América do Sul,  Brasil

Viagem a Manaus e São Luís do Maranhão

Viagem a Manaus e São Luís do Maranhão

A título de preâmbulo

       Costumo fazer relatórios de viagem! Eles me fazem bem, pois me ajudam a completar um olhar mais bem informado sobre tudo o que já vi e vivi! Guardo na memória a minha viagem e a revivo, quantas vezes o queira, atualizando e enriquecendo com novos saberes tudo o que, naquela viagem, conheci! Quando encontro, em qualquer livro ou revista alguém que fala sobre viagens, em geral, fico muito encantada. É por esta razão que, no dia 9 de fevereiro de 2008, lendo uma reportagem intitulada “Cadernos de Viagem”, na rica e substanciosa revista, “Vida Simples”, de janeiro de 2006, fiquei muito feliz e tive a intuição de colocar aqui, neste preâmbulo, as importantes palavras que lá encontrei, ditas por aqueles que valorizam as viagens.

       Gabriel Pillar Grossi assim se expressa: “Ao registrar suas impressões você aprende mais sobre o lugar, exerce sua sensibilidade e traz experiência na mala”.

       De Rubens Matuck, artista e escritor: “anoto tudo, expressões regionais, nomes de plantas e de frutas e as histórias das pessoas”.

       O designer Alceu Nunes, falando sobre seus relatórios que faz: “cada vez que mostro para alguém, sinto, de novo, cheiros, os sons, as conversas com as pessoas, o esforço da caminhada e a respiração ofegante”.

       E a francesa Lara Sabatier: “É só ter tempo para olhar de verdade o que está a seu redor e se observar, naquele lugar, em momentos únicos”.

       E é com este espírito que aqui, reparto com você que me lê, as minhas observações diárias sobre lugares, natureza, coisas e pessoas.

       Esta foi uma viagem ao norte e nordeste do Brasil, que fiz com minha amiga Alcita Varela, viagem esta que se tornou, simplesmente, inesquecível!!! Sinto saudades de toda aquela paisagem do norte e nordeste, mas, especialmente, das pessoas que conheci e encontrei por lá!

       E sobre viagens pelo Brasil, posso dizer que elas podem ser fantásticas como fantástico é esse nosso país, que pede para ser descoberto, por nós brasileiros.

Dia 5 de junho – Terça-feira

       Partimos de Florianópolis Alcita e eu com a empresa aérea Gol, rumo a São Paulo, às 10h30, deste dia 5 de junho, com duas horas de atraso, devido a problemas que estavam ocorrendo, naquela época, nos aeroportos do país. De São Paulo, seguimos viagem com a Varig e chegamos às 17 h, em Manaus, atrasando, então, o relógio em 1 hora, pois em Manaus o fuso horário era outro. Estávamos na terra da tribo dos índios Manaos, fato este que deu origem ao nome da cidade capital.

       Muito do que vivenciaríamos durante esta viagem ao Amazonas, teve início no avião, no trajeto de São Paulo até Manaus. Ao nosso lado estava Messias, que ostentava um chapéu de grandes abas, em sua cabeça. Na longa conversa que tivemos durante o voo, ele nos falou de seu trabalho, de sua família e de seus objetivos políticos: concorrer na próxima eleição a prefeito de um município do Amazonas. Chegando ao aeroporto nos separamos, pois, conforme combinado, a empresa CVC estava nos esperando e nos conduziu para o lindo Taj Mahal Hotel, localizado na Praça Largo de São Sebastião. Da janela do hotel, podíamos admirar esta grande e linda obra de arte, que é o Teatro Amazonas, agora muito perto de nós, iluminado, nestas primeiras horas da noite.

       Após desfazer as malas, Alcita e eu recebemos um telefonema: Messias e sua esposa Edineuza, nos convidavam para um jantar no restaurante “Peixaria Bom Gosto” situado a uns vinte km do nosso hotel. Aceitamos com todo o prazer este presente, e com eles, durante os 20 km, fomos tomando contato com o ambiente de Manauense à noite! Ao chegar a nosso destino, num momento muito agradável, víamo-nos, num autêntico restaurante amazônico, levados pelo carinho de nossos novos amigos. Sensação de alegria e gratidão! Os nomes dos peixes do cardápio eram desconhecidos para nós, a não ser o célebre e gostoso Tucunaré.

       Foi pedida uma “Caldeirada Mista de Tambaqui”. As espinhas deste peixe se parecem com costelas. Além disso, nossos amigos pediram “Tucunaré ao escabeche”.

No fim, como sobremesa, creme de cupuaçu gelado. Inesquecível este sabor!!! Estava um pouco frio nesta noite estrelada, quando passamos um bom tempo em agradável companhia de Messias e Edineuza, ao redor de uma mesa farta de peixes e de aconchego, neste nosso primeiro dia de viagem.

        Voltamos ao hotel e fomos descansar, agradecidas por esta nova experiência. Tínhamos inaugurado com chave de ouro, nossa viagem à terra dos Manauaras.

Dia 6 de junho – Quarta-feira

       Amanheceu maravilhoso, ensolarado e nós redobramos o prazer de ver o belíssimo teatro Amazonas, imponente, à nossa frente. Tomamos um excelente café com muitos sucos e frutas da região! É uma fartura que fala da riqueza do norte do Brasil!

       Após o café, Alcita foi fazer o tour pela cidade e eu fiquei me curando de uma inflamação da garganta. Graças a Deus e a um chá de alho, limão e mel que recebi no restaurante, por indicação de Alcita, melhorei bastante e logo!

       À noite, recebemos mais um convite! Desta vez era para um jantar, em casa de Messias e Edineuza. Antes de ir para sua casa, Messias, nos levou para conhecermos uma feira amazonense. Lá encontramos o povo da terra, vendendo nas muitas barracas, inúmeras frutas; algumas conhecidas, mas com tamanhos exagerados; por exemplo, nos foi oferecido pelos feirantes, um ingá de um metro de comprimento! Havia banana da terra, muito grande, com 40 cm de comprimento. Havia frutas desconhecidas para nós: o buriti, o tucumã, o bacuri, jenipapo, graviola, cupuaçu, das quais, só conhecíamos o nome.

       Foi uma experiência muito agradável vermo-nos nesta feira, conversando com simpáticos manauaras, que nos ofereciam seus produtos para que os experimentássemos. A vinagreira, uma planta muito usada por aqui, estava em todas as barracas. Marcamos nesta foto, a forma alegre e simpática com que nos receberam e nos encantaram.

       De outro lado, também nos chamou a atenção, a forma esbanjadora como descascavam a castanha do Pará, jogando fora, com a casca, boa parte desta noz. Em todas as barracas conversamos e nos divertimos vendo e aprendendo sobre esta terra e esta gente! Somos muito gratas por termos conhecido, por intermédio de Messias, esta feira livre.

       Após este primeiro encontro com a cultura do lugar fomos para a residência de nosso anfitrião Messias, onde a dona da casa, Edineusa, nos recebeu com um prato especial e muito saboroso: “pirarucu à casaca”. Como suco degustamos o delicioso cupuaçu. Como sobremesa, creme de buriti. Delicioso! Que agradável jantar!

       Após, Messias nos explicou a proposta que tinha para sua campanha política. Fomos convidadas a analisar com ele os discursos que havia escrito!

       Assim, terminou de forma agradável e muito rica de acolhimento e conhecimentos, este nosso segundo dia, em Manaus. Nosso coração estava agradecido à Vida pelo que estava nos proporcionando! Relembramos, hoje com gratidão, estes gestos de carinho com que fomos agraciadas ao chegar ao Amazonas, por estes nossos novos amigos!! A cada dia, nós nos inteirávamos mais, a respeito da culinária, cultura e da riqueza da fauna e flora do Amazonas.

Dia 7 de junho – Quinta-feira

       Neste terceiro dia estava planejado um passeio de barco, de um dia inteiro, para apreciar o memorável encontro das águas entre o rio Solimões e o rio Negro, no Rio Amazonas.

Iniciamos o dia, tomarmos um bom café, enquanto, do restaurante giratório, admirávamos o teatro Amazonas. É uma paisagem linda, com a qual se pode ficar muito tempo, somente na contemplação, vendo a cidade e, logo aí, o rio Amazonas.

       Em seguida, partimos de micro-ônibus do nosso hotel Taj Mahal e fomos tomar o transporte marítimo no célebre Hotel Tropical. Este grande hotel, construído pela gloriosa Varig, se localiza a 10 quilômetros do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Foi inaugurado em 1976.

       Após a falência da gloriosa Varig o empreendimento passou para o controle da rede Tropical Hotels & Resorts Brasil.

       Chegamos a este hotel e visitamos suas redondezas, em meio a uma natureza exuberante de verde e de flores. Nós, do Sul, nos deslumbrávamos, por poder conhecer, um pouco mais, esta terra do extremo norte do Brasil.

       Lá mesmo, tomamos o barco e durante horas, fizemos a espetacular viagem pelo rio Solimões, visualizando, a cada instante, a história e a economia atual deste estado, que tem no Rio Amazonas a sua referência para tudo. O guia manauara que nos acompanhava, tinha estudado nas missões dos padres salesianos e falava fluentemente três línguas. Graças ao entusiasmo deste esforçado guia indígena, tivemos a oportunidade de apreciar e conhecer muito deste universo cultural. Quando um guia começa a falar, somos sempre surpreendidos com informações, muito úteis, para começar a entender o muito que esta nova paisagem nos apresenta. E foram muitas as informações, pois o guia mostrava grande prazer em seu trabalho. Começou dando-nos uma informação que julguei muito interessante! Quem não conhece as tiras sinuosas em preto e branco da calçada da praia de Copacabana? É a homenagem ao encontro dos rios Negro e Solimões. Soubemos também, que o mesmo desenho do encontro das águas que está na praça que fica em frente ao teatro Amazonas, copia, desta vez, o desenho das calçadas de Copacabana. Isto significa tirar do anonimato, um símbolo conhecido, mas não entendido. Mais uma vez nos damos conta do prazer que o conhecimento nos proporciona.

       No longo do passeio pelo rio Solimões, à medida que o barco avançava, uma paisagem bonita, desconhecida, inédita e estranha, diferente de tudo o que vimos até aqui, nos envolvia.

       Na prática, percebi, os rios como sendo, verdadeiramente, as estradas do Amazonas. Lá estamos vendo, por exemplo, o passado histórico do Amazonas, no porto artificial, com grandes boias cilíndricas de ferro, sustentando a plataforma, que os ingleses fizeram no passado.

       A cada novo olhar, vemos diversos aspectos do presente econômico deste rio. Aqui nomeio os que mais me impactaram:

  • Os postos de gasolina espalhados pelo rio para abastecer os inúmeros barcos que trafegam por aqui.

  • Os grandes navios descarregando contêineres, no meio do rio.

  • Os imponentes e inúmeros navios de turismo navegando soberanos.

  • Pequenas lanchas a vapor cortando com rapidez as águas e transportando turistas.

  • Os longos trens sobre a água descarregando mercadorias!

  • Os armazéns flutuantes, que são arrastados pelo rio, atendendo as necessidades de abastecimento das populações ribeirinhas!

  • O cenário das casas sobre palafitas e casas flutuantes!

  • Os quartéis do Exército e da Marinha que fazem o trabalho nas longínquas terras do Amazonas.

  • As refinarias de combustível.

       Realmente uma paisagem viva e muito diferente das nossas do Sul!

       Nosso programa neste dia, pretendia observar o encontro das águas! Aqui abaixo alguns mapas nos mostram a realidade desta paisagem.

       A viagem avançava na companhia agradável dos turistas, encantados todos, com o que estávamos vendo.

       Clique aqui: Vídeo Rio Solimões

       Finalmente, depois de horas de viagem pelo rio Solimões lá está, diante de nossos olhos maravilhados, o tão esperado encontro do rio Solimões com as águas do rio Negro, deixando transparecer, com clareza os dois tons desta água que formam o rio Amazonas. Este espetáculo foi algo que tocou a nossa sensibilidade. As fotos deixam ver, com nitidez, esta maravilha da natureza! Valeu este tour pelo rio Solimões!

       Fizemos, também, depois um passeio de canoa pelos igarapés da Amazônia, onde nós estávamos protegidas pelos coletes salva-vidas, observando os indígenas, tanto adultos quanto crianças, em suas canoas, naturalmente, navegando em meio à vegetação neste mar de águas.

       Chego à conclusão que nosso Brasil Continental é tão rico e tão diversificado, que vale a pena ser, mais conhecido, pelos brasileiros.

Dia 8 de junho – Sexta feira

       Este, foi um dia livre! Aproveitamos para visitar o Teatro Amazonas, que, desde que chegamos a Manaus, nos convidava a ir conhecê-lo. Foi o que fizemos, com muito prazer!

       Este teatro é tão importante que, em 2019, foi eleito pela Revista Vogue, como uma das casas de ópera mais bonitas do mundo. Foi construído na chamada “Belle Époque”.

A Belle Époque é uma expressão francesa que significa bela época e foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou no fim do século XIX, meados de 1871 e durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. Foi baseado no Impressionismo e a Art Nouveau. No Brasil foi um período (1870 a 1931), de cultura cosmopolita, de mudanças artístico, cultural, tecnológico e político. Marcou o fim do Império e o fim da República Velha. A Belle Époque, no Brasil, difere de outros países, seja pela duração do período, seja pelo avanço tecnológico, que se deu, principalmente, nas duas regiões mais prósperas do país na época: a região do ciclo da borracha (Acre, Amazonas, Rondônia e Pará) e a região cafeeira (São Paulo e Minas Gerais)”. Nesse sentido, se entende porque Manaus passou a ser conhecida, no auge do ciclo da borracha, como a “Paris dos Trópicos”.

       O Teatro Amazonas, famoso por oferecer excelente acústica, é o principal cartão-postal da cidade de Manaus. Inaugurado em 31 de dezembro de 1896, para atender ao desejo da alta sociedade amazonense da época, que queria que a cidade estivesse à altura dos grandes centros culturais do mundo.

       Erguido durante o auge do Ciclo da Borracha, quando Manaus era pura prosperidade, o Teatro Amazonas, foi tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 1966 e em 2008, foi eleito uma das sete maravilhas brasileiras. Esta bela obra de arte, que enche de orgulho os manauenses, abriga também um museu com rico acervo cultural, aberto ao público, com objetos que resgatam diferentes fases da história, bem como oferece mostras temporárias. Seu palco já sediou importantes festivais.

       Visitamos o Teatro que é simplesmente deslumbrante. Também, vimos diversas exposições nos arredores do teatro Amazonas.

       Após a visita ao teatro, conhecemos Manaus andando a pé. Fomos para a zona franca.

E conhecemos um Shopping. E nos encontros com pessoas, como sempre rola uma boa conversa, fizemos essa foto para marcar um desses encontros.

       À noite nos aguardava uma agradável surpresa. Edineuza, a esposa de nosso amigo José Messias, veio nos buscar para visitarmos um local interessantíssimo e, podemos dizer, imperdível para quem quiser aproveitar a oportunidade de conhecer, um pouco mais, da cultura e diversidade da Amazônia.

       Trata-se do “Centro Cultural dos Povos da Amazônia” (CCPA), que está localizado na avenida Silves, 2.222, Distrito Industrial, zona sul de Manaus. Foi organizado em 2011 e fica aberto para visitações gratuitas de segunda a sexta, das 8 h às 17 h. Este Centro Cultural abriga o Museu do Homem do Norte. Atualmente conta, com mais de duas mil peças distribuídas em quatro ambientes, retratando vários aspectos do homem amazônico, como sua relação com a natureza, cultura e política.

       Foi emocionante nosso encontro com a cultura do norte do Brasil a partir desta visita ao CCPA, que como está descrito abaixo, é um amplo espaço que retrata a cultura do homem amazonense:

No local também funcionam as bibliotecas Mário Ypiranga Monteiro e Arthur Reis, a Praça das Bandeiras, o Espaço Rio Amazonas – com um corredor em forma de túnel que estampa a imagem de um mapa antigo do rio Amazonas. A exposição ‘Filhos de Nossa Terra’, com 19 esculturas feitas pelo artista Felipe Letterstten como homenagem a povos distintos do continente americano, também é um dos pontos altos da visitação. O local oferece ainda ambientações regionais que visam inserir o visitante na realidade amazônica, como as Casas do Caboclo e da Farinha, o Barracão do Guaraná, Tapiri de Defumação da Borracha, Tapiri do Seringueiro e um dos pontos altos do tour cultural: a réplica da tribo Xapono Yanomam. Esta é uma oportunidade única para o visitante que deseja conhecer o modo de vida do povo yanomami sem precisar sair da cidade. O local é montado como réplica de uma casa indígena, usada para abrigar de 40 a 300 indivíduos, aproximadamente. A visita guiada tem um tempo médio de 1h45. Oito guias turísticos apresentam o espaço em português, espanhol e inglês, além de libras (linguagem brasileira de sinais)”.

       Além dos espaços citados, o CCPA conta com muitas outras opções culturais. As pessoas que passam por aqui por fora e ainda não visitaram, nem imaginam a diversidade que podem encontrar em um lugar como esse.

       Neste Centro Cultural do Povos da Amazônia, apreciamos maravilhosas exposições e assistimos o festival das danças manauaras.

       O entusiasmo com que os diversos grupos se apresentaram, nos deixaram felizes, por termos a oportunidade de ver essas verdadeiras óperas a céu aberto. Lá havia também inúmeras barracas com comidas típicas. Fizemos filmagens e fotos e levamos conosco o entusiasmo e alegria deste povo do Amazonas. Jamais esqueceremos estas festas maravilhosas com que nossos irmãos brasileiros do norte do Brasil, celebram suas tradições! São verdadeiras óperas a céu aberto. Clique aqui: Vídeo I e Vídeo II

Dia 9 de junho – Sábado

       Neste dia, no hotel, nos encontramos com Elvira, com quem havíamos falado, por telefone antes de começar a viagem. Elvira havia sido recomendada pela amiga Margareth. Ela veio ao nosso hotel e nos colocou a par do trabalho que realiza em prol do combate aos usuários de drogas. Nos entregou material escrito que produz e distribui em Manaus. Fomos almoçar em sua companhia, no centro. Passamos depois, também, pelo Centro Comercial de Manaus.

       No caminho também tivemos o prazer de nos encontramos com um professor da universidade, amigo de Elvira, que nos convidou para irmos à sua casa. Agradecemos o convite, mas, infelizmente, desta vez não haveria tempo útil. Ficamos também agradecidas por este encontro amigo com Elvira.

Dia 10 de junho – domingo

Neste domingo, a convite de nossos amigos Messias e Edineuza fizemos com eles um passeio à cidade de Presidente Figueiredo, que fica a 110 km de Manaus, viajando pela BR 174. A cidade de Presidente Figueiredo possui o festival do Cupuaçu. O nome do município nada tem a ver com o nome do ex-presidente do Brasil.

       Durante o percurso desta maravilhosa viagem conversamos e prestávamos atenção às diversas vegetações e paisagens desconhecidas que se alternavam entre chuva e sol. O ambiente era de descontração, nosso amigo Messias firme ao volante a seu lado sua sempre gentil esposa Edineuza. Alcita nos enriquecendo com sua alegria e informações. Clique aqui: Vídeo.

       Ao meio dia paramos para o almoço onde saboreamos uma autêntica galinha caipira. Delícia!

A paisagem nas cercanias do restaurante era muito bonita, com muito verde e muitas flores. Fizemos muitas fotos e entre elas, uma ao lado dos pés de Urucum. Com esta semente os índios pintavam, de vermelho, o corpo.

       Lá também conversamos com um casal de turistas que nos falou que à noite haveria o festival do boi chamado de “Caprichoso” (azul). Ofereceu-se para nos buscar no hotel, em Manaus, para que pudéssemos apreciar esta festa gigantesca, maravilhosa e, pode-se dizer, imperdível ópera ao ar livre! Agradecemos o convite e ficamos de lhes telefonar confirmando ou não à noite.

       Continuando a viagem chegamos a Presidente Figueiredo, uma pequena cidade, que recebe pessoas que vão se banhar no rio e nas cachoeiras aí existentes. Muitas cachoeiras são douradas.

O município de Presidente Figueiredo está ligado a capital Manaus pela rodovia asfaltada, a BR-174, que faz ainda a ligação com Boa Vista, capital do Estado de Roraima e, de lá liga o Brasil à Venezuela através do município fronteiriço de Santa Helena (Ven.). Presidente Figueiredo despontou há pouco tempo para o turismo ecológico em razão de sua fartura de águas, selva, recursos naturais, cavernas e cachoeiras (são mais de cem catalogadas). Nela existe uma razoável infraestrutura turística em expansão. O município é mais conhecido pela usina hidroelétrica instalada ali, a usina de Balbina, no distrito homônimo, cujas obras e manutenção são responsáveis pela maior catástrofe ambiental da história do Brasil”.

       Há uma pequena praia ao longo de um rio de águas muito pretas que tem estas imensas cachoeiras, cujas águas, na queda, brilham com um amarelo-ouro muito cintilante.

Presidente Figueiredo possui belezas naturais em abundância, joias como cachoeiras e cavernas encravadas na maior floresta do planeta. O município, que é do tamanho da Holanda, possui cerca de 100 cachoeiras. Uma outra curiosidade é o nome da cidade, que oficialmente diz respeito ao primeiro presidente da Província do Amazonas, João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, falecido em 1861. […] Os maiores pontos turísticos do município são suas cachoeiras e cavernas. Dentre as cachoeiras, as mais visitadas são a das Lages, da Pedra Lascada, de Iracema, da Pedra Furada, das Araras, da Suframa e das Orquídeas. Esta última possui piscinas naturais onde é possível tomar um refrescante banho. Já a cachoeira da Pedra Furada, como o seu nome diz, possui uma pedra furada pela qual a queda d’água passa, em um surpreendente espetáculo. As cavernas mais atraentes do local são a das Lages, a do Lago, das Araras, da Iracema, Refúgio da Maroaga e Caverna do Batismo. Esta última possui pinturas rupestres. Já a caverna Refúgio da Maroaga possui mais de 380 metros de galerias. Há ainda algumas corredeiras, muitas delas ideais para a prática de esportes como o rafting. Dentre elas, destacam-se a Corredeira do Urubuí, a Corredeira Santa Bárbara, a Corredeira do Uirapuru, Corredeira Panorama, Corredeira do Sítio Santa Lúcia e as corredeiras do Balneário Água Viva”.

       No caminhar pela cidade vimos as suas cachoeiras e, nas muitas barracas apreciamos o doce do cupuaçu misturado com castanha! Divino! Lá comprei este doce para trazer para Floripa.

       Aqui em Presidente Figueiredo foi construída, entre 1985 e 1989, a hidroelétrica de Balbina, que represou o rio Uatumã e alagou uma área de 2360 km². Num tempo em que não se exigia os estudos de impactos ambientais, ela se transformou numa verdadeira tragédia ambiental. Muitas árvores simplesmente desapareceram e comunidades foram desalojadas. E a própria hidrelétrica, segundo dizem, não conseguiu fornecer a energia elétrica prometida.

       Porém, alguém após muitas pesquisas conseguiu construir em Balbina algo muito útil e interessante: a hidrelétrica anunciou um projeto-piloto envolvendo usinas solares flutuantes.

A partir do projeto-piloto da hidrelétrica de Balbina foram instaladas placas fotovoltaicas no lago da usina, dando início a primeira usina solar flutuante do Brasil, que até outubro de 2017 serão responsáveis pela produção de 5 MW, numa área equivalente a cinco campos de futebol. A energia será suficiente para abastecer cerca de nove mil casas. O reservatório poderá ainda receber um total de 300 MW em forma de usina solar flutuante, mais que dobrando a sua capacidade atual de geração de energia hídrica”.

       Certamente esta é uma boa opção para uma hidrelétrica que não chegou a realizar a produção de energia esperada.

       Na volta desse nosso interessantíssimo passeio já era tarde, noite mesmo. Nossos amigos Messias e Edineuza nos levaram, então, para um lugar muito singular para saborear um coquetel de sopas. Este restaurante era especial por todos os lados, cheio de arte e aconchego. O coquetel era constituído de 12 qualidades de sopas com os respectivos condimentos. As sopas eram apresentadas em pequenas caldeiras de ferro, num lado. Do outro lado, havia mais uma mesa cheia de condimentos, organizados novamente em recipientes especiais. Seria longo descrever, mas foi inesquecível este momento de confraternização neste jantar. 

       Á noite, cansadíssimas chegamos ao hotel às 23 h e telefonamos ao casal que nos convidou para nos levar ao festival do caprichoso, que agradecíamos imensamente, mas deixaríamos para uma próxima viagem à Manaus, este espetáculo do Amazonas.

       Bem, o que posso dizer é que estávamos satisfeitíssimas com o que a Vida estava nos ofertando aqui no Amazonas.

Dia 11 de junho – Segunda-feira

     Neste dia aproveitamos a parte da manhã para passear no centro da cidade. Entre outras coisas interessantes, observamos que havia muitos ambulantes comercializando frutas, umas nossas conhecidas, outras não, como o tucuman. Outro local, que me chamou a atenção, foi o bonito prédio do “Ginásio Amazonense Dom Pedro II”.

     E com eles, sempre rolava uma boa conversa, pois tínhamos interesse em adquirir novos conhecimentos sobre os produtos da generosa Amazônia. A qualidade do abacaxi e o seu tamanho também se destacaram.

     Fomos, também, a um lugar importantíssimo para ser conhecido em qualquer cidade. Visitamos o Mercado Público de Manaus e aqui deixamos, nessas fotos, o registro da forma como apresentavam os seus peixes.

       Após a visita a cidade, almoçamos e nossa viagem seguiu para São Luís do Maranhão.

       Partindo de Manaus, de avião, às 13h30, fizemos uma descida em Santarém e outra em Belém do Pará e, após três horas e meia de viagem, chegamos a São Luís do Maranhão. Em Santarém, tomaram o avião as professoras Lucineide Pinheiro e Rita Peloso, respectivamente professoras com projetos na área dos esportes e da arte. Elas participariam do Congresso de Educação dos municípios do Brasil, em São Luís do Maranhão. Conversamos durante quase todo tempo, recebendo delas muitos conhecimentos a respeito de seus projetos. Num ambiente de muita amizade, trocamos telefones.

Chegamos a São Luis do Maranhão, onde nos esperava a CVC, que nos levou para nossa hospedagem, a Pousada do Francês, uma construção histórica de 300 anos.

       Nesta mesma noite, saímos sem destino pelo centro, fazendo uma volta despretensiosa e, ao mesmo tempo, atenta, nos arredores da Pousada. O que nos chamou a atenção imediatamente, foram os casarões e as casas cobertas de azulejos, amarelejos e verdelejos. Uns casarões estavam recuperados e outros, em péssimo estado.

       A observação do abandono dessa riqueza arquitetônica nos indignou e nos entristeceu. Estávamos vendo a se perder, uma grande riqueza cultural. Se a paisagem de uma cidade que tem o privilégio de ostentar cinco mil casarões nos deslumbrou, ao ver seu estado de abandono, só pudemos lamentar!

       Vimos, por exemplo, a Escola Modelo, fundada em 1948. Nos demos conta, com pena e espanto, que o prédio estava em péssimo estado e de “modelo” só havia o nome.

       Estávamos felizes por estar em São Luís do Maranhão.

       Deixo aqui alguns dados sobre São Luís do Maranhão.

       É a única cidade brasileira fundada por franceses, no dia 8 de setembro de 1612. Posteriormente a cidade foi ocupada por holandeses e por fim, foi povoada pelos portugueses. Esta cidade possui hoje, o maior casario português da América! A história liga esta cidade, primeiramente, aos índios.

       A título de ilustração:

A capital Maranhense, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, no início abrigava apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Aqui, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás – entre 200 e 600, segundo cronistas franceses – viviam da agricultura de subsistência (pequenas plantações de mandioca e batata-doce) e das ofertas da natureza, caçando, pescando e coletando frutas. Nos arredores da atual cidade de São Luís, habitava a etnia indígena dos potiguaras”.

Dia 12 de junho – Terça-feira

       Após uma noite de descanso, tomamos café e esperamos o carro da empresa que nos levaria para Lençóis Maranhenses. Fizemos o percurso de 260 Km num micro-ônibus, que ia até a cidade de Barreirinhas.

       Neste trajeto, fizemos contato com um casal de Itabira-Mirim (significado da palavra: pequena flor branca, cheirosa.) Foi uma grande alegria conhecermos, de forma tão natural e amigável, este casal que mora no interior de São Paulo. Convenço-me, sempre de novo, que o importante nas viagens, é o contato verdadeiramente humano que podemos fazer, quando nos abrimos para o outro.

Em Barreirinhas, nos hospedamos num Flat, da rede de hotéis SOLARE. Após o almoço no nosso Hotel, partimos com uma caminhonete Toyota, tração nas quatro rodas, para conhecer e admirar os célebres “Lençóis Maranhenses”.

       Os primeiros quatro km nos levaram às margens do rio Preguiça, onde uma balsa fez o transporte para o outro lado do rio. Aí continuou a viagem de 10 km por trilhas, onde os sulcos na areia e a travessia de lugares alagados, enterrava as rodas por quase meio metro. No entanto, a nossa Toyota, mostrava a cada minuto, que para ela, não haveria aqui, dificuldades que não pudesse transpor.

       Chegamos aos Lençóis Maranhenses, uma área de 150.000 km2 e que tem de 5 a 10 mil lagoas em sua área, numa paisagem que, por causa do deslocamento da areia com o vento, muda e se transforma continuamente.

       Ao chegar, foi só admirar a natureza majestosa!!! Areia com montes e vales, às vezes em movimento, lindas lagoas azuis ou verdes, num cenário a nos fazer suspender a respiração.

       Entramos nas lagoas para tomar banho, batemos fotos, fizemos amigos.

       Entre os amigos que recém-tínhamos conhecido, estavam dois turistas alemães, um dos quais, Tenor, na Ópera de Viena. Qual não foi o meu espanto quando o mesmo se ofereceu para cantar. Apesar do vento uivante e da areia que nos acoitava, lá estava ele, cantando para nós, com voz forte e, ao mesmo tempo, suave, que reverberou soberana pelos Lençóis Maranhenses. Este momento pode ser curtido clicando no link ao lado: Vídeo.

De volta ao hotel, nos preparamos para jantar, voltando, às 20 h para a cidade de Barreirinhas, com as pessoas da excursão, com direito a forró. Artistas músicos abrilhantaram o forró pé de serra. Dançamos com vontade! Na janta saboreamos frutos do mar. Outras emoções nos esperavam!

Dia 13 de junho – Quarta-feira

       Acordamos com o brilho do sol, o canto dos pássaros e a calma das muitas palmeiras (buriti, babaçu e carnaúba) neste lindo hotel SOLARE, às margens do rio Preguiça, nas cercanias da cidade de Barreirinhas.

       Após um bom café, fomos fazer um passeio de Catamarã, por este rio que tem 586 km de comprimento e é ladeado por mangues, cujas árvores, ao contrário daquelas que conhecemos aqui no Sul, chegam a ser muito grandes, até com quarenta metros de altura. O nome Preguiça, diz o nosso guia, se deve ao fato de que, em suas margens, havia muitos bichos-preguiça. Também há outra explicação sobre o fato de que o nome preguiça é porque o rio que, por sofrer a influência das marés, que o tornam muito lento, corre manso e muito devagar.

       Tomamos o Catamarã e iniciamos a viagem, a 15 km por hora fazendo durante o percurso, diversas paradas, que nos possibilitaram entrar em contato com a cultura do lugar.

       A primeira parada foi em Vassouras. Subimos as dunas, sob um sol escaldante de 40 graus. Se o sol estava quente, a areia estava muito mais.

       Caminhando sempre, fomos parar num lugar na beira do rio, num barracão, com muitas redes, onde descansamos e nos reabastecemos tomando água de coco!

       Lá neste rancho, também pudemos conhecer, um pouco da cultura regional: formas de cozinhar com seu fogão de inúmeras bocas, por exemplo. Há referências de ser um fogão tradicional açoriano.

      Retomamos então o barco e continuando, fizemos mais uma parada em Caburé, um lugar muito bonito com infraestrutura de turismo: restaurante, casas de aluguel, artesanato etc. Lá nos dirigimos à praia e descansamos num mirante espetacular onde pudemos visualizar a paisagem magnífica do lugar. A cor do mar era verde, lembrando os verdes mares do Caribe.

       Lá almoçamos, e na volta, continuando a viagem, fizemos uma parada na localidade de Mandacuru, onde conhecemos o farol. Com 35 metros de altura, ele está a 45 m acima do nível do mar, iluminando o rio e o mar e foi inaugurado em 1904. A escalada em seu interior se faz subindo 110 degraus com seus terraços, em forma de caracol. A capacidade de visualização é de 45 milhas.

       Voltamos ao hotel muito cansadas e fomos para a piscina. Lá restabelecemos nossas forças. Na piscina fizemos uma longa conversa com um colega de excursão que é diretor comercial da Faber Castells. Aprendemos muito do que trata a empresa, a partir desta conversa. Ele nos explicou que são 1500 itens que a fábrica produz e soubemos que alguns itens da fábrica são muito caros. Por exemplo: há uma espécie de lápis que custa R$ 1.500,00.

       Mas o que importa é que estes encontros amigos nos trazem informações, de primeira linha e de forma direta, nos colocando em contato com aspectos da vida, impossíveis de serem abarcados de outra forma, em tão pouco tempo e de uma maneira tão agradável, conhecendo ótimas pessoas!

Dia 14 de junho – Quinta-feira

       Este dia foi o nosso último dia perto de Lençóis Maranhenses, pois, às 15 horas iríamos partir para São Luís do Maranhão. Enquanto Alcita foi para a piscina, eu fui, às 9 h, visitar a cidade de Barreirinhas, de Toyota. Conheci lojas de artesanato e fiz um passeio, na recém-inaugurada praça de convivência. Muito interessante esta obra e foi muito bom este passeio!

       Encontrei-me e falei com estudantes, marcando o encontro com estas fotos abaixo! Percorri o centro de Barreirinhas e falei com alguns rapazes que trabalham no moto táxi!

       Comprei algum artesanato e, dentre as compras, uma toalha feita com fibra de buriti, em forma de mandala. Considero importante termos uma mandala em nossas casas. Esta ficou muito tempo enfeitando o meu apartamento em Florianópolis.

Mandala significa círculo, em sânscrito. Universalmente, a mandala é o símbolo da integração e da harmonia. Segundo a teoria junguiana, a mandala, é um círculo mágico, que representa simbolicamente a luta pela unidade total do eu.

       Voltei de Toyota, ao meio dia e, após o almoço e o descanso, saímos às 15 h, para São Luís do Maranhão.

       Nesta viagem percorremos 260 km, em duas etapas:

1) Após 150 km, paramos no restaurante da Pousada Quebra Anzol, no município de Morros, onde tomamos café.

       Lá estavam ultimando a feitura do “boi vitorioso”, bordado magnificamente com canutilhos! Uma maravilha de arte e empenho em bem finalizar este símbolo de sua cultura. Lá nos contaram a história da expressão “Quebra Anzol”, pois cada nome tem uma razão de ser. A história é a seguinte: uma família vinha do Rio de Janeiro todos os anos fazer férias, às margens do rio, que por ter muito mangue e os peixes serem grandes, quebrava o anzol quando da pescaria. Eles sempre se remetiam a este lugar com este nome: “Quebra Anzol”, em homenagem a estas boas lembranças. Neste lugar havia uma família que, carinhosamente, os recebiam todos os anos. E aqui está a explicação, do nome desta Pousada “Quebra Anzol”. E, do Município de Morros, nesta Pousada, reabastecidos e com novas energias, continuamos a viagem!!!

No caminho conversei muito com duas agentes da CVC, que haviam concluído a graduação de turismo, mas que manifestaram a vontade de continuar seus estudos, para poder se preparar melhor como agentes de turismo. Achei muito interessante o modo como estas agentes de turismo, valorizavam sua preparação profissional. E com esta nova comunicação, marcamos com uma foto, este feliz encontro.

       Chegamos, à noite, na Pousada do Francês, quando recebemos a visita de Rosania, catarinense, minha ex aluna do curso de Ciências Sociais da UFSC e de seu marido maranhense Ananias, com quem nos havíamos já comunicado. Com eles fomos conhecer a noite da cidade de São Luís de Maranhão.

       São Luís do Maranhão é uma cidade muito particular, a partir de sua cultura. Aqui se respira arte, poesia e beleza em toda a parte.

       Entre outros, ela tem o sugestivo nome de “Atenas brasileira”, por causa de seus poetas e escritores: Gonçalves Dias, Catulo da Paixão Cearense, Artur de Azevedo (1817), Coelho Neto, Josué Montello, Clóvis Beviláqua, que escreveu o código Civil brasileiro, em Alcântara, em 1916. É a terra do João do Vale, do Zeca Baleiro, da cantora Alcione, do percursionista Papeti, lugar de grandes artistas maranhenses e brasileiros.

       No passeio nesta noite, a pé, pudemos conhecer diversos locais.

Chegamos na praça Gonçalves Dias, praça esta, que teve outros nomes: Largo dos Amores e Largo dos Remédios, por que lá havia a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Lá nos deparamos com a estátua do poeta, encimando uma grande coluna, em meio a majestosas palmeiras imperiais, plantadas em sua homenagem. Na minha memória renasceu a lembrança da poesia “minha terra tem palmeiras”. 

    No curso primário, no Grupo Escolar Osvaldo Cruz, em Rodeio, SC, nós a decorávamos para recitá-la com muito orgulho, quando aos sábados, fazíamos a homenagem à bandeira nacional.

       Aqui deixo o poema – Canção do Exílio de Gonçalves Dias:

       Quando Gonçalves Dias escreveu este poema, “Canção do Exílio”, cursava a Faculdade de Direito de Coimbra, em julho de 1843. Vivia, desta forma, um exílio. Foi uma poesia produzida no primeiro momento do Romantismo no Brasil, época na qual se vivia uma forte onda de nacionalismo, que se devia ao recente rompimento do Brasil colônia com Portugal.

       Em sua biografia lemos que, Antônio Gonçalves Dias, nasceu em Caxias, no Maranhão, em 1823. Em 1840, foi a Coimbra para cursar Direito. Ainda em 1845, o poeta retornou ao Brasil e transferindo-se para o Rio de Janeiro, lá residiu de 1846 a 1854.

       De 1857 a 1864, o poeta viajou por diversos países, expondo e traduzindo suas obras. Ao partir de Lisboa para o Brasil, o patrono da cadeira n°15 da Academia Brasileira de Letras, Gonçalves Dias, veio a falecer, quando o navio que o trazia, naufragou perto da costa do Maranhão, no dia 3 de novembro de 1864. O corpo nunca foi encontrado. Ele morreu precocemente, aos 41 anos de idade.

       Achei muito interessante saber o que segue abaixo, a respeito da “Canção do Exílio”.

O poema foi reciclado no Hino Nacional Brasileiro (no trecho ‘Nossos bosques têm mais vida; Nossa vida (em teu seio) mais amores’, do segundo parágrafo da segunda parte) e na Canção Militar do Expedicionário (no trecho ‘Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra; Sem que volte para lá’, da segunda estrofe)”.

       A cidade de São Luís do Maranhão, certamente é uma pequena joia. Já teve outros nomes, como:

“Jamaica Brasileira”

“Ilha do Amor”

“Atenas Brasileira”

“Cidade dos Azulejos”

“Capital Brasileira do Reggae”

“Ilha Magnética”

“Capital da França Equinocial”

“Capital do bumba meu boi”

“Ilha Bela”

Ilha Rebelde”

“São Luís do Maranhão “

       Mas para mim é a cidade dos azulejos, dos casarões tradicionais e populares, que totalizam 5.000 casas históricas, o maior conjunto de casario da América, tombado como patrimônio História e Cultural da Humanidade em 1998, pela UNESCO.

       Muita coisa há ainda para resgatar e restaurar.

       Esta cidade que já foi chamada de “Capital do bumba meu boi”, possui o Centro cultural, com as festas de São João mais lindas e emblemáticas. E nesta nossa estada, tivemos a oportunidade de participar dos festejos juninos e mais do que isso, recebermos informações sobre estes intrincados rituais, que fazem dos arraiais do “bumba meu boi”, um momento ímpar de beleza, musicalidade e poesia, exaltando um traço da identidade do maranhense.

Dia 15 de junho – Sexta-feira

       Neste dia fizermos um city tour e vimos muitos museus e também casas de artesanatos locais! Amamos! Conhecemos a cidade! Á noite, também dançamos junto com os grupos históricos.

       Na primeira foto vemos o Palácio dos leões, que é a prefeitura municipal, o Conjunto “Reviver”, que é o bairro onde havia barracões de armazéns e foi transformado, pelo “Projeto Reviver”, num espaço de arte e cultura. Na escadaria, vemos logo à esquerda, o Museu de História Natural, nos “Becos do Reviver”. Nessa escadaria temos uma história para contar: a Alcita no auge de sua juventude, aos oitenta anos, desceu as escadarias numa corrida leve e saltitante. Um grupo de rapazes, que estava aí por perto, diz: “Olha ai! Parece uma menina!!!” E eles tinham razão: era uma pessoa entusiasmada pela vida, feliz, criativa, trabalhadora, alegre, enfim.

Dia 16 de junho – Sábado

       Este dia amanheceu muito quente e após o café, no restaurante da “Pousada do Francês”, partimos para o cais. Lá embarcarmos, numa viagem de uma hora, para Alcântara, uma cidade histórica, importante, onde existiu o maior porto negreiro do Brasil.

       No caminho para o cais, o nosso guia nos fala sobre algumas coisas muito interessantes: diz-nos que São Luís do Maranhão, foi a cidade mais maçônica do Brasil, que o primeiro arranha céu em São Luiz foi construído em 1966 e que São Luiz é a terceira cidade mais segura do país.

Diz-nos que a cidade, entre 1641 a 1644, foi ocupada pelos holandeses que, depois, foram expulsos pelas índias. Diz-nos que o bairro mais antigo é o bairro de São Francisco. Aqui, até 1970 não havia quase nada, só havia casas de pescadores. Em 1970 começa, com a ponte José Sarney, a povoação da parte nova. 

A ponte José Sarney, as pessoas continuam a chamar São Francisco. E também a Avenida São Francisco que é a Castelo Branco.     

       Fala-nos sobre aspectos interessantes da cidade: por exemplo, nomes históricos de ruas de São Luís, que retratam realidades históricas hoje ultrapassadas e desconhecidas. Como exemplos temos:- Beco da Bosta – que era o local onde os escravos despejavam os excrementos de seus senhores.- Caga osso – por causa dos leprosos – Quebra bunda – as meninas usavam salto Luiz XV e caiam.

O guia nos fala de Ana Jansen, comerciante, matriarca do Maranhão, que deu o nome desta lagoa. Há histórias desencontradas sobre esta figura, Ana Jansen. Uns a identificam como alguém altamente cruel com os escravos que possuía. Vendia água!

No folclore de São Luís, existe uma lenda sobre a carruagem de Ana Jansen. De acordo com esta lenda, por maltratar seus escravos, Ana Jansen teria sido condenada a vagar perpetuamente pelas ruas da cidade, numa carruagem assombrada. O coche maldito partiria do cemitério do Gavião, em noites de quinta para sexta-feira. Um escravo sem cabeça conduziria a carruagem, puxada por cavalos também decapitados, ou por uma, puxada por uma mula sem cabeça em outras versões”.

       Sua neta é Terezinha Jansen, que conhecemos nas danças no “Projeto Conviver” e é ligada à música e grupos musicais de São Luís.

       Todas essas informações o guia nos repassou ao longo do nosso caminho rumo ao Cais, mas também, enquanto esperamos o barco que já despontava, a uma distância considerável, à nossa frente. As águas estão revoltas!

Às 9h30, já estávamos embarcando no “Diamantina”, no cais da Ponta da Areia. Fomos para a celebre cidade de Alcântara. Conforme a maré, nos informam, também, se toma o barco em Sagração. A maré sobe e desce sete metros, de seis em seis horas. Há também o premar, que é a parada de uma hora entre a subida e a descida da maré.

       O cais da Sagração foi assim batizado em homenagem à sagração de D. Pedro II. A passagem para Alcântara custava R$ 10,00. Começamos a singrar as águas revoltas e vimos a Ilha das Três Marias, a Ilha do Meio ou do Medo que são desabitadas. O nosso guia, sr. Brito, nos diz que o nome Maragñon, significa “Águas que correm brigando”. Na verdade, sobre a origem dos nomes, sempre há controvérsias.

       Na ida, no barco Diamantina, trocamos muitas vezes de lugares e conversando com os colegas de excursão. Sentei-me, também, perto de um professor de inglês sr. Juvenal Aires, que, duas ou três vezes por semana, vai à Alcântara para lecionar. Pedi a ele que falasse comigo em inglês, pois eu tinha necessidade de romper a resistência de falar e aprender esta língua, tão necessária. Trocamos algumas frases, em inglês, recordando os três anos que estudei esta língua. Disse para ele e para mim mesma, que esta conversa, servirá para, com garra e persistência, retomar o estudo do inglês.

        Saindo do Catamarã, acompanhadas pelo guia, visitamos a linda cidade histórica de Alcântara, que guarda tesouros da história do Maranhão. Por exemplo, passeando pela cidade, vimos o casarão, quase destruído pelo tempo, onde, em 1916, Covis Beviláqua, escreveu o Código Civil Brasileiro.

       Visitamos os casarões e os museus que atestam a vida e a história da maior burguesia do Brasil.

       O que mais me encantou foi imaginar o que teria sido este vilarejo de Alcântara há três ou quatro séculos atrás. Com certeza, antigamente, era um lugar de muito esplendor, muita riqueza e movimento. Hoje, tudo isto deu lugar à calmaria e a uma memória, que aí está, preservada, a nos lembrar o passado.

       Na área frontal da Igreja São Matias está o pelourinho, que era utilizado para punir escravos e bandidos, publicamente. Todo o conjunto arquitetônico do Centro Histórico de Alcântara foi tombado como Monumento Nacional pelo IPHAN.

       Lemos na história que Alcântara foi a região de grande base econômica no tempo da escravidão. O trabalho escravo sustentou o grande centro salineiro (10 usinas de sal), a grande produção de algodão, do açúcar e do café.

       D. Pedro II gostava muito da Alcântara e prometeu visitar a cidade, mas não consegui fazê-lo. Os casarões que foram construídos para receber o imperador, hoje se transformaram em ruínas e estão lá atestando esta história.

       No final de uma rua encontra-se o que sobrou do antigo Palácio do Negro, onde os escravos eram comercializados.

Como em toda cidade colonial brasileira, Alcântara preserva uma penca de igrejas barrocas e seus altares em rococó. A Igreja Nossa Senhora do Carmo é uma delas. Mas o mais interessante, na minha opinião artístico arquitetônica limitada, são as ruínas (que ficam em frente e ao lado da igreja) de dois palácios que começaram a ser construídos por barões inimigos numa disputa para ver quem ia hospedar Dom Pedro II — que há tempos prometia uma visita à cidade. No final das contas, a visita nunca aconteceu e as obras foram abandonadas”.

Visitamos, também, o Museu “Casa História de Alcântara”, muito importante para retratar a vida no passado histórico dessa cidade.

       Tombado pelo IPHAN, igreja imponente de 300 anos de idade tem altar precioso que é referência da arte barroca.

       Monumento do núcleo antigo da cidade, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

       Em 1622, os padres jesuítas Luís Figueira e Benedito Amodei iniciaram a construção do Colégio e da Igreja de Nossa Senhora da Luz, em um local no qual fora erguida uma ermida por capuchinhos franceses na época da França Equinocial. Em 1690, teve início uma nova construção, projetada pelo jesuíta João Felipe Bettendorf, levantada com mão de obra indígena e inaugurada em 1699. Ao lado da igreja localizava-se o Colégio Jesuíta, um grande centro cultural da região. Em 1760, sua livraria possuía 5000 volumes.

       Com a expulsão dos jesuítas em 1759, os bens da Companhia passaram à coroa. Em 1761, numa reforma urbanística ordenada pelo governador Joaquim de Melo e Póvoas, a antiga Sé foi demolida para arejar o largo em frente ao Palácio dos Governadores. Os edifícios jesuítas, que estavam desocupados, ganharam novos usos: o colégio passou a ser o palácio dos bispos e a igreja da Companhia tornou-se a catedral da cidade. A feição decorativa atual do palácio é derivada de uma reforma no século XIX. A fachada da catedral foi alterada no início do século XX, quando ganhou duas torres. Em 1921-22 foi elevada a sede de arquidiocese.

       Quanto ao casario, em Alcântara, nós vemos a história do Brasil em pedras e tijolos. Desde as casas com eiras, beiras e tribeiras até as telhas forrando as paredes. Algumas casas foram reformadas e outras estão abandonadas.

       Visitamos o museu e lá conhecemos a história da base de Alcântara. Lembro que foi aqui em Alcântara, no lançamento de foguetes, que sucedeu a grande tragédia, em 22 de agosto de 2003, matando 21 homens. Nós não visitamos este local onde preciosas vidas se perderam.

       A título de informação: a Região de Alcântara é estratégica para o Lançamento de Foguetes.

       A cidade está a 2 graus do Equador, posição geográfica privilegiada, que ajuda no lançamento de foguetes, com economia de 40% de combustível.

       Aqui surgiu um problema social referente às comunidades quilombolas, pois quando a escravidão foi extinta, e essa era uma região de muitos escravos, estes foram formar os quilombos.

       O maior foi o quilombo Nazaré, a 6 quilômetros de distância da cidade de Alcântara. Com a instalação do Centro de Lançamento de Alcântara – CLA, as comunidades quilombolas foram deslocadas.

Para que o CLA fosse construído em Alcântara, uma área de 62.000 hectares foi declarada de utilidade pública pelo Governo Federal. Por questões de segurança, em meados da década de 1980, 312 famílias foram remanejadas para sete comunidades agrícolas construídas pelo então Ministério da Aeronáutica: as agrovilas de Cajueiro, Espera, Peptal, Peru, Ponta Seca, Marudá e Só Assim. Houve uma preocupação, à época, de que as comunidades fossem agrupadas. Seguindo a sua própria organização social, os grupos já existentes e as agrovilas preservaram os nomes dos povoados originais. As agrovilas foram concebidas de forma a dispor de escola, de igreja, de centro social, de casa de farinha e de lavanderia, além de terem sido construídas casas de alvenaria com banheiro, água encanada e luz elétrica, diferentemente das habitações originais, que tinham parede de barro e cobertura de palha. Desde então, o CLA tem procurado manter um relacionamento com as comunidades, por meio de ações cívico-sociais, proporcionando atendimento de saúde e educação para a cidadania. Além disso, o CLA é o principal empregador do município e estimula a criação de empregos indiretos. O CLA é também o maior gerador de impostos para a administração municipal que, juntamente aos governos estadual e federal, devem prover educação, saúde e políticas públicas para a população local”.

       No entanto,

Há mais de 30 anos as comunidades quilombolas estão envolvidas na luta por 62 mil dos 85 mil hectares identificados como pertencentes ao território tradicional. Essas terras foram desapropriadas pelo Governo do Estado do Maranhão para a construção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) da Força Aérea Brasileira (FAB), onde o governo federal desenvolve o programa aeroespacial com foguetes” […] “Para implantar o CLA (Centro de lançamento de Alcântara) em 1983, o governo deslocou 312 famílias quilombolas de suas terras sem consultá-las, sem pagar indenizações ou reparar os danos sociais, culturais, políticos e econômicos a elas. A violação de direitos dessas famílias foi denunciada, em 2008, na Organização Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça”.

       O Programa Espacial propicia avanços na previsão climatológica que favorecem a prevenção de desastres naturais e incrementos na produtividade agrícola, no controle de desmatamentos e incêndios florestais, no monitoramento de fronteiras terrestres e marítimas, no controle de tráfego aéreo, em estudos geofísicos, dentre inúmeros outros que beneficiam a sociedade.

       Neste dia saímos da Ilha de São Luiz, pelo lado sul, a BR185. Fomos convidadas pelos nossos anfitriões, o casal Rosania Tomaz e Ananias, para irmos para o município de Axixá, onde o governador Jackson Lago abriria o II Fórum Cultural da Região Monin /Lençóis, com a presença do secretário de cultura de São Luiz, Joãozinho Ribeiro. Aqui no Maranhão, havia-se formado um consórcio de 21 municípios, unidos para encontrar o próprio destino. O prefeito de Icatú era o presidente do consórcio dos 21 municípios.

       Os mapas acima nos mostram, com muita clareza, a Ilha de São Luís do Maranhão com o município de São Luís e mais três municípios. Saindo da Ilha, fomos até o município de Axixá.

       Iniciamos a viagem, em São Luís, percorrendo o caminho ao longo do rio Bacanga, passando pela avenida dos africanos. Aqui há, também, a avenida dos portugueses, a avenida dos holandeses, a avenida dos franceses e avenida dos guarajaras. É interessante o nome destas ruas. O escritor Adriano Suassuna, defensor da Cultura do Nordeste, que também foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, professor e advogado, disse o seguinte na televisão: “No século XVI e XVII nós nos voltamos para os portugueses. No século XVIII para os franceses. No século XIX e XX para os americanos. E no século XXI temos de voltar para nós mesmos.

       No nosso trajeto, passamos pelo primeiro distrito: Maracanã (o nome é de um pássaro).

       Aqui nossos anfitriões nos informam sobre um assunto interessantíssimo e complexo: os célebres sotaques, um dado cultural destas regiões. Os grupos de boi de mamão com seus sotaques, segue regras muito rígidas.

       Realmente, mesmo com as explicações que tivemos, é impossível, para nós do Sul, entender toda a dinâmica, de uma festa abrangente, cheia de criatividade e que está profundamente arraigada na crença popular.

       Há diversas tipologias para designar os diversos sotaques. Uns grupos do “Bumba meu boi” se identificam pelo número de pessoas, pelo som e pelo ritmo e pelo local. Por exemplo, “O Bumba meu Boi de Maracanã” tem o sotaque de matraca. O “Boi Zabumba” tem umas 70 pessoas e o “Boi de Orquestra” tem 50 pessoas. O batalhão é um grupo, ao qual vai se juntando sempre mais gente, chegando a 100 pessoas.

       Mais tarde, participando no arraial das festas de São João, obtivemos, na prática, mais clareza sobre estas lindas festas e a questão dos sotaques.

       Continuando nossa viagem, passamos pelo Município de Periz e também pelo município de Rosário, que, como os demais municípios pobres, vivem do fundo de participação dos municípios. Já perto de Axixá, passamos, ao longo de uma estrada de ferro, que ligava São Luís à Teresina, onde a Maria Fumaça fazia o transporte de passageiros. Esta estrada, já não existe mais.

       Às 9 h, chegamos ao município de Axixá, num cenário de festa e empolgação, onde acontecia o II Fórum Cultural da Região Monin /Lençóis. O povo em festa com bandeirinhas, estava aguardando as autoridades.

Para nós também, foi um momento inesquecível, participar em Axixá deste acontecimento popular, em pleno interior do Maranhão. Havia exposição de artesanato, alunos uniformizados, distribuição de pastas com a cartilha dos 12 pontos do programa sobre a cultura, distribuição de credenciais, etc. 

       Tudo isto, ao som do espocar de foguetes, no aguardo do governador, que chegou cumprimentando a todos.

       Após o discurso da prefeita e do discurso do presidente do consórcio dos 21 Municípios, assistimos, às 10h30, a fala do secretário de cultura, Joãozinho Ribeiro. Este, proferiu uma palestra, afirmando os 12 pontos, para incentivar a cultura.

Deu uma muito linda definição do que é CULTURA: Cultura é a Mãe de todas as coisas!

        Garantiu que a maior transformação, virá da cultura e da Educação e isto é obra coletiva dos municípios. É preciso quebrar a coluna vertebral do colonialismo do Maranhão. São 159 municípios e o nosso empenho é no sentido de recuperar a identidade e o orgulho do povo. Insistiu em que se falasse sempre em nossa cultura, e não minha dança.

       Aqui vão, resumidos, os doze pontos:

1 – A cultura, conforme exigência da ONU, deixará de ser marketing para gerar trabalho, renda, orgulho.

2 – Cultura e educação, conversar e contagiar as escolas.

3 – Cultura e comunicação – Não se vê nossa cara na televisão. Todas as coisas do Brasil precisam ser valorizadas. A televisão é concessão do Estado!!!

4 – Cultura e Economia – Faremos o mapeamento cultural do estado. Tempos que fazer um exorcismo cultural deste estado. Temos 0,3% do orçamento para a cultura de nosso estado do Maranhão.

5 – Estimular a cultura através dos festivais. 50 bibliotecas serão instaladas no estado. O maior analfabeto é aquele que se recusa a ler. E pergunta o secretário: quantos escritores existem, escondidos, aqui em Axixá??? E poetas?

6 – Intercâmbio cultural: maior intercâmbio entre todas as regiões do município.

       No fim desta sessão, Alcita, como de costume, abrilhantou a festa, declamando uma poesia, com muita emoção.

       A prefeita de Axixá nos convidou para almoçarmos em sua casa, com Rosânia e Ananias, o que foi pronta e alegremente aceito. Agradecemos este gesto de carinho e almoçamos com eles.

       Quanto à cultura do Nordeste é simplesmente fantástico observar, a paixão e a dedicação do povo para seus festivais. No YouTube, existem inúmeros vídeos com diversas apresentações de “Bumba meu Boi”, seja o grupo boi de Axixá, que completou 60 anos de existência, em 2019, seja o grupo Nina Rodrigues e outros.

       No vídeo, as lágrimas de emoção e o sentimento dos participantes do grupo contando a história do nascimento e a formação deste boi de Axixá, é realmente comovente.

       Ao voltarmos, nesta noite, ainda participamos das festas de São João e fizemos belas fotos.

       Foi assim que ao voltar do Nordeste, trouxemos conosco estas lembranças do Brasil, de suas festas tão incríveis e verdadeiras, que jamais esqueceremos. Clique aqui: Vídeo.

Dia 17 de junho – Domingo

Neste domingo, convidados por Rosania e Ananias, fomos conhecer os quatro municípios da ilha de São Luís do Maranhão. Além da capital São Luís, temos os municípios de Raposo, São José do Ribamar, Paço do Lumiar (conta-se que São José andando, deixou passos luminosos pelo caminho).

       Os franceses ficaram aqui três anos (1612-1615). Os holandeses também ficaram três anos (1641-1644). Aqui há também os índios pertencentes a quatro troncos linguísticos: índios capó (altos), guarajaras, canelas (mais altos) e gaviões (nômades – CESTARIA)

       Passamos pelo Paço do Lumiar e chegamos a Raposo, visitando a cidade das lindas e trabalhosas rendas de bilro. Aqui a quantidade de vendas e, ao mesmo tempo, a quantidade de rendas em cada venda, é muito grande e diversificada.

Quase todas as pessoas se dedicam a fazer renda de bilro. Ficamos um bom tempo admirando e comprando esta mercadoria.

       Após fomos para São José do Ribamar. Aqui, é raro a família que não tenha um filho chamado Ribamar. Após visitar a cidade e o grande monumento à São José do Ribamar, conversamos com a educada juventude que estava ao pé do monumento.

       Chegando perto de um grupo de rapazes adolescentes que estavam ao pé da estátua de São José do Ribamar, eles nos perguntaram de onde éramos. Dissemos que vínhamos de Florianópolis, SC. E aí admiradas ouvimos: “Sejam muito bem-vindas”! Não resisti e perguntei: De onde vem esta educação que vejo nesta juventude? E eles: “Vem do berço”!

       Foi um momento inesquecível!! Fomos também conhecer a linda igreja de São José do Ribamar, perto do mar. A maré estava baixa, mas, parece que o mar, na maré alta, sobe até 8 metros. Era o que podíamos ver, a partir de um marco, postado no meio da areia da praia.

Almoçamos no simpático restaurante “Sol e Mar”, apreciando suas iguarias como o arroz de Cuxá, pirão e pescada amarela.

Cuxá é um molho da culinária maranhense, feito com vinagreira, gergelim, camarão seco, farinha de mandioca seca – base da alimentação do índio – e pimenta-de-cheiro, ingredientes encontrados com fartura na região”.

Na viagem de volta vimos, entre outras paisagens, uma fábrica de anil, hoje reformada e transformadas em escola, com linhas arquitetônicas muito belas. Aí também estava a nascente do rio Anil.
Voltando, passamos por paineiras centenárias. Ao mesmo tempo em que nos encantávamos com a beleza destas árvores que nos apresentavam tamanha trama de tronco, galhos e folhagens, vimos que este lugar maravilhoso, perdia quase todo o seu encanto, pela forma como o espaço ao redor, estava sendo ocupado: com muito lixo!

       Neste momento, Ananias tem uma ideia: fazer o tombamento deste lugar. Achamos a ideia muito boa. Pois o local serviria, também, para ser um recanto de enriquecimento e encantamento turístico. Esperamos que isto aconteça em breve!

Chegamos em casa e à noite fomos, a convite, para o apartamento de Ananias e Rosania e daí para o Shopping São Luís.

       Lá assistimos, maravilhadas, as danças das crianças e dos adultos, da festa de São João, com seus trajes coloridos e artisticamente bordados.

       Foi fantástico! Assistimos o boi Nina Rodrigues e o boi de Axixá, ambos sotaques de orquestra.

       Na terceira foto, estamos tocando matracas.

       Segue a explicação desse sotaque:

Sotaque de matraca – é o mais popular e com maior número de grupos no Estado, tendo surgido em São Luís e tem influência indígena. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada ‘Batalhão’. Além das matracas, são usados pandeirões e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo, fica o cordão de rajados, caboclos de fitas, índias, vaqueiros e caboclos de pena. Os principais grupos de boi de matraca são: Boi de Maracanã, Boi da Maioba e Boi da Pindoba”.

       Enquanto participávamos da festa, fomos entrevistadas por uma equipe da Globo que lá estava.

       Às 23h30 chegamos na “Pousada do Francês”. Havia sido um dia cheio de boas experiências. Estávamos obtendo na prática, convivendo com o povo do Maranhão, um conhecimento. Antes de se despedir, Ananias nos comunicou que a engenheira agrônoma Antônia, nos queria entregar um livro sobre flores de São Luís do Maranhão. Fomos descansar pensando no feliz encontro que teríamos no dia seguinte, com a engenheira Antônia e as flores do Maranhão.

Dia 18 de junho – Segunda-feira

Levantamos às 8 h! Durante o café, nossa nova amiga engenheira Antônia, veio para nos presentear com o livro sobre as flores de São Luís do Maranhão. Tomou café conosco e assim conversamos e conhecemos mais uma pessoa de muito valor. Antônia nos presenteou com seu livro sobre flores e plantas de São Luís do Maranhão.

       Ficamos alegres e gratas a professora Antônia por seu gesto amigo.

       Sobre a professora Antônia deixo alguns dados, colhidos na internet.

A engenheira agrônoma Antônia Lima resolveu registrar e catalogar, por iniciativa própria, algumas plantas nativas do Parque Ecológico da Lagoa da Jansen, em São Luís. O lugar, que é considerado um cartão-postal para os turistas, possui quase 50 espécies de plantas silvestres que enfeitam a lagoa e ajudam no equilíbrio do meio ambiente.

O local que serviu de inspiração fotográfico para a agrônoma é dotado de muito verde, principalmente dos manguezais. Mas existem, também, muitas espécies de plantas nativas. Com o olhar mais observador, é possível ver, além do verde, muitas outras cores. O amarelo em vários tons, branco, lilás. [..] O colorido sutil em meio ao verde é formado por pequenas flores que, muitas vezes, passam despercebidas por quem frequenta a Lagoa para passear ou para fazer esportes. São as flores silvestres. […] A flor do murici, por exemplo, tem duas cores. Já a vassoura de botão é verde e, de acordo com a agrônoma e paisagista Antônia Lima, a espécie era muito cultivada nos jardins do Egito Antigo. Espécies nativas que ficam em torno da Lagoa agora estão catalogadas e apresentadas em um livro com nome científico e popular de cada espécie. […] Eu andava na Lagoa, então, a cada dia eu via planta bonita. Quando voltava, às vezes, elas não estavam mais no lugar, não havia manutenção. Aí um dia me despertou a ideia de tirar fotos para depois mostrar para todo mundo, essa beleza que existe no lugar”, lembra Antônia Lima.

       Foi consultora do Sebrae, na área de flores tropicais.

Após o encontro com Antônia, saímos e o deputado federal Aroldo Savóia que estava em frente da Pousada do Francês, nos convidou para conhecer o casarão histórico, que havia acabado de comprar e que ficava aí em frente. Visitamos o casarão!

       Foi muito bom conhecer este casarão histórico, verdadeiro palacete! Salas muito amplas! Realmente lindas! Seria muito bom poder, daqui para frene, ver sempre todos estes casarões e casas históricas, mas não na triste paisagem, se perdendo ou desaparecendo pelo abandono.

       A viagem de volta ocorreu normalmente! De São Luiz para São Paulo Guarulhos e de lá para Florianópolis.

Considerações Finais

       Ao fazer o relato desta viagem, vejo que muito boas lembranças ficaram em minha memória. Ir para Manaus e para São Luís do Maranhão, foi a possibilidade de uma imersão na cultura e história deste Brasil do Norte e Nordeste. Sou agradecida à Vida e a todas as pessoas que, ao se encontrarem conosco, de forma surpreendente, nos acompanharam nesta imersão. Falo, de modo especial, dos novos amigos de Manaus, Messias e Edineuza e, também, dos amigos em São Luiz do Maranhão, pois, por intermédio deles, nossa viagem foi agraciada com mais conhecimentos e enriquecida com muito calor humano.

Aqui desejo postar uma poesia escrita por nosso amigo Messias, carinhosamente recebida por nós.

Viaje e encontre….

Nas asas da Varig
Voar é uma conquista
Sinta-se livre e afague
Na amizade, persista

Nos seus princípios
Faça pessoas queridas
Nos trinta e sete mil pés

Para uns é morte outra vida

O ser supremo acredita
Dentro de uma energia
Sentindo vontade grita

Como num passe, a magia,
Vejo Anita e Alcita
Poetisas e poesia

Messias fez esta poesia por ocasião de nossa viagem com a Varig para Manaus, em 2007.

      Ficamos muito gratas por este carinho.     

     Continuando as nossas considerações finais, sentimos que o Brasil merece ser mais conhecido! Isto é importantíssimo! Este país continental é desconhecido por nós brasileiros. Esta é a principal mensagem que aqui deixo. De minha parte, gostei muito de ter tido esta oportunidade de conhecer, um pouco mais, este pedaço do nosso maravilhoso Brasil.

       Fiz esta viagem em companhia de minha querida amiga Alcita Varela, que lhe acrescentou, em todos os momentos, entusiasmo, alegria, fraternidade. Hoje Alcita já está habitando outras moradas, deixando, para os que a conheceram, muita saudade!

Gratidão!

Florianópolis, 30 de agosto de 2019.

Anita Moser

2 Comentários

  • Anita

    Maria Salete,querida amiga de todas as horas!
    Li com muita alegria seu comentário sobre minha inesquecivel viagem a Manaus e São Luiz do Maranhão. Comentários são respostas que expressam os sentimentos do leitor ao entrar em contato com o que o viajante vivenciou,valorizou e compartilhou. Ler seu
    empolgante comentário me alegrou muito.!Abraço grande amiga!

  • Maria Salete Ferreira Magalhães

    Simplesmente, mais uma viagem fantástica me proporciona esse relato “viagens de Anita”.
    Manaus, a diversidade de riquezas na natureza, costumes, arte, música, gastronomia, me deixa sedenta de um dia fazer essa viagem nesse roteiro…
    Não sei se terei a felicidade de encontrar pessoas tão bondosas e generosas , como demonstrou o casal Messias e Edileuza, Elvira e seu amigo Professor – o sentimento dessas pessoas no acolhimento e receptividade é visível em suas atitudes relatadas.
    Enfim, “viagens de Anita”, me faz suspirar fundo e desejar estar um dia fazendo o mesmo roteiro e nos mesmos lugares. Enquanto isso, viajo com Anita em sua memória, cujo desfrute está aqui num clique, e ássim, acessamos ao mundo maravilhoso “viagens de Anita”!
    À amiga companheira de viagem – Alcita, meu carinho e admiração (em memória).
    Obrigada Anita, Parabéns!

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