobrenome Berta. Converso com ela.
Em seguida, visitei a linda e arquitetonicamente harmoniosa e muito antiga Igreja de Faro.
“Em 1712, foi inaugurada uma nova Igreja em Faro, dedicada a Nossa Senhora do Carmo. Hoje, o templo é uma referência da cidade e um dos seus elementos patrimoniais mais conhecidos”.
Aí visitei o Museu Arqueológico Folclórico de Faro e a Câmara de Vereadores que é uma construção com lindos ladrilhos nas escadarias. Lá tirei fotos. No canto da praça, entrei num bar e conversei agradavelmente com uma família. Após, para celebrar este encontro tirei foto com o casal e uma criança, tendo ao alto um “marjobis”, armadilha para pegar peixe e camarão. Desci depois as ruas da cidade onde tudo me chamava a atenção nesta cidade antiga. Quando cheguei, lá embaixo na praça, procurei a caixa de correio e lá coloquei cartões para familiares e amigos. Às 11 horas passei na feira de artesanato onde é sempre, muito agradável, conhecer os trabalhos dos artesãos, típicos da região. Naquele momento, já tendo conhecido em parte a cidade de Faro, decidi pegar um autocarro (1.300 escudos) e conhecer um pouco mais do litoral sul de Portugal. Gostaria de conhecer Sagres!
Passei por Quarteira, Vilamora, Pera, Portimão, chegando, finalmente, em Lagos e depois em Sagres. Neste trajeto vi mais algumas cidades lindas, todas vestidas de branco como é comum vê-las por aqui. No caminho conversei com uma senhora muito simpática de Portimão, que me deixou um endereço, mas não sei se o deixei na casa de d. Glória, onde eu estava hospedada. Em Lagos tirei fotos e na estação falei demoradamente com Zélia, que pediu que eu levasse sua foto para o Brasil, pois seu nome era brasileiro. Vi que ela teria gostado muito, se pudesse, também, conhecer o Brasil.
O destino final era ir para a cidade de Sagres. Aqui fiz esta foto, em frente ao monumento ao Infante Dom Henrique, popularmente conhecido como “Infante de Sagres” ou “O Navegador”, pertencente à Ordem de Cristo e principal impulsionador da expansão portuguesa. Ele era filho do rei D. João I e de D. Filipa de Lencastre e nasceu em 1394 falecendo 1460. A Ordem de Cristo fundada como uma ordem religiosa em 1319, foi secularizada em 1789, tornando-se uma ordem honorífica até sua extinção, em 1910, com a implantação da República Portuguesa. Os restos mortais de Dom Henrique de Avis encontram-se sepultados no Mosteiro da Batalha.
Apesar de ter feito um passeio de poucas horas, senti que foi interessante me encontrar com a história, ao passar por esta região do extremo sul de Portugal. No caminho de volta, novamente as lindas e inesquecíveis paisagens: laranjas, azeitonas, romãs, castanhas, peras, hortas. Chegando a Faro, passei pela doca (marina pequena) e depois, provei os doces próprios daqui. São gostosíssimos: torta de azeitão (excelente) barriga-de-freira, queijada de feijão, abrantinos, torta de amência (especial do Algarve). Achei os doces realmente doces (muito açúcar e ovos) e admirei toda esta cultura portuguesa acumulada durante tantos anos, através de tantas épocas históricas. Em casa, converso e ouço bastante d. Glória, esta pessoa, que como tantas outras, deixou a colônia portuguesa na África e não se conforma com a realidade que precisa viver em Portugal. Escuto e entendo o drama pessoal que essas pessoas enfrentam. Essa angustia é mais suportada pelas mulheres que criam seus filhos, quando às vezes, seus maridos se suicidam, me dizem. No final da noite arrumo estão minhas malas, pois no dia seguinte partirei para Lisboa.
10 de agosto – terça-feira
Nesta terça me despeço de Dna. Glória a quem agradeço sua tão boa companhia. Parto às 10 horas de Faro para Lisboa, num trem de primeira classe. A viagem foi ótima! Conversei bastante com diferentes pessoas e acrescentei conhecimentos sobre aquilo que eu estava visualizando. Cheguei em Barreiros, uma zona perto de Lisboa, às 11 horas. Pegamos um navio muito cheio de gente. No meu camarote, vim falando com um americano – John Brawn (este representou os Estados Unidos junto ao governo de Gorbachev na nova política) e também com um português simpático que serviu de intérprete. Chama-se Bruno Gomes. Quando chegamos ao cais do porto, tomei o trem e fui para Parede, Cascais, na casa do prof. Fritz.
11 de agosto – quarta-feira
Neste dia, como queria conhecer mais regiões de Portugal resolvi procurar e comprei um tour de um dia, para as cidades de Fátima, Batalha, Nazaré, Alcobaça e Óbidos. Como Paraty no Brasil, Óbidos é uma cidade maçônica e suas casas azul Hortência e branco nos falam, desta realidade.
“Tem-se certeza que, no século XVIII as portas e janelas da maioria das casas de Paraty eram pintadas em branco e azul, o chamado azul hortência da Maçonaria Simbólica. A exemplo de Óbidos, em Portugal, que é uma cidade maçônica, também pintada de branco e azul hortência, Paraty foi urbanizada por Maçons”.
Nesta tarde, em Parede, falei com Jorge Silva, um técnico em piscinas, que veio de Moçambique, em 1975. Os pais moram na cidade de Viseu. Conversamos bastante e ele me deu muitas informações sobre a realidade dos portugueses que tiveram de abandonar as colônias na África. É muito bom lembrar sempre que, de novo, que é preciso conhecer a história para compreender as realidades sociais dela decorrentes. Entre outras coisas falamos também dos sobrenomes portugueses: ele me diz que “Cunha” significa pessoa de influência. Quanto a gente aprende numa boa conversa!
12 de agosto – quinta-feira
É hoje o dia do tour para o santuário de Fátima, para o Mosteiro de Batalha com a Igreja Gótica e para a Igreja e Mosteiro de Alcobaça, para Nazaré e Óbidos.
Fátima, é uma cidade que tem um nome de origem árabe, pois Fátima era o nome de uma filha do profeta Maomé. A importância do nome da cidade de Fátima, como santuário católico, acontece a partir de 1917. A história nos conta que Portugal participava da 1a Guerra Mundial mandando 10.000 soldados para Flandres, na França. O governo era anticlerical. Neste contexto houve o episódio das aparições, que transformaram a cidade em um centro de peregrinações da Igreja Católica. A virgem Maria apareceu, então, a três pastores que foram depois presos, pela acusação de estarem mentindo sobre as ditas visões.
As aparições, que eram acompanhadas de muitos que vinham de todas as partes de Portugal, se repetiram no dia 13 de cada mês. No dia 13 de outubro 70.000 pessoas vieram ver a virgem Maria e presenciaram o “milagre do sol”. O que aconteceu foi o seguinte: no lugar do sol veio uma estrela que pousou numa árvore e se transformou na Virgem Maria. Esta foi pouco a pouco desaparecendo e no lugar nasceu uma fonte de água. Hoje ainda esta água é aqui distribuída. Fátima se transformou, então no centro das peregrinações católicas de todo este século. Quanto aos videntes, hoje (1999) a pastora Lúcia tem 93 anos e é religiosa carmelita.
Os outros videntes, junto com mais 40 milhões de pessoas, morreram durante a febre espanhola. Quanto às edificações, a Igreja atual foi construída sobre a árvore onde apareceu Maria. Nos anos 30, a 1a capela foi desmanchada por pessoas que eram contra a Igreja. Em 1967, no cinquentenário das aparições, Fátima foi visitada, pela primeira vez, pelo papa Bento XVI. Foi interessante conhecer o Santuário de Fátima e presenciar a fé do povo que lá estava, quando alguns, cumprindo promessas, estavam se dirigindo ao santuário, de joelhos.
Outra cidade visitada pelo nosso tour foi Batalha, com sua igreja e mosteiro. Deixo aqui alguns dados históricos:
“A história do Mosteiro de Batalha, ou do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, como é conhecido, começa no século XIV. Tal como o Mosteiro de Alcobaça, o Mosteiro de Batalha foi construído após o exército português ter vencido uma batalha. Desta vez os portugueses não lutaram contra os mouros, mas contra um exército castelhano”.
UM POUCO DE HISTÓRIA
“O Reino de Castela estava reivindicando o trono de Portugal. Mas esse pequeno reino não daria o trono a Castela sem entrar em uma briga. Tal como na história de David e Golias, no ano de 1385, em Aljubarrota, os 6.000 homens liderados pelo general Nuno Álvares Pereira derrotaram os 30.000 homens do exército castelhano”.
“Durante a batalha o rei João I orou pedindo ajuda à Virgem Maria, e ele prometeu construir um mosteiro caso Portugal saísse vitorioso”.
“Um período escuro para o Mosteiro de Batalha foi durante o século XIX. As guerras napoleônicas trouxeram destruição maciça e em 1834, quando os monges dominicanos foram expulsos do mosteiro, tudo já estava em ruínas. Em 1840, Ferdinand II começa a restauração que dura quase 80 anos. É declarado monumento nacional e em 1983 foi adicionado pela UNESCO aos Sítios do Patrimônio Mundial”.
CAPELA DO FUNDADOR DO MOSTEIRO DE BATALHA
“No final da nave você pode visitar a capela do Fundador. Foi construído no século XV como panteão do rei D. João I e da dinastia Avis. No centro está o túmulo do rei D. João I e sua esposa, que reinou durante os séculos XIV e XV”.
Aqui também está o túmulo do 5o filho de D. João I, D. Infante Henrique, o Navegador.
Naquele tempo se tentava construir o mais alto possível e não se contavam esforços para mandar buscar os mais renomados artistas e arquitetos do mundo para realizar estas maravilhas que encantam, ainda hoje, os nossos olhos. O estilo gótico veio após o estilo românico e cada cidade rivalizava com a cidade vizinha quanto à altura destes castelos e destas catedrais. Aqui, junto com o gótico há uma parte muito decorativa. É o estilo Manuelino, que marca a época triunfante dos descobrimentos portugueses.
Cada mosteiro ou Igreja tem sua história:
“Conta-se que, aqui em Batalha a virgem apareceu e disse ao rei da dinastia dos Avis, d. Pedro, o cruel, filho bastardo de D. João I, (os reis eram muitas vezes bastardos), que se ele ganhasse a Guerra deveria construir um castelo. O rei ganhou a Guerra e, cumprindo sua promessa, mandou construir o Castelo. Como o Mosteiro e o Castelo levaram muito tempo para ser construídos, nele sucessivamente trabalharam 4 arquitetos e assim os estilos também são diferentes! É isto que lhes empresta a beleza e o esplendor. Os artistas vieram da França, Itália e Inglaterra. Quanto ao estilo Manuelino, este se desenvolveu em pedra Calcária, pedra esta da família do mármore: branco (mármore de Carara). Há também o mármore negro, azul, rosa e verde. Em Batalha é possível ver diferentes estilos: ventanas alemanas, portas francesas e balcones suíços. Cores variadas integradas na paisagem portuguesa. Lá vi muitos terrenos cercados de pedras, muitos laranjais, parreiras, ameixas e marmelos”.
Lá na excursão em Batalha encontrei Nancy e Ribamar do BNDES de Florianópolis, que conheciam Idaulo Cunha, irmão de minha amiga Maria Helena Cunha. Às vezes acontece que encontramos brasileiros e com eles conversamos.
Após conhecer Batalha fomos para Alcobaça, uma cidade portuguesa do distrito de Leiria.
Como se vê nas duas fotos acima, esta construção é imensa. O Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, também conhecido como Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça, está classificado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional, desde 1910, IPPAR. Em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal.
Alguns dados históricos:
“Em março de 1147, em uma importante batalha em Santarém frente aos mouros, D. Afonso Henriques prometeu que construiria um grande mosteiro se Deus lhe concedesse a vitória. Após vencer a batalha e se tornar o primeiro Rei Português, Afonso manteve a sua promessa. Ele fundou o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça em 1153 e o entregou a Bernardo de Claraval, um abade cisterciense, que promoveu fortemente as Cruzadas”.
“Ao longo dos séculos, os monges de Alcobaça fizeram contribuições significativas para a cultura portuguesa. Em 1269 eles foram os primeiros a dar aulas públicas aos seus seguidores e, posteriormente, produziram a história oficial sobre Portugal em uma série de livros. A biblioteca de Alcobaça foi uma das maiores de Portugal”.
“Em 1834 os monges foram obrigados a abandonar o mosteiro, na sequência da expulsão de todas as ordens religiosas de Portugal durante a administração de Joaquim Antônio de Aguiar, um primeiro-ministro notório pela sua política antieclesiástica.”
“No transepto da igreja está uma das atrações do mosteiro: os túmulos góticos reais de Pedro I (1320-1367) e Inês de Castro (1325-1355), filha de um aristocrata castelhano. Tão importante quanto a magnífica arquitetura gótica da própria igreja são estes túmulos e sua história”.
“Inês de Castro protagonizou a história que acabou no famoso ditado ‘a Inês é morta’. Os personagens repousam um ao lado do outro esperando a ressurreição que os una para sempre. Alcobaça possui, também, um rico artesanato de cerâmica”.
Este mosteiro e igreja sofreram alguns ataques em sua história:
“Em 1810 as tropas invasoras francesas saquearam a famosa biblioteca, roubaram os túmulos e roubaram e queimaram parte da decoração interior da igreja. O que quer que tenha sobrado deste saque gaulês foi posteriormente roubado em 1834, durante uma revolta anticlerical, que acompanhou a dissolução oficial da vida monástica em Portugal e a partida dos últimos monges de Alcobaça.”
Foi muito gratificante poder observar estas maravilhas arquitetônicas e históricas. Em seguida partimos para conhecer Nazaré, outra cidade encantadora e “sui generis” que fica numa linda e ensolarada praia. A claridade de seu sol e o azul do céu neste dia, fez deste passeio algo inesquecível. Na praia, ao lado das conhecidas barracas para se defender do sol, muitas mulheres vendiam frutas e guloseimas próprias da região. Parei na barraca de duas senhoras, uma delas vestida de preto. E aí percebi outro dado cultural daquela população: “o luto ela jamais tiraria até que a morte a venha unir com quem partiu”. Fiz esta fotografia delas e lá comprei tâmaras, castanhas e outras coisas boas.
Também passei pelas ruelas da cidade de Nazaré. Aqui um fato interessante chamou minha atenção. As ruas são estreitíssimas e as famílias estendem as roupas no alto das ruas, atravessadas de uma à outra casa. Era muito estranho e bonito ao mesmo tempo.
De volta à Lisboa passamos pela cidade de Óbidos, uma das vilas mais lindas e preservadas de Portugal.
Deixo aqui um pouco de história:
“A cidadela protegida por uma alta murada de pedra é fortemente ligada à nobreza desde o século XIII, quando o rei Dinis se casou com Isabel de Aragão, conhecida depois como a ‘rainha santa’. Entre os presentes que o monarca deu à mulher estava. A cidadela protegida por uma alta murada de pedra é fortemente ligada à nobreza desde o século XIII, quando o rei Dinis se casou com Isabel de Aragão, conhecida depois como a ‘rainha santa’. Entre os presentes que o monarca deu à mulher estava a vila de Óbidos inteirinha. A tradição de ser dote real se estendeu até o século XIX. Essa ligação com os poderosos portugueses ajudou a conservar intacto Óbidos. Para tudo ficar ainda mais belo, todas as fachadas são enfeitadas com flores, principalmente gerânios vermelhos e buganvílias roxas. As construções antigas abrigam tudo o que um turista precisa para uma viagem prazerosa: há bons restaurantes, uma coleção de cafés, lojinhas de artesanato e galerias de arte cheias de charme, além de muitas garrafeiras, como os portugueses chamam os lugares que vendem bebidas alcoólicas – entre as especialidades etílicas locais estão os vinhos e a ginjinha, uma espécie de licor feito a partir da ginja, um tipo de cereja selvagem, pequenina e muito saborosa, abundante na região a vila de Óbidos inteirinha. A tradição de ser dote real se estendeu até o século XIX. Essa ligação com os poderosos portugueses ajudou a conservar intacto Óbidos. Para tudo ficar ainda mais belo, todas as fachadas são enfeitadas com flores, principalmente gerânios vermelhos e buganvílias roxas. As construções antigas abrigam tudo o que um turista precisa para uma viagem prazerosa: há bons restaurantes, uma coleção de cafés, lojinhas de artesanato e galerias de arte cheias de charme, além de muitas garrafeiras, como os portugueses chamam os lugares que vendem bebidas alcoólicas – entre as especialidades etílicas locais estão os vinhos e a ginjinha, uma espécie de licor feito a partir da ginja, um tipo de cereja selvagem, pequenina e muito saborosa, abundante na região”.
Em todas estas cidades seria interessante ter mais tempo à disposição para curti-las demoradamente. As excursões facilitam as coisas mas não são adequadas para que possamos usufruir de toda a beleza que as localidades visitadas escondem. Ou seja, para saborear é preciso ter tempo à disposição. Voltei, naquele dia, para Parede, em Cascais, revendo, no caminho de volta, muitas paisagens portuguesas, que me deixavam encantada e feliz.
13 de agosto – sexta-feira
Neste dia acordo às 11 horas, troco dinheiro e almoço. Neste dia o prof. Fritz e o Victor vão buscar água potável em Sintra e me convidam, para conhecer estes lindos lugares. Neste bonito passeio subimos até o “Cabo da Roca”, o ponto mais Ocidental de Portugal e da Europa, que fica numa falésia de 140 metros de altura. Lá ventava muito! Tiramos fotos desta paisagem linda! Estar lá é fazer uma agradável experiência de beleza natural impressionante. O poeta Luís Vaz de Camões escreveu como sendo o loca “donde a Terra se acaba e o mar começa”.
Posso dizer que foi muito emocionante, vivenciar o extremo Oeste de Portugal, nesta paisagem encantadora, onde o que se sentia era um forte vento e o que se via era o Oceano Atlântico, sem fim e nós aí, curtindo este momento único.
Saindo do inesquecível, “Cabo da Roca”, subimos para Sintra! É outro espetáculo grandioso o que se vê em Sintra! Lindas igrejas, conventos, castelos e residenciais! Prometi a mim mesma que visitaria Sintra, mais uma vez, para conhecer melhor a grande riqueza arquitetônica e paisagística que possui, mas isto não foi mais possível, desta vez. De qualquer modo, este foi mais um passeio maravilhoso, que devo agradecida ao professor e a seu ajudante Victor, o jovem da Nicarágua, que hoje já casado e continua desenvolvendo seu trabalho na casa do professor Fritz, conforme me informou o amigo Felix.
14 de agosto – sábado
Na parte da manhã resolvo conhecer mais um pouco da linda e inesquecível Lisboa. Tomo o trem em Parede e vou para o cais Sodré. Daí subo à Alfama e lá visito uma feira, conhecida como a “Feira da Ladra”. Duas mulheres árabes que estão numa barraca, onde vendem edredons e lençóis, me explicam a origem do nome “Ladra”. Dizem que faz duzentos anos que foi fundada esta feira por uma rainha, para poder vender suas roupas velhas. Apregoavam os preços em voz alta e os aumentavam acima do justo. E por isto o nome: Ladra. Mas só nos últimos cinquenta anos, a feira virou o que é hoje. É uma paisagem que nunca se vê nas nossas feiras, como por exemplo, barracas com 200 ternos masculinos. Fiquei algum tempo por lá e depois fiz uma foto na “Feira da Ladra”, no alto do bairro Alfama. Fui depois, visitar a igreja de São Vicente, onde, inicialmente, me sentei e tomei algumas notas para o meu diário, antes de visitar o “Museu de São Vicente.”
O Museu do Mosteiro de São Vicente é muito interessante: a sacristia é revestida de mármore (policromos embutidos). Neste Museu, vi, algo impressionante e que muito me agradou: a linda exposição de 38 fábulas de “La Fontaine”, em grandes quadros feitos com azulejos portugueses.
“Jean de La Fontaine (1621 – 1695) é um dos clássicos da literatura Francesa. Este autor inspirou-se em Esopo para escrever suas 240 fábulas. Outros autores, como Bocage as traduziu para o português, bem como João de Deus e Curvo Samedo. As fábulas são discutidas desde o século XVII”.
Filósofo moralista, “La Fontaine” pinta o mundo como ele é, impregnado do sentimento vívido da natureza. As fábulas evocam o mundo dos animais. O escritor vai pintando os tipos sociais do século XVIII. “La Fontaine” envia estas fábulas para o Delfim (o filho mais velho – sucessor do rei) Luiz XIV, da França fazendo, ao rei, esta dedicatória: “Eu canto os heróis, filhos de Esopo, cujas histórias, ainda que inventadas, contém verdades que servem de lição. Tudo fala em minha obra, até mesmo os peixes. E o que dizem se refere a todos nós. Sirvo-me dos animais, para instruir os homens”. Foi um momento muito rico para mim, poder penetrar na gênese destas fábulas, que eu conheço há tanto tempo. Cada fábula é representada em grandes painéis de azulejos. São azuis, sim, pois azulejos quer dizer azuis, como amarelejos quer dizer amarelos. Amei visitar este local e ver esta maravilha construída em grandes painéis de azulejos portugueses! Lindo demais! Orienta-me, na visita a esta exposição, o monitor português (que fala francês, Inglês e espanhol) Oscar Casaleiro. Ele quis que eu falasse sobre Florianópolis. Eu falei da história desta cidade pérola do Atlântico Sul, falei de sua beleza e da colonização Açoriana. Foi muito emocionante para mim, este momento único em que eu pude trocar estas palavras com Oscar Casalero e admirar a arte dos azulejos que apresentam as fábulas de “La Fontaine”.
Indescritível mesmo! Cândida e Júlia, duas turistas, também estão admirando os painéis. Cândida posa comigo diante dos painéis azuis das fábulas de “La Fontaine”, enquanto Júlia
A cor azul tem significado especial para Portugal: trata-se da afirmação de sua nacionalidade e marcam simbolicamente, um momento da restauração de Portugal, após o domínio espanhol, afirmando, assim, de maneira forte e artística, a própria identidade nacional portuguesa. Vi a capela de Santo Antônio (construída em 1740) em cujo lugar ficava a cela do Santo. Aqui estão, também, os ossos da mãe de Santo Antônio. Almocei no bar que fica no Museu de São Vicente. Descansei um pouco e desci o bairro da Alfama: ruelas, esquinas, roupas estendidas de uma casa à outra, enfeites pendurados para o fado, à noite. Hoje eu dediquei o dia a passear e conhecer a “Alfama”!
Chegando lá embaixo encontrei, finalmente, o “Museu do Fado e da Guitarra Portuguesa”. Logo quando entrei vi a exposição de livros, discos etc. e logo me deparei com um livro de poesias (lindas!) de Amália Rodrigues. Amei e por isso comprei! Falei com as funcionárias Ana e Agostinha, que muito simpaticamente me atenderam. Por ser professora paguei a metade, ou seja, 215 escudos. Entrei no Museu quase vivo e modernamente organizado. Inacreditável! Cheguei num cantinho onde havia um palco onde começava um filme de Amália Rodrigues. Fico encantada! Entro depois na sala que representa a Taberna e está começando um show (filme) de Amália Rodrigues.
Quando desci e falei sobre isso com as duas funcionárias, elas disseram que isto era bruxedo. Rimos muito e eu lhes disse que, para mim, isto era sincronicidade, inclusive o fato que, todas nós três, tínhamos nomes começando com A.
Antes de sair do prédio, no hall de entrada, faço uma foto, ao lado do grande manto preto das fadistas. Passo no largo da Cebola na frente da Casa dos Bicos. Diz um senhor, que esta Casa é ponto de referência: marcava-se encontro no Largo da Cebola, em frente à Casa dos Bicos. Passo pela rua do Ouro, rua Augusta e chego até o largo do Rocio.
Neste dia uma tarefa me espera. Preciso fazer uma reserva num hotel, pois minha amiga Inês Heinem, chegará de Florianópolis daqui a 5 dias. Depois de alguns dias aqui, ela vai viajar para a Alemanha. Farei algumas visitas em Portugal e Espanha, em sua companhia.
Pego o ônibus 36 para ir a “Entre Campos” no Hotel Quality e aí reservar um quarto, para dia 19 de setembro. Lá visitarei, também, o “Museu da Cidade”, se houver tempo. No ônibus, sento perto de Manoel Dias, um ótimo cicerone, caído do céu, acompanhado de sua mulher Alice. Manoel Dias me explica e demonstra imenso prazer de falar sobre Portugal. É funcionário dos museus, hoje aposentado, mas demonstra alegria, pela possibilidade de exercitar, mais uma vez, sua profissão. Fala-me de muitas coisas interessantes, que eu, agradeço intimamente feliz, por mais esta delicadeza, durante esta viagem. Entre outras coisas, me explica a origem do nome do Castelo e Mosteiro, que deu origem depois, ao Museu da Cidade. Diz que D. João V, quando lhe diziam que não poderia se encontrar com sua amante, a abadessa do convento, ele lhe respondia: “hei de vê-la”. Para poder se encontrar mandou construir um Castelo e Convento que se chamou Odivelas, um pouco soando à “hei de vê-la”. Não sei se a história é bem essa, pois na internet li esta história um pouco diferente.
Cheguei, enfim, ao “Museu da Cidade”, mas já não havia mais tempo para adentrar as salas. Só recebi alguns folhetos explicativos do mesmo e vi o pátio interno do Museu.
“O Museu da Cidade abrange desde a pré-história até o século XIX. E dentro, todo seu espaço está dividido cronologicamente para que o visitante possa descobrir a história da cidade desde seus primórdios e seguindo uma ordem”.
Tomei, então, o rumo do hotel Quality, fazendo o trajeto a pé, aproveitando para ver os lindos campos que são praças maravilhosas. Parei numa livraria. Como havia mesinhas para ler e escrever descansei aí um pouco e aqui estou eu, escrevendo este meu diário, neste centro comercial. Chego ao Hotel Quality e faço a reserva para dia 19/9/1999. Daqui a alguns dias, chega Inês e daqui sairemos, logo de manhã cedo, para ir à cidade do Porto, ao norte de Portugal.
Na volta, no metrô, tive oportunidade de ter momentos de pura emoção, nos bancos onde sentei, onde estava, também, uma família de Macau (Joana 5 anos, sua mãe e mais uma irmã maior). Joana conversa com o tempo todo, com uma alegria e desenvoltura cativantes. É uma criança “maravilha”. Me diz que fala 4 línguas: o japonês, o filipino, o português e inglês. Pergunta sobre o Brasil, o que existe aqui e se as coisas no Brasil são baratas. Me diz que sua mãe é muito “marota”. Perguntei a razão e ela me disse que era porque, sua mãe me tinha contado, que Joana não gosta de ver as novelas brasileiras, porque tem muitos beijos. Foi um encanto! Disse-me Joana, que tem uma madrinha brasileira. Antes eu tinha me encontrado com Ana Raquel (4 anos) a irmã de 11 anos e a mãe. Ana Raquel e Joana deram-se as mãos e assim ficaram durante toda a viagem. Foi uma delícia ver tanta maravilha!
Chego em casa às 20 horas. Converso com Prof. Fritz e auxiliada por ele organizei a partir de algumas boas ideias, o meu roteiro daqui para frente. Devo ao professor Fritz as boas orientações que me deu, para que eu pudesse conhecer lugares fascinantes, nestes dias que tive o prazer de ficar em Portugal.
Depois da conversa com o prof. Fritz, falei com Jorge que é um técnico de piscinas e amigo do Victor. Jorge se prontificou a me levar, num domingo, para o Parque das Nações. Penso que pode ser no dia 29, quando volto da viagem com Inês por Porto, São Tiago de Compostela e Madri. Fui dormir. Vou levantar às 6:15 horas, pegar o comboio às 7 horas para estar às 8 horas. na estação de Santa Apolônia.
15 de agosto – domingo
Neste dia, às 8 horas, eu já estava na estação de Santa Apolônia, de onde saí para conhecer Coimbra. Ao sentar-me no trem, pude escutar, uma conversa interessante, que três mulheres portuguesas faziam em voz bastante alta, tanto que podia escutar naturalmente, sem nenhum esforço. Diziam, entre outras coisas: “Aqui agora ninguém mais, anda de comboio (trem). Todos vão de carro. Hoje em dia, quem não tem carro não vale mais nada”. Uma mulher fala que sua filha tem dois carros. E assim continua a conversa, revelando-me as representações que as pessoas têm desta nova fase de Portugal e dos portugueses. Entra um vendedor de palavras-cruzadas. E eu, estou num eterno encantamento por tudo o que estou vendo e vivendo. Penso: “Um desejo se está realizando, organiza-se em minha mente, um lindo desenho geográfico cultural. Estou em Portugal”.
Sentei-me depois perto de uma mulher de meia idade. Estava triste e acabrunhada. Após o rapport inicial: “bom dia, meu nome é Anita, venho do Brasil e você? Um sorriso se abriu quando me disse, seu nome: Laurinda. Mas logo em seguida, após as primeiras palavras, começou a se desabafar: disse-me que era muito negativa e que brigava muito com sua única filha. No fim de duas horas em que tentei escutar e refletir com ela, me disse: nunca mais me esquecerei de você e do que você me disse. Você chega perto de Lauro Trevisan. Lauro Trevisan vai muito a Portugal dar cursos e sua filha participa muito destes cursos. Nos despedimos com uma bela experiência de diálogo e comunicação, trocando endereços. Convidou-me a visitá-la na próxima vez que viesse a Portugal. Laurinda morava em Setúbal. Estes encontros que acontecem, de vez em quando numa viagem, me agradam muito e são deveras significativos, para mim!
Esta viagem chegou ao fim! Estou em Coimbra!!!
A vista desta cidade histórica que eu agora começava a conhecer, me emocionou! Deixei minhas malas no hotel Bragança, que fica ao lado da estação ferroviária e fui passear e almoçar às margens do rio Modega. Fui, então, conhecer outros locais de hospedagem, como o hotel Íbis e outros residenciais. Optei por ficar no hotel Bragança, que ficava ao lado da estação de trem. É um hotel muito bom, bonito, agradável e muito limpo. Paguei num quarto com banheiro e chuveiro e televisão a importância de 5000 escudos, ou seja, 30 dólares por dia. Lá estavam hospedados muito turistas alemães. Em seguida saí livre e solta para conhecer a encantadora Coimbra.
Após percorrer ruas e ruelas entrei na Igreja de Santa Cruz e paguei entrada para o “Museu de Santa Cruz” dos padres agostinianos.
“O Mosteiro de Santa Cruz localiza-se na freguesia de Santa Cruz, na cidade, concelho e distrito de Coimbra, em Portugal. Foi fundado em 1131 pela Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho, com o apoio de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I, que nele se encontram sepultados”.
Fiquei sabendo que Santo Antônio lá viveu, pois era “Agostiniano”, passando depois, para a “Ordem dos Franciscanos”, porque queria ir para a África em lugar dos 5 franciscanos mortos, pelos autóctones de lá.
Percorri depois diferentes praças e em algumas me sentei a observar as pessoas e o movimento. Tomei café num bar “sui generis”, onde diversas senhoras de meia idade falavam alegremente, passando aí bons momentos, em cada tarde. Numa praça tomei sorvete. À noite telefonei para o Brasil para minha família. Este foi o primeiro contato que tive com Coimbra, esta cidade historicamente Universitária, que muito me agradou começar a conhecer. Na verdade, em nossos estudos escolares, Coimbra era um nome, muitas vezes, citado. A padroeira da cidade é Santa Izabel.
“Aqui em Coimbra, o feriado municipal ocorre a 4 de julho, em memória da rainha Santa Isabel de Aragão, padroeira da cidade, conhecida popularmente apenas por rainha santa. Foi Capital Nacional da Cultura em 2003. No dia 22 de junho de 2013, Universidade de Coimbra, foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO”.
16 de agosto – segunda-feira
No hotel Bragança, tomei “o pequeno almoço”, como chamam aqui o café da manhã. Na verdade, é sempre um verdadeiro show de café. Neste dia, como sempre, eu sempre estou atenta na descoberta de lugares interessantes para conhecer. Resolvi visitar em Conímbriga, as ruínas da Cidade Romana. Ao procurar pelo ônibus, perdi tempo no obter as informações e assim também perdi o horário. Isto me oportunizou conhecer outro lugar imperdível: o parque “Portugal dos Pequenitos”. Esta obra maravilhosa do médico Bisssaya Barreto (1886 – 1974) foi construída em entre 1938 e 1962. Este eminente catedrático de Medicina da Universidade de Coimbra, médico cirurgião, humanista e filantropo Impulsionou “sanatórios, leprosarias, casas da criança, refúgios para idosos, institutos maternais, bairros econômicos, campos de férias, colônias balneares, esteve à frente da campanha de luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças mentais. À sua iniciativa se devem os Sanatórios de Celas, onde posteriormente funcionou até 2011 o Hospital Pediátrico de Coimbra e dos Covões, atual Hospital dos Covões. Também a criação da Maternidade Bissaya Barreto, o Hospital Sobral Cid, o Hospital Psiquiátrico do Lorvão, o Hospital Rovisco Pais (que foi uma moderna leprosaria) o Hospital da Figueira da Foz, entre outras instituições que ainda se encontram em funcionamento. Criou a Escola Normal Social e o Portugal dos Pequenitos, em Coimbra”.
“Em 1940 havia sucedido a Exposição do Mundo Português durante o Estado Novo. Decorreu no contexto de uma dupla comemoração: oito séculos depois de 1140, data entendida como a da Independência Nacional e três séculos passados sobre a Restauração”.
O arquiteto da obra “Portugal dos Pequenitos” foi Cassiano Viriato Branco (1897-1970), um dos mais importantes arquitetos da primeira metade do Século XX em Portugal. De fortes convicções políticas, opositor declarado do Estado Novo de Salazar, Cassiano Branco fica excluído das encomendas oficiais de maior estatuto e visibilidade. Participa de forma discreta na Exposição do Mundo Português (1940).
Cheguei a “Portugal dos Pequenitos” e me encantei com o que vi: todas as culturas que se desenvolveram em Portugal, estão aqui contempladas.
“Suas diferentes expressões culturais se expressam nas casas das diferentes influências culturais das diferentes regiões de Portugal. Outros monumentos importantes de Portugal também estão lá. Homenageia-se, também, cada colônia ou ex-colônia com um pequeno edifício com o respectivo museu”.
Ao visitar as respectivas casinhas que representam cada expressão cultural de Portugal, tirei foto com um pintor que estava trabalhando numa casinha amarela e fazendo isto com tanto cuidado e prazer, que me encantei. Lá estão sempre, renovando as pinturas.
Também tirei fotos com uma família que estava com uma adolescente, sua mãe e duas crianças de 5 anos de idade. Eram da cidade do Porto. Após nossa conversa, elas me deram o endereço e pediram que, quando passasse pelo Porto, lhes telefonasse. Saí deste maravilhoso “Portugal dos Pequenitos” encantada, com tanto empenho e trabalho, dos que reuniram toda esta pesquisa para nos brindar com tantas informações, conhecimento e beleza. Ao avistar na colina o convento e igreja da “Rainha Santa”, decidi subir a ladeira.
O antigo convento é hoje um quartel. Ao subir as ladeiras com casas tão interessantes e bonitas, muitas vezes parava para olhar lá embaixo, na direção oposta eu via, telhados em condições muito precárias, quase destruídos. Alguns estavam sendo reconstruídos. Tirei fotos!
Antes de chegar ao Convento, hoje um quartel, visitei uma casa de faiança portuguesa, onde a dona da casa me deu muitas explicações sobre esta peculiaridade.
A faiança dos séculos XV, XVI e XVII respectivamente, é identificada pelas cores, motivos (animais ou flores) e modos de pintar, diferentes. Gostei de conhecer estes detalhes. Lá comprei uma camiseta dos descobrimentos, branca com ilustração azul, para minha sobrinha-neta, Anna Maria D. Moser. Após falar com uma moça policial, superbem penteada e pintada, que montava guarda naquele momento, neste quartel, desci as ladeiras. Cheguei no hotel Bragança, onde almocei e depois descansei.
Às 15:36 horas peguei o comboio para conhecer Luso e Buçaco, um local de águas termais, que fica mais no alto,
“Ao norte de Coimbra estão a cidade termal de Luso e a floresta do Buçaco. No Luso, é interessante ver a área das fontes das nascentes e do spa. De lá, você pode caminhar pela enorme floresta até o impressionante Palácio Buçaco, agora convertido em um hotel de luxo. Isso é para quem quer se exercitar e entrar em contato com a natureza, porque é muito mais confortável entrar no carro”.
Ao tomar o trem, sentei ao lado de um senhor chamado Manuel Duarte, que conversou comigo e, desde a parada do trem, me acompanhou na subida até esta localidade de Luso, pois não havia condução naquele momento. Entramos no grande hotel, vi as piscinas e as termas. É um lugar lindíssimo onde havia muitos turistas. Em Luso, Manuel Duarte me falou sobre um dado da cultura daquele povo: mostrou-me árvores de castanha da Índia, cujas frutas, as castanhas, serviam, antigamente, como naftalina contra as traças. Após ver os locais das águas termais e lindos parques, pegamos um táxi e fomos a Buçaco, que é outro lindo lugar.
“A Mata Nacional do Buçaco é uma área protegida localizada na Serra do Buçaco, freguesia de Luso, concelho da Mealhada. Foi plantada pela Ordem dos Carmelitas Descalços, no primeiro quarto do século XVII, encontrando-se delimitada pelos murros erguidos pela ordem para limitar o acesso a mata”.
Historicamente é marcado pela vitória das tropas portuguesas contra a investidas dos franceses no dia 27 de setembro de 1810. Aqui há um grande Mosteiro, belíssimo, em estilo Manuelino. O Mosteiro, agora um hotel 5 estrelas, maravilhoso, foi mandado construir por D. Manoel. Seus jardins são belíssimos!!
Tirei fotos no hall de entrada no jardim, e na frente do hotel com meus cicerones. Prometi lhes mandar as fotos.
Descemos para Luso, paguei 1000 escudos para o táxi e fui pegar o trem. Cheguei no hotel e fui descansar, pois estava deveras cansada, o que me acontecia todas as noites, de modo geral.
17 de agosto – terça-feira
Neste dia passeei um pouco mais de tempo na cidade de Coimbra. Às 14 horas assisti no meu quarto, um programa de televisão interessantíssimo, sobre o “Hans Cristian Anderson”. Este escritor me encantou! Foi como se eu tivesse me encontrado com alguém conhecido. Além de criar muitos contos de fadas que ele tirava do seu íntimo, ele criou o “Patinho Feio” onde ele retratou sua vida. Este escritor disse muitas coisas interessantes que eu guardei com carinho:
“Olhe para mim e minha história fará parte de ti”.
“A realidade superou os mais lindos sonhos”.
“Viajar é viver”.
“Os seus temas foram sua própria vida”.
“Ele era um cisne, só que não sabia e sofreu muito para descobrir”.
Sua alma sofrera muito para transmutar toda a dor, nesta imortal obra. Amei conhecer um pouco da vida do escritor “Hans Cristian Anderson”. Eu posso aplicar a ele o que li em algum livro: “Quando encontramos com esse tipo de pessoa intuitivamente reconhecemos que estamos diante de algo superior”.
Dormi muito bem esta noite no Hotel Bragança.
18 de agosto – quarta-feira
De manhã, no hotel o café ou pequeno almoço, estava riquíssimo. Neste dia, tomei o “autocar Condeixas” e desta vez, fui conhecer Conimbriga, uma cidade romana do 2º século antes de Cristo, praticamente com tudo reconhecível, conforme se pode ver nas fotos que fiz. A cidade romana está sendo revelada por debaixo dos escombros de 2000 anos. Alguns dados chamaram a minha atenção: as escavações deixam totalmente à vista a elegância das habitações romanas, a beleza das instalações dos banhos romanos, o sistema de construção e irrigação, os mosaicos etc.
“Conímbriga é uma povoação estabelecida desde a Idade do Cobre que foi um importante centro durante a República Romana e que continuou habitada, pelo menos, até ao século IX. Está classificada como Monumento Nacional, tendo sido palco de escavações desde o século XIX”.
Sabemos que Conímbriga não é só a área já escavada e restaurada. Como um iceberg muito permanece sob a superfície.
Durante a visita à Conímbriga, tive a felicidade de me encontrar com um simpático casal de professores franceses, Corina e Cristóvão, que estavam fazendo doutorado em História, na França. Em sua companhia visitei toda a cidade romana e aprendi muito conversando com eles, sobre as formas de refrigeração subterrânea que os romanos construíam, banhos termais. Estes banhos romanos foram pouco a pouco terminando devido as proibições, durante a Idade Média. Conversamos, tiramos fotos, tomamos suco e trocamos endereços e e-mails.
Foi fantástico este encontro! Em janeiro de 2000 recebi um e-mail dos dois professores e, com grande prazer o respondi prontamente. Estes encontros inesperados e especiais, são uma benção! Gratidão à Vida! Valeu demais conhecer Conimbriga em companhia destes dois simpáticos e inteligentes professores.
Muitos estudiosos se debruçam para estudar Conimbriga!
Voltei às 13.30 horas, encantada com esta visita! Fui almoçar! Após o descanso habitual, visitei a Universidade de Coimbra e sua biblioteca lindíssima, uma joia da cultura portuguesa.
Foi D. João V o Magnânimo, que a mandou erigir em 1717. Este monarca ficou conhecido como o grande patrono da cultura, da ciência e das artes, e esta biblioteca é o testemunho notável da política cultural do rei. Após visitei também o “Museu de Arte Sacra”.
Passei então pelo centro de Coimbra e comprei um relógio de pulso, por 6000 escudos. Entrei em diversas livrarias, belíssimas. Coloquei no correio duas cartas: uma para Impéria em Verona, na Itália e outra, para meu irmão Jaime, no Brasil. À noite havia um festival de verão, na praça. Estes festivais de verão são comuns aqui na Europa e são muito especiais. Eu me tinha programado para assistir, mas me senti cansada demais e assim fui assistir, pela televisão, uma matéria sobre o terremoto, que tinha acontecido na Turquia. Terrível!
19 de agosto – quinta-feira
Levanto agradecida por uma noite repousante e tranquila e arrumo minhas malas. Tomo um café, super-reforçado neste hotel Bragança. O salão está repleto de turistas!
Hoje, o destino é especialíssimo, a cidade templária de Tomar. O trem partiu às 8:17 horas e eu cheguei na estação de Lamarosa, às 9:55 horas. Lá teria que esperar até as 12 horas, pois aqui, reduziram os horários dos trens. Leio os cartazes! Um anuncia greve do dia 7 de agosto até 31 de agosto de 1999. Entendo então que estamos em greve! O funcionário não admite que estejam em greve, mas é isto que está acontecendo. Penso: qual a melhor forma de esperar por aqui, durante quase 2 horas? Neste momento me dou conta que deixei meu par de brincos de ouro, no hotel Bragança em Coimbra e então, telefono para lá, comunicando-lhes este fato. Pedem-me que torne a telefonar às 12 horas. Neste ínterim observo o que acontece ao meu redor na estação! Chamam-me atenção os trabalhos do funcionário da estrada de ferro. Este, na orientação dos trens, está apontando um bastão vermelho e, à minha pergunta do por quê me explicam que, quando a bandeira vermelha está enrolada no bastão, significa que o trem pode seguir em frente, porque está tudo em ordem ao longo da ferrovia. Se a bandeira está desfraldada, é porque há perigo em algum trecho. Satisfeita com mais este aprender, me dirijo a um bar e depois de comer alguma coisa, começo a ler o jornal local: “O Mirante – Jornal do Ribatejo”.
Neste jornal leio sobre Picasso, que teria dito esta frase maravilhosa, com a qual também concordo: “É preciso muito tempo para se apreender a ser jovem”. O articulista continua dizendo que Mestre Martins Correia, 84 anos, escultor português gravou em seu íntimo esta frase de Picasso e sempre procura a essência da juventude, que para ele era a Liberdade. (“O mirante”, 4 de agosto). Mestre Martins Correia morreu em Lisboa, nesta sexta feira, dizia o jornal. Para o Mestre Martins Correia o desânimo só chega quando se tem vontade de expandir o seu eu interior e não se consegue por falta de condições exteriores. “A interioridade é que comanda”. Com habilidade, Mestre Martins Correa afirma: “Fiz algumas coisas no início de minha carreira, mas só depois, com a manifestação de meu eu interior é que apareceu a arte”. Amei! Tenho tempo à minha disposição e assim continuo a folhear o jornal. Leio em seguida um artigo sobre economia e globalização. Achei interessante! Após sair do bar onde estive lendo, ainda na estação de Lamarosa, falei com o fiscal que me deu algumas informações interessantes. Sobre a compra de passagem no trem: pode-se comprar um cartão por 25.000 escudos, que me possibilita viajar, por todo Portugal, gastando o valor do cartão dependendo das viagens que faço. Vale sempre saber!
O trem que me leva à cidade dos “Templários”, está chegando e lá vou eu conhecer uma cidade cheia de história, tradições e cultura. Chego a Tomar, procuro um residencial e, a 100 metros da estação rodoviária, encontro uma ótima pensão, o Residencial Avenida onde d. Natália, a dona da pensão, me recebe muito bem. Posso dizer que nesta pensão me senti em casa, tal era o grau de amorosidade que lá encontrei, nas duas vezes em que estive em Tomar.
Esta família tem uma história parecida com a de tantos portugueses que viviam nas colônias da África, no caso em Moçambique, onde viviam bem. Do dia para a noite, tiveram que tudo abandonar e começar nova vida em Portugal. Aqui aparece um dado sociológico e psicológico, recorrente: em Portugal sofrem, porque não são recebidos como portugueses e isto é sentido como uma tragédia. Na verdade, não se sentem nem portugueses e nem africanos. Encontrei-me, mais tarde, com muitas pessoas se sentindo assim e não se conformando nunca, com a nova situação. Eternamente sentindo, em seu íntimo esta mágoa. Era meu primeiro encontro com a realidade de parte significativa de portugueses, antigos habitantes das colônias portuguesas na África.
Após pequeno descanso saio para ver, ali perto, em primeiro lugar, o “Museu do Fósforo”, que me foi indicado como muito interessante, entre diversos outros museus que existem aqui em Tomar.
É realmente uma maravilha! Muito completo e muito representativo de tudo o que já se produziu no mundo sobre caixas de fósforos, com suas coleções, seus temas, desenhos, estampas de arte, tamanhos etc. Valeu visitar este Museu.
Lá também vejo a sala da pintura de cerâmica, onde algumas mulheres artistas, se reuniram e criaram este atelier onde desenvolvem todo o processo de trabalho: fazem as obras de arte em cerâmica, aqui é queimada e depois a pintam ou a esmaltam. Tiro fotos neste ambiente das mulheres artistas com quem também converso. Um ambiente muito bonito de observar. Depois subo o morro para visitar o Mosteiro e Castelo dos Templários, um monumento importantíssimo reconhecido pela UNESCO.
A História dos Cavaleiros do Templo
A Ordem dos Templários, uma Ordem de Cavalaria, ao mesmo tempo, Monges e Guerreiros de alto nível, foi fundada após a primeira Cruzada em 1096 e foi criada em 1118, em Jerusalém e se chamou “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”. Na oportunidade era composta por nove cavaleiros franceses, entre eles Hugo de Payens e Geoffrey de Saint-Omer. Esta Ordem foi importante, por 200 anos, até 1312. A regra religiosa dos Monges Guerreiros (militar) foi escrita por São Bernardo de Claraval, um monge cisterciense.
Os Templários lutaram defendendo os reis e o papa e se tornaram muito fortes na sociedade da Idade Média. Sempre receberam muitas terras, como por exemplo, as terras onde está em Tomar, o Mosteiro dos Templários, foram doadas por D. Afonso Henriques. Este rei as conquistou em 1147 aos Mouros, doando-as aos Templários em 1159. Tomar foi então fundada em 1160, época em que se iniciou a construção do Castelo (Sede da Ordem em Portugal) em uma colina perto do Rio Nabão, ordenada por Gualdim Pais, então Mestre da Ordem dos Templários. Na época, em que os Templários fundaram seu Castelo em Tomar, em 1160, este era o mais moderno e avançado dispositivo militar do Reino, inspirado nas fortificações da Terra Santa. A Ordem estabeleceu-se em Portugal, no séc. XII, com o objetivo explícito de para ajudar os primeiros reis portugueses na Reconquista Cristã e também continuar as Cruzadas.
A Ordem se tornou numerosa. Nobres de toda a Europa enviavam os filhos para serem cavaleiros templários. Com as muitas riquezas que os Templários recebiam dos reis e do povo em geral, a Ordem passou a ser muito rica e popular, em todo o continente europeu. Os templários usavam as propriedades que lhes eram doadas também para plantar trigo, cevada e criar animais. Com isso proviam a subsistência dos cavaleiros.
As muitas riquezas e muito poder que, os Templários amealharam também provocaram rivalidades e temores. Na verdade seria interessante fazer um estudo sobre a complexa história desta instituição medieval, para se entender o que aconteceu para que a ordem dos Templários tivesse o fim que teve. No século XIV foi armado um complô entre o rei francês Filipe IV e o Papa Clemente V. As duas autoridades se uniram contra os Templários. Em 1298, Jacques de Molay havia sido nomeado grão-mestre dos templários e em 1307, foi preso com muitos dos membros da Ordem na França e passou anos na masmorra sendo depois queimado vivo em praça pública, com mais um companheiro. A Ordem Templária, a mais poderosa da Idade Média foi então dissolvida em 1312, pelo papa Clemente V. Após estes dados históricos que nos dão uma pequena visão sobre os Monges Guerreiros continuo o relato de minha viagem.
Eu estou na cidade de Tomar, fundada pelos Templários e vou subir este morro onde há um conjunto de grandes construções que pertenceram a estas históricas instituições.
“O que chamamos de Convento de Cristo engloba o Castelo Templário de Tomar, o Convento da Ordem de Cristo, a cerca conventual – chamada hoje de Mata dos Sete Montes, a ermida da Imaculada Conceição e o Aqueduto dos Pegões. Toda essa área foi classificada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade”.
Na subida, a ladeira passa por meio de árvores frondosas, de onde se pode apreciar a cidade lá embaixo. Chegando no alto, faço uma foto para marcar este momento! Entro em todas as magníficas construções e faço uma foto num dos páteos internos do mosteiro, onde há muito para se admirar. Abaixo vemos também a majestosa Janela Manuelina.
Aqui julgo importante fazer a distinção entre a Ordem dos Templários (dissolvida pelo papa em 1312) e a Ordem de Cristo (fundada por outro papa em 1319), pois neste conjunto arquitetônico existem ambas. Quando neste conjunto visitamos o Convento da Ordem de Cristo, sabemos que a fundação da Ordem de Cristo em Portugal, representou como uma refundação dos Templários, a 19 de março de 1319. Por bula de João XXII é instituída a Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, na qual D. Dinis vai incorporar os cavaleiros, os bens e os privilégios da extinta Ordem do Templo.
“Os ideais da expansão cristã reacenderam-se no século XV quando seu Grão-Mestre, Infante D. Henrique, investiu os rendimentos da Ordem na exploração marítima. O emblema, a Cruz da Ordem de Cristo, adornava as velas das caravelas que exploravam os mares desconhecidos… Em 1789 a Ordem de Cristo foi secularizada, tornando-se uma ordem honorífica até sua extinção, em 1910, com a implantação da República Portuguesa”.
Visitar este grande conjunto e conhecer um pouco sua história, foi algo que da qual gostei muito!
A Festa dos Tabuleiros: um Ritual Típico de Tomar
Volto para o Residencial Avenida onde leio sobre uma procissão típica de Tomar. É a do ‘cesto de pão’, que os devotos colocam acima da cabeça sendo seu tamanho igual à altura da pessoa.
“A Festa dos Tabuleiros ocorre de 4 em 4 anos no mês de julho e é um dos eventos mais característicos de Tomar, que traz uma vida e animação incomparáveis à cidade. Esta festa de origem pagã é uma das mais antigas e conhecidas do país, tendo sido cristianizada pela Rainha Santa Isabel, no culto do Espírito Santo. Uma festa antiga que invade as ruas da cidade com música, dança, cor e alegria. O destaque desta festa é o desfile de centenas de mulheres trajadas de branco com tabuleiros de sua altura com flores de papel, espigas e pães nas cabeças. No topo do tabuleiro há ainda uma Coroa, encabeçada pela Cruz de Cristo ou pela Pomba do Espírito Santo. Com seus acompanhantes, elas caminham até a praça, onde removem os tabuleiros em um ato de partilha”.
Achei muito interessante esta informação sobre esta especial festa popular de Tomar.
Depois desta leitura, fui telefonar para meu sobrinho David Moser, em companhia de Ana (Anita entre os íntimos). Está me convida para ir à sua casa onde conversamos. Anita me presenteia com livrinhos das localidades que pertencem a Tomar, dos quais gostei muito e agradeci!
Em Tomar fui almoçar num restaurante, adjacente ao Residencial. Sobre este almoço, onde foi oferecido o prato português “Bacalhau à Gomes de Sá”, eu já falei umas dezenas de vezes a muitos amigos. Foi espetacularmente gostoso, tanto que eu já disse, que se fosse preciso ir a pé para Portugal, eu iria, só para saborear, novamente este prato. Ficou gravado na memória gustativa e afetiva!
Mas nestas alturas, eu preciso deixar o Residencial de d. Natália para me dirigir a Lisboa para lá me encontrar com Inez Heinem, no Hotel Quality. Prometo a d. Natalia que voltarei a Tomar antes de minha viagem ao Brasil. Há muito ainda para ver nesta cidade templária. Chegando em Lisboa me comunico com minha amiga e enquanto ela faz a excursão pela cidade e vou visitar a, Fundação Gulbenkian.
Um Pouco de História
“Foi em 1969 que o Museu abriu suas portas, mostrando a coleção de Calouste Sarkis Gulbenkian, um industrial armênio que se fixou em Portugal no século XX, e que desde muito cedo começou a colecionar objetos relacionados à arte. O magnata teve que ir atrás de muitos objetos por mais de 40 anos, até que finalmente doou sua coleção a Portugal, logo antes de morrer, em 1955. A coleção é uma das mais privadas de toda a Europa”
“A sua vasta coleção reúne obras que vão desde 2000 a.C até os dias de hoje. Merece destaque a coleção de moedas helênicas, obras orientais de porcelana, peças romanas e as joias greco-romanas”.
Gostei demais de visitar esse lindo e rico museu de arte. Almoço com Inez e vou, em seguida, à localidade de Parede, pego o que preciso e vou, nas redondezas, fazer mãos e pés: 3.550 escudos (serviço caro e péssimo). Chego no hotel Quality e vamos marcar a passagem para Porto, passando, rapidamente, por Coimbra. No hotel divido o quarto com Inez, pagando mais 3.500 por uma cama a mais.
20 de agosto – sexta-feira
Nesta manhã tomamos um ótimo café no restaurante do hotel Quality. Pegamos um táxi e na estação Santa Apolônia, embarcamos, num trem de primeira classe, para Coimbra, uma cidade-universitária que, em 1143, foi a capital de Portugal. Esta foi uma linda viagem! A paisagem que meus olhos descortinavam pelo caminho, era esta: extensas plantações de milho, oliveiras, sobreiros, (a árvore da cortiça) e também imensas regiões com reflorestamento de eucaliptos.
Junto a nós, neste trem, viajava também, um senhor português que mora na Alemanha e trabalha na embaixada. Seu título de nobreza: é Barão de São Marcos. Conversamos sobre diversos assuntos e, entre eles, um muito interessante, que é a questão de nomes e sobrenomes em Portugal. Ele estava lendo um livro sobre este assunto. Contou-nos que, num certo momento histórico, as mulheres herdavam o nome da mãe e os meninos o nome do pai. Em outros tempos, registrava-se só o nome próprio e cada filho tinha um sobrenome diferente. Falou dos filhos bastardos que eram muitos. Havia filhos de abadessas com reis e nobres. Este senhor, é primo do Dr. Bulcão Viana de Florianópolis. Ele, com muita simpatia, colocou-se à nossa disposição, na Alemanha, onde é assessor para assuntos entre Portugal e países da comunidade europeia. A viagem foi ótima e muito instrutiva. Chegamos em Coimbra e a primeira coisa que fiz foi passar no hotel Bragança onde tinha deixado meus brincos de ouro, que prontamente me foram entregues. Isto me deu uma sensação muito boa de respeito e de seriedade das pessoas que trabalham neste hotel.
Após isto, deixamos aí as malas e saímos andando, olhando, admirando e registrando em fotos, nossa passagem pela cidade. A estada em Coimbra foi rápida. Nosso destino é a cidade do Porto. Entramos no “Museu Antropológico” da Universidade, mas, como estava fechado para a visitação, admiramos somente alguns quadros na entrada e iniciamos a descida da ladeira. Aí, reencontrei-me com Luciano e Zélia na livraria, já conhecida. Compramos alguns postais e, em seguida, continuamos descendo a ladeira e entramos num restaurante. Lá estavam os magníficos doces, que a gente costuma encontrar por lá: Alfarrufas, Barriga de freira, Margarida, etc.
Agora temos a intensão de conhecer a cidade de Porto, antes passando por diversas cidades portuguesas muito interessantes. Partimos às 12:55 horas de Coimbra A para Coimbra B (estação de trem) e em seguida, tomamos o trem para a cidade do Porto. Aqui também extensas plantações de parreiras, reflorestamento, acácias e ciprestes.
Às 15:35 horas passamos por Aveiro, em direção a cidade do Porto. Aveiro tem construções modernas, bela arquitetura onde prevalece a arte decorativa do mosaico.
Às 14:05 horas estávamos passando pela cidade litorânea de Espinho, com praias muito movimentadas que me lembraram as nossas, aqui de Florianópolis. Às 14:20 horas passávamos por Vila Nova de Gaia. Lá havia um túnel perto da cidade do Porto, onde chegamos às 14:30 horas. Depois de alugar um quarto no “Residencial Porto” mesmo sem conhecer ainda a cidade do Porto, resolvemos, nesta mesma hora, visitar a cidade de Braga.
No caminho, no trem, encontramos uma bióloga, professora, com quem trocamos muitas ideias e que nos passou algumas informações interessantes: ela nos explicou que o nome romano desta linda e charmosa cidade era “Bracara Augusta”. Também nos explicou o sentido da expressão “para lá das portas de Braga”. Tivemos também explicação, sobre o vocabulário usado nesta região como por exemplo: “repara por mim” que dizer “me cuida”; “fato” quer dizer calça com túnica; “gira” quer dizer bonito; “piroso” quer dizer brega; “miúdo” quer dizer criança; “abrir o táxi” quer dizer chamar um táxi. Nossa bióloga e professora, virá para o nordeste do Brasil com o marido, em junho. Foi ótima nossa conversa e a aprendizagem que tivemos, neste rápido encontro, com a simpática e inteligente professora.
Chegamos em Braga, também chamada a “Roma Portuguesa”, entrando pela Avenida da Porta Nova. Uma cidade belíssima, com seus cafés fervilhando de turistas, seus jardins cheios de flores, monumentos, igrejas e suas ruas cheias de gente, enfim. Aqui existem muitas igrejas. Assistimos uma missa em uma Igreja que estava cheia. Na praça dos Arcebispos, vimos muitas flores, chafarizes, casa de pedra, e muitos cafés. É uma Cidade com um comércio muito forte e, também, muito acolhedora.
Em Braga também aprendemos alguns vocábulos novos: “abismal” quer dizer espantoso; “calhau” quer dizer pedra. Da cidade observamos também, uma grande escadaria encimada com uma igreja. Não conseguimos subir mas teria sido ótimo se pudéssemos fazer este passeio.
Após tomar um cafezinho na praça, mesmo tendo passado pouco tempo nesta belíssima cidade de Braga, deu para sair com vontade de um dia voltar. Passei numa loja e comprei na liquidação uma roupa colorida, muito bonita, saia comprida e regata, por 8.700 escudos. Este traje comprado em Braga, eu o usei muito nesta viagem, pois como estávamos no verão, era muito adequado para esta estação quente. Às 19:30 horas, rumamos para a cidade do Porto. Gostei demais de conhecer, ainda que rapidamente, esta belíssima e florida cidade de Braga!
21 de agosto – sábado
Às 9 horas, do dia 21 de agosto, Inez e eu fomos ao centro da cidade do Porto, com o autocarro 35. Visitamos o centro da cidade, andamos pela rua Santa Catarina e pelas praças observando prédios, monumentos transeuntes.
Entramos no Mercado do Bolhão, um grande mercado muito bonito e bem abastecido.
Lá encontramos uma senhora que estava explicando como se faz uma sopa verde. Valeu aprender! Andando encontramos uma igreja e depois, nos dirigimos à beira do rio Douro. Comemos isca de camarão e fomos dar um passeio de barco. As escarpas ao longo do rio Douro são cheias de vinhas. Uma paisagem deslumbrante! Foi bonito admirar a cidade a partir das margens do rio.
No barco, havia uma excursão da França e uma da Grécia. Interessante a sensação de estar perto de pessoas que falavam grego! O passeio pelo rio, num dia ensolarado, tendo de um lado a cidade do Porto e do outro Vila Nova de Gaia, foi maravilhoso!
Visitamos as caves e experimentamos o vinho do Porto em Vila Nova de Gaia, onde visitamos três Caves: Calem, Noval e Sandman com degustação de vinhos. Foi muito rico para mim, entrar em contato com tanto conhecimento acumulado, na arte de fazer um bom vinho português e depois poder saboreá-lo, como fizemos aqui, nestas lindas caves.
Voltando para nosso Residencial, resolvemos pegar o ônibus 34 para dar uma volta no bairro Bela Vista, onde vimos casas senhoriais e verdadeiras obras de arte ornamentando a parte superior das portas. Quando tentamos voltar, às 20:30 horas, não havia mais ônibus. Ficamos conversando com uma senhora de nome Izabel e depois pegamos o ônibus 90. No trajeto da volta, Izabel nos falou do abandono em que se sente, de não ter ninguém. Perdeu a mãe! Ajudou a sobrinhos que agora estes não a ajudam. Com cuidado, atenção e respeito a escutei bastante. Conversamos e no fim lhe dei a mensagem, de que não esperasse nada de ninguém e que fosse a seu interior. E aí nos despedimos. Ao voltarmos do passeio, atravessamos a pé, a ponte D. Luís, idealizada e construída pela companhia de Eiffel, o mesmo que construiu a torre Eiffel, em Paris. A construção inicia-se em 1881 e a inauguração acontece a 31 de outubro de 1886. Chegamos ao Residencial e no dia seguinte íamos pegar o trem às 7:41 horas, para Santiago de Compostela.
22 de agosto – domingo
Chegamos às 12:30 horas em Santiago de Compostela. Na entrada da Rodoviária, no alto das escadarias, um senhor ofereceu nos levar para uma hospedagem. Fomos com ele e terminamos nos hospedando numa residência, na Calle Rosa, 30, apto B. Saímos, em seguida para almoçar: tomamos uma sopa, comemos batata frita, salada, filé de carne, um jarro de vinho e um iogurte, no fim. Visitamos depois a cidade monumental e a catedral. Muito impressionante!
Um Pouco de História
“A fundação da cidade está ligada à descoberta dos restos mortais do apóstolo Santiago Zebedeu, ocorrida em 812 ou 813 ou ainda, segundo outras versões ou estimativas, entre 820 e 835 ou entre 818 e 842, que deu uma importância religiosa crescente ao local. A cidade desenvolveu-se graças à popularidade crescente como destino de peregrinação e, a partir do século XVI, também à criação da universidade. Na atualidade a cidade deve também parte da sua importância ao estatuto de capital da Galiza ou Galícia”.
Fomos conhecer no Museu Virtual, o caminho francês de Compostela. Alta tecnologia! Foi um programa virtual que valeu a pena assistir e conhecer.
1º – O interior da catedral,
2º – A geografia e
3º – O Histórico do caminho.
Tudo era grandioso e imponente para mim! Em seguida, fomos ao “Hotel dos Reis Católicos”, ver a exposição de cerâmica. Lá havia um artista, maravilhoso e perfeito nos mínimos detalhes de suas obras. Estas retratavam o cotidiano daquele povo. Foi muito prazeroso admirar esta exposição de rara beleza. O hotel, por sua vez, era de uma simplicidade suntuosa que deixava o coração agradecido e feliz, por mais esta oportunidade de admirar a beleza ornamental. Vale a pena conhecer este maravilhoso hotel que dizem é o “mais antigo do mundo”.
À noite fizemos uma foto diante da catedral de Santiago e assistimos mais um espetáculo inesquecível. Estes teatros como também concertos são comuns na estação do verão. O teatro de rua que começou às 22:30 horas foi até uma hora da madrugada, começando numa praça e percorrendo diversas outras. Assistindo havia uma plateia numerosa de turistas vindos de todo o mundo. Aqui percebi, mais uma vez que a estação do verão, na Europa, significa turismo e cultura. O nome do teatro era: “Os carros de São Tiago”. Noite de arte, ao ar livre, inesquecível!
23 de agosto – segunda-feira
Neste dia andamos pelas ruelas desta cidade da Galícia.“A Galiza, uma comunidade autônoma no noroeste da Espanha, é uma região verdejante com uma costa atlântica”.
Aproveitamos para conhecer o “Museu do Povo Galego”, um museu interessantíssimo e muito rico em informações.
“Museu do Povo Galego foi criado em 1976, e abriu suas primeiras salas ao ano seguinte. […] O Museu conta com as seguintes salas permanentes: O Mar, O Campo, Os ofícios, Música, Traje, Habitat e Arquitetura e Sociedade, memória e tradição”.
Ao meio dia assistimos a um acontecimento especial, a Missa do Peregrino na Catedral de Santiago, rezada por muitos bispos e cheia dos peregrinos que haviam feito o “Caminho de Santiago”. Tivemos o prazer de ver a impressionante cerimônia do turíbulo, numa catedral repleta de gente e de muitos elementos religiosos que o tempo acumulou!
“A missa do peregrino oficia-se todos os dias no altar maior da catedral de Santiago às 12 horas. Como símbolo de boas vindas, no início da celebração procede-se à leitura da lista de romeiros chegados a Santiago e que passaram a reclamar a sua Compostela durante as anteriores 24 horas. Além do nome é indicada a sua nacionalidade e o lugar a partir do qual cada um iniciou a sua peregrinação. Tradicionalmente, os caminhantes dedicam o tempo de oração da missa do peregrino a dar as graças a Deus pelas experiências vividas ao longo da sua aventura e por haverem alcançado a meta. Nos anos santos (quando o 25 de julho cai a um domingo) entra em funcionamento um dos maiores símbolos da catedral de Santiago, o popular botafumeiro. O botafumeiro é um enorme incensário (53 quilos e 1,5 metro de altura) de latão banhado em prata que requer a atenção de oito especialistas ou tiraboleiros para columpiarlo pelo interior da catedral. Suspenso a 20 metros de altura através de um sistema de polias, alcança uma velocidade de 68 km/h”.
Em frente à Catedral fizemos fotos.
Após almoçar e descansar fomos fazer um tour pela cidade, de bonde.
Desta vez vimos a Universidade que já tem 500 anos de existência e conta com seus 38.000 alunos.
“A Universidade de Santiago de Compostela é uma universidade pública sediada na cidade de Santiago de Compostela, Galiza, Espanha. Está dividida em quatro campus — três na cidade Compostelana (Campus Norte, Campus Sul e Campus Histórico) e um localizado em Lugo. Foi fundada em 1495, sendo a principal e mais antiga universidade da Galiza, a sétima mais antiga da Península Ibérica é uma das universidades mais antigas do mundo. Dela fazem parte 19 faculdades”.
À noite, no apartamento em que nos hospedamos falei, à noite, com Emma, uma psicoterapeuta da linha Gestalt, que tinha feito o caminho de Santiago, junto com o filho Alex de 12 anos. Fez 500 km a pé e falou do sentimento de busca e interiorização que anima os peregrinos. Fiquei impressionada! Trocamos endereços.
Amanhã cedo vamos deixar esta cidade.
24 de agosto – terça-feira
Às 6:28 horas, Inez e eu, estamos no trem e nosso destino é Madrid. Às 8:43 horas passamos por Orense. Percorremos zonas montanhosas ladeando o rio Minho. Depois túneis! Grandes plantações de Lúpulo que é a substância que dá o fermento para a cerveja. Também plantação de milho e plantação de ameixas. Em Astorga perto de Leon, a região volta a ser plana, porém árida e seca. Às 13 horas chegamos a Leon e quinze minutos mais tarde partimos para Madrid.
A viagem foi muito longa!
Chegamos a Madrid depois de 12 horas de uma viagem, muito cansativa. O trem infelizmente não era nem de 1a classe e nem rápido. Na estação um senhor nos mostrou o caminho para a ronda da Atocha número 3, onde nos hospedamos no Hostal Atocha. O residencial fica bem perto da estação do trem e da janela do meu quarto eu podia ver linda paisagem e entre tantas construções, o Ministério da Indústria e Comércio.
De lá também estava perto do Museu do Prado, Museu Botânico, Museu Reina Sofia, Passeio da Castelhana e da Ricoleta, etc. Gostei de ter me hospedado lá. Telefonei, à noite, para minha irmã Erica e falei com o sobrinho Estefan. Na família tudo estava bem.
25 de agosto – quarta-feira
Este foi o dia destinado aos Museus, que aqui, além de muitos, são muito importantes. Em Madrid tivemos um dia muito bem aproveitado nas 12 horas de visitas que fizemos. Visitamos o “Museu do Prado”, não sem antes tomar um “café Roma” no restaurante ao lado da pensão. A visita ao Museu do Prado foi simplesmente um prazer. Quadros de Rafael, de Fra Angélico, de Sandro Boticelli e Murillo, o pintor dos rostos doces e de muitos outros célebres artistas. Algumas curiosidades me chamaram atenção, além do êxtase de presenciar obras tão maravilhosas. Murillo, por exemplo, pinta a “Imaculada” e o modelo é a filha do pintor. Apreciei os quadros de Francisco Goya (1746-1828) que além de ser o pintor da família de Carlos IV, foi o pintor de três famílias de reis. Goya fazia retratos psicológicos e pintando, ele retratava o social. Por exemplo, o pintor faz a crítica da sociedade de seu tempo, num quadro de núpcias. A noiva é linda e o noivo é simplesmente horroroso, mas é rico. Num canto do quadro, o padre (de preto) passa o dinheiro ao pai da noiva. Esta estava usando o sapato pela primeira vez, pois vê-se que o mesmo estava apertado. Outro pintor fantástico foi Diego Velásquez que nasceu em 1599 em Sevilha e morreu em Madrid em 1660. “As meninas da Corte” retratam a família de Felipe IV. Velásquez pinta pela primeira vez a 3ª dimensão: a profundidade se consegue com a luz. Importância dos olhos que sempre olham as pessoas de frente. Velásquez vai também à Itália e pinta então quadros mitológicos: “La Regina de Vulcan”, “A esposa de Vulcan tendo um caso com Marte”. Velásquez pinta com 57 anos. Alguns dados sobre Felipe IV, um quadro pintado por Velásquez: com a 1a esposa teve um filho, Baltazar e quando morreu a esposa, casou com a noiva de seu filho. A princesa de 14 anos era sua sobrinha e Felipe IV estava, então, 45 anos.
Continuando a análise do quadro das meninas de Velásquez, observa-se que quando entra a princesa Margarita, todos se movem. Velásquez trata a todos de forma inteligente e carinhosa, dissimulando o defeito físico, pois como as famílias reais casavam entre si, há nestas famílias muito excepcionais e Velásquez os pintava a todos como se fossem bonitos, mas, na verdade, eram, muitas vezes, muito feios. Outro quadro interessante de Velásquez é o do grupo de ciganos enganando nos negócios.
Vi o busto da Imperatriz Sabina (83-136 D.C.), esposa do sevilhano Adriano, muito jovem. O artista quis dar à imagem um caráter atemporal, alheio ao passar do tempo. Os bustos de Adriano (117 a 138 D.C.) foram inúmeros.
Na sala 74 há uma mesa de pedra com motivos de flores e borboletas. Pintores que lá estão: Tiziano, séc. XV – XVI (Sísifo) e o escritor Cervantes que viveu no tempo de El Greco: sempre com dois dedos levantados, sinal de promessa de fidelidade.
Após 4 horas de visita ao inesquecível “Museu do Prado”, tiramos algumas fotos em frente ao Museu e resolvemos fazer um tour pela cidade, passando pelos principais pontos turísticos de Madrid, o qual valeu muito a pena.
Neste tour, reconhecemos algumas paisagens e outras foram novas. Após muito observar chego à conclusão que Madrid é realmente a cidade dos chafarizes e das fontes!
Às 15 horas entramos no Jardim Botânico, cuja visita foi duplo prazer, pois lá havia, além de uma infinidade de plantas e árvores de todo o mundo, também, uma “Exposição Internacional sobre a Água”, que deixava transparecer a grande preocupação de muitos pensadores e da própria organização da exposição, com o problema da água no planeta. As palavras dos escritores que lá estavam escritas, faziam uma reflexão sobre a importância deste líquido tão útil e que nos dá tantas lições. Algumas frases me chamam a atenção pela profundidade de suas mensagens:
“A água fala sem cessar e nunca se repete”. (Otávio Paz).
“A água canta e nascem paraísos” (Otávio Paz).
“Todas as civilizações e todas as culturas nasceram às margens dos rios”.
“Nada há no mundo de mais brando e suave que a água, porém nada pode superá-la no combate sobre o duro e resistente, e nisto nada pode substituí-la. A água vence o mais duro, o débil vence o forte”. Lao Tze.
Fomos então à estação San Martin comprar passagem, pois Inez viajará para Lisboa. Em seguida voltamos à Atocha para o “Museu Reina Sofia” de Arte Moderna. É uma construção onde o Velho e o Novo, convivem harmoniosamente. Na entrada, vejo uma loja de “souvenires” de beleza e bom gosto ímpar.
Após a visita, jantamos num lindo restaurante com pratos típicos, vinho, pão e sorvete. Pagamos 1600 pesetas, cada uma. Ficamos meio alegres, também por causa do vinho e em seguida, fomos dormir. Resolvemos ir no dia seguinte conhecer a cidade de Toledo.
26 de agosto – quinta-feira
Embarcamos, às 8:30 horas, muito cedo, no trem que nos leva a histórica Toledo. Na saída de Madrid vimos algumas indústrias, depois uma região muito árida e sem vegetação. Existem plantações de oliveiras, pereiras e milho. Perto do rio Tejo, pastagens e invernadas, plantações de batata-inglesa, entre outras plantações desconhecidas por mim, alfafa para selagem, por exemplo.
Às 9:50 horas chegamos na estação de Toledo e a cidade, quase sem cor, apareceu imponente e misteriosa. Toledo foi proclamado patrimônio Mundial em 1980.
Um senhor chamado Juan nos levou de carro junto com um casal japonês, da estação rodoviária para o Centro da Cidade, que fica na colina tendo lá em cima, o Alcazar.
Chegando lá no alto na cidade, fomos então conhecer o artesanato em ouro. Observei os artesãos trabalhando com fios de ouro, como nos ateliers da Idade Média. Belo espetáculo!
Comprei um broche e um brinco e paguei, para minha surpresa, o dobro do que custaria em Madrid.
Depois fomos ver a belíssima Catedral Gótica, sendo uma das três catedrais góticas espanholas do século XIII, considerada a obra magna desse estilo no país, se bem que lá existem também outros estilos, inclusive o barroco. Foi construída de 1226 a 1493 tendo como modelo a catedral de Burges. A Catedral têm também mais de 750 vitrais. Uma de suas partes mais magníficas é o altar Barroco chamado El Transparente, construído por Narciso Tomé.
“São igualmente imperdíveis os trabalhos no coro, no silencioso claustro e na impressionante sacristia, repositório de obras de Caravaggio, Ticiano, Goya, Rubens e, é claro, El Greco”.
O rei de Portugal D. Sancho II está sepultado na Catedral de Toledo.
Em seguida nos dirigimos ao Alcazar, um palácio que foi praticamente destruído em 1936 e agora foi recuperado.
Após ver o palácio, visitamos também o Museu Militar. Numa sociedade da Idade Média, na Espanha, envolvida permanentemente em Guerras, o que mais havia lá, eram muitas espadas, uniformes e insígnias de Guerra. Toledo é uma cidade culturalmente interessante, pois lá conviveram, historicamente, três religiões e três culturas, ou seja, judeus, muçulmanos e cristãos, separados e pacíficos. Eles imprimiram à cidade uma aparência sui generis. Quando passávamos pelas lojas de lembranças nos deparávamos com inscrições do tempo da inquisição, muito claras. Elas nos davam explicações a respeito do que foi este período sombrio da Inquisição. Após este trajeto a pé, fizemos um tour, de bonde, pela cidade rodeada pelo rio Tejo.
Neste tour vimos paisagens maravilhosas e lá, ao longe a Medieval Toledo cercada por grandes muralhas. Só pedra e tijolo sem nenhuma cor, edifícios lindos retratavam a presença de três civilizações. Após terminado o tour almoçamos, tomamos água tônica e fomos para a rodoviária para tomar o trem que nos levaria de volta a Madrid. Quando estávamos aguardando a partida do trem, encontrei um casal chileno com seu filho. Era Eduardo (5 anos), uma criança maravilha e seus pais com os quais conversamos bastante, mas o trem veio e lá fomos nós para Madrid.
Chegamos bem e eu ainda fui dar um passeio pela cidade enquanto Inez se preparava para viajar.
À noite acompanhei Inez, para a ferroviária, pois ela se dirigiria para Lisboa para no dia seguinte ela voaria para a Alemanha. Após a partida de Inez eu fui ter informações sobre minha viagem a Londres.
27 de agosto – sexta-feira
Neste dia, em Madrid, fui ver o Museu Thiessen, localizado no passeio do Prado, perto do Museu do Prado e o Museu da Reina Sofia. Este Museu é um dos grandes de Madrid e valeu muito a pena está visita.
A história
“Foi organizado quando da aquisição, pelo governo da Espanha, em outubro de 1992, da maior parte (a mais abundante e valiosa) da coleção de arte da família Thyssen-Bornemisza. O museu tem a sede em Madrid, no Palácio de Villahermosa”.
Depois da visita a este importante Museu, fui almoçar e descansar. De tarde fui ver a passagem de avião para Londres. Aí, algo me chamou mais uma vez minha atenção: vi muita pobreza e miséria pelas ruas de Madrid. Talvez esta pobreza me chamou muito a atenção pois foi inesperada!
Depois visitei o prédio onde funcionam os correios!
“O Palácio de Cibeles se destaca pela sua cor, bem clara, quase branco e por ter um aspecto de catedral, fazendo dele uma das mais belas construções da cidade. Construído em 1904 tem características do estilo neogótico e atualmente abriga a sede dos correios de Madrid”.
À noite passei na Igreja dos salesianos e vi o colégio salesiano que ficava aqui perto na Atocha.
A igreja com belíssimos vitrais era muito bonita. Lá passei algum tempo.
Neste dia 27, mudei para o Residencial Belmonte, que ficava dois andares mais abaixo, onde a dona da casa me oferece o quarto da filha, que está em férias. Aí resolvi descansar um pouco mais, antes de ir a Londres, onde me encontraria com meus sobrinhos Dudu e Camila e sua amiga Melissa. Eu já havia recebido deles, em Lisboa, um cartão-postal onde me convidavam para visitá-los.
28 de agosto – sábado
Fiquei muito bem instalada e descansei bem esta noite! Então saí para comprar passagem e alguns presentinhos para levar a Londres. Troquei alguns dólares. Almocei e dormi até as 16 horas. Depois saí para telefonar na estação de Atocha e lá comprei 10 passagens de bus e metro (630 pesetas). Se comprasse cada uma em separado, cada uma custaria 135 pesetas. Peguei o metro para ir à Porta do Sol e lá, como sempre acontece, tive o prazer de me encontrar com um brasileiro, Valmir, que trabalha no Ministério da Indústria e Comércio com o ministro Lafer. Prontificou-se a me acompanhar e a me mostrar a Porta do Sol, o ponto zero da cidade, a Calle dos Preciados, Plaza de Callao, a Igreja de Carmem, Gran Via, a Praça de Espanha, em frente e ao lado do Palácio Real. Meu companheiro de passeio pelos lindos lugares de Madrid, falou do rei e rainha Sofia. Voltei para casa depois de tomarmos um refrigerante na praça da Espanha e de nos despedirmos.
29 de agosto – domingo
Neste domingo, uma linda manhã de sol e céu azul, às 9 horas, fui passear no Parque do Bom Retiro com o objetivo de assistir a um Concerto, ao ar livre. Na verdade, neste dia como a população está em férias, não havia o costumeiro Concerto às 11 horas.
O parque é maravilhoso: música, pássaros, fontes, ar puro, pessoas lendo nos bancos. Fiz então meditação, neste parque, cercada de silêncio, de plantas, de pássaros e de pessoas em estado meditativo. Agradeço poder estar aqui e viver tantas experiências maravilhosas!
Após um bom tempo respirando esta atmosfera, saio de lá e desço para ver a feira de livros, instalada em ambos os lados de toda a ladeira. Lá estão os assíduos frequentadores desta maravilha de cultura. Fico algum tempo me deliciando ao ver os livros, tomo algumas notas de alguns livros que quero comprar.
Desço e entro o “Museu Nacional de Antropologia”. Hoje, domingo, a entrada é grátis.
O Museu Nacional de Antropologia é considerado o mais antigo museu de antropologia da Espanha, inaugurado em 29 de abril de 1875, durante o reinado de Alfonso XII. Tomo nota de algumas frases escritas no mural:
“A humanidade em busca de sua identidade, do porquê de sua existência, buscou respostas a essas interrogações em ensinamentos, crenças, dogmas, dando origem às religiões que caracterizam diferentes culturas”.
Os museus são campos de estudo. Lá percorro diversas salas onde tenho a oportunidade de ver muitos objetos. A cultura árabe deixou objetos de cerâmica incríveis: rosários muçulmanos que são usados para contar ao recitar os nomes dos diferentes atributos de Deus, por exemplo. Ao visitar este Museu aprendi algumas coisas: que lá na Arábia, são os homens e não as mulheres que trabalham com cerâmica. Também aprendo que, na cultura do hinduísmo, as marcas horizontais no corpo, identificam os seguidores do deus Shiva e as marcas verticais os seguidores de Vichnu. Vejo na cultura chinesa os mais estranhos objetos de palha: tudo o que se pode imaginar. E são lindíssimos! Há também infindáveis ordens de objetos de madeira: vivendas, escudos, colheres etc. Tecidos de todas as matérias primas, até pano de abacaxi eu vi neste Museu.
No que se refere as múmias lá está, também, o esqueleto de um gigante que morreu com 26 anos, em 1875 e media 2,35 m.
Saindo deste importante “Museu de Antropologia”, entro na Igreja de Santo Andrés. São 14:30 horas e está sendo celebrada uma missa.
A Igreja é belíssima repleta de mármore e ouro. Aqui, assisto a missa, e percebo um fato que ainda não tinha visto e esse me surpreende: no fim da missa, o padre diz o “Ita Missa es” e todos ficam parados, enquanto o padre sai do altar e se dirige ao fundo da igreja. À sua passagem, todos se inclinam. Achei interessante esta forma de proceder. Saio da Igreja e tiro uma foto entre as pessoas que estão nas mesinhas tendo a Igreja ao fundo a igreja.
Saindo, dirijo me para a feira do Rastro. No trajeto, me deparo, com aquilo que é muito comum nas ruas de Madrid, mas não é tão comum o que vejo. Perto de uma banca de revistas me deparo com Marta, uma periodista (jornalista) maltrapilha, com as unhas sujas e que me pede algo para comer. Ela está recolhendo revistas que vende depois. Eu lhe dou 150 pesetas. Marta, a periodista, começa a fazer a análise sociológica do fato, que a mim me espanta. E aqui se estabelece, com esta jornalista um momento de comunicação, que eu achei muito importante. Me fala do fato de que muitas pessoas olham superficialmente e não se dão conta, do que acontece na grande cidade de Madrid, onde a cultura supera de muito o turismo. E me diz uma grande verdade: se você tem cultura é capaz de se ater e perceber os a processos sociais invisíveis para aqueles que, superficialmente, só fazem turismo. Fala-me então de sua vida e a de tantas outras pessoas que estão, à margem. Fala-me também, que Barcelona tem lindas praias e que vale a pena conhecê-las. Também me sugere ver o filme: “La puta calle”, que trata dos problemas de todas estas pessoas, que tem que perambular pelas ruas, pedindo para sobreviver. Fico contente por estar aí e poder perceber este dado que, realmente escapa aos olhos de alguém que é só turista. Eu sei que, nas minhas viagens, eu não sou só turista. Neste fervilhar de gente despeço-me de Marta…
Saio de lá e vou para a feira do Rastro, a feira mais famosa de Madrid.
Ando por tudo e vejo gente de todos os lugares do mundo. Falo com dois argentinos, Pablo e seu amigo, que comercializam colchas lindas, que importam da Índia. Pablo me pede que cuide da bolsa, pois diz que aqui é muito perigoso. Foi muito interessante passear e conhecer a maravilhosa feira do Rastro, mesmo ficando lá, muito pouco.
Andando chego à Praça Maior. É dia de jogo! Encontrei, no centro de Madrid, grupos de torcedores de um lugar muito pequeno perto de Burgos, chamado Numância. O jogo é contra o Real Madrid. Os torcedores estão entusiasmados. Jogar contra o maior time da Espanha, dá muitas ganas para ganhar, me dizem.
É domingo e são 16 horas, estou escrevendo para este diário, sentada na Praça Maior, tomando uma água mineral. A minha bolsa encima da mesa atesta, que fui eu que fiz a foto. Agora vou telefonar para o Brasil. Falo com meu irmão Toni. Minha irmã Erica não está. Falo com Jaime e Terezinha que me dizem que a festa da formatura do filho Júnior, estava maravilhosa e que a mensagem telefônica que lhe enviei, estava muito linda. Dizem-me também que Bete está bem e que dançou bastante na festa do Júnior. Fiquei feliz!
Pegando o Metro vou para o meu Residencial na Atocha. Tomo banho e durmo até as 19 horas. É verão! O sol ainda está muito alto. Aqui o sol só se põe depois das 21 horas.
Neste ano de 1999, um dado me chama , novamente, muita atenção: o grande número de pedintes, de mão estendida pelas ruas de Madrid. Dou esmola para alguns e passo na frente de outros sem olhar ou com um gesto de “não tenho para todos”. Esta é a trise realidade!
Passo no edifício do Correio que me impressiona pela grandiosidade de seu estilo e dimensões. Coloco na caixa postal cartões para Maria Helena e Angel.
“Este edifício que é a estação central de correios de Madrid, é conhecido também por Nuestra Señora de las Comunicaciones, devido ao seu aspecto ser semelhante a uma catedral. Foi edificado em 1904, pelo arquiteto galego, Antonio Palacios”.
Na volta, ainda nos passeios com restaurantes cheios de gente elegante e bem-falante, me deparo com Oscar, um microempresário falido, vendendo jornais. Compro um e lhe dou 200 pesetas.
Conta-me sua história de bancarrota total e para não ter que se humilhar e pedir, vende jornais dos trabalhadores. Está ganhando para pagar a pensão e não para comer. Fala-me da realidade social na Espanha. Realmente ele, como tantos outros, estão numa situação muito difícil. Dou-lhe mais pesetas e ainda emocionada com esta realidade, saio em direção à minha pensão.
No caminho encontro um casal: a mulher chamada Concha está à beira de um chafariz. E muito bonita e está elegantemente vestida. Se diverte vendo à água correr. Sentei-me e começamos a conversar. Ela tem 68 anos e Pablo, seu marido, sofre do mal de Parksons. Fizemos uma longa e agradável conversa. São 21 horas e ainda é dia claro. Nos despedimos. Concha vinha muitas vezes a este lugar para descansar. Vou para casa tomo banho, como uma sopa, escrevo um pouco e pego no sono a uma hora da manhã. Foram muitas emoções neste dia, tão rico de experiências na linda Madrid.
30 de agosto – segunda-feira
Levanto às 7 horas, tomo banho e acabo de escrever este diário. Coloco a saia do conjunto da roupa que comprei em Braga. Estou de saia colorida e blusa branca. Ficou ótimo! Me sinto bem! Hoje vou participar de uma excursão à Ávila e à Segóvia, com saída de Madrid, em frente ao Nacional Hotel. O preço: 7800 pesetas.
Nosso guia é ótimo, muito agradável. Fala 4 idiomas: italiano, francês, inglês e espanhol, faz excursões por toda a Espanha, é calmo e é muito claro no que fala. Inicialmente nos diz que vamos conhecer Ávila, que fica à 110 km de Madrid e à 650 metros de altura do nível do mar. Para lá chegar passaremos por um túnel de 3 km. Passamos o túnel e chegamos à Ávila. Dentro de suas muralhas vive ¼ da população.
Um Pouco da História
“Ávila foi fundada pelos romanos em 200 A.C. É uma cidade com 4.000 habitantes e lá nasceu Santa Tereza, no palácio dos Ávila. Os visigodos reinaram aqui até a invasão dos árabes em 711 D.C. Os árabes, por sua vez, encontraram aqui imensa riqueza e não encontraram nenhuma resistência para se estabelecer. Eles deixaram os cristãos praticar a sua religião, mas as crianças aprenderam a falar árabe. E incorporaram os costumes. Em 1085 o cristão Afonso VI conquistou Ávila, aos Árabes. Foi construída pelos cristãos em 9 anos (1090 – 1099). Mandou vir famílias e arquitetos do norte da Espanha e se construíram muitas igrejas, catedrais e conventos. Aí a cidade cresceu muito”!
Na Catedral vimos a capela onde nasceu Santa Tereza de Ávila, que aos 21 anos foi para o convento e depois fundou as carmelitas descalças. Como São João da Cruz ela era mística escritora. Entrando no castelo de Ávila, comprei postais com dizeres da mística Santa Teresa – Um dizia: “Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança”.
Vi a catedral muito linda! Tem uma parte em estilo Românico. As abóbadas e parte dos vitrais são góticos. O guia fala que alguns destes lindos vitrais, se quebraram totalmente, durante o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. No altar e no coro há o estilo renascentista e o plateresco, em ouro. O coro é todo trabalhado em madeira, feito por um artista holandês.
Saímos da Catedral e fomos a um Museu onde havia uma grande custódia todo de prata e ouro. O que me chamou a atenção foram as grandes dimensões do ostensório. Era costume, nesta época, levar este grande ostensório pelas ruas durante as festas de Corpus Christi. O mesmo ostensório de grandes proporções também em ouro, vimos na cidade de Toledo, cercada por muralhas medievais.
Ao fundo vemos a igreja e o convento, onde viveu Santa Tereza.
Saímos de Ávila às 12:45 horas e fomos para Segóvia que fica muito mais no alto, após a Serra de Guadarama.
A cidade de Segóvia é maior do que a de Ávila. Tem 60.000 habitantes e é de origem romana. Construíram-se as muralhas e os aquedutos de pedras que traziam a água diretamente das montanhas distantes (16 km) para a cidade. Deste percurso, 15 km são subterrâneos e o último km é externo. O aqueduto tem arcos com a forma de uma ponte. Andei observando
O que nos chama a atenção são os grandes aquedutos, estruturas construídas pelos romanos em épocas remotas, para trazer água das montanhas para a cidade. O aqueduto de Segóvia é o mais bem preservado do mundo.
Fiz uma foto com Cristina da República Dominicana, em frente à fachada do Castelo Alcazar de Segóvia.
Diante de tanta história, só me restou sentar e contemplar. Aos fundos a catedral de Santa Maria de Segóvia, um dos principais pontos turísticos da cidade, que é um templo em estilo gótico e uma das catedrais mais bonitas do mundo
Um Pouco de História
Diferentes civilizações viveram em Segóvia. No século VIII chegaram os árabes que construíram uma muralha, encima da muralha romana. O Alcazar era um palácio árabe, cercado de jardins que, por sua vez, eram cercados de muralhas. Afonso VI conquistou Segóvia aos árabes e os cristãos construíram outros Alcazar, dando, porém, ao palácio o mesmo nome que tinha sido dado pelos árabes.
No século XVI, os comuneros (comunidades castelhanas) se revoltaram contra Carlos III (1520-1521), houve uma rebelião e a catedral da cidade foi destruída. O Imperador sufocou a rebelião e construiu uma nova catedral, entre os séculos XVI a XVIII. O rei Bourbon, com sua família e a nobreza se transferiram então para Segóvia e iniciou-se uma época de grande esplendor. O Alcazar foi a residência dos reis de Castilla. Deixamos Segóvia, após visitar o Alcazar. O que posso dizer é que gostei muito de conhecer Segóvia!
Após ótima viagem voltamos a Madrid e, na charmosa Gran-Via, conversei ainda com o grupo da República Dominicana. Depois para marcar este momento, fizemos uma foto.
“A Gran Vía é a Avenida mais conhecida de Madrid. Sua construção foi um projeto que durou várias décadas até ser finalizada. Os primeiros rascunhos datam de 1862, época em que se reformou parte do centro histórico madrileno, mas o design final chegou apenas em 1899, quando os arquitetos José López Salaberry e Francisco Octavio Palacios apresentaram o projeto. As obras começaram em 1910 e terminaram em 1929. A Gran Vía foi uma das obras mais importantes da Espanha. Foi necessário demolir mais de 300 casas e afetou quase 50 ruas. Graças à Gran Vía foi possível conectar o centro de Madrid (calle Alcalá) e o noroeste da cidade (Plaza de España)”.
São 11 horas da noite e acabei de falar com Camila, minha sobrinha em Londres, sabendo notícias e avisando o dia de minha chegada, que será no dia 2 de setembro.
31 de agosto – terça-feira
O dia de hoje foi “suigeneris”. De manhã dormi até as 8:30 horas, tomei banho e saí para obter informações na Central de Informações da Renfe, na rua Alcalá no 40, onde me avisaram que eu podia ir, sem problemas até Paris e de lá pegar o trem para Londres. Como não tinha esta informação não pude aproveitar. Mas… aprendi!
“A Renfe é a operadora de trens espanhola e administra uma das malhas ferroviárias de passageiros mais eficientes da Europa e do mundo. São vários tipos de trens com velocidades diferentes e objetivos diferentes. Fui no correio pois tinha escrito para tio Maximino e tia Lécia! Também mandei cartão para Zenita e escrevi para minha amiga Impéria, na Itália. Fui depois no supermercado comprei alguma coisa para comer e em seguida, vim para casa e pintei os cabelos com Henna. Dormi enquanto a Henna fez efeito e depois fui para a Gran-Via onde vivi momentos maravilhosos, quando entrei na ‘Casa del Libro’”.
Trata-se de um lugar amplo (quatro andares) e impressionante, não só pela arquitetura, mas pela organização e a quantidade de títulos expostos. Quando cheguei lá, uma sincronicidade: numa estante estava uma enciclopédia aberta nas letras F e lá estava Florianópolis. Nesta maravilhosa livraria, fiquei mais de uma hora vendo e lendo os livros! Lá fiz um propósito: começar a ler em espanhol.
Vejo quais são os livros mais vendidos:
“Solas” de Carmem Alborch e este livro eu já havia comprado no dia 2 de agosto. “El animal público” de Manuel Delgado. Outro livro mais vendido “Felipe II e seu tempo” de Manuel Ernandes Alvares, Editora Espasa. “Guia prático do voluntariado em Espanha” de Augustin Veloso Santieleban. Outro livro interessante: “Catálogo de pequenos prazeres”. Havia uma estante inteira dedicada a Jorge Luís Borges, no seu centenário. Outros livros que quero comprar e ler: de Fernando Pessoa: “o livro do Desassossego”. De José Saramago “Ensaio sobre a Cegueira”, onde nos adverte da necessidade de ter olhos quando outros os perdem. As propostas do livro de Saramago são: recuperar a Lucidez e resgatar o Afeto. O livro é também uma reflexão ética sobre a solidariedade.“Em nós há uma coisa que não tem nome e esta coisa é o que nós somos”.
“Talvez o desejo, mas profundo do ser humano seja poder dar a si mesmo, um dia, o nome que lhe falta”. Aqui percebo o ponto onde se cruzam a literatura e a sabedoria.
Como estava na Gran-Via fui procurar o restaurante “El Pajar” na Estação Bilbao, na calle Estrella 3, pertencente a Pablo, amigo de Angel, mas estava fechado. Passei por diversas lojas lindíssimas onde entrei e admirei os produtos expostos. Também vi uma exposição de cerâmicas muito interessantes e famosas. São as célebres cerâmicas “Lladró”, verdadeiras e encantadoras obras de arte.
1 de setembro – quarta-feira
Levanto às 8 horas! Olho o que posso ver e conhecer neste dia. Preciso ir ao aeroporto. Rosy, a dona do Hostal Belmonte, me diz que na praça Colon (Colombo em Português) posso pegar um ônibus para o aeroporto. Saio de casa e no trajeto observo o ambiente: vejo um funcionário da prefeitura, lavando os postes de luz. Achei isto uma maravilha! É o que se pode qualificar de “ter cuidado com a cidade”. Vou à praça Cibelis e vejo como posso sacar libras esterlinas do banco. Três mil escudos são iguais a uma libra. Ando pela Castelhana e encontro uma espanhola Gabi. Aí me sento para falar com Gabi (Gabriela) que mora em “Talavera”, um Pueblo perto de Toledo. Talavera é célebre pelas cerâmicas e também pelo comércio. Após uma conversa que me permitiu sentir e saber um pouco sobre a vida das pessoas, nestes pequenos povoados espanhóis, me despeço de Gabi. Sigo para a praça Colon onde há o centro de Cultura da Vila. No entanto, agora em setembro, está desativado. Conheço o ônibus que me levará amanhã ao aeroporto para a viagem a Londres. Custa 385 pesetas e sai de 10 em 10 minutos. A boa informação é algo fundamental, quando precisamos aproveitar bem o tempo que temos à nossa disposição. No caminho de volta, converso com Firmino, um guarda, muito gentil, que está perto do Centro de Cultura. Este me fala da capital Madrid e da Espanha. Firmino analisa os 40 anos de ditadura e mostra os prédios que surgiram nestes anos e que não tem nada a ver com os outros, que formam esta paisagem linda, que é Madrid. Ele lamenta este fato! Falou-me que as águas de Madrid que vêm da Serra e é por isso que a água é tão pura e tão boa aqui. Na verdade, é muita boa mesmo! É a melhor água da Europa. Um senhor de idade, de bem com a vida, funcionário público, regava as flores com um jato abundante e estas agradeciam com um sorriso fresco e juvenil. Continua me dizendo que para molhar as plantas Madrid, há muita água subterrânea. Disse-me que como guarda, recebia 1800 pesetas e que considerava um bom ordenado. Fui depois caminhando, passei por lojas muito finas e apesar das “rebajas” (liquidação), para nós eram muito caras. Comprei uma regata de xadrez da qual gostei muito. Passei por um grande colégio e igreja (parece que na rua Velásquez ou perto dela). Fui no Museu da Cidade, mas vi pouco, pois este fechou às 14 horas. Aí peguei três metrôs para chegar em casa. O sete até Sanis; o seis até Pacífico e o um até Atocha. Estou aprendendo a duras penas, a andar de metrô.
Chego em casa, como tenho tempo, sinto vontade de conhecer, um pouco mais, a história recente da Espanha. Consulto a dona da pensão se ela teria um livro para que possa ler sobre a Espanha. Recebo um ótimo exemplar da “História Ilustrada da Espanha no século XX”. Na leitura, fico sabendo muitas coisas interessantes.
Picasso (Malaguenho) expõe pela primeira vez em Madrid em 1900 e Gilda era uma artista muito célebre daquele tempo. – Em 1908 houve muitas greves operárias na Espanha. Em 1909, em Barcelona é fuzilado o pedagogo Francisco Ferrer. Em 1913 houve um atentado contra o rei Afonso XIII, na rua Alcalá. – Em 1914 há a canalização do Rio Manzanares. Começa a Grande Guerra, mas a Espanha não entrou nesta Primeira Guerra Mundial. – Em 1927 a Bayer faz a propaganda dos tabletes de Aspirina. – Em 1931 é proclamada a República, e D. Afonso XIII abandona a Espanha e vai para Roma. Após a renúncia de Afonso de Bourbon, filho primogênito de Afonso XIII a seus direitos dinásticos e de seu irmão Jaime, que era surdo e mudo, Juan de Bourbon se converte no príncipe das Astúrias e é herdeiro do legado da Casa Real da Espanha, em 1933. Em 12 de agosto de 1934 morre de desastre o filho menor de Afonso XIII. – De 1936 a 1939 houve a Guerra civil Espanhola e entre tantos outros, foi destruído o Alcazar de Toledo. Franco assumiu o poder e governou 40 anos, como ditador. Morre em 1977, tendo antes reinstalado a monarquia com o neto de Afonso XIII no poder, Juan Carlos de Bourbon. Sua esposa, a rainha Sofia, é da Grécia. Gostei muito de estar, ao menos um pouco, por dentro da história recente da Espanha.
2 de setembro – quinta-feira
Já eram 10 horas do dia 2 de setembro. Fiz uma sopa, me despedi de Rosy Maria, a dona do hostal, de seu filho e de seu marido e peguei o ônibus 27 até a praça Colon e peguei o ônibus 385, direto para o aeroporto. Chego lá e …!!! Não encontro a minha passagem. Uma hora e meia de angústia e luta e, graças a Deus, tenho novamente a passagem na mão. (2a via). Às 15 horas menos 5 entramos e avisaram que o avião se atrasaria 20 minutos. Estou viajando para Londres onde estão os meus sobrinhos, Dudu, Camila e sua amiga Melissa. Após ótima viagem, cheguei em Londres às 17:30 horas (uma hora a menos do que a Espanha). Troquei logo 150 dólares e comprei um cartão de telefone por 5 libras e fui à “Victória Station”. Lá esperei Melissa e Camila. Me alegrei muito ao vê-las e com elas fui pegar o metrô para Hammersmith e depois para Goldwalkroad. Cheguei no apartamento de meus sobrinhos, tomei banho, descansei e aí veio Dudu do trabalho e conversamos bastante até as 23 horas, quando eles começaram a se ligar na Internet. Foi ótima a chegada!
3 de setembro – sexta-feira
Nesta manhã levantei às 7 horas, fiz meditação. O Dudu levantou às 8:30 horas e foi trabalhar. Telefonei para Zélia Girardi e conforme já tínhamos combinado anteriormente, no dia 4, às 7 horas partiríamos para a Escócia. Serão 4:30 horas de trem rápido. A Zélia me convidou para dormir, hoje à noite em sua casa. Para amanhã (4/9) levantar bem cedo e pegar o trem para a Escócia.
Sueli, amiga de meus sobrinhos, telefonou-me cedo falando que Juliana estava me convidando para ir à Boston. Agradeci, com pena de não poder aproveitar esta companhia, naquele dia. No entanto, preferi resolver problemas de troca de dinheiro e marcar a passagem de trem para a Escócia. Eu tinha comprado o passe de trem, já em Florianópolis. E foi ótimo! Fui marcar o bilhete para a Escócia, o que se deu com muita facilidade e fui trocar travel cheque, no Banco do Brasil. Ao trocar 150 dólares e ganhei 90 libras. Ontem, na estação ferroviária ganhei, pelos mesmos 150 dólares, 85 libras. Neste dia, saí com minha sobrinha Camila e sua amiga Melissa, para passear pela cidade de Londres. Fizemos fotos.
Estando em frente a esta Catedral Anglicana de San Paul, comprei a entrada para visitar esta Igreja, que é simplesmente, maravilhosa! Paguei para nós três (Camila, Melissa e eu) 10,50 libras. A visita a esta Catedral foi realmente um momento inesquecível. Passamos depois por outros lugares interessantes e entre eles por um parque. Londres é célebre pela quantidade de áreas verdes, pois possui 1.700 parques em 174 Km2 com 2.000 espécies de plantas. Os parques aqui em Londres são parte da identidade da cidade. Após este passeio pela cidade, nesta noite, a convite, fui dormir no “Bed and Breakfast” de Zélia e Mário, para amanhã sairmos cedo para a Escócia.
4 de setembro – sábado
Neste dia, Zélia, seu marido Mario e eu saímos de casa às 5:30 horas e pegamos um ônibus e dois metrôs para chegar até a estação de onde partiria nosso trem. De Londres até Edimburgo serão 4,5 horas de trem rápido. Nós pegamos vagões diferentes por eu ter comprado no Brasil, com antecedência, no trem de 1ª classe. O Reino da Escócia foi um Estado independente desde 843 até 1707. Há mais de 300 anos, a Escócia faz parte, junto com a Inglaterra, a Irlanda do Norte e o País de Gales, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
Abaixo está o mapa da Escócia, a terra dos Celtas.
“A Escócia, um país no extremo norte do Reino Unido, é uma terra de áreas selvagens montanhosas, como os Cairngorms e as Terras Altas do Noroeste, intercaladas por vales glaciais e lagos. As principais cidades são Edimburgo, a capital, com seu famoso castelo em uma colina e Glasgow, famosa pelo vibrante cenário cultural. A Escócia também é famosa pelo golfe. O esporte foi praticado pela primeira vez no Old Course, em St Andrews, no século XV”.
“Os defensores de uma Escócia livre garantem que o país teria plenas condições de prosperar sozinho, principalmente por causa das grandes reservas de petróleo que existem no Mar do Norte”.
São 8:40 horas, estou no trem falando com Marc, um fotógrafo que está catalogando as suas fotos. Nas revistas que comprou, está identificando e recolhendo as fotos, que fez pelo mundo. As revistas ele colocava, depois, no lixo. Já viajou por 60 países e nunca veio para o Brasil. Conversamos um pouco. Eu aproveito, depois, este tempo para escrever este diário. Certamente daqui a pouco vão aparecer Zélia e Mário, que estão viajando, em outro vagão, deste maravilhoso trem! Neste, a toda hora estão chegando as comissárias oferecendo chá, café e biscoitos! Zélia e o marido Mario não tardam a chegar, trazendo sanduíches e suco de laranja. Falamos mais de uma hora até a cidade de York, ao norte da Inglaterra. Eles me falaram da Escócia que se divide em Lowland e Hightland, com diferentes regiões. É uma paisagem muito linda e sui generis o que estou vendo, paisagens que rapidamente são mudadas, enquanto o trem passa célere por esta ferrovia. Aproveitei então, para perguntar a eles, sua opinião sobre o que eu poderia ver, a mais, em Londres e recebo a orientação: a Torre de Londres; as Joias da Rainha; fazer uma viagem de Barco de Londres até Greenwich; ver o Blemhein Palace onde nasceu Churchill, perto de Oxford. Diz-me Zélia que Churchill pintava muito bem. A linda viagem neste lindo trem, continua! Passamos pela cidade de Darlington. São 9:30 horas e já viajamos 2,5 horas.
E aqui um belo texto que exalta as peculiaridades da Escócia:
“Embora também faça parte do Reino Unido, a Escócia é bem diferente da Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda do Norte, as outras nações que compõem o Estado. Marcado por crenças celtas, pelo som da gaita de foles, o xadrez das saias kilt e até a lenda do monstro do Lago Ness, o país preserva uma das paisagens mais belas e românticas da Europa, com cidades medievais, castelos, ilhas, rios e as montanhas verdes das Highlands. A Escócia possui atrações para todos os gostos, incluindo as culturais ou aquelas voltadas para a natureza. Ao mesmo tempo em que possui centenas de castelos e cidades medievais, transportando o turista para o passado, a Escócia também conta com diversos atrativos para os aventureiros. Com mais de 700 ilhas, o país é repleto de rios, lagos (muitos lagos) e parques que deixam os amantes do esporte entusiasmados. É possível que a cada esquina o turista se depare com pessoas praticando ciclismo, arvorismo, trilhas, bicicross, entre tantos outros esportes radicais”.
Aqui de repente, no alto dos morros cobertos de grama aparecem figuras em baixo-relevo de cavalos e homens (em gesso branco). Isto é ainda da Idade Média me explicam.
Zélia começa então nos contar a longa história do Rei da Inglaterra, Henrique VIII e seus inúmeros casamentos: o Rei casa com Catarina de Aragão que é mais velha do que ele e não teve filhos. Catarina de Aragão foi então abandonada. O rei se apaixona, por Ana Bolena, uma mulher inteligente, popular, poderosa e com grande vontade própria. Após algum tempo, Henrique VIII acusa Ana Bolena de traição, com um amigo. Pede o divórcio de Ana Bolena e o papa não o permite. Aí Henrique VIII se separa da Igreja Católica mandando então matar Ana Bolena, na torre de Londres. Este martírio teve alguns ingredientes macabros: o rei obrigou o amigo a assistir sua decapitação. Após isso, Henrique VIII se apaixonou por Jane Simon que tinha vindo ao palácio para ajudar. Casou com ela e teve um filho, mas o filho acabou morrendo. O filho era hemofílico. O rei então mandou chamar uma alemã, Catarina Parr. Quando esta chegou, ela o odiou e vice-versa. Aí ele casou com uma parente de Ana Bolena, uma menina bem vivida que tinha outros amantes. Como chefe da Igreja Anglicana ele mandou matá-la. Casou-se com a 6a mulher chamada Catarina e que gostava de um assessor do rei. O rei tinha uma ferida na perna. Esta cuidou do rei até morrer. Aí como viúva, casou com o assessor. Até aqui a história do Henrique VIII.
A viagem continua muito agradável! Passamos por Newcastle. O litoral da Escócia é maravilhoso! Rotação de campos, o verde, o mar, as aldeias. Passamos pelo rio Tweed que é o rio que divide a Escócia da Inglaterra. Finalmente, chegamos à a capital da Escócia, a estação de Edimburgo. Tenho a sensação gostosa de estar numa terra tão diferente e desconhecida. Logo na chegada dividimos as tarefas: enquanto Mário busca ver o endereço do hotel que tinha reservado, Zélia vai à casa de Turismo, obter informações, enquanto eu cuido das malas. Terminadas as tarefas pegamos um táxi e fomos para “Galloway house Guest, onde alugamos um apartamento de dois quartos, sala, cozinha com tudo dentro pela diária de 84 libras esterlinas. O local era maravilhoso!
O endereço é: Galway Guest House 22 Dean Park Crescent Uma casa boa e para nós, um grande apartamento com dois quartos e uma boa sala.
Saímos para conhecer a cidade de Edimburgo, pegando o ônibus 41.
Lá havia guias pertencentes ao voluntariado da cidade. São pessoas de 3ª idade que explicam, graciosamente, aos grupos de turistas, a história de Edimburgo. Achei esta ideia interessantíssima, pois são pessoas já aposentadas, sentindo-se supervalorizadas ao poder colocar à disposição de todos, o seu potencial de conhecimento do lugar. Senti-me emocionada vendo isto. A guia escocesa nos mostrou toda a cidade explicando coisas muito interessantes: mostra-nos uma igreja transformada em centro cultural (há muitas igrejas que são utilizadas para outros fins que não os religiosos) e também nos mostrou os dispositivos onde se apagavam os fachos de luz, que alumiavam o caminho de quem saía à noite e que eram apagados, antes de entrar em casa.
Com esta guia entramos em muitos pátios internos que eram muito bonitos e reservados; vimos as casas onde os artesãos aos moldes dos trabalhos da Idade Média, fabricavam inúmeros instrumentos e utensílios. Fizemos fotos com a simpática guia.
Mas o que encantou os meus olhos e permanece na minha retina foi a profusão de flores em Edimburgo. Tirei diversas fotos, especialmente de flores em vasos grandes, enfeitando o parapeito das janelas! Estes, cheios das mais diferentes flores, com suas cores muito vivas e firmes. Os vasos estão colocados ou nos parapeitos das janelas ou nas paredes das casas ou nos postes de luz. Neste dia, tentei telefonar para minha amiga, Irene Sclickmann, que fazia aniversário no dia 7 de setembro, mas ela não estava em casa. Hoje, minha amiga Irene já está em outra dimensão!
Continuamos nosso passeio pela linda Edimburgo e, por fim, fomos tomar sorvete. Aí surge um pequeno incidente, logo resolvido. Queria-nos cobrar 3 libras à unidade. Conseguimos reverter o processo e pagamos 3 libras pelos três,
Depois de comprar selos e cartões. viemos a pé para casa, não sem antes passar pelo parque (Princess Street Garden), onde nos sentamos, olhamos novamente o Castelo de Edimburgo e esperamos um pouco, para ver a queima de fogos de artifício, pois era o final do “Festival Internacional de Arte”. Mas o cansaço já era grande e optamos para ir para casa. Após muitas idas e vindas encontramos o caminho da volta e demos graças a Deus que nos podemos sentar na sala deliciosa do nosso novo apartamento. Mário voltou para a cidade, às 22:30 horas, para ver a queima de fogos. Mas Zélia e eu estávamos já cansadas demais. Na volta, ele nos informou que os fogos estavam muito lindos!
5 de setembro – domingo
Acordamos dispostos depois de uma noite super bem-dormida. Fomos tomar o breakfast, no restaurante da pensão, lá pelas 9 horas. Este café da manhã foi mais do que um banquete. Eu tomei, sempre em proporções pequenas, em primeiro lugar, um prato fundo de granola com leite. Aí pedi poacched egg (ovo pochê), Scotish Kipper (peixe defumado), mushroom (cogumelos) e ainda fruit pudim! Depois, suco de maçã e café! Maravilha!
Saímos de casa e fomos, a pé, para o centro, passando pelo “Princess Park Garden”, cheio de árvores e de flores. Lá fiz também esta foto.
No centro da cidade, na Old Town, caminhamos subindo a ladeira até chegar, ao grande Castelo de Edimburgo, que recebe mais de um milhão de visitantes por ano. O Castelo de Edimburgo domina a cidade. Que paisagem linda!!! A entrada para o Castelo custava 6,5 libras. Eu me apresentei – sênior e, imediatamente, minha entrada diminuiu para 5 libras.
Recebemos um áudio tape o que me permitiu passar 4 horas (das 11 às 15 horas) escutando e entendendo esta história que começa muito tempo antes de Cristo. Através do acionamento de números adequados para escutar e aprofundar as dúvidas, eu ia tendo um retrato, muito bom, de toda a história deste Castelo. Sempre escutava em língua italiana. Até os anos 20 do século passado, ele ainda era uma fortaleza, mas desde então abriga vários museus e se tornou um símbolo da cidade e do país. Por isso ele está gravado na nota de 5 libras escocesas.
Visitamos o Castelo. “Os principais atrativos são a Capela de Santa Margarida, os cômodos reais e o Grande Hall, construído em 1511 por Jaime IV da Escócia; as masmorras militares, as quais abrigaram como prisioneiros marinheiros de várias nações; e a Mons Meg, um protótipo dos primeiros canhões do continente europeu”.
“Mons Meg é um canhão medieval da coleção do museu Royal Armouries, que atualmente está emprestado a Historic Scotland e localizado no Castelo de Edimburgo na Escócia. Ele foi construído em 1449 por ordem de Filipe, o Bom, Duque de Borgonha e por ele enviado como um presente para Jaime II, Rei dos Escoceses, em 1454”.
“O Royal Armouries é o Museu Nacional de Armas e Armaduras do Reino Unido. É o museu mais antigo do Reino Unido, originalmente instalado na Torre de Londres do século XV, e um dos museus mais antigos do mundo”.
“Foi moradia dos primeiros reis e rainhas escocesas. Ele ocupou um papel relevante na história do país, tendo servido também como fortaleza e prisão militar”.
“A Historic Scotland mantém várias instalações dentro do castelo, incluindo dois cafés/restaurantes, várias lojas e numerosas exposições históricas. Um centro educacional no Edifício Rainha Ana promove eventos para escolas e grupos educacionais, incluindo recriações históricas com trajes e armas da época. Também são feitas numerosas recriações históricas para o público em geral”.
“O Castelo de Edimburgo é o sítio mais visitado da Historic Scotland, sendo a mais popular atração paga, com mais de 1,2 milhão de visitantes em 2007”.
Após este trajeto, me sentei e escrevi cartões para meu sobrinho e afilhado João Luiz, que aniversaria no dia 12 de setembro, para as amigas Mara e Ignez e os coloquei na caixa do correio, domingo à noite. Aqui o sistema do Correio é o seguinte: às 19 horas de cada dia, passa o funcionário para pegar a correspondência dos caixas coletores. Zélia, Mario e eu, nos tínhamos desencontrado e neste momento eu estava vindo sozinha para casa. Na altura do “Princess Park Garden” perto da ponte, passei por uma igreja Anglicana, que estava fechada, com as lápides das sepulturas, superescuras e velhas, ao redor do pátio da Igreja. Subindo entrei numa outra igreja Anglicana onde estavam realizando as orações de Domingo. Impressionei-me! Assisti uns minutos o culto e saí.
Quando me encaminhei para encontrar o caminho para o hotel ouvi a voz de Zélia me chamando. Foi aí que nos reencontramos e fomos a um Pub tomar cerveja. Conversamos, apreciamos a bebida e as pessoas, falamos com os garçons e batemos fotos. Interessantes e muito agradáveis esses ambientes dos Pubs!!!
6 de setembro – segunda-feira
Acordamos muito bem neste dia e fomos tomar o breakfast no restaurante. Como ontem: granola, leite, pão integral, uma grande laranja cortada, o mesmo ovo pocchê, o mesmo peixe defumado, morcilha branca e vermelha (uma delícia) e os célebres cogumelos. Ótimo café!
Mário procura endereço para nossa hospedagem, no dia seguinte, em Glasgow e eu passo para ele o endereço do “Albergue da Juventude”. O preço para cada pessoa seria 12 libras. Saímos da nossa pensão às 10 horas e fomos comprar uma passagem de ônibus que servisse para todo o dia (2,20 libras). Aí fizemos diversas viagens de ônibus: fomos ao porto, fomos ver bairros de classe alta e classe média baixa, falamos com uma senhora que nos ofereceu hospedagem no “Bed and Breakfast”, por 15 libras.
Agora são 15 horas e eu estou sentada, em frente a Galeria de Arte de Scotland aos pés do Castelo de Edimburgo, pois Zélia e Mário estão vendo esta Galeria de arte. Como eu a vi ontem aproveito para descansar e escrever este relatório. Zélia depois me convida para, ao lado deste edifício, ir à Galeria que fica na parte subterrânea, só de autores flamengos e escoceses. Fomos. Amei! Após esta visita, nós três fomos passear pela cidade à noite. Entramos nuns “pubs”. E o dia deste domingo estava terminando! Na tarde de terça-feira viajaremos para Glasgow.
7 de setembro – terça-feira
Neste dia saí para andar e conhecer mais a cidade. “Edimburgo é a compacta e elevada capital da Escócia, com uma cidade velha medieval e uma elegante cidade nova georgiana que inclui jardins e construções neoclássicas”. É claro que ficando poucos dias nesta cidade não pudemos ter ideia de toda a paisagem de Edimburgo. Porém alguns aspectos me chamaram a atenção ao continuar as minhas andanças por bonitos lugares! Assim fiz foto diante do Real Banco da Escócia, onde um tapete de flores enfeitava a paisagem.
À tarde viajamos para Glasgow e quando chegamos na estação gostei de ver uma linda escultura: a despedida de dois jovens. Tirei fotografia desta belíssima obra de arte, em bronze. Pegamos então um táxi, já era escuro e fomos para o “Albergue da Juventude”. Nos acomodamos! Muito bonito, gostamos muito!
Então saímos e fomos jantar no restaurante italiano chamado Paperino’s. A comida estava muito gostosa e fomos bem atendidos pelo dono da casa e por um garçom brasileiro, com quem falamos bastante. Fizemos, em seguida, algumas fotos.
Voltando para o Hostal, descansamos bem e de manhã o café foi ótimo: Pão, Cereais, torrada, leite, presunto, queijo e frutas. Então nos despedimos do “Albergue da Juventude”, onde “jovens” do mundo todo aproveitavam esta hospedagem muito boa. Fomos levar as malas para a estação. Pagamos duas libras. Recebemos um ticket com números que são senha que, quando acionados, abrem a porta do maleiro. Tudo isto era novidade para mim, mas ia aprendendo pouco a pouco com a repetição.
Daí saímos para conhecer, a 25 km, a fundação Burrell Collection. É uma exposição de obras arte que um casal doou para o Estado. Foi maravilhoso ver todas aquelas obras de arte, que retratam diversos períodos históricos e também mostram a capacidade humana de produzir o belo. Após longas horas de encantamento fomos almoçar ao meio dia, no restaurante desta fundação, onde havia muitos turistas.
Lá batemos a foto. Na livraria do museu comprei uma pequena obra de arte para Irene que faria aniversário no dia 7 de setembro e com quem, até hoje, não tinha conseguido me contatar. Saímos em seguida para conhecer os arredores do Museu, para ver a parte dedicada às flores.
Vimos dálias imensas que estavam maravilhosas, vimos campos e cavalos. Vi pessoas cuidando do jardim com uma técnica e com instrumentos interessantes, como, por exemplo, uma tesoura, tão grande, que a pessoa não precisava se abaixar para cortar as margens da grama. Tirei fotos, especialmente das flores. As cores contrastantes me encantavam.
Na volta do passeio, viemos, andando a pé, por mais ou menos uma hora por um caminho cheio de árvores lindas e copadas, numa atmosfera cheia de oxigênio, que eu respirava enquanto agradecia a Deus estes momentos mágicos! Finalmente saímos e pegamos o ônibus 57 parando perto da estação Queen Street. Demos mais uma volta pela cidade e pegamos o trem das 16 horas para Edimburgo. Foi ótima a viagem de ônibus para conhecer Glasgow. Choveu muito, mas agora, a beleza estava nesta paisagem cinzenta e úmida.
Naquele momento, eu estava em dúvida, se iria direto para Londres conforme marcava na minha passagem às 17 horas, ou se esperaria por Zélia e Mário que a compraram para as 17:30 horas. Agora estou escrevendo isto no trem vindo de Glasgow rumo a Edimburgo passando por lindas paisagens de vilas, campos cheios de rolos de feno impecavelmente organizados. Está tudo “fine”!
Chegamos em Edimburgo às 16:58 horas e decido pegar o trem de 1ª classe na plataforma 19, que vai para Londres. Despeço-me de Mário e Zélia. Eles pegarão o trem às 17:30 horas. As mesas de 1ª classe estão preparadas para o café. Todas as poltronas têm mesinhas, onde dá para escrever. O trem parte em ponto, às 17 horas. A viagem para Londres foi linda: verdes campos, rolos de feno amarelo em campos de trigo já ceifados outros campos preparados para o plantio. Ainda é verão, mas o outono está por chegar.
Atravesso cidadezinhas, cujas casas são muito iguais entre si. A cor que predomina é o marrom. Só pedras. Às 18:15 horas sol ainda está alto no horizonte. Uma tarde muito especial, marcada pela emoção de ver tantas coisas novas e bonitas.
Um gentleman me pergunta se quero jantar. Respondo que sim. Vou ao banheiro: está limpíssimo. O trem para. Lembro que hoje é o aniversário de Irene. Mandarei um cartão via Loreci, pois me esquecei de trazer o endereço de Irene. Penso que quando chegar em Florianópolis, na minha chácara quero fazer um jardim como em Glasgow. Formas geométricas, cores estranhas contrastando!
A viagem está transcorrendo ótima. Passamos por Newcastels, Darling, York, Doncaster. Neste trajeto escrevi para minha irmã Mires e família e para a Lisandra, em Los Angeles. Tento escrever detalhes, isto porque, os detalhes se perdem muito rápido!
Chego na Station King’s Cross, a Sueli me orienta pelo telefone e diz que eu devo tomar a linha rosa para Hammersmith. São 15 estações e aí estarei em casa com os meus sobrinhos para quem estou levando um doce de Glasgow. Aí, ainda na estação, chegam Zélia e Mário que me convidam para ir dormir na casa deles. Agradeci e lhes disse que tenho de chegar em casa hoje, pois amanhã Camila, Melissa e Dudu irão para Paris e, além disso, eu já sei como pegar o metrô; não me perderei. Agradeci a Zélia e Mario tão boa e amiga companhia!
8 de setembro – quarta-feira
Levanto às 7 horas quando os sobrinhos vão para Paris. Tiro uma foto deles com mochila nas costas e bichinho de estimação, na cintura.
Aí, volto para a cama e durmo até as 10:30 horas quando sou acordada por Juliana, amiga de Sueli. Ela é de Blumenau e está aqui pois fará seus estudos em Braga – Portugal. Diz-me que vai chegar aqui às 13 horas, para passearmos em Londres.
Conforme combinado, Juliana e eu saímos, conhecemos a Abadia de Westminster, (belíssima) o Mosteiro e a Catedral. Tiramos foto diante do Big Ben, o famoso relógio das Casas do Parlamento.
Passeamos de ônibus por Wimbledon, entramos na Pizza Hut para comer alguma coisa e onde também tiramos a foto acima. Voltamos às 21 horas. Foi ótimo o dia fazendo este passeio com a querida Juliana, que por intermédio da solícita Sueli, pude conhecer!
9 de setembro – quinta-feira
Neste dia saí sozinha, pois Juliana não está bem. Á convite de Sueli, fui almoçar no restaurante onde trabalha no “Magazine Leads”, uma grande loja parecida com a loja Harrods. O “Magazine Leads” é uma empresa imensa e lá tirei fotos de algumas coisas bonitas. Depois fui à loja “Harrods”, a loja de departamentos mais famosa da Inglaterra. Lá vi, pela primeira, vez, mulheres árabes, muito ricas, de burka preta, totalmente cobertas, vendo roupas luxuosíssimas que compravam por milhares de dólares.
Daí fui ao Green Park, onde tirei foto das folhas de metal no chão em um canto do parque. A água deslizava encima destas folhas maravilhosas que brilhavam. Não consegui encontrar na a explicação e nem o artista que realizou este quadro de arte, no chão deste parque real!
Passando pelo parque me encantei com a forma de relax de tantas pessoas que tem, aí, um verdadeiro oásis de descanso, com muita tranquilidade, liberdade e beleza. Passei por mais algumas ruas admirando as reminiscências da Idade Média com o novo modo de construção. Comprei selos e coloquei muitos cartões no correio.
Nesta foto estou em frente ao palácio Real de Buckingham, que fica ao lado do Green Park.
“O Palácio de Buckingham é a residência oficial e principal local de trabalho do Monarca do Reino Unido em Londres. Localizado na Cidade de Westminster, o palácio é frequentemente o centro de ocasiões de estado e hospitalidade real”.
Em frente ao Palácio há imenso movimento de pessoas. A entrada é paga em libras e era muito cara.
10 de setembro – sexta-feira
Juliana está com alergia e eu, então, resolvi não sair Planejei ir segunda-feira para Canterbury, Bath, Stratford, depois para Stonehenge e Greenwich. Neste dia saí para dar um passeio pelo bairro.
Eu estava com a regata xadrez que havia comprado em Madri. Tirei fotos numa casa de comércio de vasos de cerâmica. A cerâmica, me atrai muito e isto aconteceu depois de ter feito o curso com o querido amigo e grande artista Valdo, que se foi deixando-nos muita saudade. Hoje (2020) já em outra dimensão. Os maravilhosos “São Francisco de Assis” com quais presenteei, no casamento, os meus sobrinhos, Giovana, Camila e Dudu, nunca mais serão feitos! Muita pena!
Neste passeio também fiz fotos de um conjunto de casas aqui em Hammersmith. Estes conjuntos, com todas as casas iguais, se repetem em toda a Londres.
Este dia foi especialíssimo, por uma simples razão: visitei um lugar incrível que foi a National Gallery. Lembro-me que fiquei lá boa parte do dia e me emocionei muito, vendo aquelas pinturas de grandes artistas onde tive o privilégio de escutar o áudio tape ao observá-los, sem pressa, tendo só isto para fazer. Nunca sairá de minha memória, o prazer que tive, ao ter este tempo, para admirar estes maravilhosos quadros que célebres artistas de todo o mundo, realizaram e aí estão expostos. Van Gogh, Rembrandt, Leonardo Da Vinci e tantos outros estão lá com suas obras! É uma visita imperdível.
“Está entre os museus de arte mais visitados no mundo, depois do Musée du Louvre, o Museu Britânico e do Museu Metropolitano de Arte”.
“National Gallery é um museu de arte em Trafalgar Square, em Westminster, no centro de Londres, Reino Unido. Fundada em 1824, abriga uma coleção de mais de 2.300 pinturas que datam de meados do século XIII a 1900”.
“Durante a Segunda Guerra Mundial, devido ao perigo iminente de bombardeamentos na cidade de Londres, numa quarta-feira, 23 de agosto de 1939, a Galeria Nacional fechou as suas portas ao público, de forma a evacuar todas as pinturas para um local seguro e secreto”.
Tudo o que de melhor foi criado no campo da pintura está nesta incrível Nacional Gallery. Quando saí deste banho de cultura, fiz uma foto, sentando-me à beira da fonte, que fica na Trafalgar Square, em frente a Galeria. Lembro que estava cansada, mas feliz com o que havia visto, nestas horas em que estive em meio de tanta beleza!
Então, passei pela feira, comprei verduras e fiz uma sopa gostosa esperando Dudu, Camila e Melissa que voltam, hoje de Paris. Escrevi o cartão para Dudu que vai fazer 20 anos no dia 15/9. Passei a roupa que eles tinham deixado no varal e fiquei esperando por eles. Às 21 horas me telefona Juliana. Às 23:45 horas chegam os viajantes de Paris depois de uma feliz viagem. Gostaram da sopa que fiz. Parecida com a que a minha irmã Erica, faz. Me trouxeram de lembrança uma pequena torre Eiffel. Gostei!!! Conversamos bastante e fomos dormir.
11 de setembro – sábado
Melissa e Camila saíram cedo para trabalhar e Dudu levantou depois, tomou café e saiu também. Antes me orientou como eu podia ir para Greenwich. Escrevi, então, um cartão para o querido amigo Mário Febrônio, meu ex psicanalista. Neste dia resolvi ir para Greenwich.
“Greenwich é um distrito no borough de Greenwich, na Região de Londres, na Inglaterra. É famoso por lá se situar o Observatório Real de Greenwich a partir do qual é definido o Meridiano de Greenwich, onde por definição a longitude é 0º 0′ 0” E/W, e que serviu de base para a definição do tempo médio de Greenwich”.
Tomei o trem e desembarquei num ponto onde deveria pegar outro ônibus. Ao tomar este ônibus, desembarquei antes do tempo, razão pela qual tive que caminhar muito, a pé. Aproveitei para respirar, observar a cidade e as lojas, as pessoas. Finalmente cheguei perto do Parque. Havia um grande Museu na parte plana.
“O Observatório Real de Greenwich é o escritório central de pesquisas do Meridiano de Greenwich localizado em Greenwich, na Inglaterra. Foi fundado em 1675 com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento dos conhecimentos astronômicos essenciais à navegação”.
O “Meridiano de Greenwich”, nada mais é do que uma convenção para dividir a Terra em duas partes (oriente e ocidente), através de um acordo internacional estabelecido em 1884. A importância dele é tamanha, não somente para localização e navegação, mas também para estipular os fusos horários”.
Ao chegar no alto, num local onde muitos turistas aguardavam, fiz esta foto antes de entrar no Museu do Observatório. É uma visita simplesmente imperdível para quem vai a Londres. Entre muitas pessoas do mundo todo, eu percorri as salas deste Museu, com seus relógios maravilhosos e seus instrumentos de precisão incríveis. Me encantei!!!
Descendo em meio ao verde, caminhei pelos jardins. Falei com uma moça da Polônia, que depois tirou uma fotografia minha, que por sinal, eu achei que saiu muito bonita. Aos fundos Greenwich!
Passei pelos parques e vi algumas exposições. Na verdade, é interessante observar que a criatividade humana não tem limites! E também, que a beleza da natureza está aí para ser observada e engrandecida pela observação de quem sabe que fazemos parte dela.
Á noite, bastante cansada, me senti muito feliz com aquilo que tive o privilégio de conhecer aqui em Londres, neste dia.
12 de setembro – domingo
Relendo e enriquecendo este relatório me dei conta que talvez tenha perdido as anotações deste dia. Posso tê-lo aproveitado para descanso, para passeios, para ficar com meus sobrinhos ou para ir a uma igreja, ou fazer uma pequena viagem!
13 de setembro – segunda-feira
Neste dia, fui conhecer a pequena e encantadora cidade de Canterbury. Saí às 7 horas! Na ida, na estação Vitória, encontrei uma americana que falava espanhol e que também viajaria para Canterbury. Com ela tive uma agradável conversa durante toda a viagem. Isto eu sempre considero um presente!
Na chegada, estava chovendo e nós duas passamos por uma loja para comprar um guarda-chuva. Custou 8 libras. Ela procurou, então um hotel para dormir pois estava chegando de longa viagem dos Estados Unidos. Eu comecei a andar pelas ruelas medievais de Canterbury com seu comércio, seus turistas, suas flores encantadoras, com muita beleza e diversidade.
Encontrei, neste passeio a pé, por Canterbury, quatro brasileiros de São Paulo com quem conversei. Eles me falaram sobre casas de comércio que são casas de caridade, onde havia coisas muito interessantes e baratas para se adquirir. Visitei estas casas! Como não me interessavam roupas, comprei um broche que achei muito lindo e por ele paguei uma libra e um óculos dobrável por 2,5 libras e uma porta perfume de cerâmica. Minha intenção era fazer de cerâmica um parecido, para dar de presente no Natal, aos amigos. Também comprei água mineral e banana cortada em fatias redondas e desidratadas. Muito gostosas!
Fui ver a Catedral Anglicana de Canterbury.
“Fundada em 597, a Catedral de Canterbury fica localizada na cidade de mesmo nome a cerca de 100 km a sudeste de Londres. Ela é uma das estruturas cristãs mais antigas e famosas da Inglaterra. Esta é a catedral do Arcebispo de Canterbury, o líder da Igreja Anglicana.”
Foi muita a emoção diante de tanta grandiosidade e beleza estética. Não se assemelha a nada do que já vi. É imperdível! Ouvi a explicação pelo áudio tape sobre a história de Canterbury. Vi o Mosteiro ao lado da Igreja e também andei ao redor da Igreja onde havia muitas ruínas e onde fiz fotos. O bispo Thomas Becket foi assassinado dentro desta Igreja e sua imagem está por tudo, aqui em Canterbury. Trata-se de São Thomas Becket, venerado como santo e mártir pela Igreja Católica e também pela Igreja Anglicana. Foi bispo de Cantuária entre 1162 a 1170. Ligado ao nome deste bispo, temos os célebres “Contos de Cantuária” da literatura inglesa. O nome inglês de Cantuária é Canterbury.
Nunca esquecerei o passeio que fiz a Canterbury. Ficou na minha memória como uma grata recordação e sempre com a vontade, de um dia para lá voltar. Após conhecer diversos hotéis e hostais onde talvez eu poderia me hospedar naquela noite, achei por bem voltar a Londres. Quando cheguei a Hammersmith, antes de pegar o metro para Goldwalkroad, passei por uma Igreja Anglicana. Entrei! Nesta ocasião conheci um processo por que passam algumas igrejas, atualmente. Elas estão a serviço da religião aos domingos e nos outros dias da semana, estão à disposição da população, aqui no caso, à educação das crianças. As crianças da escola estavam, dentro desta igreja, brincando de monociclo e pernas de pau e outras atividades como fazer escaladas pelas paredes, orientadas por seu professor, na ampla construção. O altar, preparado com toalhas e velas, demonstrava que esta igreja, aos domingos, estava à disposição do uso religioso, como me assegurou o professor. Ou seja, aos domingos é igreja e nos outros dias, desempenha outra função.
Parei no supermercado Marks and Spencer, para comprar os ingredientes para fazer uma janta para Dudu, Camila e Melissa. Marks & Spencer (M&S) é uma companhia de varejo britânica e a maior rede de lojas de departamento do Reino Unido, com mais de 840 lojas espalhadas em mais de 30 países. A rede não atua na América”
A janta ficou ótima, os sobrinhos adoraram.
Neste fim de tarde, planejei-me para, no dia seguinte, conhecer Stratford, a terra de Shakespeare. Visitarei também Bath, para ver a maravilhosa cidade, com seus banhos romanos. E, se der tempo, visito, rapidamente, Oxford.
Pelo mapa à esquerda, se pode ver como todos esses lugares estão próximos de Londres.
14 de setembro – terça-feira
Às 7:15 horas pego o trem sozinha e vou a Stratford. Na estação de Paddington tomo a direção de Bath. No caminho tenho dúvida se paro em Reading ou sigo viagem, visitando primeiro a cidade de Stratford. Angelo, um funcionário italiano da Calábria, surge com uma boa orientação para mim, no sentido que eu fosse primeiro para Bath, que fica a uma hora de viagem. Posso ficar lá até visitar o principal. Depois de visitar Bath, pegaria um trem para Didcot (½ hora). Em seguida para Oxford mais 10 minutos e depois mais ¾ de hora para Stratford. Posso voltar de trem às 20 horas chegando em Padington às 22:26 horas. E assim, naquela hora, resolvi fazer este roteiro que Angelo me apresentava. Graças a Deus não estava mais chovendo. Cheguei na estação de Bath às 10 horas e, na estação, recebi todas as informações. Saí andando para ver especialmente três lugares: A Abadia Anglicana, os Banhos Romanos e Royal Hause.
Comecei pela Abadia
“A Igreja da Abadia de São Pedro e São Paulo, Bath, conhecida como Abadia de Bath, é uma igreja paroquial anglicana e um antigo mosteiro beneditino em Bath, Somerset, Inglaterra”.
Uma moça estava limpando a belíssima igreja gótica e ela, então me fez a gentileza de tirar uma fotografia, onde eu estava vendo a imensa altura da Abadia, tendo ao fundo lindo vitral, acima do altar. Lá estão, em cores belíssimas, 56 cenas da vida de Cristo. Me entregam um bilhete onde se lê: “Jesus representa a nossa via para encontrar Deus”. Estou em estado de graça! Ver Bath não é só uma maravilha e uma grande emoção! Após me maravilhar com esta lindíssima abadia, ando pelas ruas onde me extasio com tantas coisas lindas e inusitadas que vejo: grandes tapetes de flores no chão e grande vaso de flores no ar, pendurados nas casas e nos postes. Isto enfeita esta cidade e a deixam única! Entro na construção dos banhos romanos.
Agora escolho ver as Termas Romanas. Deixo aqui um pouco de história:
“As termas romanas localizadas em Bath, Inglaterra, são um edifício de interesse histórico, um dos mais importantes da Inglaterra a nível turístico. A instalação de banhos públicos foi edificada na época do imperador Vespasiano em 75 d.C., na então cidade de Aquae Sulis. A redescoberta deu-se no ano de 1775, sendo escavada a partir de então e levada a cabo a sua musealização. As termas propriamente ditas situam-se abaixo do nível da rua. Os edifícios descobertos após as escavações foram divididos em quatro grupos, entre os quais estão o ‘Manancial Sagrado’, o ‘Templo Romano’, as próprias ‘Termas romanas’ e a ‘Casa Museu’, estruturas estas que datam do século XIX”.
“O primeiro santuário de águas termais erguido neste lugar foi construído pelos celtas que o dedicaram à deusa Sulis, cuja equivalente romana seria Minerva. Godofredo de Monmouth em sua largamente ficcional Historia Regum Britanniae descreve como em 836 a.C. a fonte foi descoberta pelo rei bretão Bladude que construiu as primeiras termas”.
“Sulis, Deusa das águas curativas é a Deusa celta da cura, das águas termais e curativas. Através de suas águas. Ela é capaz de promover a cura e trazer saúde e bem-estar para os seus devotos. Seus símbolos são tanto a água quanto o sol, um purifica e o outro consagra.
Pago 6 libras e pago também um áudio tape em italiano, onde se podem ouvir explicações sobre cada passo, daquilo que se transformou no Museu dos Banhos. Todo o templo foi escavado em seus diferentes aposentos e foram construídas colunas para que a obra pudesse suportar os edifícios construídos sobre as ruínas romanas. Ver e caminhar pelo recinto dos banhos de Bath, do tempo dos romanos, foi uma agradável surpresa. Na recuperação do local que estava enterrado, foi restituído a esta obra de engenharia criada pelos romanos, tanta realidade como se estivéssemos a 2000 anos atrás. Nestas termas, lugares religiosos de cura dedicado a deusa Sulis Minerva, os doentes e peregrinos vinham se curar. Há pedras onde os sacerdotes ofereciam sacrifícios aos deuses e muitas piscinas de água quente, de onde, ainda hoje, sai o mesmo vapor.
Passo pela sala do “Museu do Traje” e as pessoas estão tomando café ao som da música de três violinos. Saio de lá e tiro algumas fotos pela cidade florida e linda. Aqui vejo muitíssimos turistas. Compro postais. Passo perto da árvore que fica no centro do grande conjunto arquitetônico, e entro em uma galeria de arte cerâmica.
Daí vou visitar a Casa Royal, uma casa mobiliada e completa, que retrata uma residência própria das famílias abastadas do século XVIII.
Lá uma casa do século XVIII, mobiliada, como se lá ainda estivessem seus habitantes! Vi todos compartimentos. Belíssimos! Mas um local me chamou mais a atenção pelo inusitado, e esta foi a cozinha.
A cozinha, retratava uma das formas como se produzia a alimentação naqueles tempos, em que a revolução industrial ainda não havia transformado os processos do trabalho doméstico! Como se assava, naqueles tempos, a carne de um animal?
A carne rodava acima do fogo, impulsionada por um cachorro que ao movimentar uma roda com seus passos, movimentava a roldana e a carne ia assando.
Muito interessante, este museu que apresenta a casa de família, estacionada no século XVIII.
Comprei postais e tirei foto do interior da casa e também da paisagem exterior. Comprei uma lembrancinha. Saí de lá e passei pelas diferentes ruas da cidade rumo à ferroviária.
Como faltasse ainda meia hora para o trem partir, peguei um ônibus que ia para a Universidade e dei um passeio até lá.
A universidade fica fora da cidade num lugar muito bonito. No caminho falei com uma estudante, testando o meu inglês.
Saí de Bath às 13:27 horas com aquela sensação boa de ter conhecido históricas e importantes realidades.
Agora o caminho é para ir a Stratford, conhecer algo de Shakespeare. No caminho de Deicot até Oxford falei com uma assessora de relações de trabalho. No meu inglês consegui trocar com ela algumas ideias.
No trem, no fim da viagem, vem a mim um senhor responsável pelos passeios, acompanhado pelo comissário do trem, perguntando se eu não queria fazer um tour pela cidade e ir conhecer a casa de Shakespeare. Aceito, pago o tour de 10 libras e parto com o ônibus de dois andares. A primeira casa que nos foi mostrada era a casa onde nasceu o célebre dramaturgo e escritor.
Em seguida chegamos a casa onde a mulher de Shakespeare viveu sua juventude e que foi comprada, mais tarde, pelo escritor. Grandes pintores já fizeram célebres quadros sobre esta casa. Muito bonita! Aposentos do século XVI em perfeita conservação e todo o tipo de material escrito, como cartões, poesias e livros e quadros para vender. Muitos turistas lá estavam. Muita emoção poder estar lá, também. Esta experiência é quase um estar em estado de graça. Continuamos o tour por mais de 1 hora nos arredores de Stratford.
Conheci um casal de americanos que tiraram algumas fotos. Trocamos endereços. No caminho do tour, passamos pela conhecida casa branca com traves negras. Era a casa dos pais de Shakespeare. Outra estava fechada. No fim do tour andei mais meia hora pelas ruas floridas de Stratford.
Cheguei na estação de Maryborne às 22 horas e em casa às 23 horas. Minha amiga Impéria me havia ligado da Itália, 2 vezes. Conversei com Dudu, Melissa e Camila e entreguei ao Dudu o cartão de aniversário para ele ter, mais tempo, de lê-lo. Fui dormir e eles foram se ligar a Internet.
15 de setembro – quarta-feira
É dia do aniversário do Dudu. Levanto às 8 horas e está chovendo. Parabenizo Dudu e saio para conhecer a Torre de Londres. Está chovendo muito! O meu guarda-chuva que eu trouxe de Canterbury me ajuda, mas não tanto! As pessoas aqui se protegem com guarda-chuvas, muito maiores. Prometo a mim mesma de nunca sair de casa, em Londres ou em qualquer outro lugar, sem uma capa que me proteja, caso chover.
Faço uma foto na chuva, tendo ao fundo o castelo e a torre.
Vou comprar um Ticket para visitar a Torre. 10,50 pounds (libras). Caríssimo! Para “concessious” 7,90 pounds. Entro e pago mais dois pounds para áudio tape. Peço o meu, em língua italiana, como sempre.
A entrada tem um aspecto medieval, começando com os homens uniformizados que montam guarda na Torre, que tem muitíssimas e variadas dependências. Lá havia muitos turistas. No entanto, nem todas as partes da torre estavam disponíveis para a visita.
No interior do conjunto da torre há um Castelo Medieval conservado e lá observei uma situação muito interessante: lá havia a encenação do rei, a rainha e a dama de companhia, vestidas a rigor, explicando às turistas, coisas próprias daquele tempo. A roupa da dama de companhia da rainha é tal e qual um hábito usado normalmente pelas religiosas até um tempo atrás. Tiro a conclusão!
Não pude entrar na Igreja do Castelo, pois só é acessível a quem chega com excursões.
Visito dependências onde, por longo tempo, ficavam presos os que não recebiam as boas graças do rei ou por ele eram condenados à morte. Lá, eles deixaram gravado nas paredes, as suas marcas. Ambiente triste! Em frente à duas lindas vidraças, tiro uma foto, tendo ao fundo, um grupo de turistas, que estão recebendo explicações de seus guias.
Visito também a sala dos instrumentos de tortura. Inacreditável! É terrível pensar que o ser humano possa fabricar, inventar esses horrores e submeter seres humanos a tais mortais sofrimentos! Vejo a capela, em estilo românico, na qual tirei uma foto.
Também visito as salas imponentes, onde estão expostas as joias da coroa britânica. (Espetacular). Visito mais outros aposentos.
Após umas três horas de passeio, saio da Torre e passo por uma igreja Anglicana (belíssima) onde falei com o pastor dentro da igreja. No muro em frente, as crianças tinham pintado um mural. Chovia muito!! Saio da igreja e vou almoçar num restaurante, bem embaixo da ponte. Lá falo com uma simpática americana, em inglês. Sinto que já tenho, agora, mais facilidade em me expressar.
Vou em seguida passear e faço uma foto em frente a uma obra de arte: a fonte com a moça e o golfinho. Passo pelas docas. Tudo está muito florido. Entro numa loja especializada em navios e compro um cabide de metal, bem pequeno, com três ganchos. Planejo que, chegando em casa o colocarei na estrada, para pendurar bolsas, sombrinhas e casacos se necessário.
Compro, então, rosas amarelas para enfeitar a mesa do aniversário de Dudu e vou na “Victoria Station” para confirmar a viagem de avião, para Madrid.
Lá converso, mais de uma hora, com Lorenzo, um rapaz italiano, de vinte anos, com as unhas praticamente ausentes de tão roídas. Sinto vontade de escutá-lo. Tive o cuidado que era necessário ter, para poder ajudar, pois como fui educadora e professora por mais de 40 anos e além disso, na década de 1970 eu tive privilégio de fazer psicanálise, estas coisas me chamam atenção. Espero que a conversa que tivemos, lhe tenha feito bem.
Chego em casa e com a Sueli, a amiga de meus sobrinhos e agora minha amiga também, começamos a fazer a janta para o aniversário Dudu. Chega depois também Jimmy, o marido de Sueli. Dou o presente para Dudu, que hoje não foi trabalhar. Num quadro com uma flor em baixo-relevo que produzi, durante o tempo em que fiz cerâmica, a tia que tinha feito a experiência da arte, tinha gravado esta frase lapidar:
“Homem dedica-te a tua essência e tudo o resto te será dado por acréscimo”.
Lembro agora que era este mesmo o conteúdo desta frase, que me pai, Giovanni Moser, sempre nos dizia: “em primeiro lugar as coisas do alto e tudo o mais te ser a dado por acréscimo”.
A festa do aniversário do Dudu foi linda, cheia de amor e alegria e comemoração da Vida. As tias Erica e Irene e Victor, o pai, telefonaram. Dirce, a mãe de Dudu, tinha telefonado de manhã. As flores amarelas que lhe comprei estavam enfeitando a mesa!
16 de setembro – quinta-feira
Hoje é o dia em que viajarei para Madrid. Dudu, Camila e Melissa foram dormir muito tarde e certamente dormirão até meio dia. Eu aproveito o tempo que tenho à disposição nessa manhã, para ir, rapidamente, a Oxford. Saio de casa às 7:30 horas e às 8:48 horas pego o trem em Padington, na plataforma 11, após correr por várias plataformas como a 10 e a 12. Aprendi, com isto, uma coisa muito importante. Não se sai de casa sem saber o horário certo dos trens.
Na estação encontro Milagros, uma brasileira que serve café no trem e me diz que é da Bahia, mas seus pais são espanhóis. Está casada com um Venezuelano e ganha 600 pounds por mês. Milagros quer voltar ao Brasil, pois quer morrer onde nasceu.
Abre-se a porta do trem, eu entro, ocupo um assento na 1a classe e aí recomecei a tomar algumas notas para depois escrever este diário. A viagem é rápida. Chego às 9:30 horas em Oxford.
Em frente à estação, um ônibus de 2 andares oferece “Tour” por 8 libras. Para sênior 5 libras. Peço áudio tape em italiano. Chove muito! Estou no segundo andar, sem proteção. Então eu me pergunto: por que não trouxe capa de chuva? Mil vezes faço este propósito: não se pode viajar sem capa de chuva! No meio da excursão a chuva era tanta que desço do ônibus e espero a chuva passar, sentada em um bar. Outro ônibus chega, após 20 minutos. Nele há crianças da escola e porque são alunos de países subdesenvolvidos, precisam uma professora especial. Elas me oferecem uma toalha para enxugar o banco do segundo andar do ônibus. Recebo este favor como se viesse de anjos. Faço foto com as felizes crianças e também outras, da amorosa professora com seus aluninhos. Com a simpática professora converso com meu francês, língua da qual gosto demais, e que comecei a estudar, no ginásio do Colégio Coração de Jesus, com a ótima e inesquecível professora Irmã Ivone!
A explicação do áudio tape exalta Oxford: fala das personalidades que aqui estudaram e explica que o sistema educacional aqui é diferente. Há 16 áreas de estudo e cada uma em lugares diferentes. Algumas foram criadas em 1500. Ninguém sabe quem fundou Oxford. Quando as universidades se multiplicaram, se multiplicaram também os professores e, para eles, foram feitas as casas bonitas que estamos vendo agora. Hoje já se transformaram em escritórios e algumas ainda abrigam estudantes. A cidade é muito especial. Peguei alguns folhetos com o nome de museus, teatros etc. O passeio a Oxford foi rápido, mas muito agradável e instrutivo.
Na volta, tomei o trem das 12:15 horas e cheguei a Paddington às 13:30 horas. Os sobrinhos já estavam na estação de Goldwalkroad para irem ao cinema. Despedi-me deles, deixei chave em casa, saí e estou aqui no trem de 1a classe vindo para Gatwick, o aeroporto onde tomarei o avião para Madrid, às 18 horas. O voo teve o atraso de ½ hora.
No avião, ao meu lado, Moira, com quem converso durante 2 horas. Está lendo em inglês, “O Alquimista” de Paulo Coelho.
Muita visão da vida ela compartilha comigo. Tem 25 anos, terminou gerência de empresas e vai começar a trabalhar em Madrid. Esteve em Londres com a irmã e agora vai ficar com a mãe que, por sua vez cuida da avó que tem 90 anos. A avó sofreu muito na guerra civil de 36. Moira me fala sobre isto.
Foi uma linda viagem e chegamos muito bem em Madrid!! Moira me convida para tirar uma foto com sua máquina. A mãe vem buscá-la e ambas me oferecem uma carona para casa. Aceito, agradecida. Chegando, nos despedimos e trocamos endereços. É uma amizade que penso vai continuar, tenho certeza! Chego no hotel e descanso até as 10 horas do dia seguinte, pois o grande cansaço precisava destas horas de retomada das energias.
17 de setembro – sexta-feira
Neste dia fui trocar dinheiro e me inteirar sobre a viagem de para a Itália. Começo a fazer meu plano da viagem de trem. Irei de trem a Barcelona seguindo, imediatamente para Nice. Aí pegarei o trem para Verona, onde Impéria me esperará.
No mapa, à esquerda, temos uma ideia do trajeto. Com o bilhete marcado para a viagem no dia 18 às 22 horas, vou descansar um pouco à tarde.
Tendo este dia 17 de setembro, ainda livre, fui comprar um tour para visitar “El Escorial”, um palácio construído por Felipe II, durante 21 anos, entre 1563 e 1584.
“O Mosteiro do Escorial é um grande e complexo edifício localizado em San Lorenzo de El Escorial, município situado 45 km a noroeste de Madrid, na comunidade autônoma homônima, Espanha”. O palácio “El Escorial” foi construído, em homenagem à vitória obtida sobre os franceses na batalha de São Quintin, servindo também de memorial do enterro do pai de Felipe II, Carlos V. O tour passa também pelo “Vale dos Caídos”, um monumento que o General Franco mandou edificar em homenagem aos soldados de ambos os lados, caídos na Guerra Civil de 36-39.
18 de setembro – sábado
A excursão começou com o micro-ônibus que pegamos na Gran-Via. Lá tive a boa surpresa de encontrar as minhas conhecidas de Florianópolis, Terezinha Bianchini, professora da UFSC e Cida, empresária. Elas estavam em Madrid já fazia alguns dias. Durante a excursão batemos fotos juntas.
Vejo que nosso guia é o ótimo profissional, que nos acompanhou a Segóvia e Ávila! Os guias são importantíssimos numa excursão.
Após passar pela Serra de Guadarama chegamos ao grande “El Escorial”. Algumas explicações dadas por nosso guia: os arquitetos que construíram estes palácios foram diversos. Entre eles: Juan Herrera (estilo herreriano), para satisfazer o desejo do rei. Esta magnífica construção já teve vários usos: foi palácio e monastério, foi seminário para jovens e hoje é colégio de crianças. O mosteiro é dos padres agostinianos.
Na visita ao “El Escorial” além de admirar o conjunto arquitetônico em si e sua Igreja que é belíssima, vimos os quartos de Felipe II e de sua filha. Lá havia uma porta, de onde eles podiam ver o altar da magnífica igreja e assistir, naturalmente, as missas diárias. Havia lá também a cadeira sobre a qual Felipe II, foi carregado de Madri a El Escorial, nos ombros de servos. Ele sofria do mal da Gota, e por isso não podia caminhar. No palácio há o Pantheon onde estão as tumbas de todos os reis e das mulheres que tiveram filhos reis da Espanha. Em outros locais, as tumbas estavam preparadas para todos, mas só serão enterrados os que quiserem.
No “El Escorial” fiz algumas fotos, também com Terezinha Bianchini e Cida para marcar esta importante visita. Saímos de lá às 12:30 horas e fomos visitar o Vale dos Caídos.
No ônibus de excursão, me sentei ao lado de Stanley, um professor de química, aposentado, da cidade de Massachusetts, nos Estados Unidos. Fizemos boa conversa e ele me diz, que, agora voltou para a Universidade para estudar línguas como o sânscrito, o árabe, grego japonês etc. Achei maravilhoso! Nunca se acaba de realizar sonhos e de desenvolver nossos múltiplos potenciais! E isto é possível e fantástico em qualquer idade! A vida é muito curta para não se aproveitar o tempo para desenvolver tantos potenciais dos quais todos somos possuidores.
O “Vale dos Caídos”, foi mandado construir pelo General Franco, para receber não só os seus próprios restos mortais, mas os restos mortais dos combatentes de ambos os lados da Guerra Civil Espanhola. A construção que durou 20 anos, foi realizada por milhares de presos políticos do tempo do Estado Novo de Franco.
Para lá foram transferidas cerca de 30.000 vítimas que lutaram nesta Guerra, que opôs Nacionalistas de Franco contra Republicanos, quando morreram 500 mil pessoas. Na verdade, esta visita possibilitou ver esta obra gigantesca e muito linda, que emociona pela grandiosidade! Lá também fiz outra foto com Terezinha Bianchini e Cida para marcar nossa passagem por lá.
O “Vale dos Caídos” tem uma Igreja subterrânea, maior que a de São Pedro de Roma e lá, tudo tem dimensões astronômicas: escavada na rocha tem uma grande cripta com mosaicos dourados e de cores, onde sobressai ainda a rocha.
A parte externa, sobre esta rocha, ergue-se uma cruz de ferro, recoberta de pedra, que pesa 190.000 toneladas. Valeu a pena ver esta maravilha e também recordar e nunca esquecer, a triste história da ditadura de Franco. E aqui uma outra notícia: mais tarde, na era democrática, a Espanha mandou retirar o corpo do ditador Franco, que tinha sido lá enterrado naquele monumento, por ocasião de sua morte, em 20 de novembro de 1975, após longo tempo de doença.
Voltei às 16 horas para Madrid e parei na Gran Via, indo então para restaurante de Pablo, um hombre mui amigo de “mi amigo Angel”. Conversei com Pablo e ele mandou um cartão para Angel e Maria Helena. Aproveitei para tirar uma foto com ele, em seu restaurante. Fiquei contente de poder ter me encontrado com Pablo, pois nesta noite partirei para a Itália.
Passei perto da praça Colon e tirei uma foto diante da belíssima escultura da “La Violeteira”.
Após a janta, às 19:30 horas, fui à estação de trem Chamartin, para iniciar minha viagem para Milão, na Itália. Aí é que deu uma grande confusão. Descubro apavorada que o trem chega às 23:30 horas em Milão e lá eu precisaria esperar outro trem.
Após uma hora de angústia, telefonei para Impéria na Itália e resolvi partir para Milão, mais tarde, às 22 horas. No meu camarote iam Hermano, um construtor alemão, sua mulher venezuelana de pais italianos e sua irmã arquiteta que mora em Zaragoza. E aqui, durante esta viagem, começaram uma série de incidentes, graças a Deus, sem muitas consequências! Primeiramente, entraram 3 jovens poloneses que começaram a tomar whisky. Parecia que ia dar problema. O construtor alemão Hermano, reagiu com muita violência e eles se acalmaram. Com este casal alemão, conversei bastante durante a viagem. Me falaram muito de Zaragoza onde vive a arquiteta. Hermano então saiu e trouxe 4 garrafas de suco de laranja. Foi ótimo!
Após saírem do trem, os três poloneses, entrou um casal da Tchecoslováquia que só falavam tcheco. Aqui o problema foi com a passagem: eles tinham “Europas”, mas não tinham marcado e nem pago o que faltava. Foi uma tragédia a cena que aconteceu, quando o comissário lhes pediu mais 5.000 pesetas. O dinheiro era demais e os “Krone” de Praga não dariam para pagar tanto. Só faltou o marido se jogar do trem, em movimento. A mulher num choro incontido e eu enxugando minhas lágrimas e pedindo que a mulher se acalmasse. Graças a Deus, tudo terminou bem com o comissário não cobrando e também, consolando a mulher que estava prestes a ter um ataque de nervos. Saíram em Cérbere, o primeiro lugar na Riviera Francesa. Estas coisas nesta viagem, quase não aconteciam, mas quando acontecem, assustam e, quando a gente recorda pode-se ar boas gargalhadas!
Antes de sair do trem, encontrei encima do banco, um livreto explicando geográfica e turisticamente a cidade. Amei! Considerei que um anjo tinha deixado no banco o livrinho para mim, pois eu não tinha dinheiro francês para comprá-lo. Já estava na Riviera francesa.
19 de setembro – domingo
Em Cérbere, às 9:45 horas encontrei Mariana, uma mexicana que me contou que estava indo a Montepellier e ficaria lá para estudar francês, durante 3 meses. Conversamos muito. Ela me ofereceu um lindo pêssego e eu, para guardar este momento tão lindo, tirei uma foto com ela. Trocamos endereços e às 11 horas pegamos o trem para Montepellier, na Riviera Francesa, onde chegamos às 13:56 horas e após, seguimos para Nice onde cheguei às 18:20 horas.e me maravilhei com a beleza da cidade cuja foto está aqui abaixo,
Após jantar num bar fui comprar cartões de telefone. Telefonei para Erica, minha irmã no Brasil e para minha amiga Impéria, em Verona, na Itália. O cartão custou 49 francos. Um dólar era 5 francos. Em Nice peguei o trem rápido para Verona. Já eram 21 horas. No meu camarote um casal do Chile. Ela é agente de viagens. Eles iam passar 15 dias em Milão, onde mora o filho engenheiro. Após agradável conversa, trocamos endereços.
20 de setembro – segunda-feira
A viagem, nesta noite, estava muito boa. Deu para dormir um pouco e também conversar com pessoas de conversa interessante. Às 5 horas cheguei em Verona, após ter passado às 2:30 horas por Milão. Impéria estava me esperando.
Foi ótimo este encontro e tudo estava dando certo. Chegamos em sua casa, tomei café, tomei banho e num quarto bonito e numa ótima cama, dormi até as 15 horas. Telefonei para o professor Bernardi da Universidade de Veneza, marquei um encontro para o dia 22, na Universidade de Veneza e telefonei, também, para o meu primo, Ary, mas sem sucesso.
De tarde, fui com Impéria ao lago de Garda conhecer o seu apartamento. Conversamos bastante. Tiramos fotos e comemos aperitivos. Saímos do apartamento e fomos ver a cidade de Sirmione, a terra de Catulo, o poeta, que viveu 87 anos antes de Cristo. Sirmione é uma ponta de terra que avança entre o mar e o lago de Garda, que fica a 40 km de Verona, conforme pode-se ver neste mapa.
Lá muitas casas são ainda do século XVI. No caminho para Simione, fizemos esta foto e Impéria me informa que estamos passando por entre um Castelo semidestruído, que foi palco de batalha durante a 2a Grande Guerra Mundial. Hoje passa por aqui uma estrada asfaltada.
21 de setembro – terça-feira
Acordei-me às 6:30 horas, muito satisfeita e acabei de escrever este diário. Hoje meu desejo é voltar a Sirmione. Impéria após um gostoso café me levou a Sirmione, a pérola do Lago de Garda. Passamos antes por campos de batata-branca para fazer açúcar- “Vallejo sul Mincho”. Em Sirmione fiquei o dia inteiro.
“Sirmione é uma das mais belas cidades do Lago de Garda, o maior da Itália com 370 km² de superfície. Localizada na região da Lombardia, ao norte do país, a chamada Pérola do Garda chama a atenção por suas águas termas e ruínas romanas”.
Passei pelo local das “Grutas de Catulo”, que apesar do nome não são grutas e sim os restos de uma domus romana, construída por volta de 1 d.C.
“As ruínas da Vila de Catulo são a vila romana mais bem preservada do norte da Itália. Hoje elas são chamadas de Grutas de Catulo, porque elas foram redescobertas no século XV, quando estavam enterradas pelo tempo, e por isso pareciam grutas. Assim como o castelo, é legal que elas sejam tão na beira, cercadas pelo verde-azul do lago, e isso torna a vista mais incrível”.
E aqui, nesta foto, está um quadro com as sensíveis palavras do poeta romano, expressando gratidão por poder retornar a Sirmione, sua terra natal. É possível traduzi-las.
Encontrei-me com um casal do Equador, sua mãe e uma amiga. Após conversarmos e vermos as grotas, fiz fotos para eles nos grandes pilares das “grotas de Catulo”. Eles também tiraram umas fotos minhas.
Aqui eu estava olhando, ao longe, a “Villa di Maria Callas”, que viveu e que esteve casada com Onassis, antes de Onassis se casar com Jaqueline Kenedy.
“Maria Callas (Nova Iorque, 2 de dezembro de 1923 — Paris, 16 de setembro de 1977) foi uma soprano grega. Os críticos elogiavam sua técnica bel canto, sua voz de grande alcance e suas interpretações de profunda análise psicológica, caráteres que a levaram a ser saudada como La Divina. Seu tipo vocal era classificado como o raríssimo soprano absoluto. Seu repertório, por sua vez, variava de ópera-séria clássica para as óperas bel canto de Donizetti, de Bellini e de Rossini e, ainda, para as obras de Verdi e de Puccini; e, no início de sua carreira, para os dramas musicais de Wagner”.
Era noite e estava chovendo, mas a lua cheia na metade do céu anunciava um dia 21, belíssimo. Aqui está a foto de mais uma construção antiga em Sirmione.
“Castelo Scaligero foi construído pela família Scaliger, os senhores de Verona. Ele tinha função de defender o sul do lago e de controle portuário. Ele é apenas um de vários castelos Scaligeri espalhados pelo lago, mas é conhecido como um dos mais bonitos, por ser cercado pelo lago por todos os lados”.
Na Itália a cidade de Sirmione é lembrada por ter sido ‘refugio’ de Mussolini durante a Segunda Guerra Mundial, onde ele fundou a República de Salò (1943), um estado fantoche controlado pelos nazistas.
Enquanto esperava me encantei com os pôr de sol sobre o lago de Garda. Estupendo! Belíssimo! Gosto muito de admirar o Pôr de Sol e fotografar as diferentes fases deste espetáculo na medida em que ele vai se escondendo atrás da montanha ou do mar, fazendo desenhos sempre mais bonitos e quanto a paisagem muda.
Esperei minha amiga Impéria! Na hora marcada, às 20:30 horas ela veio me buscar e então fomos ao restaurante de San Benedetto de Pesquicholo, e comemos um peixe al Portichollo (no alumínio) com arroz (Risotto com Tinca).
Voltando conversamos mais e vimos televisão. Estavam noticiando o terremoto em Taiwan. Fui dormir, satisfeitíssima com este dia. Tudo o que vi me deixou muito contente!
22 de setembro – quarta-feira
Levantei às 6:32 horas, tomei café e Impéria me levou à estação ferroviária de Verona para pegar o trem para Veneza, onde cheguei em duas horas. Fui para a Universidade Cá Foscari, pois eu tinha marcado um encontro com o professor Bernardi.
“Ca’ Foscari é um palácio veneziano construído em por volta de 1452, às margens do Grande Canal, pelo doge Francesco Foscari como demonstração de seu poder e sua riqueza. É um representante típico do estilo gótico veneziano de arquitetura. Durante a ocupação austríaca, no século XIX, serviu de hospedaria e de caserna. Em 1866, foi adquirido e reformado pela Comuna de Veneza, que em seguida o cedeu para servir de sede à Real Escola Superior de Comércio de Veneza. Entre 1997 e 2005, passou por nova reforma. Atualmente é a sede da Universidade Ca’ Foscari de Veneza.”
Ao me encontrar com o professor Bernardi lhe entreguei uma caixa de chocolate Godiva e lhe agradeci o ter publicado o meu artigo em sua Revista. Ele me presenteou com um livro que já estava reservado sobre sua mesa: “Identidades Venetas”, organizado com os trabalhos de diferentes autores. Conversamos sobre a pesquisa e o trabalho que redigi durante minha Licença Sabática, intitulado “Violência contra os italianos no Vale do Itajaí, durante o Estado Novo”. Ele me deu algumas ideias para a continuação da pesquisa. Encaminhou-me depois para a Dotoressa Suzana, a quem também ofereci uma caixa de chocolates Godiva, agradeci o trabalho dela, na publicação de meu artigo. Fiz com ela uma foto diante da Universidade. Prometeu-me mandar mais quatro livros onde está o meu artigo sobre a “Violência do Estado Novo” para que eu possa deixar estes exemplares nas Universidades de Santa Catarina. Também, me ofereceu mais alguns trabalhos de linguística sobre a questão da língua materna. Falou da língua materna como um modo ancestral de entrar em contato com a vida. Mostrou-me, em seguida o lindo edifício da Universidade, que ambas percorremos. Na verdade, uma casa da nobreza de Veneza. Me despedi feliz com mais este encontro. Palavras que ficaram da conversa com Suzana: “Todos os conceitos que exprimimos agora estão ligados à cultura humanística (filósofos latinos e gregos) que exaltam os valores da justiça e da bondade. Sêneca, por exemplo com a concepção de direito. Os valores de que estamos falando não estão ligados aos orientais e nem ao judaísmo”.
Saí agradecida e, em seguida, aproveitei para fazer visitas a duas ilhas importantes do ponto de vista de sua atividade econômica. O vaporeto me levou para a ilha de Murano, onde a esmagadora maioria de seus habitantes, trabalha fazendo cristais. Nesta ilha, uma infinidade de pequenas empresas se dedicam a este fantástico trabalho. Fomos visitar uma empresa cujo artesão nos mostrou, na prática, todas as fases do processo de trabalho e o uso da própria criatividade na fabricação de verdadeiras obras de arte. Os quadros de grandes artistas como Picasso e outros, tem suas obras reproduzidas em cristal. São maravilhosos estes trabalhos. A cada momento eu dizia a mim mesmo: “a criatividade humana realmente não tem mesmo limites”.
Após visitar a “Ilha dos Cristais de Murano” pego o vaporeto e vou para a “Ilha de Burano”, totalmente dedicada ao bordado e aos trabalhos artesanais. Belíssimos bordados! Os canais cortam toda a cidadezinha. Todas as pessoas têm, um barco diante de sua casa como aqui temos o carro. Tirei muitas fotos. Amei Burano! Tomei o vaporeto de volta à Veneza e no caminho conversei com uma francesa.
Às 19:16 h tomo o trem de volta à Verona. Comigo também embarcou no trem a contadina Irmgart e a filha. A família trabalhando com vinhas e produz vinho. Elas tinham vindo à Veneza procurar uma pensão para o ano escolar, pois a filha vai frequentar lá a Universidade. Conversamos muito e ela foi muito simpática. Ficamos amigas e trocamos endereços. Pediu-me que, na próxima viagem eu vá e fique em sua casa. Ao chegar na estação ferroviária ela me convida para tomar um vinho, mas Impéria veio me esperar de carro e como já é tarde demais, nos despedimos e ficamos de nos comunicar mais tarde.
Chegando em casa, Impéria que é uma excelente cozinheira fez uma sopa com menestra, (queijo ralado, pimenta, canela, noz-moscada e ovo) incrivelmente gostosa. A receita é simples: fazer uma pasta disto tudo e colocar no brodo. Depois desta sopa comemos peito de frango e salada de tomate e alface com puro óleo de oliva. Assistimos depois, um ótimo programa com o maestro Claudio Abbado da Orquestra do Scalla de Milão. Maravilhoso! Fui dormir.
Neste dia, mandei um cartão e também fotos para d. Natália e as duas Anitas, em Tomar.
23 de setembro – quinta-feira
Neste dia, acordei bem-disposta, limpei o quarto e fui visitar a Igreja de “Isola della Scalla”, que fica na província de Verona.
Visito a igreja e o cemitério de “Isola della Scalla”. Lá estão as fotos com os nomes de todos os “cadutti” na 2ª Guerra Mundial. Aqui, dizem que, por engano, os Estados Unidos bombardearam os italianos. Lembro-me bem da visita que fiz aos túmulos. Tirei fotos do local, pois chamaram a minha atenção as lápides, seus vasos artísticos, os enfeites e as flores quase todas naturais que enfeitavam este cemitério. Passou-me a impressão que a relação com os mortos era algo muito próximo deles. E ainda estávamos em setembro. Lembro-me bem da visita que fiz aos túmulos.
Tirei fotos do local, pois chamaram a minha atenção as lápides, seus vasos artísticos, os enfeites e as flores quase todas naturais que enfeitavam este cemitério. Passou-me a impressão que a relação com os mortos era algo muito próximo deles. E ainda estávamos em setembro! Lá falei com Bruna e mais uma senhora que eram amigas de Impéria. Voltei às 11:45 horas. Impéria fez um almoço rápido e gostoso. Depois um cafezinho e fui pegar o trem que partiria às 13:48 horas, em Verona. Às 15:45 horas estava em Lambrete numa viagem que estava sendo ótima.
Um grande “outdoor” estampava: “Per togliere 8 ore de estancheze de tuói occhi bastano 8 minuti de relax”. Concordo!
Chego às 16 horas em Milão e por 10.000 liras, guardo minhas duas malas. E me dirijo andando ao Duomo de Milão, a pé. Há nove anos quando, com meus irmãos, Jaime, Dirce e Irene lá estive, a Catedral estava em reformas. Visitei a catedral de Milão por dentro. Hoje estava tudo belíssimo!
Um Pouco de História
“A construção do Duomo de Milão foi iniciada em 1396 e concluída em 1965, no lugar onde se anteriormente encontrava-se a Basílica de San Ambrogio, desde o século V d.C. até 836 quando foi acrescentada a Basílica de Santa Tecla, ambas destruídas em um incêndio em 1075”.
Na oportunidade tirei foto na praça dos pombos, onde um Pastor da Igreja Universal estava evangelizando. Algumas pessoas o escutavam. Fiz um giro pela cidade e entrei em livrarias. Às 20 horas pego o trem leito, para Barcelona. Num camarote com quatro camas, estão 3 espanholas (65 anos mais ou menos), uma de Madrid e duas de Córdoba e que são irmãs entre si. Conversamos bastante, descansamos (a viagem durou praticamente 13 horas), em ótimas camas. Elas me ofereceram chocolate, tangerinas e eu ofereci a elas, de manhã, após lavarem o rosto, um creme de sementes de uva e um perfume do Boticário. Elas amaram! As duas me convidaram a ficar na casa delas quando fosse a Córdoba, quando passasse por lá. Nos despedimos e eu resolvi ir daqui para Valência enquanto elas iriam para Madrid.
Aqui desejo ressaltar a vantagem que foi comprar o “Europas” de primeira classe, no Brasil. Com ele pude fazer muitas viagens bastante longas, que se fossem pagas sem as “Europas” teriam saído caríssimas. Na Europa o trem é um meio de transporte caro. Tendo adquirido o “Europas”, eu podia resolver, a qualquer instante, viajar para lugres distantes, pois sabia que a viagem de trem, já estava paga e garantida.
24 de setembro – sexta-feira
Saio de Barcelona às 11:30 horas e meu destino é a cidade de Valência, no litoral sul. Oferecem-me um fone de ouvido para acompanhar um filme que passa em diversos aparelhos de TV. Pode-se escolher o filme ou três tipos de música. O dia está lindo! De vez em quando vou ao bar para admirar este litoral da Espanha, que é belíssimo. As paisagens que posso admirar nesta viagem de trem são muito bonitas! Sinto como se estivesse passando no litoral do Brasil, em Florianópolis. Ao lado da linha do trem, de ambos os lados, vejo muitas árvores frutíferas.
Chego a Valência às 15 horas. A ferroviária está muito movimentada com grande número de passageiros! Guardo as malas e para isto pago 300 pesetas. A partir da chegada na Ferroviária de Valência, que fica ao lado da “Praça dos Touros” a primeira coisa que chamou minha atenção, foram os muitos e lindíssimos mosaicos que estavam por toda a parte nesta ferroviária! Eu adoro mosaicos! As colunas estavam lindamente revestidas de especiais mosaicos e esta beleza, chama atenção dos que chegam a esta estação.
É um verdadeiro show de beleza artística.
Valência é uma das cidades mais importantes da Espanha. Na verdade, é a terceira maior cidade espanhola, depois de Madri e Barcelona.
Um Pouco de História
“Valência é uma cidade muito antiga, fundada pelos romanos em 138 A.C. Do ano de 413 até 714 D.C. formou o ‘reino visigodo’. O verdadeiro desenvolvimento veio com os árabes muçulmanos. Eles enriqueceram o sistema de irrigação deixado pelos romanos e trouxeram, do oriente, plantas para a agricultura: laranjas, arroz e cana-de-açúcar. O cristianismo a conquistou aos árabes com as célebres Cruzadas, em 1094. Foi recuperada pelos moçárabes, em 1102. No século XVIII, graças à manufatura da seda, conheceu e recuperou grande desenvolvimento”.
Continuando minha exploração por Valência, como muitas construções interessantes ficam muito perto da estação ferroviária e como tenho pouco tempo para conhecer esta cidade, fui visitar o Museu Nacional de Cerâmica, cuja entrada custou 400 pesetas, mas como eu era aposentada, não paguei.
O Museu Nacional de Cerâmica é muito lindo. Percorri as salas do museu me extasiando com tudo o que lá está exposto. Havia cerâmicas desde o tempo dos romanos, obras de arte feitas por Picasso, salas forradas de cerâmica e até móveis de cerâmica etc. Lá comprei dois postais e depois me dirigi a uma livraria. Tomei nota de dois livros que me interessaram: “Intimidade” de Hanil Kureishi, da editora Anagrama. Ele diz neste livro: “As palavras são ações e provocam acontecimentos”. Uma vez pronunciadas não podes mais retirá-las.
Visitei depois a Basílica de “Nossa Senhora dos Desamparados”, sendo uma das mais antigas de Espanha.
Uma construção imensa que chama muita nossa atenção é a Praça dos Touros.
“Totalmente inspirada na arquitetura do antigo império Romano, para ser mais específico no Coliseu de Roma, a Praça de Touros está localizada na saída da principal estação de trem da cidade e proporciona a seu visitante além da história das touradas, um pouco da atmosfera deste evento tão tradicional na Espanha”.
Pelas 19 horas, entrei em algumas lojas célebres como por exemplo, o “Corte Inglês” com roupas lindíssimas. Lá perto vi alho em conserva. Era a primeira vez que via alho em conserva. Espetacular! Queria muito trazê-lo, mas eu não podia carregar mais peso.
Após rápida passagem pela cidade, fui para a estação ferroviária.
Agora são 20 horas, do dia 24 de setembro. Vou pegar o trem que me levará à Sevilha, uma vibrante cidade da Andaluzia que almejo conhecer, mesmo que rapidamente. Sevilha começou dois mil anos antes de Cristo com os fenícios, depois vieram os romanos. De 1600 a 1700 Sevilha foi o porto mais importante do Império Espanhol. Em Sevilha nasceu Adriano, Imperador romano. A viagem noturna no trem foi ótima e transcorreu sem nenhum incidente.
25 de setembro – sábado
Chego em Sevilha às 7:55 horas tendo viajado no trem de 1ª classe, toda a noite! É ainda escuro. Guardo as malas e vou procurar informações. Partirei às 16.30 para Cáceres.
Vou ver a catedral. Imponente! Estavam rezando a missa com muitíssimos bispos. Após esta Missa, a igreja foi fechada.
“A Catedral foi erguida para substituir a mesquita que existia no lugar, construída na época da dominação árabe, e da qual resta apenas ‘La Giralda’, o minarete do ano de 1198, que foi adornado com um topo neoclássico depois da retomada cristã. É possível até subir a torre, de onde se podem ter vistas maravilhosas da cidade”.
“A cidade tem um passado riquíssimo, foi controlada pelos árabes e, mais recentemente, pelos cristãos, povos estes que deixaram um legado arquitetônico incomparável. A catedral de Sevilha é um verdadeiro monumento à glória cristã, é a terceira maior igreja do mundo e levou mais de um século para ser terminada”.
Após a visita à Catedral aproveito o tempo para fazer um tour que custa 1500 pesetas. Neste tour passamos por muitos lugares interessantes. Mas aqui sei que muito pouco de Sevilha pode ser visto, tendo feito somente um tour. Haveria necessidade de ficar alguns dias na cidade para poder realmente dizer que conhecemos Sevilha, tantos são seus lugares e seus monumentos dignos de serem conhecidos.
“A torre del Oro é um dos símbolos da capital andaluza, cuja arquitetura provém do século XIII. Ela foi erguida pelo Califado Almóada (potência religiosa berbere governada pela dinastia moura) para evitar que houvessem invasões pelo Rio Guadalquivir”.
Passamos também pelo primeiro palácio barroco com as estátuas de sevilhanos que se destacaram em diversos campos. Sevilha presta justa homenagem a seus filhos célebres Adriano (Imperador Romano), Murillo (pintor) Velásquez (pintor) Bortolomeu de las Casas (escritor) e outros. Depois passamos pela Universidade: esta já foi fábrica de tabaco, em 1929 foi teatro e assim por diante teve muitos usos. Em seguida, saímos do ônibus, para visitar grande construção circular, da Exposição Ibero Americana de 1929.
A Praça da Espanha, construída em 1929 para a exposição Ibero Americana, foi uma ideia dos intelectuais sevilhanos, para mostrar ao mundo o que tinham. A forma circular desta construção, sugere um abraço a Espanha para a Sul América e Portugal.
Para a exposição dos 500 anos do descobrimento da América há o pavilhão com a exposição de 100 países.
Na parada de reconhecimento ainda nesta grande construção circular, da Exposição Ibero Americana, (1929) vi o pavilhão do México, depois o do Brasil (por sinal muito feio), depois o da Colômbia. Pavilhão de Sevilha (belíssimo), Pavilhão de Portugal muito bonito. Vi o Jardim de Alcazar, cujos jardins são dedicados ao artista Murillo.
Neste tour num ônibus de 2 andares, vimos também o Muro muçulmano, a porta de Macarena. Na Semana Santa, há um desfile e procissão com Nossa Senhora de Macarena. Neste tour vi também a estação de “auto-ônibus” (belíssima), Mercado do Peixe (verde). Vi o quartiere de Marinare (casas dos artesãos de cerâmica), junto ao rio que corta a cidade.
Observei também muitas construções modernas, por exemplo o “Edifício Torre de Triana”, construída em homenagem ao Castelo Santo Angelo, em Roma, onde está enterrado o Imperador Adriano, que nasceu em Sevilha. Foi muito bom constatar que, mesmo ficando pouco tempo em Sevilha, este tour me deu oportunidade de admirar muitas coisas lindas nesta cidade.
Quando o tour terminou, fui para a estação comer alguma coisa. Chegando lá, marquei o bilhete para Lisboa.
Saímos de Sevilha às 16:30 horas. E agora mais uma vez, o prazer de observar a natureza. As paisagens que meus olhos observavam eram lindas. Campos e campos de algodão, azeitonas, pêssegos e laranjas e campos imensos de trigo (cortado). Passamos pela região chamada Estremadura que também existe aqui e que eu já havia conhecido em Portugal. A região é quentíssima no verão e muito fria no inverno. É extrema e dura! Nesta região, também é célebre a carne do porco ibérico “Pata Negra”. Este animal anda solto, comendo as bolotas e as frutas que caem das árvores. O porco só é abatido após dois anos. Há um controle extremo do governo sobre esta raça do porco Ibérico.
“O presunto ibérico ou presunto de pata negra, é um tipo de presunto curado produzido principalmente em Espanha e Portugal, baseado no porco preto ibérico que também se designa como porco de pata negra ou porco de raça alentejana”.
Aqui continuo a admirar grandes extensões de trigo (cortado), muitas verduras, vegetais, quilômetros de oliveira carregadas de azeitonas, ovelhas, porcos. Planícies sem fim! Nesta viagem tive o privilégio de conversar com uma moça, que mora em Sevilha e nasceu em Estremadura e ela me fala de sua terra, enquanto vejo a paisagem que passa rápido com o voar do trem. Ela hoje veio para visitar a mãe. A moça me disse que antigamente Andaluzia tinha muito mais agricultura que hoje. Vejo montes e montes de pedras que são tirados dos campos e, após esta limpeza, os campos estão limpos para serem arados em uma imensidade de quilômetros e quilômetros de extensão. Amei muito esta paisagem espanhola.
Às 20 horas chegamos em Zafra. Uva, uva, a perder de vista. Terra vermelha e grandes construções. Zafra, também conhecida como Pequena Sevilha, é um município da Espanha na província de Badajoz, comunidade autônoma da Estremadura, de área 62,6 km². Às 21:15 horas, chegamos em Mérida. Como não foi possível conhecer esta célebre cidade histórica deixo aqui alguns dados.
“Mérida foi fundada em 25 a.C. por ordem do Imperador Octavio Augusto, durante a ocupação romana da capital da Lusitânia e batizada de Emerita Augusta. A ideia era transformar o local em um abrigo de soldados, mas logo o município foi urbanizado com casas, teatros, foros, templos e termas”.
Este é o Teatro Romano de Mérida
Às 22:50 horas chegamos na ferroviária em Cáceres, uma cidade da Espanha, na comunidade autônoma de Extremadura e, mesmo sem poder visitá-la deixo aqui alguns dados históricos, a partir do momento em que esteve nas mãos dos árabes.
“No século XII, devido ao avanço dos cristãos, a cidade foi fortificada com uma muralha de adobe. Esta não serviu de muito pois o rei Afonso IX, monarca do Reino de Leão, tomou a cidade anos depois a 23 de abril de 1229, dia de São Jorge, que desde então é o padroeiro da cidade. A partir desse momento, Cáceres começa a transformar-se, construindo igrejas no lugar das mesquitas e palácios cristãos sobre os palácios muçulmanos. Com algumas modificações desde o século XVIII, a cidade chega aos nossos dias quase sem alterações, sendo uma das cidades monumentais mais bem conservadas do Mundo”.
Na rodoviária precisei trocar pounds por pesetas, pois queria telefonar a Portugal para comunicar que chegaria lá às 9:30 horas. Um brasileiro chamado Artur que estava junto com um norte Americano, me emprestou 500 pesetas. Devolvi 300 pesetas após terminar o telefonema para Portugal e queria integrar o empréstimo com mais alguns pounds ingleses, mas ele não quis a moeda inglesa. Depois telefonei para a Erica e para isto troquei mais 2 pounds por 500 pesetas.
Na madrugada a ferroviária está com pouco movimento; agora estou aqui lendo e, ao mesmo tempo, apreciando o Artur dedilhando seu violão, dele tirando lindos e suaves sons.
26 de setembro – domingo
São 3 horas e eu pego o trem que vai para Lisboa, onde cheguei às 8:30 horas, mas meu relógio marca 9:30 horas. Ao chegar arrumo o relógio e vou para Parede, em Cascais. Lá arrumo minhas coisas e tomo o trem novamente, porque hoje quero visitar Lisboa e, em seguida, quero ir para Tomar, para lá, em companhia de amigos, poder descansar, alguns dias, antes de voltar ao Brasil.
De Parede eu desembarco na estação de Santos em Lisboa e vou ver o Museu denominado “Janelas Verdes” que me tinha sido indicado como um grande Museu. No caminho entrei num hotel e restaurante chamado também “Janelas Verdes”. Almoço e lá fico sabendo que esta casa, um palacete do século XVIII, era a residência de Eça de Queiroz. Esta descoberta foi, para mim, uma grande emoção! Logo Eça de Queiroz, cuja literatura eu admiro tanto! Havia recém-lido de Eça de Queiroz, o livro “Cidades e Serras”. A forma de escrever deste autor português é um encanto, além de todos os temas que ele aborda em sua literatura. Tiro foto da fachada e me alegro por mais esta delicadeza da Vida.
Em seguida vou ver o “Museu Janelas Verdes” também chamado “Museu Nacional de Arte Antiga”.
“Instalado num palácio do século XVII, propriedade dos Condes de Alvor e, posteriormente, adquirido pelo Marquês de Pombal. Foi inaugurado em 1884 com a designação de Museu Nacional de Belas-Artes e Arqueologia, sendo José de Figueiredo o seu primeiro diretor. Em 1940 foi ampliado com um anexo, que inclui a fachada principal. Este ocupou o lugar do Convento Carmelita de Santo Alberto, destruído pelo terramoto de 1755, tendo resistido apenas a capela, agora também integrada no museu. A maior coleção de pinturas de Portugal, com destaque para as obras religiosas de Artistas portugueses fazem parte deste Museu que inclui, ainda, muitas peças de escultura, prata, porcelana, cerâmicas e artes aplicadas”.
A entrada é gratuita! Visitando este maravilhoso Museu percebi que a parte relativa à cerâmica, me parece mais completa que a do Museu Nacional de Cerâmica de Valência. Gostei demais de ter conhecido este importante Museu. Ao sair daí, tomo o ônibus 28 e vou para a Estação Santa Apolônia, onde o trem para a cidade de Tomar, parte às 17:20 horas.
Cheguei a Tomar às 19:30 horas. O sol ainda estava muito alto. D. Natália estava à minha espera. Foi uma alegria o reencontro! Ela me mostra o quarto para repousar. Durmo toda a noite e todo o dia seguinte.
27 de setembro – segunda-feira
Estou deveras cansada. Só levantei para tomar banho e pintar o cabelo. À tardinha, 18:30 horas fui visitar Ana (Anita) um restaurante que fica aqui perto. Ali, um rapaz Angolano estava no bar e fez questão de me pagar um café com uma queijadinha com nozes. Os doces portugueses são ótimos. Anita, a dona do restaurante que já viveu no Brasil, gentilmente, me convidou para dar um passeio nos pontos turísticos de Tomar. Saímos às 19:30 horas, em companhia de outra Anita, que mora aqui perto. Éramos, então, três Anitas.
Tomar realmente é esplêndida e aqui deixo mais alguns dados sobre esta cidade. Percebo que preciso estudar muito para avaliar toda a história que aqui se desenrolou, a partir da presença dos Templários, o maior acontecimento da Idade Média.
“A história começa quando o Castelo Templário é construído pelos cavaleiros que voltaram de Jerusalém, na Terra Santa, depois de suas campanhas na missão de combater os chamados infiéis e da busca das relíquias que teriam pertencido a Jesus de Nazaré, como o cálice sagrado (o Graal) usado pelo Mestre, na última ceia e que teria sido guardado por José de Arimateia. Com o tempo, os templários ficaram muito ricos e independentes e aproximaram-se dos judeus e muçulmanos e passaram a ter um convívio pacífico, o que aumentou, ainda mais, o ódio dos nobres católicos e papa na época. A partir daí passaram a ser perseguidos. Muitos foram mortos na França, tendo que buscar refúgio em terras portuguesas, onde encontraram apoio, mudando também de denominação para Cavaleiros da Ordem de Cristo, transformando o antigo Castelo Templário em Convento de Cristo, mas guardando entre eles, os segredos e os códigos, como os que levariam ao Santo Graal”.
“Em 1319 nasce em Portugal, pelas mãos do Papa João XXII e a pedido do Rei D. Dinis, a nova ordem chamada Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para ela são transferidos todos os bens e privilégios da extinta Ordem dos Templários. A princípio foi instalada no Castelo de Castro Marim, mas em 1357 foi transferida para o antigo Castelo Templário em Tomar. A Ordem de Cristo tornou-se uma tentativa de refundar a Ordem Templária, a qual o papa Clemente V havia condenado à extinção. O cargo de mestre desta ordem de Cristo, passará após 1417 a ser exercido por membros da Casa Real. O primeiro foi o Infante D. Henrique ‘o Navegador’, que investiu os rendimentos da Ordem na exploração marítima. Ele também colocou o emblema da Ordem, a Cruz de Cristo, nas velas das caravelas que exploravam os mares. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, também a Ordem de Cristo foi extinta. A maior parte dos seus bens foram expropriados e vendidos em praça pública”.
Assim entendemos melhor os distintivos que usavam, nas caravelas os descobridores do Brasil. Após visitar os pontos turísticos e algumas igrejas, voltamos às 23 horas para o Residencial Avenida. Nesta noite, na pensão, também falei com Laurindo, um português do Porto que lá estava com outros hóspedes da pensão. Daniela, a neta de d. Natália, está a nos encantar a todos.
28 de setembro – terça-feira
Saí de casa e às 9 horas fui fazer pé e mão, lavei o cabelo e o escovei. Paguei por tudo, 2500 escudos. Em seguida me dirigi ao centro de Tomar, percorri e conheci as ruas do comércio na cidade antiga. As ruas são estreitíssimas e há muitos vasos de flores nas paredes externas e nas janelas. As lojas são de boa qualidade e as atendentes muito simpáticas. Visitei também a Sinagoga Judaica que muito me impressionou. Esta sinagoga foi construída entre 1430 e 1460 por ordem do Infante D. Henrique.
Lá fiz algumas fotos e observei suas características. Mas antes desejo deixar aqui, um pouco da história dos judeus em Tomar e desta sinagoga medieval, a mais preservada de todo o Portugal. A história é longa!
“Com a expulsão dos judeus de Espanha em 1492, por ordem dos reis católicos Fernando e Izabel, a cidade de Tomar que tinha uma boa sinagoga acolheu grande número de artesãos, profissionais e mercadores refugiados. A muito significativa população judaica deu novo ímpeto à cidade, com a sua experiência nas profissões e no comércio. Estes foram vitais para o bom êxito da abertura das novas rotas comerciais em África na época dos Descobrimentos. Depois do estabelecimento de um Tribunal da Inquisição na cidade, iniciou-se a perseguição dos cristãos-novos, que chegou a um máximo por volta de 1550. Muitos conseguiram fugir para a Holanda, Império Otomano ou Inglaterra. Muitos destes judeus, foram presos, torturados e executados em Autos-de-Fé. Muitos mais foram expropriados pois como os bens expropriados revertiam para a própria Inquisição, a esta bastava apenas uma denúncia anônima e a ascendência judaica para expropriar qualquer rico mercador, fosse este criptojudeu ou não. (O termo criptojudeu se refere aos judeus que praticavam sua fé e seus costumes em segredo, por receio de perseguições religiosas, ao mesmo tempo que publicamente praticam outra religião). Com os distúrbios econômicos que esta perseguição fanática provocou, a cidade perdeu grande parte do seu dinamismo econômico”.
“Esta sinagoga foi utilizada como tal por alguns anos, desde que um mandato promulgado por Manuel I, que em 1496, forçou os judeus a converterem-se ou deixarem a cidade. A maioria optou pela segunda opção. Posteriormente, o edifício foi usado como prisão, capela, e armazém, até que, em 1921, foi classificado como monumento nacional, em parte graças aos esforços de Luís Vasco, que provem de uma das duas famílias judias que ainda viviam em Tomar. Este simples e pequeno edifício, de forma quadrangular e com abóbadas suportadas por quatro colunas, foi restaurado para recuperar a sua aparência no século XV”.
Ao entrar na sinagoga a funcionária Ana me explica tudo. Gostei demais de ter feito esta visita e de poder ver aqui, retratada tanta história! Observei muitas coisas e entre as que mais me chamam a atenção, estão os documentos da época da inquisição, a sala dos banhos da purificação das mulheres e o sistema do som. Este sistema de som vale a pena conhecer!
A antiga Sinagoga do séc. XV, hoje tem o nome de Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto, dedicado ao distinto astrônomo e matemático quatrocentista. Situado na antiga Rua da Judiaria tem uma valiosa coleção documental e epigráfica. “De notar os buracos que se veem em cada canto e que indicam a colocação de bilhas de barro na parede para aumentar as condições acústicas do espaço”.
Aí perto desejo trocar uma nota de 100 dólares, mas não consigo. Às 13 horas chego no restaurante de d. Anita para comer “bacalhau ao molho do pipo”. Gostoso de morrer!!!
Após o lauto almoço, D. Anita do restaurante me convida para conhecer a Barragem Castelo do Bode e a Ilha do Sonho.
A Barragem do Bode, entre muitas outras, é uma das mais importantes barragens portuguesas. Situa-se nos limites dos concelhos de Tomar e Abrantes no distrito de Santarém. A construção da barragem iniciou-se em 1945 e foi dada por terminada em 1951.
“A 13 km de Tomar, a Barragem de Castelo de Bode é um local que merece ser visitado, por sua beleza e variedade de atividades que proporciona. Sua grande dimensão permite o abastecimento de água à cidade de Lisboa. Esta é uma zona muito visitada por pessoas que procuram um retiro na natureza. O lago formado pela barragem é muito utilizado para a prática de windsurfe, vela, remo, pesca desportiva, entre outras atividades”.
Foi um lindo passeio a convite de d. Anita, a quem sou muito grata.
Depois fomos conhecer o turismo rural. Foi muito lindo este passeio. Experimentei as “medronhas”, uma fruta gostosíssima! Fazem aguardente com ela.
Voltei a Tomar às 16:30 e logo saí para comprar 2 buquês de flores: 3 rosas da cor rosa para d. Natália e 3 rosas a cor amarela para d. Anita. Voltei com as flores às 18 horas e d. Natália gostou muito das rosas que lhe dei. Fui então entregar as rosas para d. Anita que estava no restaurante, com a mãe e que também gostou muito. A mãe estava muito triste, de olhos sombrios. Com o andar da conversa, foi se transformando em outra mulher. Falamos bastante no bar onde também estava uma portuguesa, que não deixava nenhum espaço na conversa. Então ofereci-me para levar a mãe de d. Anita para casa. Fui até a rotunda e voltei. Ela ficou contente. Na volta, ao Residencial Avenida, fomos à sala da televisão e lá estavam d. Natália, a família e pequena Daniela, a criança maravilha.
Havia lá os hóspedes do Residencial, com quem sempre conversávamos num ambiente muito familiar. Dei meu endereço para o senhor Laurindo de Vila Nova de Gaia e ele me deu o dele e de sua esposa, d. Bianca. Disse para ele que amanhã eu iria para Constância. Ele me disse que iria, às 7 horas, para Constância e me ofereceu carona. Agradeci e aceitei. Fui descansar.
29 de setembro – quarta-feira
De manhã cedo, às 7:15 horas, ainda no escuro, parti com sr. Laurindo e um ajudante para a histórica Constância, onde cheguei às 8 horas, quando o dia estava clareando e ainda havia muita neblina. Despedi-me do sr. Laurindo, agradecendo a ótima carona e companhia. Constância foi uma visão inesquecível de muita beleza estética e singularidade. Não havia levado a máquina fotográfica o que me deu pena.
Havia muitos fragrantes que eu queria ter guardado em fotos. Esta cidadezinha maravilhosa serviu, entre outras coisas para acolher Camões, quando ele, por ter se apaixonado por uma dama da nobreza, ficou aqui desterrado. Nos dois anos que Camões permaneceu em Constância, em 1546 ou 1547 ele escreveu as poesias, as mais lindas sobre o amor.
Lá no alto estava a igreja. Olhei extasiada a cidade e fui subindo até chegar a um bar, na metade da ladeira, onde fui tomar café. O dia ainda não estava bem claro. Logo foram chegando os habituais frequentadores do bar e eu observava suas conversas.
Um homem sentou na minha mesa e com ele comecei a falar sobre Constância. Em seguida subi até o alto da cidade, onde fica a Igreja. De lá se descortina uma bela paisagem. Havia muitas plantas carregadas de azeitonas e na emoção deste momento, tirei um galhinho com duas azeitonas, para trazer esta lembrança para o Brasil.
Em seguida desci e fui conhecer a praça da cidade. Lá havia uma pequena feira, onde estava se desenrolando uma cena patética. Uma senhora aos prantos gritava dizendo para quem quisesse ouvir, que lhe haviam dito que o marido dela era corno! Eu não acreditava no que estava vendo! As mulheres ao redor dela a consolavam. Ao redor da praça ficavam as casas e todos poderiam ouvir o que se falasse na praça. E tudo acontecia aos gritos e ia se prolongando, parecendo que não teria fim! Parecia que ninguém queria que acabasse, mesmo a mulher ofendida.
Andei um pouco pela cidade conhecendo suas ruas, praças, casas e igrejas. Comprei uvas e outras frutas e, em seguida fui ver o local de informações turísticas. Lá havia uma exposição de arte. Conversei com as funcionárias sobre Constância e sobre Camões. Elas queriam ouvir algo sobre o Brasil e aí falei para elas sobre a mais bela ilha do Atlântico Sul, a linda Florianópolis.
Neste local, entre muita história, pude ler as lindíssimas e emocionantes poesias de Camões sobre o Amor. Uma dessas deixo aqui:
Luís de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem-querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
De posse de muito material decidi passar pela praça onde está a estátua de Camões em bronze. Lá ele aparece elegantemente sentado. Em seguida fui visitar o local onde viveu Camões e onde seria construído um memorial a este grande poeta português. Após fui visitar o Museu de Constância, o Museu do Mar. Muito interessante!
Às 15 horas pego ônibus que me leva de volta a Tomar. No caminho belas paisagens! Descanso e de noite d. Natália me convida para jantar. Como sobremesa foi servido o melão que eu tinha comprado quando fui com d. Anita do restaurante, conhecer um pouco das terras de Tomar. D. Natália, me oferece uma foto da pequena Daniela, sentada na cadeira, o assim escreve:
“Um grande beijinho, muito carinhoso, da pequena Daniela Marques Gonçalves”.
Em tempo de Internet, por este nome poderei me encontrar, novamente, com esta amável família. Antes de sair do Residencial onde passei momentos tão amorosos, fizemos fotos, com a família e com a querida criança maravilha, Daniela. Ainda hoje sinto as saudades que a companhia desta amorosa família me deixou!
Despedi-me agradecida deste querido núcleo familiar e, no dia seguinte às 6 horas, parti de trem para Lisboa. A estada em Tomar foi muito proveitosa, tanto por aquilo que conheci como por aquilo que vivi e recebi de carinho.
Hoje, dia 28 de junho de 2020, estando trabalhando neste relatório para publicá-lo em breve, telefonei para Tomar, tentando falar com d. Natália. Eu já lhe tinha escrito uma carta e cartões e estes tinham voltado. Falando com o atual dono do Residencial Avenida, sr. Antonio Pires, por ele soube que Dona Natália, se mudou e já não dirige mais este Residencial desde 2003. Ele muito atencioso, me diz que poderá ver, se ainda consegue saber onde mora D. Natália, sua família e sua neta, Daniela. Fiquei muito feliz, com esta delicadeza do sr. Antonio e com a possibilidade de talvez um dia poder me comunicar com a família de Dona Natalia.
Nunca vou esquecer os bons dias que lá passei com esta família e seus amigos!
30 de setembro – quinta-feira
Cheguei às 9 horas a Lisboa e, em Parede, na casa do prof. Fritz arrumei as malas. Ao meio dia tinha sido convidada para um almoço. Agradeci ao professor todo o apoio dele recebido, peguei o ônibus e fui à Lisboa e depois ao aeroporto.
De Lisboa fui a Madrid e lá na estação encontrei Ana Bela, uma amiga artista que mora em Florianópolis, no bairro de Ingleses. Já adquiri quadros dela e de seu marido, quadros estes que hoje estão enfeitando meu apartamento.
Adorei esta boa companhia! Conversamos bastante durante a viagem, que foi ótima! De Madri para São Paulo e de São Paulo para Florianópolis foi uma viagem excelente! Muito feliz de ter chegado e estar finalmente na minha casa, depois de ter feito esta maravilhosa incursão pela Europa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Recordar é viver!
Que posso dizer desta inesquecível, maravilhosa, instrutiva e linda viagem a este países e diferentes regiões da Europa? Como posso esquecer tantos belos lugares históricos que conheci durante esta viagem? Tanta história que recordei e aprendi? E tantas ocasiões de doce convivência, realmente humana em Portugal, Espanha, Inglaterra, Escócia, Riviera Francesa e Itália!
Sei que posso recordar sempre esta viagem, com a mesma primeira emoção! Foi muito aprendizado! Gratidão a tantas pessoas que encontrei e que me receberam com carinho e amizade e que, ainda hoje os recordo com muita saudade!
Graças à Vida!
Anita Moser
Florianópolis, 7 de julho de 2020
Um comentário
JAIME JOSÉ SALVON
Quero expressar minha alegria e gratidão por poder acessar essa página maravilhosa: ”Viagens de Anita˜.
Percorrer esse espaço gerou em mim, uma sensação incrível de estar literalmente viajando com Anita nos quatro cantos do mundo e nos muitos lugares do Brasil.
Anita tem um talento genuíno para descrever com maestria cada uma de suas experiências. Ou seja, se trata de uma aventura… Cada lugar que acessei, ficou na memória como se eu estivesse assistido um filme.
Além de percorrer as viagens, você terá uma verdadeira aula de cultura, arte, costumes, gastronomia etc.
Esse fato resultou em grande interesse de conhecer lugares que talvez eu não iria; me fez despertar a vontade de retornar em regiões que havia passado e que, talvez não voltaria.
Fica a dica para você ler, saborear e se deixar levar em cada aventura, perceberá ao final que novos sonhos lhe serão despertados..
Gratidão a essa fabulosa mulher que está sempre se reinventando e indo além de suas fronteiras!