América do Sul,  Brasil

Viagem às Cidades Históricas de Minas Gerais

Viagem às cidades históricas de Minas Gerais

19 a 27 de maio de 2011

       Nesta viagem às cidades históricas no estado de Minas Gerais, programada pelo SESC, com apenas 8 dias de duração, tivemos oportunidade de conhecer incríveis lugares seguindo este interessante itinerário pré-estabelecido: no dia 19 de maio, quinta feira, saída de Florianópolis às 22h no terminal da cidade, rumo à histórica São João Del Rey, aonde chegamos dia 20 de maio, sexta-feira, às 18h. Nessa cidade ficamos dia 21 de maio, sábado, partindo, à tarde para Tiradentes, retornando a São João Del Rey às 18h, com noite livre. No dia 22 de maio, domingo, às 8 da manhã, partimos para a cidade de Congonhas, de onde seguimos para a histórica Ouro Preto, onde nos hospedamos no hotel do SESC. Lá permanecemos até o dia 23 de maio, segunda feira, às 8h da manhã, quando saímos para a cidade de Mariana. Às 14h saímos de Mariana para Ouro Preto, com city tour pelos principais pontos turísticos da cidade. No dia 24 de maio, terça-feira, às 8h partimos para Belo Horizonte e nos hospedamos no Hotel FrimaS, na Avenida do Contorno. Dia 25, quarta-feira, saímos de Belo Horizonte para Brumadinho, onde visitamos o Museu Inhotim, um complexo de museu de arte contemporânea e Jardim Botânico. Voltamos para Belo Horizonte, de lá partindo às 8h do dia 26 de maio, quinta-feira, para Sete Lagoas, onde visitamos a Gruta Rei do Mato, e após a visita, almoçamos no restaurante Fazenda Engenho. Às 13h partimos para São Paulo, onde pernoitamos no San Juan Business Hotel. Na sexta-feira, dia 27, às 8h, fomos ao Mercado Público, na Rua 25 de Março. Às 13h partimos para Florianópolis, chegando às 24h.

       Antes de iniciar as necessárias reflexões que servem de pano de fundo para o entendimento do que vamos ver, cabe aqui um esclarecimento: este relato não só dá atenção aos mapas das estradas, porque eu gosto de me familiarizar com a geografia do Brasil, mas também por algo que me chamou a atenção. Surpreendeu-me o grande número de pedágios nas rodovias brasileiras. Por esta razão, se de um lado fiz questão de marcar o horário em que passamos pelos pedágios em determinada rodovia, por outro, pesquisando na Internet, vejo que há movimentos contra seus altos preços.

       Para que uma excursão tenha sucesso, percebo que o preparo das guias é fundamental. Nossa excelente guia Neuma, em Minas Gerais, afirmou: a História tem os detetives que são os historiadores. A gente monta um quebra-cabeças, mas sempre tem uma pedrinha que falta. Mas a história é dinâmica e está sempre sendo reescrita. E pude comprovar o que a guia nos disse durante as explicações que recebemos nesta excursão. Nelma nos lembrou, por exemplo, que no século XVI, a colonização portuguesa estava só no litoral; a interiorização do Brasil se iniciaria somente no século XVIII, com a descoberta e procura de ouro e pedras preciosas, abundantes no interior do território. Esse fato atraiu multidões de todos os cantos, do país e do exterior, para o trabalho nas minas. Podemos imaginar o grande movimento populacional que fez surgir as povoações chamadas arraiais, transformados depois em vilas e por fim, a partir destas, o surgimento das primeiras cidades brasileiras, no interior do Brasil. Tudo isso trouxe imensas riquezas para muitas pessoas, especialmente para o reino de Portugal, nosso descobridor e colonizador, que carreava para a sua sede verdadeiras fortunas em minerais extraídos na colônia. A injustiça com os brasileiros na exploração das nossas riquezas era tão absurda que estimulou o contrabando de ouro em pó e pedras preciosas dentro de estátuas de santos. Essa prática deu origem à expressão santo do pau oco, para dizer que alguém não é bem o que aparenta, que esconde alguma intenção duvidosa.

       Além desse acontecimento histórico do grande deslocamento populacional para o interior brasileiro, temos uma percepção interessante, ao visitar as cidades históricas de Minas, pois conhecê-las é, acima de tudo, conhecer suas múltiplas e maravilhosas igrejas, no estilo Barroco e Rococó, originalmente surgido na Europa após o Renascimento.

“O movimento artístico denominado Barroco surgiu no século XVI, como uma reação à estética classicista do Renascimento que era baseada na simetria da proporcionalidade e da contenção, racionalidade e equilíbrio formal. Nas artes, o Barroco primou sua estética na assimetria, no excesso, no expressivo e na dissolução dos limites das formas, tanto que o próprio termo barroco pode ser definido como uma pérola de formato irregular”.

       Pergunta-se: qual a origem desse processo pelo qual a arte barroca, existente na Europa, foi utilizada, tão largamente, aqui no Brasil? A resposta vamos encontrá-la em fatos históricos, acontecidos no início do século XVI, na Europa: na Contrarreforma da Igreja Católica Romana contra a Reforma Protestante. Realizado de 1545 a 1563, o Concílio de Trento desempenhou importante papel divulgador, muito significativo para orientar a utilização dessa nova arte barroca trazida para o Brasil com os grandes descobrimentos das monarquias absolutistas católicas de Portugal e da Espanha.

       O texto a seguir ajuda a compreender a validação da arte Barroca pela Igreja Católica da Contrarreforma, considerando-a a mais adequada para a comunicação do fiel com Deus, contrapondo-se à orientação dos protestantes.

A Contra-Reforma deu uma atenção redobrada à imaginária sacra, seguindo antiga tradição que afirmava que as imagens de santos, pintadas ou esculpidas, eram intermediários para a comunicação dos homens com as esferas espirituais. São João da Cruz afirmava que havia uma relação recíproca entre Deus e os fiéis que era mediada pelas imagens. E vários outros religiosos católicos, como São Carlos Borromeu e Roberto Bellarmino reiteraram sua importância no culto. O valor das imagens havia sido negado pelos protestantes, o que desencadeou grandes movimentos iconoclastas em várias regiões protestantes que provocaram a destruição de incontáveis obras de arte. A imaginária sacra, então, voltou a ser vista como elemento central no culto católico, que fazia parte de um conjunto de instrumentos usados pela Igreja para invocar emoções específicas nos fiéis e levá-los à meditação espiritual”.

O barroco em Minas Gerais

       Dentre os artistas do Barroco e do Rococó, em Minas Gerais reverencia-se o grande artista autodidata Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que ali viveu quando o ouro, sempre abundante, já estava escasseando. A explicação para o caráter sui generis da formação dos artistas mineiros é a seguinte: enquanto no Brasil do litoral essa arte foi chamada de Barroco Litorâneo ou Jesuítico e recebeu muita influência da Europa, pois de lá vieram artistas, ensino, materiais e muitas obras importadas, Minas Gerais, situada a muitos dias de viagem do litoral e só colonizada a partir de 1700, com a descoberta do ouro, foi separada do exterior por iniciativa de Portugal, através de grande controle sobre a nova riqueza descoberta. No sertão do ouro não podia haver nada importado, fosse arte, ensino ou materiais. Numa organização social regida pelas irmandades, que refletiam os diversos estratos sociais, cada qual construindo e frequentando suas próprias igrejas, em Minas Gerais os artistas foram obrigados a ser autodidatas. Proibidos pela Corte Portuguesa de receber qualquer influência externa, as escolas e os artistas tiveram influências regionais e aprenderam a arte com seus pais, usando os materiais disponíveis, como o cedro e a pedra sabão, por exemplo.

       Portugal tomou diversas decisões para que o ouro não fosse desviado para países europeus. Em primeiro lugar, impediu que colônias de imigrantes europeus se estabelecessem em Minas Gerais. A Coroa Portuguesa proibiu também que ordens religiosas (monges e monjas) ali se instalassem, para que o ouro e as pedras preciosas não fossem parar em Roma. Por esse motivo, aqui só existiu a Ordem Terceira e as irmandades que tinham regras de organização de acordo com sua classe social. Essas irmandades construíam cada qual sua igreja e recebiam o dízimo. O membro de uma Irmandade não frequentava a igreja do outro e sentia segurança dentro de sua organização. Havia Irmandade de ricos e brancos e negros escravos. E aqui podemos afirmar que, se cada época tem seu símbolo de status, naquele tempo, o status provinha de pertencer a uma irmandade poderosa. Quanto ao processo de construção de capelas e igrejas nos sertões de Minas, há um estudo de Lúcio Costa e Mário de Andrade, que, após a semana de arte moderna de 1922, estudaram o Barroco e o dividiram em três fases, com se descreve a seguir.

1ª fase: os bandeirantes, no processo da procura do ouro, nunca pensaram em ficar aqui. Por isso só construíram casebres perto dos rios. Fizeram as capelas simples, sem torres, pois iam retornar para São Paulo. Exceções: Igreja Nossa Senhora do Ó de Sabará e Igreja Padre Faria de Ouro Preto. Quando os paulistas perceberam que o ouro não iria acabar, aí mudou a relação deles com a cidade.

2ª fase: chegam os familiares dos bandeirantes. Estrutura das vilas, inchaço da população e aí derrubam-se as capelas e se constroem as igrejas. As Igrejas da segunda fase têm ouro em seu interior, enquanto o exterior é simples. Os modernistas entenderam que o barroco, nessa época, se torna rococó, que vem de rocaille, concha em francês. O Impacto dessas igrejas para os analfabetos era grande, devido à catequese que recebiam dos religiosos.

3ª fase: decadência do ouro no século XVIII. Aí aparece a pedra sabão para substituir o ouro. Aleijadinho vive no período da decadência do ouro. A ordem a partir de então é trabalhar a parte externa: torres arredondadas e esculturas em pedra sabão. O Rococó é uma volta à simplicidade das formas trabalhadas por fora. O maior artista do Barroco e do Rococó foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, (1730-1814), que nasceu e morreu em Ouro Preto. O artista, que recebeu esse apelido por ter defeitos nas mãos, nasceu bastardo e escravo, filho natural do arquiteto português Manoel Francisco Lisboa e de uma de suas escravas africanas.

“A obra de Aleijadinho, entre talha, projetos arquitetônicos, relevos e estatuária, foi realizada em Minas Gerais, especialmente nas cidades de Ouro Preto, Sabará, São João Del-Rey e Congonhas. Os principais monumentos que contêm suas obras são a Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Com um estilo relacionado ao Barroco e ao Rococó, é considerado pela crítica brasileira quase em consenso como o maior expoente da arte colonial no Brasil e, ultrapassando as fronteiras brasileiras, para alguns estudiosos estrangeiros é o maior nome do Barroco americano, merecendo um lugar destacado na história da arte do ocidente”.

       Esta excursão às cidades históricas contemplou outros locais interessantes e imperdíveis, como podemos ver desde o início, no plano de viagem. Após estas informções, começaremos a apresentar como se desenrolou nossa excursão e as aprendizagens que ela ensejou. Se, como diz o sábio, cada olhar em nova paisagem pode ser um momento de felicidade, podemos imaginar quanta felicidade tivemos nesta maravilhosa excursão.

       De outro lado concordamos com nossa guia Nelma, que disse: a História tem os detetives que são os historiadores. A gente monta um quebra-cabeças, mas sempre tem uma pedrinha que falta. Mas, a história é dinâmica e está sempre sendo reescrita. E foi assim que, ao longo desta pesquisa, percebi as aprendizagens que tive sobre esta parte importante do território de nosso Brasil.

Viagem de 19 a 27 de maio de 2011

       No dia 19 de maio às 22h, com um especial ônibus leito, que permite ao passageiro deitar como numa cama, partimos do terminal da cidade, no centro de Florianópolis. Estou confortavelmente acomodada, como nunca estive, em nenhum ônibus, na poltrona de número 3, com ampla visão do caminho à minha frente. Já no continente, em Campinas, vizinho município de São José, entraram mais algumas pessoas. E mais alguns passageiros vieram em seguida, no bairro de Barreiros, também em São José. Agora a lotação está completa: 26 passageiros. Nossos motoristas se apresentam. O primeiro, Maurício, dá importantes informações, como: colocar sempre o cinto de segurança, pelo qual o motorista será cobrado, caso sejamos flagrados por fiscalização da Polícia Rodoviária Federal.

       Fomos informados sobre o uso do banheiro e que teremos, a cada 2 ou 3 horas, uma parada técnica. E ainda sobre a questão dos travesseiros e das cobertas. Avisa que no ônibus há café, leite, chá, água, refrigerante à disposição de todos, o tempo todo. E também que acima da poltrona há botões para controlar luz, som e ar condicionado. Vilmar, o outro motorista, também já nosso conhecido, dá as boas-vindas aos passageiros. O ônibus, da empresa J.Jê, tem poltronas muito cômodas e há espaço confortável entre elas. Partimos, afinal! Gotículas de chuva começam a embaçar o vidro do imenso para-brisa. Sinto invadir-me uma sensação muito boa de relaxamento!

       Vera, a guia turística, nossa conhecida de outras excursões, se apresenta e nos convida a sermos receptivos à felicidade e às coisas boas da vida. Respirem fundo! convida, para relaxarmos. Com ela rezamos a sempre bela e profunda oração do Pai Nosso colocando-nos nas mãos de Deus, neste início de viagem. Em seguida Vera leu, para nossa reflexão, o lindo texto que segue.

O suficiente para você

A mãe diz para a filha:

– Eu a amo. Desejo o suficiente para você.

– Posso saber o que isto quer dizer? pergunta a filha. E a mãe responde:

– Quando digo desejo o suficiente para você, estou desejando uma vida cheia de coisas boas o suficiente para que você se ampare nelas. Desejo a você o sol suficiente para que continue a ter esta atitude radiante. Desejo a você chuva suficiente para que possa apreciar mais o sol. Desejo a você felicidade suficiente para que mantenha o seu espírito alegre. Desejo a você dor suficiente para que as mesmas alegrias da vida pareçam muito maiores. Desejo a você que ganhe o suficiente para satisfazer os seus desejos materiais. Desejo a você perdas suficientes para apreciar tudo o que possui. Desejo a você alôs em número suficiente para que chegue ao adeus final. Arrume tempo para você. Eu desejo o suficiente para você.

       Em seguida, em nome do turismo JJê., Vera distribuiu um bombom de chocolate com uma mensagem para os viajantes. Somos também informados de que o percurso de ida será de 1.200 km até chegarmos, no dia seguinte, a São João Del Rey (MG). A primeira parada é no restaurante Sinuelo, perto de Joinville. Foi servido café com leite e também um pacote de batatas fritas e um chocolate. Às 23h10min começa a apresentação de cada excursionista. Uma chuva muito grossa embala o nosso descanso. Em 20 minutos chegamos ao restaurante Sinuelo, onde saboreei um gostoso suco de açaí com limão. Às 24h45min estamos novamente partindo e fechamos todas as cortinas das janelas por orientação dos motoristas. A viagem segue. Vera me traz um cobertor. Estou otimamente acomodada. Agora é só voltar a dormir. Às 5h20min chegamos a Registro onde fizemos uma pequena parada técnica e às 6h30min mais uma parada para tomar o café da manhã no restaurante O fazendeiro. No café conversei com as colegas de excursão Yeda Petry e Ivonete Alves. As 7h30min partimos, fazendo movimentos de alongamento com as mãos, pulsos, braços e pés, devidamente orientados pela guia. Essa simples prática é importantíssima para quem fica tantas horas imóvel, dentro de um ônibus, pois melhora a circulação e evita trombose.

       Estamos na Autopista Régis Bittencourt, que liga Curitiba a São Paulo. A rodovia leva o nome do engenheiro civil Edmundo Régis Bittencourt, que foi presidente da Associação Rodoviária do Brasil (ARB) na década de 40 e alguns anos da década de 50. Como um dos gestores do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), participou da construção da rodovia São Paulo-Paraná, que vemos no mapa a seguir.

       Às 7h45min passamos pelo segundo pedágio. Agora faço uma conversa bem longa com Gladys, minha vizinha de poltrona. Ela e o marido, Eduardo, também têm o privilégio de sentar na primeira fileira de poltronas do ônibus. Às 8h30min passamos por marcos cujas setas apontam as cidades de Jequitibá e São Lourenço. Às 8h49min outro pedágio e mais um pedágio às 9h26min. Passamos em frente ao restaurante Rei da Pamonha e às 9h33min, entramos na marginal do Tietê. O trânsito flui normalmente. O céu de brigadeiro é ainda mais iluminado por um sol especialmente brilhante. São 10h21min e estamos no coração do planalto paulista, região geográfica localizada entre a Serra do Mar e a cidade de Campinas, a cerca de 770 metros acima do nível do mar. Aqui não vemos montanhas! Agora vamos percorrer a BR 381, chamada de Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, como se vê no mapa abaixo. Essa rodovia é muito bem servida de bons restaurantes.

“A história da rodovia BR-381 começa na época em que grupos de conquistadores percorriam o território brasileiro em busca de riquezas. Foi o bandeirante Fernão Dias, que esteve nos sertões de Minas Gerais e de São Paulo a procura de esmeraldas, o responsável pela abertura do caminho que provocou o surgimento da hoje conhecida Rodovia Fernão Dias. A sua inauguração, nos fins dos anos 50, pelo presidente Juscelino Kubitscheck, assinalou o início de uma trajetória que a transformou numa das mais importantes estradas brasileiras.”

       Às 11h, após atravessar o estado de São Paulo, passamos pela divisa de Minas Gerais, numa região onde existe uma cidade com nome estranho: Extrema. Almoçamos no restaurante Leitão Pururuca, o mais tradicional restaurante de culinária mineira da região. Almocei em companhia de Vilmar e Marli, meus amigos de poltrona e vizinhos de condomínio, em Florianópolis. A sobremesa foi arroz doce e doce de leite; na nossa opinião, o melhor doce de leite de toda a viagem. Especialíssimo! O nome Extrema me chamou a atenção e, como costumo fazer sempre quando tenho uma dúvida, perguntei a um funcionário o porquê do estranho nome. Ninguém soube me responder. Mas, já em casa, uma pequena pesquisa me revelou dados interessantes sobre a cidade assinalada no mapa.

       Extrema (MG), situada a 935 metros de altitude na imponente Serra da Mantiqueira, é a cidade mais ao sul de Minas Gerais, que completou 107 anos de emancipação política em 2008. A cidade de Extrema tem suas raízes como porta de entrada dos bandeirantes paulistas em direção às Minas Gerais. Assim, a origem do município é bem mais antiga, podendo chegar a 330 anos de existência como localidade conhecida, anterior às famosas cidades históricas do Período Barroco de Minas. Muito bom saber desses detalhes históricos da cidade.

       Saímos do restaurante Leitão Pururuca às 12h15min. Vera colocou um CD com músicas Chão de estrelas, Solamente una vez e outras das antigas, que nos acompanham pelo caminho de campos, bosques e encostas escarpadas destas lindas paisagens, onde cada visão é um deslumbramento. Sensação de liberdade acompanhada de muita alegria pelas expectativas que se renovam a cada cidade, a cada lugarejo. Às 14h10min passamos por mais um restaurante Comida no fogão de lenha. Continua sempre uma linda paisagem. Aí, emocionada, compreendi as palavras da tradicional canção mineira: Ó Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais… Na BR 381, a Fernão Dias, aparecem indicações de diferentes cidades: Caxambu, Monsenhor Paulo, Três Corações, Juiz de Fora, Varginha, Três Pontes etc. Lembro que Três Corações é a cidade onde nasceu Pelé e que quem nasce lá é tricordiano. Portanto, o brasileiro Edson Arantes do Nascimento, filho do seu Dondinho e da dona Celeste, que se tornaria o maior jogador de futebol de todos os tempos, é tricordiano.

       Passando das 14h encontramos mais um restaurante: O Rei da Traíra. Às 15h, o quinto pedágio. Estou contando as praças de pedágio porque acho seu número exagerado e todos muito caros. No interior do ônibus, jogamos bingo. Os pequenos e grandes prêmios que o SESC mandou eram recebidos com alegria por aqueles que conseguiam preencher as linhas ou as colunas da cartela do bingo.

       Mais placas indicam outras cidades por perto: Nepomuceno, Lavras, Oliveira, Perdões e outras. Às 15h20min fizemos uma rápida parada no restaurante Graal de Perdões, de apenas meia hora. Aqui deixo algumas informações coletadas na internet sobre o nome do Município de Perdões.

Como surgiu o nome Perdões?

“A capela de Bom Jesus dos Perdões, ao redor da qual se formou o arraial dos Perdões, foi edificada por iniciativa do alferes português Romão Fagundes do Amaral e de Rubens Airão, na época da colonização, no séc. XVIII. Conta a tradição que Romão Fagundes, fugitivo da justiça, ofereceu a D. Maria I, em troca do seu perdão, um cacho de bananas todo em ouro maciço, originando-se, desse fato, a denominação de Perdões. Em 1802 o arraial de Bom Jesus dos Perdões figurava entre o termo da Vila de São José, sendo elevado à categoria de freguesia em 1855, com o nome reduzido para Perdões. Em 1911, desmembrando-se de Lavras, passou a município. Inspirando poetas e compositores, Perdões, situada entre vales e colinas, é conhecida como a cidade da amizade.”

       Durante o breve lanche sentei-me à mesa com Élio e falamos sobre vinhos. Diz ele que são poucos os vinhos que podem envelhecer, e que os melhores vinhos são os chilenos e argentinos. E termina com esta frase lapidar que guardei para aplicar oportunamente: O vinho de seu gosto a gente guarda na memória e não no armário. Agora tomamos a BR-365, que está sendo duplicada, mas faltando concluir uma parte. Às 16h15min passamos por Lavras, cidade da Universidade Federal de Lavras, com ótima pesquisa sobre o leite. Vera nos informa que São Bonifácio, em Santa Catarina, está em contato com esta pesquisa. Bom saber! Que venham conhecimentos para o nosso campo, já de rica tradição, tanto na agricultura como na pecuária.

       Estamos nos dirigindo para São João Del Rey. São 17h15min e o sol está se pondo. A neblina cobre tudo. O tempo passa rápido, e já são 17h40. Anoiteceu! Chegamos ao Hotel Solara às 18h54min, quando já era noite escura!

       Na chegada, encantei-me com o estilo deste hotel: Art Nouveau com colonial mineiro. Todos se animaram a fotografar a bela arquitetura! É um hotel com ótima localização, no centro histórico da cidade de São João Del Rey. Minha companheira de quarto é Gilka. A proximidade do quarto com o barulho da rua nos levou a solicitar troca de aposentos por um mais silencioso. Conseguimos um ótimo: sem barulho e de melhor categoria do que o anterior. Agradecidas fizemos a mudança na manhã seguinte. Nesse dia visitaremos, a pé, muitas ladeiras, prédios e construções históricas, muitas igrejas maravilhosas, verdadeiras joias de beleza sem par, nesta cidade de São João Del Rey, com a guia local. Estas igrejas nos falam de tempos em que pertencer a uma Irmandade definia o status, e construir sua própria igreja era o que se esperava dos elementos dessa estrutura social. Quanto mais poderosa a Irmandade, maior era o status social. Isto nos áureos tempos do ouro, tempos de escravidão e também nos tempos não tão áureos, quando o ouro já ia escasseando.       

      Aqui no mapa à esquerda podemos ver a localização de São João Del Rey em relação à cidade de Belo Horizonte; também podemos localizar as cidades de Ouro Preto e Mariana. Na internet pesquiso sobre a cidade São João Del Rey e vejo algumas informações interessantes sobre a história da cidade e sobre lugares que vamos visitar.

            Localizada na região do Campo das Vertentes, São João Del-Rey é uma das maiores cidades setecentistas mineiras. Foi fundada por bandeirantes paulistas; considera-se Tomé Portes del-Rei como seu fundador. Atualmente, há muito que ver em São João Del Rey, onde o estilo da maioria das igrejas obedeceu ao que se denomina barroco mineiro, onde se salienta a opulência dos altares dourados e a profusão de detalhes arquitetônicos e ornamentais.

Dia 21 de maio de 2011 – sábado

       Após agradável convívio no café da manhã, muito bom, antes de partir para o city tour, a excursão fez uma foto, diante de nosso bonito hotel de dois andares.

       Fomos então apresentados à nossa guia local, Neuma, com mestrado em história e em turismo, e que nos brindou, a todo o momento, com explicações históricas atualizadas e bem fundamentadas, o que nos deixava muito contentes com sua competência e fácil comunicação. Convém repetir que o guia é fundamental para que a excursão seja bem aproveitada. Uma das cidades históricas de Minas Gerais que teve muita importância na época do ciclo do ouro, São João Del Rey, com suas 35 igrejas e muitos monumentos históricos, é parte obrigatória de qualquer programa turístico nessa cidade.

       Começamos a conhecer, a pé, a cidade mais tradicional em termos religiosos, fazendo a primeira visita à igreja do Rosário, uma das igrejas mais antigas de São João Del Rey. Suas obras foram iniciadas em 1708, pela Irmandade do Rosário, quando a localidade, que ainda não tinha sido elevada à categoria de vila, já atraia muitos mineradores e comerciantes. Concluída em 1719, recebeu remodelações em 1753. As duas torres atuais foram construídas entre 1930 e 1940.

       Em frente à igreja Nossa Senhora do Rosário, num pedestal, a Gladys e eu fizemos esta foto. Também visitamos a estação ferroviária, cuja estrada de ferro teve muita história e muita serventia no passado e, ainda hoje, tem sua importância para o turismo. Os passeios com a Maria Fumaça podem ser feitos em diversos dias na semana. No museu ferroviário, digno de ser visitado, pode-se ver, entre outras coisas interessantíssimas, a primeira locomotiva que fez a viagem inaugural da Estrada de Ferro Oeste de Minas, no dia 28 de agosto de 1881.

       Em frente à estação ferroviária, aproveitei para fazer anotações sobre o que estava ouvindo, nesta primeira explanação da guia Neuma, que nos fala sobre a ferrovia que foi a primeira de Minas Gerais.

“Por volta de 1870 a 1930, as ferrovias brasileiras foram as responsáveis principais pelo escoamento da produção agrícola brasileira, sobretudo o café, do interior para os portos e dali articulando-se com a navegação de longo curso. Dificuldades devido aos trechos de trilhos com bitolas diferentes, construídos por investimentos privados independentes e sem interligação com os sistemas regionais, levaram ao abandono de muitos trechos em favor da construção de rodovias. A nossa primeira ferrovia foi construída pela Imperial Companhia de estradas de ferro, fundada pelo Visconde de Mauá, ligando o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à Serra da Estrela, no caminho de Petrópolis, com a extensão de 14,5 km (1854). Logo depois, outras surgiram no Nordeste, Recôncavo Baiano e, principalmente, em São Paulo, para servir à economia cafeeira, então em franco desenvolvimento (Estrada do Café). Eram, em geral, construídas ou financiadas por empresas inglesas que visavam somente à satisfação de seus interesses comerciais, sem o mínimo de planejamento. Entre 1870 e 1920, vivíamos uma verdadeira ‘Era das ferrovias’, num crescimento médio de 6.000 km por década. Após 1920, com o advento da era do automóvel, as ferrovias entraram numa fase de estagnação, não tendo se recuperado até os dias atuais.”

A Estrada de Ferro Oeste de Minas, a ferrovia mais mineira (EFOM)

       A ferrovia que hoje só serve ao turismo leva-nos a fazer uma viagem no tempo. Foi inaugurada no dia 30 de setembro de 1879, ligando inicialmente as cidades de Antônio Carlos, próxima a Barbacena, e Barroso. Foi considerada a ferrovia mais mineira porque, um ano após a inauguração, sua sede passou a ser São João Del-Rey, como resultado do empenho da comunidade local, para que a ferrovia chegasse até a cidade. Por onde o trem passava, despertava o interesse e a emoção dos moradores.

“Com 11 vagões de madeira que totalizam 365 lugares, a Maria-Fumaça é conhecida como Bitolinha, pois é a única no Brasil que possui a bitola (espaço entre os trilhos) estreita, de 76 centímetros. Pelas janelas, os passageiros podem apreciar, durante o percurso de 13 quilômetros, o Rio das Mortes, palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709), e a Serra de São José, área de preservação ambiental de 12 quilômetros de extensão também conhecida como Serra de Tiradentes.”

A Maria-Fumaça circula às sextas-feiras, sábados, domingos e feriados, com duas saídas de São João e duas de Tiradentes. O complexo turístico ferroviário de SJDR é, possivelmente, um dos maiores conjuntos de preservação da memória ferroviária no Brasil. Além da EFOM, faz parte do complexo o museu ferroviário, a rotunda, que pode ser comparada a garagens para locomotivas e vagões, e antigos prédios da ferrovia, localizados num pátio de 35 mil metros quadrados.

Junto à estação se encontra o Museu Ferroviário, inaugurado em 1981, ano do centenário da Estrada de Ferro Oeste de Minas. O museu reúne equipamentos, peças, painéis didáticos e fotografias que contam a história da ferrovia no Brasil e na região. Perto da estação ferroviária está o Teatro Municipal, que atualmente apresenta imponente fachada em estilo greco-romano, a qual se atinge por meio de espaçosa escadaria, guarnecida em ambos os lados de artísticas balaustradas semicirculares. Foi construído em 1893 em substituição ao cinquentenário Teatro São-Joanense, que desabou numa reforma feita em 1889.

       Neuma nos fala da importância da Estrada de Ferro para o comércio e transporte do café. E acrescenta que o trecho dessa ferrovia com a menor bitola do mundo é o único trecho que foi conservado só para o turismo. Passeando pela cidade, veem-se todas as construções históricas, como pontes e casarões. Nesta foto, vemos a Ponte da Cadeia, feita por um amigo do Aleijadinho. Foi tirada da ponte que passa sobre o histórico Córrego do Lenheiro.

       A Ponte da Cadeia foi construída em 1798. Dizem que a ordem para construir a nova ponte foi dada depois que a ponte de madeira existente no mesmo local ruiu, quando por ela passava uma pequena procissão.

      Em estilo romano, foi construída com pedras rejuntadas com óleo de baleia e inicialmente era chamada de ponte nova ou ponte que vai para a Intendência. Era o local onde se pesava e se quintava o ouro, isto é separava os 20% (um quinto) que era destinado ao governo português, como imposto.

Chamou nossa atenção o pequeno córrego que passa abaixo desta ponte da cadeia. O Córrego do Lenheiro foi uma das causas da atual localização de São João del-Rey: subindo seu leito, à procura do ouro, os primeiros habitantes foram se localizando às suas margens e subindo as encostas; tiravam ouro em seus morros, mesmo à flor da terra.

       A excursão continua pela cidade com Neuma apontando os diferentes edifícios históricos e também as muitas igrejas, destacando algo muito interessante: a linguagem dos sinos de São João Del Rey, cujos toques e dobres têm mantido uma linguagem peculiar ainda conhecida de muitos sanjoanenses. Desde os tempos coloniais, os sinos de São João Del Rey se transformaram em verdadeiras gazetas de bronze e que noticiam diariamente os acontecimentos religiosos. Há um código que identifica um repique de morte, outro de festa, etc. Os sinos das igrejas conversam entre si. Deve ser muito bom saber decifrar uma conversa entre os sinos.

       Um passeio em frente a essa igreja me extasiou. A beleza arquitetônica da magnífica obra de arte, a Igreja de São Francisco de Assis, na exuberância do rococó, encanta a todos. É notável, não só pelo trabalho em pedra e madeira, como por seu traço original, em linhas curvas, formando um conjunto harmonioso. É a mais imponente construção de São João Del Rey, localizada em meio a um jardim emoldurado por palmeiras imperiais, com a portada esculpida em pedra-sabão, enquanto seu interior, em estilo rococó, abriga um majestoso lustre de cristal. Ao lado dessa igreja, destaca-se o prédio da Universidade Federal de São João Del Rey (foto), que tem programas culturais importantes, como o Inverno Cultural, que realiza anualmente, na segunda quinzena do mês de julho. Vem sendo realizado, sem interrupção, desde 1988, e se constitui de extensão universitária por meio de oficinas, exposições, shows e seminários nas mais variadas linguagens da cultura e da arte.

Mantendo seu formato original, o Inverno Cultural adquiriu, a partir de sua 18ª edição, nova dimensão: realização de atividades em 21 municípios dos Circuitos Turísticos ‘Trilha dos Inconfidentes’ e ‘Villas e Fazendas’, ambos integrantes da Estrada Real; adquiriu também visibilidade em âmbito nacional, na mídia impressa e eletrônica. Além disso, passou a eleger a cada ano uma personalidade ou obra a ser homenageada.”

       Nessa caminhada pela cidade conhecemos, também, as capelas chamadas de Passos. “Os Passos construídos em Minas Gerais no século XVIII caracterizam-se por pequenas construções compostas de um retábulo, no seu interior; na fachada, apenas uma porta e, às vezes, um óculo e uma cruz acima no telhado. Os Passos são abertos apenas durante a quaresma ou Semana Santa.”

       No Largo do Rosário, vemos o imponente casarão onde viveu o ex-presidente Tancredo Neves, conhecido por Solar dos Neves.

Segundo tradição oral, o monumento desta ilustração substituiu, no século XIX, o primitivo pelourinho de madeira que ficava no Morro da Forca, símbolo de autoridade da antiga vila. Construído por Aniceto de Souza Lopes, traz consigo uma estátua da Justiça. Encontra-se bastante descaracterizado. Nessa nossa caminhada pelas ruas de São João Del Rey passamos por uma capela em frente à cadeia e Neuma esclareceu que a sua localização é estratégica, para que os presos pudessem assistir às missas.

       Continuando a caminhada pelas ruas da cidade histórica, o guia, apontando a casa acima, nos relembrou um dos conflitos sangrentos, cujo nome temos guardado na memória desde a época do antigo ginásio: a guerra dos Emboabas (1707 e 1709). Os paulistas, primeiros descobridores da região do ouro, consideravam injustiça ceder as minas aos forasteiros que chegavam aqui em grande quantidade, de todos os lados, em busca de ouro. Os paulistas referiam-se a esses forasteiros com o apelido pejorativo de emboabas. Passamos em frente a esta casa que serviu de forte a portugueses e brasileiros do Norte, que nela se entrincheiraram contra o ataque dos paulistas. Nos conflitos que se seguiram, os paulistas sofreram várias derrotas e foram obrigados a abandonar boa parte das suas minas. Sabedores de que lhes vinha em perseguição uma coluna de cerca de 200 homens comandada por Bento do Amaral Coutinho, dali fugiram rumo a São Paulo, embrenhando-se no mato, sendo sitiados e exterminados cruelmente, após se renderem. Coutinho prometera aos paulistas que lhes pouparia a vida, caso se rendessem. Entretanto, quando eles entregaram suas armas, foram impiedosamente massacrados num local que passou para a história com o nome de Capão da Traição. É sempre emocionante quando tocamos a história, antigamente, tão longe, e agora ao alcance de nossos olhos. Naquele 21 de maio, às 12 horas, almoçamos no Restaurante Villeiros, que nos é assim apresentado:

“Situado em um casarão colonial do Século XIX, o Restaurante Villeiros é o ponto de encontro da boa culinária mineira com o mundo, acompanhada do requinte e o aconchego que só o melhor atendimento da região pode oferecer. As ruas de paralelepípedo do centro histórico de São João Del Rey são o ambiente perfeito para saborear as delícias que os nossos chefs preparam diariamente, com todo o carinho e atenção tradicional do povo mineiro. Cada prato do nosso cardápio, cada ingrediente da nossa comida é sempre tratado com a maior importância, levando a você os sabores históricos encontrados apenas aqui, no Restaurante Villeiros.”

      Achei um ótimo restaurante, com diversos espaços artisticamente dispostos e com variedade de pratos regionais. Almocei numa mesa grande com Vilmar e Marli. Depois também cumprimentei e estabeleci breve comunicação com mulheres que aqui estavam excursionando, vindas da França. Registrei o momento numa foto com elas, em frente ao restaurante Villeiros.

              Neste dia 21 de maio, sábado, partimos às 13h30min para Tiradentes. O movimento turístico na rodoviária nos chamou a atenção.

       Lá estavam 11 ônibus de turismo já estacionados, carros de mola na praça”, além de muitos carros com placas de fora.

Na verdade, Tiradentes vive exclusivamente do turismo e das atividades que gravitam em torno dele, como artesanato e doces típicos. Muitos produtores de cinema e televisão usam a cidade de Tiradentes como locação para filmar seus filmes, suas novelas e minisséries de épocas passadas. Em janeiro, acontece o festival de Cinema, e em agosto, o festival de Gastronomia.

       Mas, pergunto: quem foi Tiradentes, este herói que fez parte de nossos primeiros estudos de história do Brasil na escola? Há muito para falar sobre ele. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nasceu na Fazenda do Pombal, no município hoje chamado Ritápolis, em Minas Gerais, no dia 12 de novembro de 1746, e foi morto no dia 21 de abril de 1792, por liderar a Inconfidência Mineira, o primeiro movimento de tentativa de libertar o Brasil da dependência de Portugal. Ganhou a vida de diferentes maneiras: além de militar no posto de Alferes, foi tropeiro, minerador, comerciante e se dedicou também às práticas farmacêuticas e ao exercício da profissão de dentista, o que lhe valeu o apelido de Tiradentes. O dia 21 de abril, dia da sua morte, é feriado nacional.

A nossa guia nos lembra que Tiradentes é um herói fabricado pelos republicanos, pois a elite que proclamou a República necessitava de um herói, e os chefes escolheram Tiradentes, que, sendo pobre, foi morto pela monarquia. A elite representou Tiradentes como Jesus (barba comprida, túnica). O uso dessa imagem e de todo o movimento ajudou a aceitar a República.

       Em Tiradentes visitamos a Igreja Matriz de Santo Antônio, um dos mais ricos exemplares do barroco brasileiro. Foi construída com a frente voltada para a Serra de São José, que envolve a cidade de Tiradentes e que a separa de São João Del Rey.

       A igreja está situada numa área mais alta, e pode ser vista de quase todos os pontos da cidade. Logo na entrada, é difícil não se impressionar com os lustres de prata e a quantidade de ouro que decora o altar e suas imagens. Também é uma das mais ricas, pois dizem que ali foram colocados 482 kg de ouro. Na parte externa, um relógio de sol e uma bela vista. As esculturas da fachada e da portada, de 1810, são atribuídas a Aleijadinho. No alto, o órgão português de 1788 tem oito fileiras de tubos e belíssimas pinturas em estilo rococó. A Igreja Matriz de Santo Antônio é o mais antigo e principal templo católico de Tiradentes, grande exemplo no Brasil de arquitetura e de arte barroca e rococó. Suas origens estão ligadas à própria fundação da cidade, o antigo Arraial Velho do Rio das Mortes.

      Após visitarmos a igreja matriz de Santo Antônio, conhecemos, extasiados, o Relógio do Sol. Eram, precisamente, três horas e vinte minutos.

      Andando pela cidade, passamos depois em frente da casa do padre Toledo, que foi um dos cabeças da Inconfidência e padrinho de Tiradentes, a quem deu um exemplar da Constituição dos Estados Unidos.

      Nessa casa do padre Toledo se deu a 1ª reunião dos inconfidentes e se conspirou em 1789. Dizia-se que havia um túnel por onde escapavam quando vinha a polícia. Hoje a Casa de Padre Toledo é um museu da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, ligada à UFMG. O prédio é uma construção do final do século, com esquadrias em cantaria lavradas, sete forros pintados, destacando-se aquele que representa os cinco sentidos, com figuras da mitologia grega. Nessa casa morreu Padre Toledo.

      Chafariz São José.

      Nos arredores da Igreja Matriz, localiza-se um bonito chafariz, construído em 1749. Além de servir para abastecer a então vila com água potável, era usado para lavagem de roupa e para bebedouro de animais, principalmente cavalos. Possui um aqueduto construído pelos escravos da época, que traz a água de uma nascente a um quilômetro de distância. O chafariz está em funcionamento até hoje.

      Após visitar Tiradentes, voltamos para São João Del Rey. Os participantes da excursão saíram à noite, mas preferi descansar no hotel. Talvez fosse bom tê-los acompanhado.

Domingo dia 22 de maio de 2011

       Às 6h30min levantamos e depois de um bom café nos despedimos do Hotel Solara às 8h, partindo para a cidade de Congonhas. Em geral, as guias aproveitam a viagem para falar sobre história e cultura, e foi o que Neuma fez nesse dia, falando sobre um assunto interessantíssimo: a fala do mineiro.

1 – O que significa uai? Dizem que o mineiro falava uai como corruptela do inglês why: por quê?

Explica-se: na época havia ingleses em Minas, pois a extração do ouro do fundo das montanhas exigia a tecnologia da Inglaterra. Aqui os ingleses falavam inglês e os portugueses, português. Os ingleses perguntavam frequentemente why? Por quê? Isto ficou incorporado na fala do mineiro, no seu tradicional uai.

2 – TREM – muitas coisas, coisa que não se sabe, substitui a palavra que esquecemos

3 – Você – ocê ou simplesmente cê

4 – Nó – Nossa Senhora

5 – Nossa Senhora do Ó – Nossa Senhora da expectação do parto.

6 – Não é nada – nonada.

Outras palavras e expressões típicas mineiras.

7 – Mineiro come quieto – O mineiro aprendeu a não falar para ninguém o que ele tem. Se os portugueses soubessem que alguém possuía ouro ou esmeraldas, eles confiscavam. A filosofia de vida deles era: cada um deve guardar para si o que ele tem. Isso foi incorporado no famoso dito típico deles: mineiro come quieto. Nossa guia Neuma disse ter aprendido isso com sua avó, que vivia repetindo, para os netos não esquecerem: O que você tem, só você deve saber e mais ninguém.

       E aqui ouço falar do grande Guimarães Rosa, que se tornou famoso porque, também, conseguiu colocar no papel a forma de falar do mineiro. Ele tem um livro com o título: NONADA. Mas não só nesse, todas as suas obras estão repletas de maneirismos e expressões mineiras. Durante a excursão, tive o prazer de ouvir falar mais sobre a vida do grande Guimarães Rosa, que foi escritor, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos.

       Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais. Desde criança, dono de uma grande inteligência e grande memória, ele gostava de ler na posição de Buda e também de ficar junto aos tropeiros escutando casos, que memorizava para mais tarde incorporar nas histórias que criava. O pai não gostava que ele lesse, mas ele lia escondido, à luz da vela, passava noites lendo. Aos cinco anos pediu a todos que lhe trouxessem um livro sobre insetos. Aos 7 anos ele recebeu o livro dos insetos, mas, em francês. Foi ao padre para que este lhe ensinasse a língua francesa. Aos 9 anos lia e escrevia francês. Formou-se em medicina e só a exerceu por dois anos, pois ele entrava em depressão profunda quando um paciente morria. Transformou-se em diplomata e, como Embaixador na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, salvou muitos judeus do holocausto.

       Voltou então para Cordisburgo e, numa viagem que faz com os tropeiros, escreveu Grande Sertão Veredas. Após a publicação desse livro, foi indicado e eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Os livros de Guimarães Rosa foram traduzidos em 25 idiomas. Seu discurso de posse na ABL começou com a palavra Cordisburgo e com esta mesma palavra terminou o discurso. Ele sempre dizia que as palavras pulsavam dentro dele e que ele precisava escrever. Guimarães Rosa morreu três dias depois de assumir a Academia Brasileira de Letras. Ele dizia que não queria assumir, pois tinha medo da grande emoção que poderia ser demais para o seu coração enfraquecido. O primo de Guimarães Rosa começou a fazer um trabalho com as crianças e formou o grupo Miguelin que fala sobre este grande e humano autor. O grupo está na 3ª geração de Miguelins. Depois desse mergulho na vida de Guimarães Rosa, com tantos ensinamentos, no circuito velho da Estrada Real, chegamos à cidade de

Congonhas

       O nome congonha deriva de um arbusto que tem muitas propriedades curativas e é abundante na região. Os índios guaranis foram os primeiros a usarem as folhas e as cascas dessa árvore como planta medicinal, seguidos pelos jesuítas, que também divulgaram o seu uso sob a forma de chá. Ainda hoje, o chá da folha da congonha é consumido pelos habitantes da região. O surgimento da cidade, como tantas em Minas Gerais, está ligado à busca do ouro pelos bandeirantes paulistas, em fins do século XVII. Em 1746, com o nome de Arraial de Congonhas do Campo, quando ainda era subordinada ao município de Ouro Preto, foi elevada a distrito. Sua denominação foi novamente alterada de Congonhas do Campo para Congonhas, em outubro de 1955. Um dos legados deixados nesse período foi, entre outros, a Basílica do Senhor Bom Jesus de Matozinhos (1757), dando origem a grande movimento religioso.

       A pergunta que me fiz: qual o significado do nome Matozinhos? A origem está em Portugal: segundo a lenda, no ano de 124, uma imagem de Jesus crucificado apareceu em nas praias de Matosinhos. A imagem, considerada milagrosa, foi levada ao mosteiro local e, a partir daí, ao redor dela, se criou uma grande devoção. Em 1559 se decidiu construir uma igreja especial e essa devoção se tornou a mais importante do norte de Portugal. A colonização portuguesa construiu igrejas em muitas cidades brasileiras, em homenagem ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos, palavra que no Brasil passou a ser grafada com Z. O Papa Pio VI que governou a igreja católica de 1775 a 1799, instituiu o Jubileu em 1779, com a concessão de indulgências especiais a quem visitasse o Santuário de Senhor Bom Jesus de Matozinhos. Jubileu, considerado o ano do renascimento espiritual, quer dizer perdão, libertação, benefícios espirituais. Hoje, em Congonhas, a peregrinação do Jubileu, entre 8 e 14 de setembro, atrai multidões. As romarias, mais do que promover a fé, promovem também o turismo e o comércio locais. Além disso, Congonhas desenvolveu muito sua infraestrutura para atender o movimento populacional trazido pelas romarias.

       A importância dessa devoção é atestada também através da vasta coleção de ex-votos que o Santuário preserva na Sala dos Milagres, coleção que vem sendo acumulada desde o século XVIII.

       Em 1957 a devoção foi fortalecida com a elevação da igreja ao estatuto de Basílica Menor. Em Congonhas sempre esteve presente a religiosidade e as festividades do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, a Semana Santa, as Congadas, a festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição (em dezembro) e de Nossa Senhora do Rosário (em outubro), reúnem milhares de devotos.

       O Santuário, o primeiro bem cultural edificado em Congonhas, foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO), em 1985. Chegando ao alto do morro, observamos in loco, não só o Santuário, mas também o maior conjunto estatutário barroco do mundo. O grande artista Aleijadinho, em 1796, iniciou em Congonhas este ciclo de sua arte e, em menos de dez anos, criou 66 figuras esculpidas em cedro, compondo os passos da paixão de Cristo e, em pedra-sabão, esculpiu os 12 profetas.

       A riqueza de detalhes destas obras tão expressivas, emociona.

       Nesse mesmo entorno da igreja, estão os Passos da Paixão, que abrigam as grandes obras de arte esculpidas pelo mestre Aleijadinho e pintadas pelo mestre Athayde. Podemos imaginar esta cena, onde muitos artesãos orientados por Aleijadinho, já seriamente afetado pela doença que lhe inutilizava as mãos, se empenham para terminar este magnífico projeto.

       Ainda revisando a história, cabe lembrar que em 1914 emerge um novo elemento na paisagem local: a ferrovia. Esta, por sua vez, intensificou o fluxo de devotos além de facilitar, mais tarde, a expansão industrial, com a exportação do ferro e do manganês, resultado do processo de industrialização no século XX. A cidade se desenvolveu e hoje tem muitos locais interessantes a serem visitados, como o Museu de Congonhas (imperdível para quem gosta de história e quer aprender mais sobre a cidade e a obra de Aleijadinho), Casa de Apoio ao Turista, lojas de artesanato e gastronomia mineira etc.

       Após esta visita fomos para a cidade de Ouro Preto, onde nos hospedamos no hotel do SESC, ficando lá até o dia 23 de maio de manhã quando partimos para a cidade de Mariana.

Segunda-feira, 23 de maio de 2011

       Rumo às cidades de Mariana e Ouro Preto

       Nesse dia, fizemos duas visitas: à Mina da Passagem, a cinco quilômetros de Mariana, e ao Centro histórico de Mariana. O nome Passagem se deve à existência de túneis que ligam Mariana a Ouro Preto.

       No caminho, uma interessante pedra chamada Pico do Itacorumim, localizada no sertão dos índios Goitacazes, chama a atenção pelo seu aspecto interessante e pelo seu nome, que na língua indígena significa pedra menina. Hoje o pico se chama Itacolomi, uma formação rochosa com 1.772 m de altitude, localizada na divisa dos municípios de Mariana e Ouro Preto. Faz parte do Parque Estadual do Itacolomi. 

A guia, muito empenhada em nos passar, durante o trajeto, o máximo de informações, lembra-nos do período cruel da história do Brasil, quando os índios e os negros, escravizados, eram tratados como mercadorias e não como pessoas. A dominação dos índios foi a primeira forma de escravidão, mas como eles não se submeteram, foram dizimados. Por sua vez, os homens escravizados, oriundos da África, aqui sofreram diversas formas de escravidão: como não permaneciam no grupo natural, eram misturados com diversos dialetos, perdendo a sua identidade. Os fugitivos, ao serem recapturados, eram marcados com a letra F de fugitivo. Muitos eram mortos.

       Em Ouro Preto existia o Morro da Forca, onde os escravos eram enforcados. Nesse trajeto, fomos informados também de algumas curiosidades locais: na região não se pode comer manga e tomar leite. Ou um ou outro, pois a mistura faz mal. A razão, totalmente falsa, era uma estratégia dos donos de fazenda: convencidos de que comer manga e tomar leite era prejudicial à saúde, os escravos não tomavam leite, limitavam-se a comer a manga, fruta de fácil acesso para todos, pois as mangueiras estavam por todos os espaços das fazendas.

       Também a carne de lata era uma forma de conservá-la antes do advento da geladeira: fritava-se a carne e guardava-se a carne imersa na gordura em panelas de pedra ou em latas, para conservá-la.

       Outra curiosidade: D. João VI, ao desembarcar no Brasil em 1808, trazia consigo 15.000 pessoas que iriam viver às custas da coroa.

A Mina da Passagem

       Entramos nessa mina num trolley que, num percurso de 305 metros, nos levou a 120 metros de profundidade, dando-nos ideia de como seria o trabalho naquelas condições.

       A exploração da mina durou 266 anos: de 1719 até 1985. O jornalista e escritor Laurentino Gomes, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Paranaense de Letras, escrevendo sobre a escravidão explica o que significava de sofrimento para os escravos o trabalho na escuridão de lugares baixos e insalubres. Hoje, toda iluminada em seus muitos corredores e salões, apresenta galerias com 30 quilômetros de extensão, ligando a cidade de Mariana à de Ouro Preto! Na mina não podiam entrar mulheres nem padres.

       Caminhando pela mina, chegamos a um lago maravilhoso de cor verde, consequência de ter-se atingido o lençol freático. Nós observamos esse lago muito bonito onde é possível nadar e praticar mergulho. No teto observamos a presença de hematita.

Os ditados brasileiros que tiveram origem na zona do ouro.

       A guia Cristina fala de alguns ditados que foram incorporados ao nosso falar cuja origem remonta ao ciclo do ouro, muito usados pelos brasileiros até hoje. Dentro da mina vimos a pirita, mineral que brilha e que é chamado de ouro de tolo. Muitos já se enganaram com esse mineral, (dissulfeto de ferro), que, na verdade, só tem aparência de ouro. Daí o ditado: nem tudo que reluz é ouro. Outra expressão oriunda dessa região é conto do vigário, que tem a seguinte origem: o vigário pedia que os escravos lhe dessem o ouro que escondiam nos cabelos, prometendo-lhes dar em troca a liberdade. Mas não era o que acontecia, e eles ficavam sem o ouro e sem alforria. Essa enganação passou a ser aplicada a todas as formas de iludir o próximo para auferir lucro. Hoje todo mundo sabe que cair no conto do vigário é ser enganado por trapaceiro.

       Vimos grandes amontoados de pedras nas minas. Conta-nos a guia que o escravo não podia parar. Quando não estava trabalhando na extração do minério, ele devia amontoar pedras. Daí a origem de outro ditado: enquanto descansa carrega pedras. Naquele tempo também era costume deixar pagas as missas em sufrágio de sua alma, quando a pessoa falecesse. Dizia-se que frei Manoel da Cruz deixou pagas 2.500 missas.

       A visita a esta mina foi uma ótima oportunidade de conhecer uma parte importante da história de Minas. De lá saímos tocados por conhecer um lugar histórico que originou muita riqueza à custa de muito trabalho escravo e sofrimento.

       No mesmo espaço e ainda de trolley, visitamos um museu, onde estavam expostos os equipamentos usados na extração do minério. Ao lado do museu, uma loja vendia pedras, artísticos pássaros feitos com pedras preciosas, tanto grandes pássaros sofisticados e caros, como pequenos e baratos, todos de exímios artistas de Minas. Comprei um pássaro pequeno de pedras coloridas, por 18 reais. Na parte externa vimos um trolley do tempo da escravidão, que registrei na foto a seguir.

       Ao deixar a Mina da Passagem fomos conhecer a turística cidade de Mariana, nome que lhe foi dado em homenagem a Maria Ana, esposa de Dom João V. No romance Memória do Convento, José Saramago trata deste casal: Maria Ana da Áustria e D. João V. A cidade de Mariana foi a primeira capital de Minas, em 1709, e em 1734 lá instalou-se o primeiro bispado. É uma cidade turística, mas não vive só do turismo. Situada no quadrilátero ferrífero, sua economia se baseia no minério de ferro.

       Somos informados que estamos no sudeste de Minas, no quadrilátero ferrífero e que aqui a riqueza está no subsolo, rico em minerais e rochas. Como se pode ver no segundo mapa, acima, em Minas há também o triângulo mineiro, onde a riqueza é o leite.

       Em Mariana, o que mais me impactou ao chegar à praça hoje denominada Minas Gerais, antigo Largo do Pelourinho, foi ver duas lindas igrejas, verdadeiras joias, uma ao lado da outra, ostentando sua beleza estonteante. Em torno dessa praça se concentra o maior tesouro arqueológico de Mariana: além dessas duas igrejas – São Francisco à esquerda e a igreja de Nossa Senhora do Carmo à direita – temos também o edifício da Câmara Muncipal e o Pelourinho, antigo local de castigo dos escravos na época colonial e imperial. Construído em pedra sabão, o pelourinho é um belo monumento, hoje raro nas cidades brasileiras, mas que vale a pena conhecer.

       O pelourinho de Mariana foi erguido em 1750 e demolido em 1871, mesmo ano em que foi assinada a Lei do Ventre Livre, que considerava libertos os filhos de escravizados que nascessem a partir daquela data. Foi retirado porque seria vergonhoso manter um instrumento de tortura em praça pública numa cidade civilizada. Os jornais da época já tratavam o pelourinho como elemento de tortura, não como marca de civilização. Esse pelourinho foi reconstruído em 1970. “Embora remeta a um local de açoite de escravos e criminosos, sua função original, na tradição portuguesa, era demarcar áreas de jurisdição local. Foi no Brasil Colonial que esse tipo de construção passou a ser utilizado como local público de punição, apresentando argolas de ferro em sua parte inferior. O Pelourinho de Mariana é encimado por um globo, que simboliza as conquistas marítimas portuguesas, assim como um brasão do império do qual surrealisticamente saem dois braços humanos, um segurando uma espada e outro uma balança, alegorias à condenação e à justiça.”

       Visitamos também o edifício da Câmara de Vereadores, a mais antiga de Minas Gerais, construída em 1711.

       Esta joia à esquerda, cheia de encanto e harmonia, é a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, à qual não tivemos acesso. O historiador francês Germain Bazin considera esse templo “um dos últimos belos exemplares do rococó em Minas Gerais”. É realmente uma belíssima obra, de beleza emocionante. A irmandade Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, Instituída em Mariana desde 1751, se reunia originalmente na capela de São Gonçalo, enquanto aguardava a licença para construir o seu próprio templo, que teve início em 1784, com projeto da autoria de Félix Antônio Lisboa, meio-irmão de Aleijadinho, principal artista do período colonial brasileiro.

       Às 10h45min entramos na igreja de São Francisco de Assis, obra de Aleijadinho, construída em 1763 pela Ordem Terceira de São Francisco, também em estilo Rococó. Sua pedra fundamental foi colocada pelo bispo de Mariana, Dom Frei Manuel da Cruz. Dada como concluída em 1794, o douramento da sua talha só se concluiria em 1822. No interior, pinturas do Mestre Manoel da Costa Ataíde, na porta e no teto da sacristia, onde duas telas representam a agonia e a morte de São Francisco. O medalhão da portada, em pedra-sabão, é atribuído ao Mestre Aleijadinho. Seus lustres de cristal boêmio são do século XVIII.

       Na igreja de São Francisco de Assis estão os restos mortais do Mestre Ataíde, natural de Mariana e filho de português, sepultura 94, no chão. São desse artista as pinturas da nave e da sacristia, além de três imagens da paixão: tabernáculo, altar-mor e altar de Santa Izabel. Esculpidos em pedra sabão, os púlpitos são da autoria do Aleijadinho.

       O Bolo Armênio. Cristina fala sobre o douramento: a técnica que consiste em usar um material de natureza argilosa, para decorar uma superfície de madeira, pedra ou metal, preparando-o para a posterior fixação de finíssimas folhas de ouro, o chamado bolo armênio.

       O estilo Barroco nasceu na Europa no final do século XVI, aparecendo como oposição ao Renascimento, que primava pela harmonia e pela simplicidade. Tendo como principais características o dramatismo, a exuberância e o exagero, o Barroco foi a arte utilizada pela Igreja para atrair os fiéis e combater o protestantismo. Daí o seu carácter espetacular e dramático destinado a impressionar os crentes. Se as primeiras manifestações do Barroco no Brasil ocorreram em Salvador e em Recife, centros urbanos da época, o auge desse movimento artístico aconteceu nas cidades mineiras do Ciclo do Ouro, um período de rápido crescimento dos centros urbanos.

       Nesse período as irmandades se consolidaram como formas de organização religiosa e social. A arte e a religião foram usadas como forma de controle e as associações de leigos foram as financiadoras do trabalho dos artífices, artistas e artesãos do período. Às irmandades cabia celebrar os ofícios, as práticas religiosas e o exercício solidário. O estilo Rococó marca o período de transição entre o barroco e o neoclassicismo, que contempla a leveza, a elegância e o charme das artes decorativas. O estilo surgiu na França, durante o Iluminismo, coincidindo com o reinado de Luís XV. O termo rococó deriva da palavra francesa rocaille, que significa concha, muito usada em decoração. Se na Europa o novo estilo se aplicou a representações da vida profana e aristocrática e a inúmeras construções, aqui no Brasil, o estilo rococó se desenvolveu preferencialmente nas construções religiosas.

       Em Mariana, o templo mais antigo, a Catedral da Sé, é a catedral de Nossa Senhora de Assunção, conhecida como Sé de Mariana. Teve origem em 1703, quando houve uma grande afluência de paulistas e portugueses atraídos pela descoberta do ouro na região. Sua principal riqueza está no interior, que apresenta um dos mais significativos conjuntos de talhas do período colonial. Uma das atrações é o órgão alemão Arp Schnitger, construído em 1701 e incorporado à Sé em 1753.

       A guia nos fala também dos santos de roca e das pessoas que eram enterradas no fundo na igreja. Santos de roca são imagens armadas em madeira e vestidas com roupas de pano, geralmente para serem levadas em procissão.

       Passeamos pela cidade, que nos encantou com seu casario do século XVIII.

       Neste andar pela cidade de muitas igrejas, percebemos lá no alto do Morro, a igreja de São Pedro dos Clérigos, importante templo católico barroco, construído pela Irmandade de São Pedro dos Clérigos, composta de padres seculares.

       O templo levou muito tempo para ser terminado: começou em 1731 e suas torres só seriam concluídas nos anos 20 do século XX, (1920-1922) quase duzentos anos após. Passamos também na casa do Conde de Assumar, governador da capitania de São Paulo e Minas Gerais, entre 1717 e 1720. Mais tarde a casa abrigou o primeiro bispo de Mariana, D. Frei Manuel da Cruz. Depois nos dirigimos à Praça Gomes Freire, nome de um médico que, entre outras características, atendia a população se deslocando em lombo de animal. Esta praça me comoveu pela beleza e pela limpeza, toda cercada por construções do século XVIII. Em frente à praça, almoçamos num restaurante muito bom, com comida caseira, ao redor de um fogão de lenha. Após agradável conversa no almoço, fomos para a praça.

       Conversei com simpáticas pessoas que faziam a limpeza da praça, que estava muito limpa e bem cuidada. Fui informada de que ali trabalhavam muitas pessoas. Tive a impressão de ser um grande cabide de empregos.

       Fiz algumas fotos do terminal Turístico Manoel da Costa Atayde, em homenagem ao grande artista, nascido em Mariana. Mais conhecido como Mestre Ataíde, foi professor, pintor e decorador brasileiro (1762-1830). Nem todas as suas criações estão documentadas, mas deixou obra considerável espalhada em várias cidades mineiras.

       A caminho de Ouro Preto, paramos numa loja especializada em pedras e em tudo o que os turistas poderiam levar como lembrança. Interessou-me particularmente uma caneca com os dizeres: Para uso exclusivo de minha sobrinha. Demoramos pouco na loja e eu comprei a caneca para levar para minha sobrinha neta Anna Maria Moser. Na Rodoviária de Ouro Preto fizemos baldeação para um ônibus pequeno do transporte coletivo, pois os grandes ônibus de turismo não podem entrar na cidade histórica, por motivos óbvios. De lá fiz estas fotos onde aparecem os morros e as ladeiras de Ouro Preto, totalmente ocupadas com algumas de suas igrejas, as principais atrações da cidade, em arte barroca.

       Ao longe, no alto da montanha, às minhas costas, se olharmos bem, vemos a nossa já conhecida pedra menina, Itacolumi. Em Ouro Preto visitamos uma linda e variada feira com artigos de muita qualidade. A maioria de pedra sabão, como é comum em Minas.

      Outra construção importante é a igreja de Nossa Senhora do Pilar, que foi o templo mais rico em Vila Rica, durante o ciclo do ouro, e chama a atenção pelo requinte de sua arquitetura e decoração.

        Essa igreja foi construída em 1696 e ampliada em 1712. Por sua vez, Vila Rica tornou-se a primeira capital de Minas Gerais, já em 1721.  Mudou o nome para Ouro Preto em 1823, e permaneceu como capital até 1897, quando a sede do Estado passou a ser Belo Horizonte.

       Visitamos também o Museu da Independência, projeto do governador da capitania à época. Feita com mão de obra escrava, a construção começou em 1785 e só foi concluída em 1855, demandando 70 anos para ser finalizada. Ali funcionou, durante 25 anos, a Casa de Câmara, no piso superior, e a Cadeia, no térreo. Depois, a Casa de Câmara foi transferida para outro local e todo o prédio ficou sendo usado apenas como prisão. João Pinheiro, que governou Minas de 1906 a 1908, transformou a prisão em Penitenciária Estadual, que funcionou ali até 1938, quando foi desativada e transferida.

       A Criação do Museu da Inconfidência Mineira. A iniciativa de criar este museu foi do presidente Getúlio Vargas, que decidiu resgatar os restos mortais dos inconfidentes, que estavam sepultados na África, para onde foram degredados e lá faleceram. Foi criado em 1938, sob a coordenação do serviço do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAM), quando era ministro da Educação o mineiro Gustavo Capanema (1900-1985). Seu projeto é do museólogo francês Pierre Yves Catel. O objetivo do presidente era criar um Panteão em memória dos que lutaram por liberdade. Com a queda de Getúlio, o museu também caiu. Funcionários foram demitidos e o prédio parou de receber manutenção. Somente em 2006 foi concluída a renovação de todo o museu.

       Um audioguia com duração de 90 minutos pode ser alugado por R$ 8,00 (preço de março de 2017). No piso inferior, o enfoque é Vila Rica. Podemos ver um pouco da dinâmica da vila do período colonial, nos aspectos econômico, social e político. A primeira sala, Origens, mostra a formação da Colônia, sua ocupação territorial e a influência da Igreja Católica sobre os monarcas da época. Pedras que marcavam as sesmarias podem ser vistas nesta sala.

       Na Sala da Construção vemos vários elementos usados na construção de Vila Rica, como pregos, portais, balaústres, tijolos, telhas, canos de pedra-sabão utilizados para coleta de água. E ainda esboços da evolução do estilo arquitetônico usado nos casarões. Na Sala dos Transportes, selas masculinas e femininas, estribos, sapatos de ferro e uma liteira, uma espécie de cadeira, aberta ou fechada, sustentada por duas varas, carregada por dois homens ou dois animais. Nesta sala estão também várias armas, como revólveres, pistolas, espingardas e facas, muito utilizadas por quem viajava, devido ao extremo perigo de assaltos.

       Na Sala da Mineração uma maquete exibe a dinâmica do processo de extração do ouro. Várias balanças e algumas arcas para transporte do ouro também estão ali. É nesse espaço também que estão expostos terríveis objetos utilizados para castigar os escravos, como correntes, algemas e outros instrumentos de tortura de embrulhar o estômago e fazer sentir uma profunda vergonha por esse nosso passado nada glorioso. Até aqui, em todas as salas, tudo era exposto em meio a sombras.

       Isso começa a mudar no próximo espaço, a Sala da Inconfidência. “Com cortinas brancas e iluminação, a sala clara remete ao Iluminismo e à sua influência sobre a Inconfidência. Temos aqui a primeira edição de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, e de Obras, de Cláudio Manuel da Costa. Vemos móveis que muito possivelmente foram utilizados pelos inconfidentes em suas reuniões e vários objetos pessoais deles… É aqui que podemos ler a parte dos Autos da Devassa, em que está a sentença condenatória de Joaquim José da Silva Xavier – tudo bem explicado, desde seu enforcamento, passando pelo esquartejamento e destinação de cada parte do corpo (especificando a cabeça, que foi exposta em frente àquele prédio), até o que deveria ser feito com a casa onde Tiradentes morava. Ali também estão pedaços da forca utilizada na sua execução, trazida para o museu por determinação de Getúlio Vargas, juntamente com os Autos da Devassa, e alguns de seus objetos pessoais que foram sequestrados pelo governo, como um boticão e um relógio.”

       Certamente, com tempo e interesse, esta visita pode ser uma aula magistral sobre a história do Brasil. Com Gilka, fiz esta foto tendo ao fundo o Museu da Inconfidência Mineira. Vale a pena visitar este Museu. 

      Conhecemos mais locais interessantes e lojas. Gilka, Vera, Cristina e eu fomos tomar um chocolate francês, muito gostoso, num restaurante nessa praça principal.

       Em Ouro Preto nos hospedamos no excelente hotel do SESC, amplo e descontraído, um conjunto de chalés que ocupam um terreno de 225 hectares, ao lado de uma reserva natural, a 8 km do centro de Ouro Preto.

 No jantar saboreamos uma sopa muito gostosa. Pena termos ficado tão pouco tempo em local tão aprazível.

Dílson, um artesão joalheiro, expõe no hall de entrada os produtos de seu artesanato. Ele faz as joias onde mora, a 20 km daqui, e as vende no hotel. Os turistas admiram os trabalhos em ouro, prata e pedras preciosas e semipreciosas. Vi um anel e brincos de ametista pelos quais me apaixonei.

Terça feira, dia 24 de maio de 2011- Rumo a Belo Horizonte

       Após o café, comprei os brincos e o anel de ametista. Deixamos este lindo lugar sem poder conhecer todo o complexo do SESC, por falta de tempo. Teria sido ótimo conhecer melhor este hotel e usufruir deste especial espaço. Nossa guia local, Cristina, anuncia que estamos na Rodovia 356, a rodovia dos Inconfidentes, e viajaremos quase cem km, uma hora e meia, até Belo Horizonte.

       O deslumbrante dia de sol nestas lindas paisagens mineiras nos fez cantar: Ó Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais. Passamos por Cachoeira do Campo, onde em 1720 foi preso Felipe dos Santos, por se opor à instalação das casas de fundição do ouro. A partir das casas de fundição, o ouro só poderia ser negociado em barras. O imposto do quinto em favor de Portugal poderia assim ser cobrado sob rigoroso controle, acabando com o contrabando do ouro. Os castigos contra quem se opunha a Portugal eram cruéis. Felipe dos Santos, por exemplo, foi levado para Vila Rica, atual Ouro Preto, morto e arrastado por cavalos, pelas ruas da cidade.

A Estrada Real: uma atração turística

       Neste nosso trajeto até Belo Horizonte, passamos por um trecho da chamada Estrada Real, um caminho por onde eram trazidas as riquezas e mercadorias para o Rio de Janeiro. Em 2001, com o objetivo de preservar e valorizar o patrimônio histórico-cultural, aqueles 1.512 km da estrada foram transformados em atração turística. É uma viagem que reúne diversas atrações, como construções coloniais, igrejas, museus, reservas ecológicas, ecoturismo, esportes radicais, passando por 162 municípios em Minas Gerais, sete municípios em São Paulo e oito no Rio de Janeiro. Seu percurso engloba três caminhos que surgiram em diferentes períodos da exploração das pedras preciosas: Caminho Velho, Caminho Novo e Rota dos Diamantes. Conhecer a história perfazendo esse fascinante caminho a pé, de jipe ou de bicicleta é repetir o caminho dos tropeiros e bandeirantes de outrora. É sentir na prática que se está conhecendo pela Estrada Real, a história passada e recente do Brasil.

       Às 8h30min passamos por um orfanato de meninas e também pelo hotel fazenda Retiro das Rosas, situado na Avenida dos Inconfidentes. Alguém falou que neste local se faz geleia de rosas e suco depurativo, com inhame, cenoura e limão. 

Conheci água de rosas em viagem ao Irã. É uma delícia, realmente. Faz parte da cultura persa e pode ser adquirida em todos os lugares daquele charmoso país. É usada na culinária do Oriente Médio, em seus famosos doces, como o baclava, doce folhado recheado de nozes moídas e regado com calda de água de rosas ou de flor de laranjeira.

      Nesse deslocamento para Belo Horizonte, passamos pela cidade de Amarantina, distrito de Ouro Preto que surgiu após a crise da fome que castigou a população de Vila Rica, por volta de 1700. Há um estudo de Adriana Romeiro sobre esse período, intitulado Os sertões da fome: a história trágica das minas de ouro em fins do século XVII, que elucida a trágica história dos locais da exploração do ouro. Aí vai uma amostra:

“Entre os anos de 1695, quando foram enviadas as primeiras amostras de ouro a Lisboa e 1705, vésperas do levante emboaba, a população das Minas atingiu a vertiginosa cifra de 30 mil habitantes, segundo o cálculo confiável do sertanista Garcia Rodrigues Pais. Em apenas dez anos, os sertões mineiros assistiram a um rush sem precedentes na América Portuguesa, deslocando um grande contingente populacional para uma região inóspita e agreste, situada no interior do continente, em meio a matos densos e rios caudalosos. O povoamento acelerado desencadeou ondas de fome que varreram a região entre os anos de 1698 e 1699, e entre os anos de 1700 e 1701, ceifando a vida de milhares e desestruturando por completo os trabalhos de mineração, paralisados em razão do êxodo populacional. Mesmo depois de 1705, quando as rotas de abastecimento se encontravam consolidadas, a fome continuaria a ser a mais fiel das companheiras.”

       São realidades que os livros de história do Brasil não trazem, mas que a pesquisa histórica traz para a história oficial. Amarantina cultiva uma importante tradição, que é a festa de origem portuguesa de São Gonçalo e Cavalhadas de Amarantina, realizada em setembro, com solene representação teatral. Nesse local existe o Museu das Reduções, único no mundo, onde réplicas em miniatura das construções históricas do Brasil são expostas, com detalhes impressionantes. A Casa de Pedra, edifício tombado pelo IPHAN em 1963, é também um monumento construído pelos primeiros bandeirantes entre os séculos XVII e XVIII.

       Na alegre paisagem se destaca o Pico do Itabirito, de 1.586 metros de altura, cujo nome é originário da língua Tupi e quer dizer pedra que risca vermelho.

       É um monolítico sem igual no mundo, um bloco de hematita compacto, com alto teor de ferro, um reserva de 94 milhões de toneladas. É um patrimônio tombado pela Constituição do Estado de Minas Gerais, em 21 de setembro de 1989. Está situado no município de Itabirito, que até 1923 se chamava Itabira do Campo. O Pico do Itabirito é comemorado no dia em 15 de setembro. Há excursões e caminhadas até o Pico do Itabirito que fica numa área de preservação ambiental. Dado interessante: no início do século XVIII, quando os colonizadores chegaram à região em busca de ouro, os mineradores começaram a plantar eucaliptos para usar sua madeira como combustível nos fornos. No entanto, esses eucaliptos criaram um deserto verde, pois com essa plantação temos flora, mas a fauna desaparece. A monocultura do eucalipto destrói toda a biodiversidade local, além de prejudicar o equilíbrio hídrico do solo.

       Chegada a Belo Horizonte. Às 9h30min chegamos a Belo Horizonte, onde não existe a arquitetura colonial das cidades anteriores. A capital mineira apresenta um modelo de arquitetura nova, construída pelos republicanos mineiros que queriam esquecer o passado colonial, fortemente marcado na arquitetura da velha capital, Ouro Preto. Belo Horizonte se constitui num símbolo de uma nova era! Inaugurada em 1892, momento histórico da proclamação da República e foi inspirada no modelo de modernas cidades do mundo, como Paris, Washington e La Plata.

Em Belo Horizonte a Serra do Curral

“Conhecida pelo menos desde 1701 por bandeirantes que abriam caminho por Minas Gerais, a Serra do Curral é a principal referência natural da paisagem de Belo Horizonte. Ao seu pé, instalaram-se as primeiras povoações que formariam o arraial de Curral del Rey, onde, em 1897, implantou-se a cidade de Belo Horizonte, nova capital do Estado, planejada e construída para substituir Ouro Preto, que fora capital até então. Além de sua riqueza histórico-cultural, a Serra do Curral abriga grande diversidade de espécies de fauna e flora e numerosos mananciais que formam as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 70% da população da capital e de 40% dos moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte.”

       Entrando em Belo Horizonte passamos pelo bairro de Belvedere, não só o mais luxuoso da capital, mas também o mais alto, variando entre 1.100 e 1270 m de altitude, o que confere um clima mais ameno que o centro da cidade. Divide-se em Belvedere I, II e III.

       À esquerda e à direita os bairros de São Bento, Santa Luzia, Sião, Anchieta, Nossa Senhora do Carmo, Santo Antônio e São Pedro. O grande jardim chamado Belo Horizonte tem árvores e muitíssimas flores que enfeitam suas avenidas e praças. Na cidade há avenidas plantadas com a árvore pata de vaca, com flores cor de rosa e também brancas. Vale a pena conhecer essa flor em detalhes, porque é linda demais. Há também o célebre ipê amarelo, encontrado em grande quantidade em Belo Horizonte e também em todas as regiões do Brasil. Essa flor sempre chamou a atenção de naturalistas, poetas, escritores e até de políticos. Em 1961, o então presidente Jânio Quadros declarou o ipê-amarelo a Flor Nacional, flor símbolo de nosso país. Em Belo Horizonte e noutras cidades mineiras existe um projeto excelente que contribui para a beleza e a saúde da cidade: nasce uma criança, plante uma árvore. Importantíssimo!

       O bairro Savassi é uma das regiões mais prestigiadas de Belo Horizonte. O centro da cidade foi planejado como um tabuleiro de xadrez. Tribos indígenas dão nome às ruas transversais, enquanto as ruas verticais receberam nome dos estados do Brasil. Belo Horizonte começou sua verticalização em 1940, com um prédio de 24 andares.

       Antes das dez horas chegamos ao Conjunto Arquitetônico da Praça da Liberdade, um local histórico, da maior importância na planejada cidade de Belo Horizonte. Um dos melhores passeios na cidade é conhecer esse conjunto paisagístico e arquitetônico, todo ele tombado, numa praça muito bem arborizada, florida e bem cuidada. Sua construção foi iniciada na época da fundação da nova capital mineira: 1895-1897, com o objetivo de abrigar a sede do Poder Mineiro. Os prédios do palácio do governo, da igreja e das secretarias obedecem às tendências da época, recebendo construções de diversos estilos. A praça conta com o coreto e a fonte luminosa. Os jardins são inspirados no paisagismo do Palácio de Versalhes.

       Na década de 40, o estilo art déco, revestido com pó de pedra, aparece no palácio arquiepiscopal Cristo Rei. Nas décadas de 50 e 60, prédios modernos foram incorporados ao conjunto, como o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, ambos projetados por Oscar Niemeyer. As linhas curvilíneas do edifício Oscar Niemeyer lembram as montanhas de Minas Gerais, no dizer do próprio autor.

       Na sequência passamos em frente ao prédio Rainha da Sucata, construído em 1980 em estilo pós-moderno, onde hoje funciona o Memorial da Mineração. O edifício se destaca pela concepção ousada e pelo uso de materiais diversos e cores fortes nas fachadas, bem estilo pós-modernista. 

A diversidade de elementos, formas e cores revela a opção arquitetônica pelo emprego de materiais marcadamente regionais, como o quartzito, a ardósia, a pedra-sabão e o aço produzido nas siderúrgicas mineiras. Sua altura e seu volume acompanham as dimensões dos prédios históricos que compõem o conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade, buscando um diálogo com seu entorno imediato. A finalidade original do Rainha da Sucata era dar suporte ao setor de Turismo do estado. Já em 1991, a edificação se tornou o Museu de Mineralogia Professor Djalma Andrade. Em março de 2010, com a inauguração do Museu das Minas e do Metal, na Praça da Liberdade, todo o acervo do Rainha da Sucata foi transferido para lá. Desde 2020, o prédio abriga a Casa Funarte Liberdade.

      Passamos depois em frente a um prédio de concepção contemporânea: Espaço Tim de Conhecimento, de cinco andares, com observatório, planetário e outros museus.

“A fachada externa do Espaço TIM UFMG do Conhecimento é revestida por um material vítreo especial, o que transforma o edifício numa grande tela de projeção. Todas as noites, imagens que unem arte, ciência e experimentação são exibidas na fachada, numa interface entre o Espaço e a Praça da Liberdade.”

Edifício da Biblioteca Pública

       Fundada em 1954, a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais é a principal biblioteca pública de Belo Horizonte e uma das principais do estado. É popularmente chamada de Biblioteca da Praça da Liberdade, por sua proximidade com a praça. Ali se desenvolvem diversos projetos, entre os quais, na última sexta-feira de cada mês, contos, comida e história. 

          Aproveitei muito o tempo em que estivemos na Praça da Liberdade para conhecer todo o conjunto arquitetônico, hoje tombado. Vale a pena conhecê-lo.

        A partir de 2011 quase todas as secretarias e o palácio do governador foram transferidos para o novo Centro Administrativo Tancredo Neves, construído pelo então governador Aécio Neves. Nossa excursão só foi conhecê-lo mais tarde. Ao lado da praça estão outras atrações, como o Parque das Mangabeiras, a maior área verde da capital mineira, e a Rua do Amendoim. O Parque das Mangabeiras, na Serra do Curral, zona sul de Belo Horizonte, é o limite norte do quadrilátero ferrífero. O paisagismo desse parque, a mais de 1000 metros de altura, um dos pontos mais altos de Belo Horizonte, é da autoria de Burle Marx. A Rua do Amendoim apresenta uma ilusão de óptica, em que o pedestre acredita ser uma subida quando, na verdade, é uma descida. Está localizada no bairro Mangabeiras, centro de Belo Horizonte, perto da chamada Praça do Papa. Nessa praça, de onde se pode admirar toda a cidade, fizemos esta foto da turma da excursão.

       Importa dizer que Belo Horizonte tem um bairro que atrai multidões com seus inúmeros bares despojados. Após conhecermos a Praça da Liberdade e arredores, fomos conhecer o bairro da Pampulha. No meio do trajeto, pouco antes do meio-dia, almoçamos no restaurante Xapuri, muito conhecido e especialíssimo, não só pela paisagem que o circunda, mas também por suas 60 variedades de pratos, entre saladas e guarnições, massas, carnes, grelhados, frutas e sobremesas artesanais. Preço do quilo R$ 34,50.

       Depois do almoço, entramos na Rua Afonso Pena e passamos pelo Parque da Cidade. À esquerda o Obelisco da Praça 7 de Setembro.

       O monumento, apelidado de pirulito foi doado pelo povo da vizinha Capela Nova do Betim, hoje município de Betim, aos habitantes da capital mineira, por ocasião da comemoração do Centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922. Foi desenhado pelo arquiteto Antônio Rego e construído pelo engenheiro Antônio Gonçalves Gravatá, proprietário da pedreira em Betim de onde foram extraídas as pedras utilizadas na construção do marco. As placas têm inscrições em latim, sobre a independência do Brasil, e em português tanto sobre a independência como sobre a construção do obelisco. Em 1977, o Pirulito foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, como monumento comemorativo do centenário da independência do Brasil.

      Chegando à Pampulha, admiramos a linda lagoa cercada de árvores muito verdes e com flores multicoloridas adornando a paisagem. Esta lagoa resultou do alagamento de diversas fazendas no ano de 1936, quando o prefeito Negrão de Lima quis dar à região uma característica que a valorizasse para a exploração do turismo. Em volta da lagoa da Pampulha, no fim do ano, há uma corrida de 18 km, conhecida como Volta internacional da Lagoa da Pampulha que, em dezembro de 2011, completou sua 13ª edição. A lagoa é cercada de edifícios muito interessantes que formam o Complexo Arquitetônico de Pampulha, projetado por Niemayer, a pedido de Juscelino Kubitschek, (1902-1976), então prefeito de Belo Horizonte.

       Em 1940 Juscelino se encontra com os arquitetos Niemayer e Lúcio Costa e numa noite projetam entre outras construções: o Cassino, a Casa de Baile e o Clube da Elite. Em homenagem ao próprio pai, Juscelino dedica um projeto à construção de Igreja de São Francisco de Assis. A obra faz parte da modernização da cidade, que nos anos de 1940 e 1950 teve grande expansão física e populacional. Data desse período a criação da cidade universitária (1944-1951). Em 1943, o Cassino é inaugurado, mas já em 1946 é fechado por ordem do presidente Eurico Gaspar Dutra, quando foram proibidos os jogos de azar. O prédio ficou sem uso até 1957, quando foi criado o Museu de Arte de Belo Horizonte, atual Museu de Arte de Pampulha.

       Visitamos também esse Museu, com rico acervo de 1400 obras de arte de muitos artistas que nos comovem com suas belas criações. Há a estátua chamada Nu, do Conde August Zamoyski, escultor polonês (1893-1970). Burle Marx assina os jardins externos que são decorados com três esculturas: O abraço de Ceschiatti, o Nu de Zamoyski e a escultura de José Pedrosa.

      Alfredo Ceschiatti (1918-1989) filho de pais italianos, nasceu em Belo Horizonte, mas encontrou parte de sua inspiração na terra de seus ancestrais.

“Da primeira viagem à Itália (1938-1940) trouxe a paixão pelo Renascimento, em especial por Michelangelo. Talvez daí tenha trazido as formas curvilíneas e arredondadas das mulheres em suas obras, bem como a preocupação com o planejamento. Essa influência explica também o caráter quase sempre monumental de suas obras. Cada escultura lhe tomava de dois a três meses, do primeiro estudo até a fundição, feita por ajudantes especializados.” São suas as palavras que seguem: “Penso muito no local onde ela vai ficar, é meu ponto de partida e prefiro as grandes peças ao ar livre, onde se tem mais possibilidade de explorar planos, sombras, luzes. (…) Acho que escultura não deve ser um objetozinho de decoração. Tem que ter um sentido mais monumental.”

       No início da tarde visitamos o auditório desse antigo cassino, onde o palco se eleva e a acústica é especial. Há uma pista de dança que lembra os antigos tempos.

     Visitamos também a Igreja São Francisco de Assis, um dos cartões postais de Pampulha, parte final do projeto de Niemayer. É conhecida como igrejinha, por ser muito pequena. 

      Conta com importantes intervenções: os azulejos externos e a tela que representa São Francisco de Assis foram pintados por Portinari. Os painéis internos de bronze que representam a via sacra, são obra do escultor Alfredo Ceschiatti. O jardim ao redor da igreja foi projetado por Burle Marx. Durante duas décadas a igrejinha não foi reconhecida como templo religioso pela Igreja Católica. Só a partir de 1960 foi permitido celebrar cultos eclesiásticos.
      Passamos pela Universidade Federal de Minas Gerais, a maior universidade do estado de Minas Gerais, que possui campi nas cidades de Belo Horizonte, Tiradentes e Montes Claros.

       Deixamos Pampulha e nos dirigimos para o Mercado Público, que eu já havia conhecido em outra oportunidade. Os colegas fizeram muitas compras e eu só comprei doce de leite e um presente para meu sobrinho-neto, Francisco Cristofolini, que na ocasião tinha dois anos e meio, e já conhecia as letras identificando-as nas iniciais de cada nome. O brinquedo é um quebra cabeça, formando um jacaré, com as letras em cada tira sinuosa de madeira, que forma, sucessivamente, após o encaixe de cada parte, o corpo do jacaré, pintado de verde e amarelo.

      Saindo do Mercado Público, que é sempre um lugar interessantíssimo por significar o coração de qualquer cidade, nosso destino é o Hotel FrimaS, que fica na Avenida do Contorno.
      No hotel fomos recebidos pelo gerente, natural de Presidente Getúlio, em Santa Catarina. Com muita simpatia ele nos estendeu um tapete vermelho para adentrarmos ao hotel. Em seguida esse gerente nos convidou para saborearmos uma sopa, no restaurante que fica no andar térreo. Foi uma sopa muito nutritiva e saborosa. Durante o jantar conversei com esse gerente nosso coestaduano, já que dividíamos a mesma mesa.

       Foi muito interessante a conversa, pois eu tenho também parentes em Presidente Getúlio, acabando por ser uma conversa mais familiar. O gerente me informou detalhes sobre a Avenida do Contorno: em 1897, quando foi planejada Belo Horizonte, seu traçado seria o limite do perímetro urbano. No entanto, 113 anos depois, outros quatro bairros se ligam à Avenida do Contorno e outros 400 cresceram no seu entorno. Foi muito interessante ter esta informação sobre a capital, planejada para ser uma cidade moderna, diferente das cidades barrocas do áureo período colonial mineiro.

       Na continuação da conversa, o gerente foi contando sua trajetória de vida, quando saiu de casa com 13 anos, após a morte da mãe, para se aventurar a fazer sua vida em São Paulo. E aí, sempre com coragem para enfrentar os obstáculos, hoje está em Belo Horizonte e já faz muitos anos que gerencia esse hotel. Também tem um filho que estuda e cada dia o leva para a Universidade, como forma de eu conviver com ele, confidencia. Ouvir isto me emocionou! Belo Horizonte hoje possui 487 bairros. À noite o grupo foi para o Shopping e eu preferi descansar no hotel.

Quarta-feira, dia 25 de maio – Brumadinho

       Nesse dia, após um agradável encontro com todos os companheiros de viagem no café da manhã, saímos de Belo Horizonte para onde voltaríamos ainda, e num trajeto de 60 km fomos a Brumadinho, para visitar INHOTIM, um jardim botânico e museu de arte a céu aberto, com 100 ha de matas preservadas.

       À nossa frente, um prédio que faz parte do Conjunto JK, com 3000 quitinetes. Cristina nos informa que esse conjunto é muito limpo por dentro. Fiz esta foto! Aqui está também a praça Raul Soares, que é o centro geotérmico da terra, conforme informação da guia. A praça Raul Soares, nome em homenagem ao ex-presidente de Minas Gerais, é uma das principais praças de Belo Horizonte, construída em estilo francês na confluência de quatro importantes avenidas: Olegário Maciel, Augusto de Lima, Amazonas e Bias Fortes.

      Visualizamos ainda a Expo Minas, um dos maiores centros de convenções e eventos do país, ligado diretamente a uma estação de metrô: a estação Gameleira, que permite ao público chegar ao centro da cidade em apenas 6 minutos.

O Expo Minas foi construído em duas etapas:

1 – no governo de Eduardo Azeredo, em 1998.

2 – a partir de 2003, reinaugurado em 2006, no governo de Aécio Neves.

       Passamos na divisa do município de Betim pela Refinaria Gabriel Passos e pela montadora de automóveis da FIAT. Ao redor da refinaria nasceram bairros como Petrolina, Montreal, Petrovale, Cascata e Ouro Negro. A FIAT de Betim funciona ininterruptamente, dia e noite, produzindo 2.500 veículos a cada 24 horas.

       Ao entrar na rodovia 381, a Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, avistamos ao longe a Serra do Espinhaço. Passamos por Sidrolândia, onde se desenvolve a agricultura, e também pelo município de Mário Campos, ambos muito carentes. Nossa guia nos informa que agora os jovens têm a possibilidade de ter empregos como monitores e nos trabalhos gerais em Inhotim, que emprega cerca de 750 pessoas. Em Minas Gerais, 853 municípios exploram minas de ferro, e Brumadinho está em oitavo lugar. Passamos pelo o rio Paraopeba, cujas águas têm a cor rosa, por causa da mineração. Às 10h10min chegamos a Brumadinho, cujo nome se deve à sua proximidade com Brumado Velho, assim denominado pelos bandeirantes por causa das brumas comuns, especialmente no período da manhã, em toda a região de montanhas em que se situa o município. Brumadinho é também um grande produtor de cachaça, com marcas famosas como a Domina, especial para o público feminino, e Segredo do Patriarca, Brumado Velho, Saideira e Boa Vitória.

INHOTIM

       Difícil falar sobre INHOTIM. Muito melhor visitá-lo para se encantar e nunca mais esquecê-lo. O Instituto Inhotim é a sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior museu a céu aberto do mundo. Visitamos e vivemos INHOTIM e aqui haveria muito a contar e a escrever sobre o que vi. No entanto, deixo um convite para que todos conheçam esta beleza mineira, onde arte, cultura e natureza se abraçam para nos oferecer ótimos momentos de êxtase diante de tanta exuberância. Aqui há muito trabalho humano realizado em prol da cultura e do lazer.

       Quanto à origem do nome Inhotim, nossa guia comenta que as terras de onde se extraía ferro pertenciam à mineradora de propriedade de um inglês chamado Mister Timothy. A pronúncia de senhor, no linguajar do mineiro, se transformou em Nho e a palavra Timothy, abreviado para Tim. Assim, de vamos lá na terra de Nho Tim, criou-se o nome INHOTIM. Essas terras foram vendidas pela mineradora que também possuía grandes árvores de eucaliptos para os altos fornos, árvores essas muito altas que ainda estão lá, embelezando a paisagem. Tudo isso foi transformado num ambiente de rara beleza onde natureza e arte se dão as mãos, num espaço de 100 hectares. Nossa guia nos leva a diferentes galerias de arte localizadas em distintos espaços e prédios, numa paisagem onde se encontram cinco lagos e reserva de mata preservada. Em suas alamedas e viveiros existem 4.500 plantas, árvores e flores provenientes de todo o mundo. Aberto em 2004, o instituto até agora já recebeu cerca de 500.000 visitantes. Muitos arquitetos e paisagistas trabalharam no local para torná-lo tão magnífico, entre os quais Roberto Burle Marx (1909-1994), que iniciou o paisagismo de INHOTIM.

       Nossa guia nos conta que aos 8 anos Burle Marx viajou para Nova York e, a partir do que viu nos Estados Unidos em termos de jardins, ele decide tornar-se paisagista. Em 1980 esse arquiteto faz o paisagismo das folhagens. Em suas trilhas e lagos encontram-se as coleções de palmeiras, cerca de 1500 espécies. É magnífico lugar não só de natureza, mas de arte contemporânea que entra em cena nos anos 70 e está exposta em seus múltiplos museus e salas de exposição. Pelas fotos podemos ver que há sempre excursões de alunos com seus professores e também trabalhadores em ação, embelezando e conservando esse jardim botânico e ao mesmo tempo, grande centro cultural. Não há palavras para descrever as riquezas de toda sorte que aqui estão, engrandecendo os que o projetaram e que continuam a conservá-lo.

       Almoçamos no grande restaurante que existe no interior desse centro cultural. Em seguida fomos visitar o centro administrativo Presidente Tancredo Neves, escutando a música Marina, do compositor Dorival Caymmi. Um trem carregado de ferro, com uma grande quantidade de vagões, desliza pelos trilhos e a guia Vera lembra: Lá vai o trem levando minha cidade. Saímos de Brumadinho, passando depois pelo município de Mário Campos. Depois tomamos a BR-381, já duplicada, e passamos por Contagem, onde foi abastecido nosso ônibus. Naquela oportunidade eu observei que o litro de gasolina estava a R$2,39

A cidade administrativa Tancredo Neves

       No final da tarde chegamos à cidade administrativa, onde 16.000 funcionários estavam saindo após terminar o expediente, e muitos ônibus preparados para partir. As luzes dos prédios foram acesas e foi assim que, na hora do crepúsculo, visitamos esta maravilhosa obra. O moderno complexo de prédios projetados por Oscar Niemeyer abriga a administração direta do Estado. Partimos com a sensação de ter visto uma importante obra. Chegamos ao FrimaS hotel e nos preparamos para partir, no dia seguinte, rumo a Sete Lagoas.

Quinta feira, dia 26 de maio de 2011

       Após um ótimo café, nos despedimos do gerente com o qual fizemos uma foto. Pela Avenida do Contorno, fomos saindo de Belo Horizonte rumo a Sete Lagoas, onde visitamos a Gruta do Rei do Mato, após almoço no Restaurante Fazenda Engenho. Muito oportunamente, nossa guia Vera coloca na TV um filme sobre mineralogia! Muito interessante! Estamos saindo pela BR-040, que liga Brasília a Belo Horizonte. Detalhe: toda rodovia que começa com 0 sai de Brasília.

Município de Sete Lagoas

       Situada a 70 km de Belo Horizonte, a cidade possui 23 empresas concentradas na extração de calcário, mármore, ardósia, argila, areia e produção de ferro gusa. Estamos indo agora visitar a Gruta Rei do Mato e nossa guia volta a ser Neuma, que começa a dar explicações sobre as grutas: são feitas pela natureza, e as grutas da América foram descobertas pelo dinamarquês Dr. Lund, formado em Medicina e em Letras. Lembro aqui de um dizer de Roberto Crema, reitor da UNIPAZ, Universidade da Paz, que frequentei entre 2000 e 2002: as biografias de homens que se destacaram na vida deveriam ser conhecidas. Por isso dedico algumas palavras à vida de Peter Wilhelm Lund, nascido em Copenhague em 1801, filho de ricos comerciantes de lã. Bacharel em Letras, aos 17 anos ingressa no curso de Medicina. Em 1824 começa o trabalho como pesquisador de campo com dois trabalhos premiados. No ano seguinte, publica um livro de fisiologia que foi adotado nas universidades de Copenhague, Viena e Nápoles. No mesmo ano, seu talento para a zoologia é revelado na premiada monografia O sistema de circulação nos crustáceos. Muito ligado à natureza, por questão de saúde, em 1825, veio para um país tropical, o Brasil. Na região de Petrópolis pesquisou insetos durante três anos e publicou o primeiro livro sobre esse assunto na sua terra natal, a Dinamarca.

       Lund é reconhecido como o pai da espeleologia no Brasil, o estudo da formação de grutas e cavernas. Explorou mais de 800 delas, tendo sido pioneiro em algumas delas: foi o primeiro a localizar e explorar. No campo da arqueologia, relatou a descoberta de importantes pinturas rupestres (feitas na rocha, por povos que viveram aqui milhares de anos antes do presente) e instrumentos de pedra.

“Nas cavernas da região, descobriu mais de 12 mil peças fósseis que permitiram escrever a história do período pleistoceno brasileiro – o mais recente na escala geológica – numa época em que o passado tropical era quase desconhecido pela ciência. Lund descobriu também ossadas do chamado ‘homem de Lagoa Santa’, que puseram em xeque uma série de pressupostos aceitos pela então incipiente paleontologia. Pesquisou nos primeiros 14 anos os fósseis e depois se dedicou às grutas. A primeira gruta pesquisada foi a de Maquiné.

“A Gruta de Maquiné localiza-se em Cordisburgo em Minas Gerais, no Brasil. Figurando como um dos atrativos turísticos do município, a gruta foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné. A partir de 1834 a gruta foi explorada cientificamente por Peter Wilhelm Lund, naturalista dinamarquês.”

       Uma das mais belas grutas do mundo e considerada o berço da paleontologia brasileira, a Gruta de Maquiné possui belas esculturas naturais e estalactites de diversas formas no teto da caverna. Seu uso começou como abrigo para as comunidades pré-históricas. Essas comunidades não tinham o hábito de entrar nas zonas escuras, mas utilizavam as entradas das grutas como áreas protegidas. A existência de pinturas rupestres e de outros vestígios arqueológicos são indicadores desses usos. A Gruta de Maquiné possui cerca de 650 metros de galerias e sete salões explorados e preparados com iluminação e passarelas, que possibilitam aos visitantes visitá-la em segurança.

       No Brasil as grutas são classificadas por extensão e profundidade. Entre Mariana e Santa Bárbara há grutas de 410 metros de profundidade. Lund faleceu em 25 de maio de 1880. Já no final da vida, Lund dizia que o que mais amava eram as ciências e a Música. Um dado curioso aconteceu poucos dias antes de morrer:

“Lund chamou o coveiro, deu-lhe uma generosa gratificação e encarregou-o de abrir imediatamente sua cova, que deveria ter mais de vinte palmos de profundidade. Lund chamou também a autoridade local e pediu que não o abandonasse até expirar para não haver demora na leitura de seu testamento, que continha recomendações para execução imediata. Solicitou uma grande festa para todos os moradores do arraial; à frente do cortejo, deveria vir a Corporação Musical de Santa Cecília, primeira banda de música de Lagoa Santa, fundada e custeada por Lund. Pediu músicas alegres e que ninguém chorasse. Em sua casa, a mais farta mesa estaria posta, com os vinhos de sua adega. Lund plantou um pé de pequi e pediu que fosse enterrado em Lagoa Santa embaixo do pequizeiro. Hoje o frondoso pequizeiro marca o lugar onde Lund foi enterrado. Suas histórias de vida nos emocionam. Suas últimas palavras foram: Amor, Amor, Amor!”

       Agora estamos nos dirigindo para a Gruta do Rei do Mato. Durante o caminho, nossa guia nos fala que a vegetação daqui é área de transição para o cerrado, com árvores de raízes profundas. A árvore característica daqui é o pequizeiro, cujo fruto tem muita proteína e por isso é chamado de carne do pobre. Nas redondezas não se vê nenhum plantio, pois aqui o que é rico é o subsolo. Sobre a Gruta do Rei do Mato, aberta para visitação em 1988, recebemos a seguinte história: um homem de cabelo e barba grandes que foi chamado o Rei do Mato, se refugiou nessa gruta, de onde só saía para comercializar alguns produtos. No local, um grande estacionamento com muitas árvores plantadas, cercado de construções em andamento, que segundo consta, a autoridade de turismo está preparando espaços para valorizar mais o lugar.

“Em dezembro de 2010 foi inaugurado o Receptivo Turístico do Monumento Natural da Gruta Rei do Mato, que conta com um mini auditório, com capacidade para 120 pessoas, uma sala de exposição permanente, área de exposições livres, nova bilheteria, apoio administrativo, banheiros, sala de primeiros socorros e brigada de incêndio.”

       Subimos uma ladeira coberta com pedrinhas circulares e eu fiz esta foto onde aparece minha sombra e a da pessoa que está andando ao meu lado.

       Nossa guia fala de árvores típicas da região, que revelam a integração da natureza com o ser humano e com os animais locais, como a lobeira, cujas folhas têm efeito sonífero; o lobo guará gosta de se alimentar dela. Outra árvore é a embaúba, que tem folhas prateadas e que são usadas tanto como como emplastro quanto para fazer uma infusão para controlar a hipertensão arterial. Produz também bananinhas, alimento predileto do bicho preguiça. A quaresmeira, árvore símbolo de Belo Horizonte, que floresce na quaresma, dando um lindo efeito colorido à paisagem. Outra árvore é o eucalipto, que foi trazido da Austrália, para substituir as matas da região e abastecer de carvão vegetal as grandes usinas, que funcionavam 24 horas por dia. Nossa guia complementa com algumas razões para nos preocuparmos com o eucalipto: 2/3 da altura da árvore são raízes que retiram muita água do solo, prejudicando seu equilíbrio hídrico, e suas sementes são espermicidas, impedindo que outras plantas nasçam e cresçam por perto.

      Na gruta uma guia local nos recebeu dando todas as recomendações de segurança e informações. Os técnicos e cientistas que fizeram parte do projeto previram o que há de mais moderno em urbanização de grutas.

“Na Grutinha, além de pinturas rupestres, feitas com sangue e gordura vegetal, foram encontradas, soterradas, ferramentas indígenas petrificadas, em perfeito estado. Nela encontra-se, ainda, uma réplica, em resina, do Xenorhinothericen bahiense – a macraoquemia – animal herbívoro que habitou Minas, Bahia e sul de São Paulo, há cerca de seis mil anos.”

       É a gruta mais visitada do Estado de Minas Gerais, com 998m de extensão dos quais 220 me estão abertos para visitação. Entramos e nos extasiamos com o que víamos, à medida que descíamos e entrávamos nos grandes salões. Ostenta espeleotemas de rara beleza. Lá há também pintura rupestre de 6000 anos atrás. A gruta, muito bem preparada para visitação, possui passarelas e corrimões num percurso, com segurança, nos 262 degraus no trajeto de ida e volta.

       Foi uma surpresa percorrer essa gruta, admirando os caprichos da mãe natureza. É quase inacreditável o que a natureza pacientemente, durante milhões de anos, elaborou de fantástico. Coloco aqui algumas fotos do interior dessa maravilhosa gruta. As fotos não traduzem o espetáculo que só quem está lá pode presenciar.

       Aqui nos familiarizamos com palavras como Espeleotema: espeleo = caverna e teme = depósito e também transpiração, gotejamento. “Espeleotema ou concreção é o nome genérico de todas as formações rochosas que ocorrem tipicamente no interior de cavernas como resultado da sedimentação e cristalização de minerais dissolvidos na água.”

       Uma revista chamada Espeleo Tema, que teve a primeira edição em 1970, adquiriu caráter científico na década de 80, com o objetivo de difundir a produção científica das cavernas e temas a elas associados. Saímos da gruta para outro local muito interessante: a Fazenda Solar do Engenho, uma bela construção em estilo colonial, onde almoçamos. Grandes janelas nos convidam a tirar uma foto, tipo namoradeira, tão comum aqui em Minas Gerais. Elio, nosso colega de excursão, orienta os que desejam fazer a pose adequada para uma foto autêntica.

       No almoço sentei-me a uma grande mesa redonda com Vilmar e Marli e mais alguns colegas. Vilmar estava de aniversário e recebeu os parabéns dos colegas de excursão e também um bolo com velas, enviado pelo restaurante.

       O restaurante é tipicamente caracterizado com grandes formas de queijo e doces de Minas.

       Depois do almoço, querendo saber mais sobre a fazenda, fui sentar-me à mesa do dono do restaurante e do auxiliar, seu sobrinho, que estavam almoçando perto das janelas. Atenderam-me com muita simpatia e com muita vontade de falar sobre sua família.

       Os pais de seu tataravô, família Figueiredo Neves, vieram de Portugal e aqui receberam muita terra. O bisavô deixou em herança sua terra dividida entre 12 filhos. O avô, por sua vez, dividiu a terra que lhe coube em herança, entre seus 10 filhos. E seu pai dividiu seu patrimônio entre seus 3 filhos. E aí, ele, Rogério de Melo Figueiredo, como um dos 3 filhos, recebeu a terceira parte, ou seja, a ele ainda lhe couberam 250 hectares, dos quais é dono atualmente. Rogério tinha um casal de filhos. Faz pouco tempo que o filho, de quase 20 anos, faleceu num desastre de moto. Sua filha é casada e seu marido trabalha no restaurante. Por ser uma pessoa muito criativa e empreendedora, aqui implantou, pouco a pouco, além do restaurante, muitas outras empresas: um Pesque e Pague; um Hotel Fazenda nos moldes da casa de seu avô; e Criação de cavalos (no momento havia um encontro, no hotel fazenda, dos criadores de cavalo manga larga; Fazenda de produção de leite (1600 litros por dia); Hípica, Produção de doce de leite para venda. Eles fizeram questão que eu conhecesse o hotel que está aí perto. Fui de carro com eles conhecer esse espaço, simplesmente maravilhoso, observando a forma como utilizaram a madeira de lei, a imponência utilitária de seus móveis antigos, o estilo colonial em si e também o entorno do hotel. Vale a pena passar alguns dias neste lugar paradisíaco.

       Voltando, muito agradecida aos anfitriões por conhecer mais este local, partimos pela BR-381, a autopista Fernão Dias, rumo a São Paulo.

Vera, nossa guia, sempre atenta, coloca música popular brasileira, muito suave. O azul do céu está pintado de nuvens brancas. Para eternizar aquele momento, fiz algumas fotos do céu de Minas num dia de sol! Depois, só o silêncio foi nosso fiel companheiro, neste merecido descanso após o agradável encontro do almoço. Tomamos o café com leite do ônibus passando o primeiro pedágio, com operários trabalhando na manutenção da rodovia.

       Antes de continuar, deixo alguns dados sobre a personagem que deu nome à esta BR-381, Fernão Dias Pais Leme.

“Descendente dos primeiros povoadores da capitania de São Vicente, nasceu em 1608, na vila de Piratininga. A partir de 1638 desbrava os sertões dos atuais estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, chegando ao Uruguai. Em 1661, administra uma aldeia com cerca 5 mil índios escravizados, às margens do rio Tietê perto da vila de Parnaíba. Em 1634 parte de São Paulo com o genro e dois filhos, à procura de esmeraldas. José Dias Pais conspira contra o pai, que manda enforcá-lo como exemplo. Por 7 anos explora o rio da Mortes, Paraopeba e o rio das Velhas, Aracuí e Jequitinhonha. Encontra turmalinas que confunde com esmeraldas. Morre de malária ao voltar para São Paulo, pensando que havia encontrado esmeraldas.”

       Às 17h15min começa o pôr do sol e o céu se pinta de vermelho, mudando de cores e desenhos a cada momento.

       Em uma hora está tudo completamente escuro. Dentro do ônibus há uma sessão de canto individual no microfone e também apresentação de piadas. Eu contei a piada do Franz que perguntou para o Fritz…. Dá para rir muito! Às 19 h passamos pelo quinto pedágio, chegando finalmente após as 22 horas ao hotel Dom Juan, nas adjacências da Praça da República, em São Paulo. Minha colega de quarto foi Ivonete.

Sexta-feira, dia 27 de maio

       Após um ótimo café, saímos para o terminal turístico, onde permaneceu o nosso ônibus. Nesta foto estamos indo para o Mercado Público, onde vemos uma grande quantidade de material de demolição.

       Eu me pergunto: daqui a alguns anos o que será que estará construído aqui? Entramos neste convidativo espaço espetacular que é o Mercado Público e nossa guia Vera marcou às 13 h todos prontos para partir para Florianópolis. Foi muito agradável percorrer aquele espaço, onde além de ver a beleza da exposição dos produtos, podermos conhecer frutas e outros produtos nunca vistos. Lembro que conheci e comprei a excelente fruta chamada atemoia, resultado da cruza da fruta do conde com graviola. Era uma fruta importada, achei-a muito cara, 15,00 reais a unidade. A partir daquele dia, compro atemoia sempre que a encontro em Florianópolis, pois é gostosíssima. Lá no Mercado de São Paulo, comprei mais algumas frutas, alguns doces sírios, geleia de rosas, água de rosas e mais alguns condimentos excelentes. Durante o tempo de visita ao mercado, alguns turistas foram à Rua 25 de março, espaço muito visitado, onde o Brasil se encontra para fazer pequenas e grandes compras.

No horário combinado – às 13 h – partimos para Florianópolis, passando pelo primeiro pedágio às 13h15 e às 14h45 pelo segundo. Vera colocou um lindo filme sobre uma guia turística que vai para a Grécia! Excelente! Às 14 h começa a chuviscar. A viagem continua maravilhosa. Paramos depois das 16 h para um lanche no Restaurante Fazendeiro.

       Depois continuamos a viagem assistindo ao maravilhoso filme O Divã, dirigido pelo brasileiro José Alvarenga Jr. e inspirado na obra literária de mesmo nome da autora Martha Medeiros. Na sequência da viagem tivemos o bingo, que entretém, aguça a atenção e faz com que o grupo se divirta, com os prêmios oferecidos pelo SESC e outros pelos próprios participantes. Às 18h30min mais um pedágio e às 19h15min mais um.

       Às 19h30min estamos na divisa de São Paulo e Curitiba e temos mais um pedágio. Paramos na localidade de Quatro Barras, num restaurante muito organizado e aconchegante. No jantar, tomei uma sopa muito gostosa. Na loja de conveniências anexa ao restaurante, comprei um disco de Ray Coniff. Partimos, e às 21h30min passamos mais um pedágio. Vera, a guia, propôs nos encontrarmos após esta viagem, em algum lugar. Para isso, ofereci minha chácara em Florianópolis, chamada Umuarama, nome de origem indígena que significa local ensolarado onde se encontram os amigos. Tudo a ver! Nosso encontro ficou marcado para o dia 11 de junho, decisão que me deixou muito feliz. Às 22h30min descemos a Serra e passamos por Garuva. A viagem continuou agradável e aproveitei para dormir todo o restante do percurso, pois tinha participado ativamente de todas as atividades. O cansaço me venceu. Cheguei muito satisfeita por haver conhecido um pouco da história do grande estado de Minas Gerais.

       Chegamos a Florianópolis perto de meia-noite. Todos se despediram muito felizes pela excursão maravilhosa que tivemos.

       Termino dizendo que essa incursão no nosso passado remoto, por tudo o que vi e vivi nas cidades históricas de Minas Gerais, foi altamente gratificante: além de me emocionar com as belezas que encontrei pelo caminho e de me alegrar com a feliz convivência com os colegas e amigos na excursão, mergulhei em conhecimentos muito importantes sobre o passado de regiões que começaram a ser colonizadas somente no século XVIII.

       No fim deste relato deixo algumas fotos do que foi nosso encontro do dia 11 de junho na chácara. Cada um participou com doces, salgados, vinho etc. Elio se encarregou do quentão. Marli estava de aniversário e trouxe um bolo e nós lhe oferecemos um vaso de flores e votos de muitas viagens e muitas felicidades. Recebemos também a visita de Valdir e Leda, Edson e Dulce, companheiros de outras excursões.

Viva a Viva, pois ela merece ser intensamente vivida!

Anita Moser

Florianópolis, 22 de junho de 2021

8 Comentários

  • Anita

    Salvelina, teu comentário me trouxe muita alegria, pois quem não fica feliz, ao ver que elaboraste uma poesia para me falar do que captaste, nesta leitura do relato ás Cidades Histórica de Minas Gerais. E o mais bonito é que isto mostra, profundamente, que me acompanhaste , na plena atenção do Aqui e Agora, nesta fantástica viagem. Como me disseste, leste cada trecho e examinaste cada foto, sem pressa e com total atenção! Obrigada por esta riqueza de companhia. Sim, escrever sobre o que vivi nas viagens, sobre a beleza da natureza, da cultura e da história e da geografia, bem como sobre as emoções que o encontro com a vida evocaram, para mim, foi sempre uma grande paixão. Procuro fazê-lo com o coração e oferecê-lo a todos, como um presente. Abraço grande, Salvelina, nesta homenagem, que ambas fazemos, à Vida.

  • Salvelina da Silva

    Querida Anita. E sempre um gosto ler os teus relatos de viagem e é impossível permanecer impassível diante deles, pois eles evocam o desejo de viajar, de conhecer os lugares. Teus relatos, agradáveis e elegantemente desenvolvidos, passam longe da monotonia, ganham vida, sabor e ritmo que surpreendem e despertam a curiosidade e o gosto das descobertas. A maneira como narras as tuas incursões por estas maravilhosas cidades históricas parece uma homenagem à vida, à beleza, aos lugares, aos surpreendentes encontros com as pessoas, com os ambientes, com as paisagens, com a cultura, com a História. Querida Anita, este trabalho, como todos os outros, é um trabalho maduro e ameno, que mostra claramente que foi organizado com amor, sensibilidade, alegria, leveza, precisão, riqueza e elegância. É um precioso presente para quem o lê. Parabéns.

  • ILSE MARIA JAPP

    Liebe Anita, que viagem maravilhosa esta aos Encantos Mineiros! Sempre é muito gratificante viajar através dos seus olhos alegres e amorosos… você tem o divino Dom de captar as mais belas paisagens, os momentos mais preciosos das relações humanas, e transcrevê-los de uma maneira simples, direta e acessível, ainda enriquecendo cada detalhe com pesquisas tão valiosas. Um verdadeiro presente para nós, profundos admiradores da Mãe Terra e de seus filhos!!! Que o “tempo de viajar pelo mundo” retorne, e que você continue sempre a nos proporcionar estes belíssimos relatórios. Um carinhoso abraço… Gratidão imensa…

    • Anita

      Liebe Ilse,
      começas teu comentário com Liebe Anita. As tuas boas aulas de alemão serão sempre lembradas com carinho, pois através delas, além de aprender esta lingua daqual gosto tanto, foram a possibilidade de dar início a esta nossa amizade. Agradeço as doces palavras com que te expressaste no comentário. Isto só revela a riqueza de sentimentos e de atenção que carregas e cultivas, através de tantas atividades interessantes que realizas, diariamente, no intuito de fortalecer o Despertar Humano. Receba meu grande abraço!

  • Vera Dunchatt

    Bom dia Anita, MULHER DO MUNDO
    Tua sabedoria foi colhida não somente sentada em bancos escolares e universidades, por onde andou como aluna, professora, orientadora, mas também em bancos de ônibus de turismo, em poltronas de aviões e em muitas vezes nas salas de espera com paciência.
    Tua curiosidade colheu ao longo das viagens situações, costumes, maneira da vivência das pessoas de cada lugar e época, conforme foi reproduzido nas sua palavras, com carinho, detalhes e precisões.
    Esse belo trabalho me trouxe a tua vivência de forma lúdica recordações de momentos, dos quais muitas vezes até despercebidos por alguns, possibilitando mais conhecimento.
    Obrigada pela oportunidade de um dia ter sido a sua guia de turismo, GUIA DE TURISMO, e não guia turística, me ensinando a prestar atenção nas Rodovias, lembra?
    – “Que BR é essa Vera?”
    Aí eu em pé no ônibus me agachava esperando quando placa passar, e você me olhando. Quando te informava, você toda feliz anotava no caderninho e esperava pela nova placa.

    Também muito me emocionou a lembrança da expressão “O SUFICIENTE PARA VOCÊ” , que nem lembrava mais. Muitas vezes pensamos que o que é suficiente para mim vale para você, nem sempre é assim, por isso DESEJO O SUFICIENTE PARA VOCÊ SER MUUUUUITO FELIZ. CONTINUE ASSSIM QUE TEU CAMINHO SEJA SEMPRE ILUMINADO. BEIJOSSSSSSSSSSS

    • Anita

      Vera, minha querida e excelente guia de turismo, totalmente preparada para desempenhar, com sucesso, esta tarefa, realizada com maestria, na condução inteligente e amorosa, desta excursão.
      Sim, a curiosidade que nos leva a fazer perguntas também se aprende na vivência, ao nos encontrarmos com culturas diferentes, inseridas em outra história, quase sempre desconhecida, e em outra geografia, igualmente diversa! Esta curiosidade de procurar as respostas, às vezes em pesquisa posterior, é também o campo privilegiado para o prazer daquilo que somos: eternos aprendizes.
      Obrigada Vera por suas amorosas palavras que me deixaram muito feliz ao ler seu comentário!
      Lembras que na volta a Florianópolis, sugeriste que poderíamos nos encontrar para celebrar esta amizade que havíamos construído durante a excursão. Ofereci ao grupo a chácara Umuarama, um local aprazível, próprio para celebrar a amizade. O congraçamento muito alegre, ficou registrado nas fotos que publicarei no fim deste relato de viagem.
      Abraço grande, Vera!

  • Anita

    Clarice, teu comentário me trouxe o contentamento de perceber , que, depois de leres o relato sobre a excursão às Cidades históricas de Minas Gerais, me fazes uma instigante troca. Você enfatiza aspectos importantes do ato de escrever e publicar. Sempre me convenço que, as viagens e as pesquisas feitas posteiormente, nos familiarizam com a geografia, história e cultura de lugares importantes e ainda pouco conhecidos em nosso Brasil, despertando em nós, o prazer do aprender. Concordo com você Clarice, que só com Amor e Paixão se faz o trabalho, no qual se investem nossas melhores energias, e, posteriormente, se o coloca á disposição daqueles que tiverem um tempinho para continuar a ser, como eu, eternos aprendizes.
    Obrigada pela valiosa troca, Clarice!

  • clarice maria neves panitz

    Outra viagem incrível,um mergulho em nossa história de colonização. Um trabalho de dedicação de tempo, pesquisa, cuidado em todos os detalhes como o português correto, a pesquisa de dados, as fotografias, o design da página, mas principalmente de AMOR, DE PAIXÃO, DE RESPEITO, DE CULTURA E DE EDUCAÇÃO. Com as VIAGENS DE ANITA a gente VIAJA no tempo, no espaço e, principalmente A GENTE VIVE e com lindas e fortes EMOÇÕES. Obrigada e felicidades Anita! BOAS VIAGENS!

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