Oriente,  Oriente Médio

Viagem ao Irã, a antiga Persia

24 de fevereiro a 8 de março de 2018
Anita Moser
Eu viajo também para aprender!
“Um viajante sem conhecimento é um pássaro sem asas”

       “A antiga e medieval Pérsia é o Irã de hoje, um dos países de maior riqueza cultural e histórica do mundo. Bem mais tranquilo (e mais lindo) do que muitos imaginam”.

Estou viajando para o Irã, no propósito de que este meu novo destino seja mais uma vez uma imersão cultural. Estou muito atenta ao que acontece nos caminhos desta excursão. Ouço as palavras dos guias, faço as anotações pertinentes e anoto minhas próprias dúvidas e depois, ao voltar da viagem, como sempre farei as pesquisas necessárias.

Desejo que o mundo que tive a oportunidade de conhecer, seja acessível também aos que não puderam viajar, ainda que nisso tenham muito interesse e os que ainda decidirem viajar para aqueles lugares, desta forma chegarão lá mais preparados.
     E agora a pergunta: por que resolvi fazer esta excursão oferecida pela empresa Plazatur, para um destino tão exótico e distante?
Simplesmente por uma forte razão: ao me ser oferecida a possibilidade de fazer uma excursão a estas terras distantes, lembrei-me dos estudos da História Antiga no ginásio no Colégio Coração de Jesus, em Florianópolis. As palavras Império Persa, Ciro, o Grande e Dario, o Grande, reis dos Persas, acordaram em mim a vontade de conhecer estes lugares cujos nomes ainda estão vivos na minha memória.
Antes de fazer o relato do dia a dia, importa relembrar os antecedentes de um momento histórico recente e importante da hoje chamada República Islâmica do Irã.

A HISTÓRIA POLÍTICA RECENTE DA PÉRSIA

     Levando-se em conta que a Pérsia através da história, sofreu muitíssimas invasões, importa saber quais foram os Impérios estrangeiros que a dominaram e, ao mesmo tempo conhecer as dinastias persas que ocuparam o poder neste país.
     Na história recente, de 1796 a 1925 governou a dinastia Qajar, de origem persa. Em 1905, durante o governo desta dinastia, houve um levante nacionalista e, em 1906 uma revolução constitucional Persa estabeleceu o primeiro parlamento e houve a concessão de uma Constituição limitada. A partir daí o Irã se transformou em uma monarquia constitucional.

Após um golpe de Estado contra a dinastia Qajar em 1925, chegou ao poder Reza Khan Pahlavi, que governou até 1941. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, o poder passou do pai para o filho Mohammad Reza Shāh Pahlavī. Durante seu governo na década de 60, houve no plano interno algumas reformas consideradas fundamentais a uma sociedade moderna: direito ao voto para as mulheres, a escolaridade obrigatória e laica para todos e a criação de bolsas de estudo no estrangeiro. 

Desta forma uma ampla camada de estudantes se aproximaram das novas tecnologias vitais para o desenvolvimento do país. Houve também reforma agrária feita com o patrimônio dos bens da coroa e também das terras do clero Xiita, a criação de academias e universidades e a abertura do país para as manifestações artísticas, livres do controle imposto há séculos pelos mullahs e pelos homens senhores, absolutos da ordem social.
    
No plano externo o governo de Pahlavi era aliado aos interesses do Ocidente, especialmente aos da Inglaterra e dos Estados Unidos, cujas empresas lá exploravam gás iraniano e também petróleo que havia sido descoberto abundante, em 1908.
    
Em 1951, o premiê Mohammed Mossadegh, um nacionalista militante, forçou o Parlamento a efetuar a nacionalização da indústria do petróleo. Em 1953, num golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos e Reino Unido, o primeiro-ministro Mossadegh foi deposto e preso e o governo de Pahlevi se tornou autocrático. E como todos os governos autocráticos demonstram tolerância zero e severa repressão para aqueles que discordam das decisões tomadas pelos governantes, aqui também houve uma violenta repressão política contra a qual lutou a oposição. A esta violência do governo se agregou o desagrado do povo, diante do acontecido em 1971, quando o Xá Reza Pahlevi fez gastos astronômicos para festejar o aniversário de 2.500 anos da Civilização Persa. Foram convidados e hospedados os monarcas e governantes do mundo, para as solenidades que aconteceram no deserto, ao lado das ruínas da cidade de Persépolis. Ao mesmo tempo, por causa da pobreza da população, o governo do Xá recebeu as críticas do clero Xiita e dos nacionalistas. Após embates e reformas para conservar o poder, o Xá Pahlavi reagiu com violência contra os contestadores durante suas manifestações. A população resistiu nas Mesquitas e nas praças. 

Na foto acima, os iranianos estão aglomerados na praça Azadi, sob a torre do mesmo nome. O exilado líder religioso aiatolá Ruhollah Khomeini havia retornado da França para dirigir a Revolução. Os Reza Pahlavi perderam o poder e todos os membros da família foram deportados. Estava criada uma nova República Islâmica em abril de 1979.

E por falar da Torre Azadi, deixo aqui alguns dados: foi construída em 1971, pelo arquiteto Hossein Amanat, no governo do Xá Mohammed Reza Pahlavi (1941-1979) por ocasião das comemorações dos 2.500 anos da Civilização Persa. Além de um museu subterrâneo possui diversas galerias, bibliotecas e lojas de souvenir distribuídas em diversos níveis da torre. No início, o nome da torre foi Shahyad que significa “Memorial dos reis”. A partir dos protestos que levaram à Revolução de 1979, passou a ser chamada Azadi que quer dizer “liberdade”.

       A Torre Azadi combina os elementos arquitetônicos do período Sassânida (224 a 651 d.C.) com os da arquitetura islâmica. Tem 45m de altura e é inteiramente revestida por 25.000 placas de mármore branco de Isfahan. Várias fontes completam o conjunto. O projeto foi financiado por quinhentos empresários iranianos e o monumento marca a entrada oeste da cidade, a poucos quilômetros do aeroporto. Por sua vez, a Praça Azadi, tem uma área de 50.000 m².  
      
       Hoje, o Irã é uma nação multicultural com vários grupos étnicos e linguísticos. Há uma maioria persa, mas também populações de armênios, azeris, assírios, curdos e judeus. Além de grande número de Mesquitas, lá se encontram igrejas cristãs, sinagogas e templos zoroastras que são respeitados. Apesar disto, os únicos classificados como oficiais são o islamismo Xiita e a língua persa.

     Na história recente, o Irã é um dos membros fundadores da organização das Nações Unidas (ONU), dos países exportadores de petróleo (OPEP), do Movimento não Alinhado da Organização da Cooperação Islâmica (OCI). Seu sistema político baseado na constituição de 1979 combina elementos de uma democracia parlamentar com os de uma teocracia religiosa dirigida por clérigos, na qual a mais alta autoridade é o Líder Supremo.

       O que dizer do Irã dos aiatolás?  Aqui abaixo, deixo parte de um artigo intitulado “Irã um país de contrastes persas” da jornalista Margarida Mota, que considero elucidativo para a compreensão do momento atual.

“Aos 39 anos de vida, a República Islâmica do Irã vive cada vez mais tomada por debates em torno do que é permitido e proibido. A sociedade exige, o regime cede. […] há muito que os ayatollahs perceberam que a República não é perfeita. Vão respondendo aos desafios colocados por uma sociedade cada vez mais jovem, permeável às tecnologias e intolerante em relação aos privilégios dos clérigos com medidas ardilosas que resultam num sistema de governação bizarro”.  

 Até 1935 o país era conhecido como Pérsia e desde esta data, no governo de Reza Khan Pahlevi, o nome oficial passou a ser Irã ou a terra dos arianos.

 A bandeira do Irã depois da Revolução de 1979, retrata elementos importantes da religião islâmica.

“A cor vermelha representa o sangue dos que lutaram pelo país. O símbolo central tem o formato de uma tulipa, pois se acredita que as tulipas vermelhas cresçam a partir do sangue derramado. O branco representa a Paz. Existe na cor branca a afirmativa “Allahu Akbar” – Deus é Grande! A cor verde significa sentimentos como felicidade e natureza”.  

Bandeira da dinastia Sassânica quando o número quatro, era sagrado.
Durante a longa história do Irã e seus múltiplos governos, o país teve muitas outras bandeiras.

O Irá se localiza na Ásia Ocidental. Tem fronteiras com o Mar Cáspio, com o Turcomenistão, Azerbaijão e Armênia (norte), Golfo Pérsico e o Mar de Oman (Sul), Paquistão e Afeganistão (leste) e Iraque (oeste). O maior lago do mundo está no Irã e é o Mar Cáspio com 1.648 km². O Irã conta também com inúmeras ilhas no golfo Pérsico. Segundo maior país do Oriente Médio, oficialmente tem agora a denominação de República Islâmica do Irã, desde a Revolução 1979.

Em seu aspecto físico, o Irã é um país montanhoso e nele sobressaem duas grandes cordilheiras e dois grandes desertos: a Cordilheira de Elburz ou Alburz que fica perto do Mar Cáspio ao norte e a Cordilheira de Zagros que desce até golfo Persico. Esta Cordilheira não permite que chegue ao território, a umidade. Os dois desertos são o deserto Dasht-e-Kavir, que está localizado no centro do Irã em direção a leste e Kavir-e-Lut, que está no sudeste do Irã.
  
A maior riqueza econômica do Irã é o petróleo e o gás que é exportado. O Irã exporta também o esturjão que é peixe mais significativo do país e produz o melhor e caro caviar do mundo. Exporta também, entre outros produtos, os célebres e únicos tapetes persas. O que pudemos ver, nesta excursão de apenas 11 dias, deu uma ideia de que há ainda muito por conhecer nestas regiões. 

     Durante esta excursão, nos longos trechos de 400 ou mais km que fizemos de ônibus entre as principais cidades da Rota da Seda que visitamos, esta era a paisagem: estávamos muitas vezes viajando em planaltos e o que víamos era a planície com a vegetação do deserto. Às vezes estávamos subindo e descendo montanhas por estradas que serpenteavam num caminho sem fim. Às vezes, viajávamos horas percorrendo regiões planas vendo muitas montanhas peladas ou escarpadas e ao longe montanhas cobertas de neve.

       Foram privilegiadas por nossa excursão as seguintes cidades da Rota da Seda na Antiguidade: Teerã, Kashan, Isfahan, Yasd, Pasárgada, Persépolis, Shiraz, todas elas com heranças dignas de serem conhecidas e admiradas. Lugares importantes visitávamos também, durante os longos trajetos entre estas principais cidades.

     As rotas comerciais entre o Oriente e a Europa tiveram seu início na China, na Antiguidade. Eram vários os caminhos do centro da Ásia, onde através de grandes caravanas, se comercializava não só seda, mas também os mais diversos produtos como ouro, prata, âmbar, vinho e especiarias. Havia toda uma infraestrutura para que este tipo de comércio pudesse acontecer. O nome Rota da Seda apareceu no século XIX, numa tradução do alemão Seidenstraße.

     Nossa guia aqui no Irã é Mahsa, (pronuncia-se Marsa) uma iraniana que fala espanhol. Durante as longas viagens de ônibus, ela não perde tempo mas aproveita todos os momentos para nos falar sobre a cultura Iraniana e sobre o que é permitido e o que é proibido no Irã desde a revolução de 1979. Leva-nos a visitar, grandes Mausoléus e maravilhosas Mesquitas embelezadas com mosaicos e efeitos de luz e cores que nos impressionam e sempre se superam.

     Posso dizer que ao escutar Mahsa nos dizer a cada nova visita: “esta Mesquita foi construída pela dinastia Aquemênida ou este Mausoléu é do tempo dos Mongóis ou esta praça foi construída durante a dinastia dos Safávidas ou na dinastia do Sassânidas ou esta casa de banhos públicos foi construída durante a dinastia Qajar ou durante o Império Otomano, eu me senti desafiada a entender ao menos minimamente este processo histórico. Sabia que precisaria estudar mais, pois a história pelo qual passou a Pérsia reclamava um conhecimento que eu não tinha.

       Por este motivo, através de leitura e com muita humildade, trago aqui alguns dados do que foram algumas governanças na Pérsia. Outras leituras serão necessárias para aqueles que quiserem conhecer melhor estes assuntos.
    
Enumero os anos de alguns governos na Pérsia:

• Império Persa – Dinastia persa Aquemênida (550 a 330 a.C.)
• Império Helenístico (336 a.C.-27 d.C.)
• Império Romano do Ocidente (27 a.C. – 476 d.C.)
• Dinastia Sassânida, o Novo Império Persa (224 a.C. a 651 d.C.)
• Império Muçulmano (651 d.C.750 d.C.
• Império Mongol (1206 a 1368)
• Império Otomano (1299 a 1923)
• Dinastia Safávida (1501 a 1736
• Dinastia Zand (1750 a 1794)
• Dinastia Qajar (1796 a 1925)
• Dinastia Pahlevi (1925 a 1979).

Para alguma indicação do que foram estas dominações apresento, acima de tudo os mapas pois, os processos históricos são muito amplos e complexos. O principal é saber que as dominações existiram e se consolidaram através de processos políticos e econômicos e da mesma forma que surgiram também se extinguiram sendo substituídas por outras. Cada cultura deixou aqui heranças incríveis em beleza e técnica, tanto que os guias turísticos da Pérsia, identificam para os turistas o que cada cultura aqui deixou. Isto se transforma num desafio para identificar no tempo e no espaço o que se escuta quando se visita estes lugares.

O 1º Império Persa

O Império Persa sob o comando da dinastia Aquemênida, se constitui de 550 a.C. e durou até 330 a.C. onde Ciro o Grande, deixou especialmente ao mundo Oriental, um grande legado, também.  

No mapa acima aparece a Pérsia primitiva, a Pérsia conquistada por Ciro, o Grande (550 a 529 a.C), parte do Egito conquistada pelo filho de Ciro, Cambices (529 a 522 a.C.) e depois as conquistas de Dario I (522 a 488 a.C). Os arianos começam a vir para estas regiões em 3.000 antes de Cristo. A Civilização Persa floresceu em 2.000 anos a.C. Em 708 a. C. vem os Medas. Ciro uniu os Medas e os Persas e estabeleceu o Grande Império Persa que se constituiu no século V a.C. A primeira dinastia persa foi a Aquemênida e que teve em Ciro, o Grande e depois Dario, o Grande, os condutores da política naqueles remotos tempos.

       Ciro, o Grande, tinha uma forma de governar que se diferenciava de outros governantes daqueles tempos. Era um bom administrador e governava com justiça. Respeitava os povos vencidos que podiam conservar sua língua, sua cultura e suas crenças. Ele é lembrado na própria Bíblia, quando, no livro de Esdras, se conta todo o episódio quando ele livrou do cativeiro os judeus que Nabucodonosor tinha feito escravos na Babilônia.
    
      Ciro construiu Pasárgada e a fez capital de seu Império e dotou-a de belíssimos palácios. Seu filho Cambices II (rei entre 530 a 522 a.C.) não seguiu os passos do pai: foi despótico, cruel e desequilibrado e após conquistar o Egito, se suicidou. O trono foi conquistado então por Dario I, quando o Império Persa atingiu o seu apogeu.
    
     Dario, um dos principais governantes persas, foi um gênio administrativo e assumindo o poder em 521 a.C. governou por 35 anos. Dando continuidade aos planos de Ciro, reestruturou o Império. Construiu a “estrada real” entre Sardes e Susa, com 2,5 mil quilômetros de extensão. Dario iniciou a construção de uma nova capital denominada, mais tarde pelos gregos, de Persépolis. Seu reinado também pode ser caracterizado por uma série de revoltas e as batalhas e agitação geral entre os cidadãos. Quando sua saúde começou a falhar, ele escolheu para sucedê-lo, Xerxes I, seu filho mais velho. Dario morreu em 486 a.C. O Império Persa também entrou em decadência sendo suplantado pelos avanços de Alexandre Magno. Com cada dominação, novos elementos de cultura entraram para a Civilização Persa.

A Pérsia é dominada pelo Império Helenístico

       Alexandre, o Grande (356-323 a.C.) filho de Felipe II, Rei da Macedônia, por desejo do pai, foi educado por Aristóteles até os 16 anos. Após a morte do seu pai, tornou-se rei do Grande Império que se estendeu desde o norte da Grécia até o Egito e o Extremo Oriente, tornando-se um dos mais poderosos Impérios da Antiguidade. Apesar de violento, Alexandre também era culto e sofisticado. Para os egípcios, Alexandre foi considerado um libertador, porque os livrou do domínio Persa. Em 334 a.C., Alexandre liderou um exército de milhares de homens, exército este formado por macedônios e gregos e atravessou a Ásia Menor. Além dos soldados, Alexandre também levou sábios da época para estudar a fauna e flora. Depois disso, o exército de Alexandre passou pelas cidades da Babilônia e de Persépolis. Essa última foi incendiada por ordem de Alexandre para vingar a destruição de Atenas pelos Persas, mais de 150 anos antes. Alexandre contribuiu para a difusão da cultura grega no Oriente. Durante o período helenístico (do grego, hellenizein – “falar grego”, “viver como os gregos”) suas conquistas aproximaram Ocidente e Oriente, dando origem a uma nova cultura, a helenística, resultado da mistura das culturas ocidental e oriental.  Alexandre fundou uma nova cidade no Egito, Alexandria, que veio a se tornar local de uma das maiores bibliotecas da Antiguidade e um importante centro cultural nos séculos seguintes. No Império foram fundadas mais nove cidades com o nome de Alexandria.

      A importância de Alexandre (que não teve vida-longa) para o mundo antigo foi enorme, principalmente do ponto de vista cultural. Foi ele o responsável por divulgar a língua e a cultura grega pelas regiões conquistadas. Alexandre faleceu aos 31 anos de idade. O Império continuou com Seleuco, um dos generais de Alexandre Magno e se iniciou, assim, a dinastia dos Selêucidas onde o Império alcançou o máximo de extensão. 

A Pérsia é dominada pelo Império Romano

       O Império Romano foi o período da história que vai de 27 a.C. em que o Imperador Otávio Augusto, filho de Júlio Cesar, exerceu seu poder sobre um vasto e heterogêneo território com várias línguas e vários povos que conseguiu administrar. Enquanto o grego era a língua mais falada nos territórios orientais, o latim era o mais falado nos territórios ocidentais. No ano 286d.C, o Imperador Diocleciano dividiu o Império Romano entre Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. O Império Romano do Ocidente caiu em 470 d.C. quando os assim chamados povos bárbaros o dominaram e aí terminou a Idade Antiga e começou a Idade Média. O Império do Romano do Oriente, mais tarde chamado Império Bizantino perdurou por mais 1000 anos, quando caiu na mão dos turcos em 1453 com a queda de Constantinopla. Muitas guerras foram ganhas e outras foram perdidas pelos persas durante o tempo em que ficaram sujeitos ao poder Romano.

O segundo Império Persa – a dinastia Sassãnida

Os Persas tiveram quase oito séculos de guerras contra o Império Romano. Depois de dois anos envolvido em guerras pelo território persa, Ardacher 1º conseguiu se tornar Xá (termo persa para monarca) e restaurar o poder dos persas sobre a região, retomando a tradição Aquemênida e inaugurando a dinastia Sassânida (segundo Império Persa). A Religião era o monoteísmo de Zaratustra e muitas vezes, as dinastias persas, no início, descendiam de uma linhagem de sacerdotes zoroastrianos. Foi o caso da dinastia Sassânida estabelecida por Artaxes I que governava a província de Pars (berço do Império Persa). O que levou à exaustão do Império foram as frequentes guerras contra Roma e também contra os romanos do Império Bizantino. A Sassânida foi a última dinastia antes da invasão árabe muçulmana, em 651 d.C. Depois desta data a Pérsia passou a ser governada pelo Islã.

O domínio dos árabes – o Império Islâmico

Na Arábia, a teocracia islâmica iniciava seu processo de expansão e, em 643, os árabes chegaram ao Império Persa. Em 651 d.C., os sassânidas foram vencidos.
A partir de então, a Pérsia se transformou: a língua árabe passou a ser a mais usada e o islamismo foi imposto aos persas. As tribos árabes politeístas se uniram, a partir da religião de Maomé e o Império alcançou sua maior extensão no século VII e VIII. Apesar de empreenderem uma guerra pela difusão da nova religião, os árabes foram tolerantes com cristãos e judeus nos territórios conquistados, pois judeus e cristãos eram considerados os “Povos do Livro”, indicando uma herança religiosa comum.

     Os iranianos lutaram, na realidade, contra os invasores árabes, indicando assim o desdém dos persas pela influência e cultura árabe. Esta visão também sustenta que, uma vez conquistados, politicamente, os persas passaram a resistir aos árabes culturalmente, mantendo, por exemplo, o idioma e a cultura persa. Apesar disso, a religião de Maomé foi adotada pela maioria da população, seja por motivos políticos ou socioculturais e se tornou a religião dominante.

     Foi nesse período que houve a principal divisão entre os muçulmanos, o que resultou na linha sunita e xiita, que uniram as divergências sucessórias às questões religiosas. Posteriormente, a partir do século XIII, o Império foi sendo também conquistado pelos turcos, povos originários da Ásia Central, um processo que se estendeu até o início do século XX, mas que manteve o islamismo como religião. Na Península Ibérica, os muçulmanos foram derrotados pelos cristãos durante as Guerras de Reconquista, que tiveram fim no século XV.
     A extensão do Império, a ligação entre Ocidente e Oriente e a assimilação de hábitos culturais e conhecimentos produzidos pelos povos conquistados proporcionaram aos muçulmanos a produção de um importante patrimônio cultural, incluindo filosofia, medicina, matemática, arquitetura, entre outros, que até os dias atuais se faz presente. Foi o chamado Renascimento Islâmico. Durante esse período, engenheiros, acadêmicos e comerciantes do mundo islâmico contribuíram grandemente em áreas como artes, agricultura, economia, indústria, literatura, navegação, filosofia, ciências e tecnologia, preservando e melhorando o legado clássico, por um lado, e acrescentando novas invenções e inovações próprias. Hoje os iranianos apesar de abraçarem o Islã não admitem ser confundidos com os árabes. Eles se definem como persas. Após tantas conquistas, com o passar do tempo o Império Islâmico foi perdendo cada vez mais regiões do Oriente para os povos turcos e os mongóis.

A Pérsia é dominada pelo Império Mongol (1206-1368)

       O Império Mongol, o maior Império que já existiu em terras contínuas, foi fundado no início século XIII por Gengis Khan, seu filho, seu neto e seus exércitos. Ele dominou cerca de 33 milhões de quilômetros quadrados.  Gengis Khan unificou tribos mongóis e turcas e foi proclamado o governante de todos os mongóis em 1206. Seu Império durou até 1368. Sob a liderança de Gengis Khan, os mongóis, em suas invasões, atacavam em todas as direções com muita frieza e crueldade. Estas tribos disseminaram a religião islâmica em terras do Império Bizantino.

A Pérsia foi dominada pelo Império Otomano

       A palavra Otomano deriva do nome de um de seus líderes, o sultão Otman I. Este sultão transformou as tribos nômades, fixadas na região da Anatólia, em uma Dinastia Imperial, nomeada de Otomana. O Império Otomano surge em 1299 e durou até o fim da Primeira Guerra. Entre os séculos XVI e XVII, alcançou a extensão territorial que abrangia o norte do continente africano, o sudeste europeu e o Oriente Médio. O ano de 1453, foi importante para o Império Otomano porque, após intensas campanhas militares contra o Império Bizantino, a cidade de Constantinopla foi conquistada e tornou-se a capital do Império do sultão Mehmed II. E assim caiu o Império Romano do Oriente com a vitória e a conquista da capital Constantinopla, nomeada depois de Istambul. Podemos ver que a história da Pérsia é uma sucessão ininterrupta de invasões e sangrentas conquistas. Foi nesta sucessão de invasões e de dominações que a língua Persa quase se perdeu!

As Dinastias Persas:  Safávida, Zand, Qajar e Pahlavi
Houveram muitas outras dinastias, mas estas são as principais.

       Os Safávidas são muçulmanos que chegaram ao poder em 1501 e governaram até 1722. Ao contrário de muitas outras dinastias fundadas por déspotas e chefes militares, um dos principais aspectos dos Safávidas, no período pós-islâmico do Irã, foi sua origem na ordem islâmica sufi. A chamada dinastia Safávida, foi a primeira dinastia nativa, desde aquela do Império Sassânida, a criar um Estado unificado iraniano. Esta singularidade torna a dinastia Safávida comparável à dinastia pré-islâmica Sassânida, que fez do zoroastrismo a sua religião oficial e cujos fundadores eram originários de uma classe sacerdotal. Note-se que a Safávida não era originalmente xiita, mas procedente do ramo shafi’i sunita.

     E a eles é atribuído o fato de terem estabelecido um Estado próprio muito poderoso. Em 1598 eles mudaram a capital Safávida para Isfahan, no centro da Pérsia, que foi muito embelezada por Abbas, com a mais primorosa arquitetura persa. Os Safávidas criaram o palácio Real Ali Qapu e a imponente e grandiosa Mesquita Real Masjid-i-Shah. Durante seu reinado se fortificou o ramo mais ortodoxo do islamismo, o ramo Xiita. Em 1736 uma invasão afegã pôs fim ao reino dos Safávidas.
    
     O Império Safávida teve vida curta, principalmente quando comparado com a longa duração do Império Sassãnida. Mas, durante sua breve existência, e particularmente durante o primeiro século, o Império Safávida se estabeleceu como uma das grandes dinastias islâmicas. Talvez mais importante entre todas as conquistas, foi a conversão generalizada dos persas ao Xiismo e o desenvolvimento do nacionalismo persa, que permanece até os dias de hoje no Irã. A construção da Mesquita Real Masjid-i-Shah começou em 1611 e seu esplendor é devido principalmente à beleza de seus mosaicos de sete cores e inscrições caligráficas. A Mesquita é retratada na parte de trás do bilhete dos 20.000 riales iranianos. Esta Mesquita está registrada com a Praça Naghsh-i Jahan, como Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO.

O Império Zand

        Após a dinastia Safávida foi o Império Zand que governou a Pérsia no decorrer do século XVIII, mais concretamente de 1750-1794. A curta duração deste Império islâmico de ascendência curda é elucidativa da profunda instabilidade na região após a queda do Império Safávida.  Surgiu na região centro-sul da Pérsia, gradualmente conquistou os restantes territórios que compõem atualmente o Irã e porções do que presentemente corresponde ao Iraque, Azerbaijão e Arménia. Os reis da dinastia Zand foram em número de nove e fizeram de Shiraz a sua capital. Depois da dinastia Zand, o Irã foi governado pela dinastia Qajar, em 1779. Teerã finalmente tornou-se a capital do Império Persa em 1795, quando o xá Aga Maomé Cã da dinastia Qajar,  foi coroado.

A dinastia Qajar

        A dinastia Qajar foi uma família real iraniana de ascendência turca que governou a Pérsia (atual Irã) de 1785 a 1925.  A família Qajar assumiu o controle total do Irã em 1794, depondo Lotf Ali Cã, o último governante da dinastia Zand e reafirmou a soberania persa sobre partes do Cáucaso.  Em 1796 o Mohammad Khan Qajar foi formalmente coroado como Xá e em 1906 o país virou uma monarquia constitucional. Durante o século XIX durante o reinado da dinastia Qajar a Pérsia perdeu muito do seu território nas duas guerras que teve contra a Rússia.  O último Xá da Pérsia da dinastia Qajar foi Ahmad Shah Qajar que reinou entre 16 de julho de 1909 e 31 de outubro de 1925. Em 1925 a dinastia Qajar foi derrubada, subindo ao poder Reza Pahlevi que pediu formalmente à comunidade Internacional que passassem a chamar o país de Irã e não mais de Pérsia.  A Rússia Imperial e o Império Britânico – exerceriam grande influência política sobre os reis Qadjaridas.

A dinastia Reza Shah Pahlavi

      Com um golpe de Estado, Reza Shah Pahlavi assumiu em 1925, e governou o Irã por quase 16 anos. Na Segunda Guerra Mundial em 1941 a União Soviética e o Reino Unido invadiram o Irã. A finalidade era assegurar para si próprios os recursos petrolíferos iranianos. Os aliados forçaram o Xá a abdicar em favor do filho Mohamed Reza Pahlevi pois achavam que este seria mais favorável a seus interesses, no Irã. Com apoio estadunidense e britânico, Reza Pahlavi assumiu e modernizou o país. No entanto, continuou tendo uma forte oposição do clero Xiita e dos defensores da democracia à sua política de governo. Esta oposição foi sempre combatida pelo Xá Reza Pahlevi, com muita violência.

Com tantas dominações a língua Persa poderia ter desaparecido, mas hoje ela está muito viva e falada por todo o Irã. A história guardou o nome do responsável por ter colaborado de maneira decisiva por tal feito.    
 Após estas notas introdutórias, que tiveram o objetivo nos colocar a par de alguns aspectos da realidade histórica deste rico e cultural país, vamos ao nosso dia a dia da excursão!

 

RELATÓRIO DE VIAGEM
23 de fevereiro a 8 de março de 2018

Dias 23 e 24 de fevereiro de 2018 – sexta e sábado – a viagem até o Irã.

     Saímos de Florianópolis no dia 23 de fevereiro, às 19 horas numa excursão organizada pela empresa Plazatur e em Guarulhos nos juntamos aos participantes de mais duas excursões de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Partimos de Guarulhos no dia 24, às 4 horas da madrugada, com destino a Istambul, onde chegamos às 22 horas. Em Istambul, o relógio foi adiantado em 6 horas e de lá viajamos para o Irã, às 16 horas. Do aeroporto Khomeini até o nosso hotel em Teerã, viajamos 50 km de ônibus e chegamos ao Hotel Espinas, no dia 25, às 5 horas da manhã. Lá adiantamos o relógio em meia hora. A viagem foi longa e cansativa, mas afinal chegamos a Teerã, a capital do Irã, na alegria de começar a conhecer a terra de civilizações milenares, a antiga Pérsia.

Dia 25 de fevereiro de 2018 – domingo.
    
Depois do desjejum, descansamos das 9 até às 13 horas, e em seguida, com os guias Mahsa e André, fomos trocar dólares, recebendo por dólar, 43.000 riales iranianos. Ficamos sabendo que existe outra moeda chamada Toman que se escreve com um zero a menos, mas vale a mesma coisa, tanto que, 1.000 Tomans valem 10.000 riales.  

À tarde, às 15h07, fomos fazer nossa primeira visita em Teerã a um complexo de palácios gigante, em meio a um belo parque.

Complexo Sa´d Abad

       Ao longo do trajeto, a guia Mahsa, nos deu as primeiras informações sobre o Irã e a cidade de Teerã. Falou-nos sobre a obrigatoriedade do uso do véu para as mulheres e nos disse que as turistas também estão sujeitas a essa norma (hijah=cobrir). Desde a Revolução de 1979, a cor negra é a oficial, mas as mulheres podem usar o véu de qualquer cor. A cerveja e o vinho são proibidos em público. A guia também nos explica que o Irã é um país muito seguro; tem 80 milhões de habitantes e que os iranianos são muito gentis e hospitaleiros. Isso nós também constatamos, com muito prazer, desde o início até o fim de nossa excursão.

      Em Teerã, no burburinho da cidade, vimos um trânsito engarrafado e muito difícil, caótico mesmo, o que às vezes nos dava a impressão, de que não havia nenhuma saída para este problemático trânsito.
       Mahsa nos informa que existe uma grande Avenida em Teerã que, com seus 18 km é a mais longa do Oriente Médio. Recebeu o nome de Pahlavi, pois foi uma obra do seu governo e nela foram plantadas inúmeras árvores. Com a Revolução Islâmica, a Avenida que divide a cidade de Teerã, em pares orientais e ocidentais, teve seu nome substituído por Valiasr, um Imã do Islamismo: Num dos extremos da Avenida Valiasr está a praça Tajrish e, no outro, a Praça Rah Ahan. Agora há menos árvores e vejo que nesta estação estão todas sem folhas. O Sul de Teerã, onde também fica o centro histórico e comercial, é a região mais antiga e também a mais pobre e mais religiosamente conservadora. Já o Norte, ao pé da cordilheira Alburz, numa altitude um pouco maior do que o Sul, é a região mais moderna, rica e religiosamente aberta.

Chegamos ao parque e fizemos uma foto. No complexo palaciano Sa´d Abad estão os 4 palácios dos Pahlevi, inicialmente foram habitados pelos monarcas da dinastia Qajar no século XIX. Após expandir o Complexo, Reza Pahlevi viveu no palácio nos anos 1920 e seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, se mudou para lá nos anos 70. Após a Revolução Iraniana, o Complexo se tornou o que é hoje, um Museu. Ao caminhar pelo parque, Mahsa fala sobre a família e filhos do Xá. Mohamed Pahlavi teve no 1º casamento uma filha e do segundo dois filhos e duas filhas. Na Revolução de 1979 os filhos foram para Paris. A rainha Farah Diba, terceira esposa, acompanhou o Xá no exílio e hoje vive em Paris e Estados Unidos. O Xá morreu no Egito, um ano após a Revolução, com 60 anos de idade. Hoje só restam 3 filhos. A segunda filha, com 80 anos, está em Paris. Em 2001, sua última filha, de 30 anos, se suicidou. O último filho, em 2011, também se suicidou, com 40 anos de idade.

     Após caminhar pelo parque, nos dirigimos ao célebre Palácio Verde, construído no final da dinastia Qajar e depois remodelado pela dinastia Pahlevi.

Em frente ao parque a linda e histórica obra de arte: “O arqueiro”, relembra uma lenda muito significativa para o povo persa. Trata-se da representação de Arash Kamangir, o arqueiro, um herói da mitologia persa, um nome bem popular no Irã e significa “luminoso” ou “brilhante”. A história é contada pelo poeta Ferdowsi no seu livro Shahnameh o “livro dos Reis”. Numa disputa de limites da Pérsia com outro povo, Arash lançou a flecha e Deus comandou o vento e sustentou a flecha por muito tempo, alargando, assim, os limites da Pérsia. É muito bonita esta obra de arte e diante dela muitos faziam fotos e também fiz questão de marcar presença. Em frente ao palácio há uma réplica das botas do Reza Pahlevi em metal!

Entramos neste palácio Verde onde lindo mármore do Irã embeleza o chão e as escadas deste Museu. Percorremos todas as salas e, em todas elas, só o luxo e o brilho e os célebres e belíssimos tapetes persas cobrindo todo o assoalho.  Entramos numa sala onde no alto havia diversas pinturas sobre as lendas da Pérsia.Também vimos, entre outros cômodos muito luxuosos, a sala do refeitório onde foi dada a última festa para o Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter.

Neste Museu, se encontra algo muito significativo para o povo Persa: trata-se do célebre livro do maior poeta do Irã, Ferdowsi, pois este poeta teve um papel preponderante ao salvar e reavivar o idioma Persa, após centenas e até milhares de anos de invasões e de dominações estrangeiras, que quase resultaram no esquecimento da língua.

O poeta Ferdowsi que nasceu por volta de 940 e morreu em 1020, dedicou 35 anos de sua vida a escrever 60.000 versos em língua Persa, contando a história dos seus Reis.

“Além de sua importância literária, o Épica dos Reis, por ter sido escrito em sua quase totalidade em persa puro, foi a chave para reviver a língua persa, então influenciada pelo árabe, e assim contribuir para a manutenção da identidade cultural iraniana”.

A guia Mahsa lembra: numa civilização o importante é a língua, pois pode-se mudar a religião, mas não a língua. Nesse conjunto de diversos palácios há também um museu com os carros do monarca e também as motos usadas pelos seus filhos. Fizemos muitas fotos passeando neste parque do conjunto palaciano.

       Às 16h51 saímos do Complexo de palácios Sad Abad e nos dirigimos à praça Tajrish, para visitar a Mesquita “Imãzadeh Saleh” um dos santuários mais populares do norte do Irã e o Mausoléu. O trânsito, como sempre, estava muito engarrafado e o ônibus nos deixou na praça que fica ao norte da cidade de Teerã. Nesta praça onde fica o bazar e a Mesquita, no meio de muita gente lá estavam muitas mulheres com o chador, cobertas dos pés à cabeça com este traje negro. Havia também outras, sejam elas iranianas ou turistas, que estavam elegantes, com lenços coloridos e muito lindos, cobrindo somente os cabelos.

Lembro-me que, no momento de chegar a esta praça, que fervilhava de pessoas, muito me impactou a visão deste pórtico com os mosaicos e as escritas árabes nos azulejos, pois a admiração diante da beleza desses artísticos mosaicos foi muito grande.

Antes da Mesquita, passamos pelo Bazar Tajrish.  Entrar num bazar é uma experiência única que fala de cultura de um povo e, em geral é o primeiro lugar que se visita numa cidade. Aqui neste pequeno, mas interessante bazar não foi diferente. Muitos de nós compramos aquilo que mais valia a pena adquirir aqui, seja pela sua excelência ou seja pelo seu preço. Comprei frutas secas, pinholes e frutas vermelhas.

Em frente ao bazar, um menino que vendia e oferecia beterraba cozida, me chamou atenção. A cor da beterraba era muito especial e a entrega da criança a esse seu trabalho, também!
     A Mesquita Imãzadeh Saleh é um dos Santuários Xiitas, mais populares de Teerã. Este primeiro encontro com a beleza típica do Irã, fez com que repetidas exclamações “que lindo, isto vale a pena ver”, estivessem na boca de todos e, na verdade, evidenciavam a emoção do nosso grupo, ao vermos tamanha obra de arte da Pérsia! O edifício da Mesquita tem diversos compartimentos, um Mausoléu e locais separados para homens e mulheres. Para entrar na Mesquita, colocamos o chador, um pano muito fino no sentido da espessura, que nos foi oferecido por pessoas da religião que estão aí, todos os dias, para fazer esse trabalho. Quando estávamos com a vestimenta adequada, após tirar os sapatos, entramos na belíssima Mesquita toda espelhada, onde num ambiente silencioso ouvia-se suave música.

      Após passar pelo Mausoléu, nós visitamos o local das mulheres, onde observei que cada grupo das muitas mulheres que estavam no interior da Mesquita, faziam uma atividade diferente: umas estavam estudando o Alcorão; outras rezando; outras conversando baixinho; outras olhando o smartphone; outras descansando sentadas ou também, reclinadas. Senti que aqui, o ambiente da Mesquita tinha uma função social importante para estas mulheres, talvez representasse a liberdade de exercer sua subjetividade! E nós, com o chador, olhando tudo isto e depois eternizando este momento com uma foto, somos envolvidas e vivemos este momento deveras especial. O efeito desses enfeites de vidro espelhado é belíssimo. Foram momentos preciosos, em que estávamos sob o impacto de algo inteiramente novo e de muita beleza e significado.

Assim, saímos da Mesquita e antes de devolvermos o chador, fizemos uma foto do grupo. Ao sair do local da Mesquita paramos na primeira tenda para tomar um chá pelo qual pagamos 10.000 riales (1 real no nosso dinheiro). Adoçamos com um pirulito amarelo como costumam fazer aqui. Em outra banca, nos ofereceram um cafezinho forte. Logo chegou o nosso ônibus que nos levou ao hotel Espinas onde noso esperava um especial jantar.

No hotel Espinas, a excursão foi recebida, num ambiente muito requintado, enfeitado com muitos espelhos, flores e desenhos delicados. Neste ambiente acolhedor, muito alegre, festivo, iniciamos o jantar com um buffet de verduras, muito frescas. Após algum tempo, o garçom trouxe uma grande bandeja individual com – folhas verdes pequenas e diversas, arroz informado; azeitonas assadas e um grande filé de peixe e tomate assado. O prato individual estava muito bem servido de iguarias. Depois, como sobremesa, gelatina e pudim de leite.

Saboreamos este jantar num ambiente de confraternização e alegria. Foi difícil, para mim, ter que deixar boa parte da comida no prato. Era muito gostosa, mas era excessivo o que estava em cada travessa individual.

Enquanto jantávamos, fomos surpreendidos com o melhor show de música a que pudemos assistir: 3 artistas cantaram e tocaram instrumentos originais, alguns muito diferentes e desconhecidos por nós, numa agilidade estupenda e que nos impactou. 

Lá estávamos nós, vendo escutando artistas da melhor qualidade, executando música com tão grande simpatia e maestria, inclusive música clássica. Foi um momento de enlevo e de felicidade! Foi uma forma muito agradável de terminar as vivências deste dia. Podemos dizer que foi uma experiência inesquecível.
Fui dormir às 21 horas e o meu WhatsApp infelizmente, não funcionou!

26 de fevereiro – segunda-feira.
    
       Levantei, escrevi e fomos ao restaurante tomar um lauto café. André, coordenador do grupo de São Paulo, sempre muito atento e solícito, conseguiu arrumar o meu WhatsApp pelo que lhe fiquei muito grata. Às 8h45, saímos do hotel Espinas de ônibus, em direção ao complexo de Golestan, localizado em meio a jardins persas. Antes, porém, iríamos conhecer o Museu dos tapetes persas.

       Mahsa aproveita o tempo do trajeto da viagem de ônibus para nos falar sobre a cultura no Irã e sobre algumas das proibições impostas aos iranianos após a Revolução Xiita: beijo e abraço são proibidos em público; as mulheres, obrigatoriamente, devem usar o véu e, igualmente as meninas nas escolas, a partir dos sete anos. Apesar de tudo, as mulheres são muito vaidosas, estão sempre bem produzidas com maquiagem, olhos bem marcados e batom forte. O botox é muito usado. E aqui um dado muito interessante: Teerã é referência em cirurgia estética e são muitas as mulheres que estão com esparadrapo pós-cirúrgico no nariz. Ao contrário da Arábia Saudita, as mulheres aqui estudam, dirigem, ocupam altos cargos nas empresas públicas e privadas e votam.

Desembarcamos no prédio do “Museu dos tapetes” fazendo nossa primeira visita do dia. Ao adentrar, ficamos impactados com a beleza deste espetáculo das inúmeras obras de arte em exposição, onde pudemos admirar tapetes de diferentes épocas e regiões: tapetes grandes, médios e pequenos, feitos com lã de ovelha, de camelo ou com seda. Foi emocionante admirar estes tapetes. Mesmo que nos admiremos aqui com a beleza de uma foto, sabemos pela experiência, que nada substitui o olhar! É muito emocionante poder estar neste local de tanta cultura, construída pelos persas, desde épocas milenares.

Mahsa nos vai dando mais informações: os tapetes persas são mundialmente conhecidos, não só por sua qualidade, mas por serem artigos de alto luxo, exportados para todo o mundo. No Irã, quanto à técnica de trabalhar os tapetes, há uma diferença em relação a outros países, pois aqui o nó do tapete é duplo.

     Um quadro na parede retrata o trabalho das mulheres, no interior de suas casas, onde conseguem fazer maravilhosos tapetes de lã ou de fio de seda. Às vezes colocam, num centímetro quadrado, 169 nós da mais fina seda. São tapetes feitos pelas mãos destas mulheres “invisíveis” que assim trabalham há milênios, salvando o saber tradicional, oferecendo ao mundo verdadeiras preciosidades. Trabalham 8 horas por dia, às vezes durante meses, num só tapete. A UNESCO elevou os tapetes persas, os mais famosos do mundo, ao status de “Maravilhas da Herança Oral e Intangível da Humanidade”. Os conhecimentos sobre o processo de trabalho desses tapetes, passam de geração em geração. Como o território de grande parte da Pérsia é deserto, toda a vida de seus habitantes se desenrola sobre o tapete. Cada cidade tem seus tapetes e isso fica evidente quando se vê um tapete Persa, pois sabe-se de que região é originário. As cores são naturais e não desbotam. Saímos deste grande Museu conhecendo muita beleza e um pouco mais sobre a milenar da Pérsia.
     
A segunda visita nesse dia, foi feita ao célebre palácio Golestan, todo recoberto de lindíssimos mosaicos. O que vemos aqui é um conjunto de muitos palácios, resultado de cerca de 400 anos de construções, pois cada dinastia fez algum edifício novo, ou remodelou e acrescentou algo. 

Ao adentrar o ambiente, aproximamo-nos de uma grande cortina que ocultava um trono de mármore. Em seguida, entramos no palácio e conhecemos os diferentes salões, usando nos pés uma proteção de plástico.

O Emarat Badgir (palácio do trono) é um dos mais antigos edifícios do Palácio do Golestan e foi construído na época de Fat´h Ali Xá Qajar (1797–1834). A sala principal está decorada com vitrais, colunas de gesso em forma de espiral e rodapés de mármore pintado. Em todos os ambientes, este agora Museu, está repleto de espelhos, pinturas e azulejos com flores. Os ambientes espelhados têm a seguinte história que nos foi contada pela guia Mahsa: no século XVI importavam-se espelhos da Itália e, às vezes, estes chegavam quebrados. Aí, surgiu a ideia de aproveitar este material e cobrir as paredes com estes cacos de espelhos. O resultado foi surpreendente e as diversas formas de usar os espelhos não pararam de mudar, tornando o ambiente muito lindo e sofisticado. Também vimos, nesse palácio, muitos salões com móveis muito antigos, ricamente trabalhados em madeira e muitos outros objetos valiosos e únicos que aí estavam em exposição.

      Num salão deste palácio, entre outros itens expostos, havia cerâmicas com que foram presenteados os reis do Irã. Lá estão as ofertas dos reis da Itália, China, Portugal, Rússia, Turquia, etc. cada qual com seu presente.

     O Shams-ol-Emareh é outro edifício do Golestan que surgiu em 1867, sendo, à época da sua construção, um dos mais altos edifícios de Teerã. Aparece aqui a união do Oriente com o Ocidente europeu. O Xá queria colocar em prática algumas ideias que teve ao visitar a Europa. Foram convidados então engenheiros franceses e austríacos para se deslocarem à capital Persa com o objetivo de darem forma às ideias de Nasser al-Din Xá.

Fizemos fotos dos lindíssimos mosaicos que cobrem estes palácios… Valeu muito a pena conhecer esse conjunto histórico e artístico. Passamos ao redor da linda praça e também lá havia uma torre de ventilação, diante da qual ouvimos as explicações da guia. As torres de ventilação são presentes nestes locais de temperatura muito alta e onde se necessita refrescar o ambiente para torná-lo habitável. Quando saímos do kolestan encontramos adolescentes muito alegres uniformizados com o tradicional véu, e que ao saber que éramos do Brasil quiseram fazer uma foto. Gostei deste rápido vínculo com os estudantes persas.

Após essa visita pela grande praça e seus palácios, fomos almoçar no Ferdowsi Internacional Gran Hotel.

Aqui no Irã os poetas são muito lembrados e valorizados e hoje vamos almoçar num restaurante com o nome Ferdowsi. As homenagens ao poeta da Pérsia estão em toda parte. Como exemplo, a rua Ferdowsi fica próxima ao hotel e é a rua das embaixadas. Uma das 11 pontes em Esfahan, também se chama Ferdowsi. O metrô de Teerã também tem o nome de Ferdowsi, lembrando sempre o poeta que salvou a língua persa que, hoje, é falada por 98% da população. A devoção do povo persa a seus poetas é algo digno de menção honrosa.
Este restaurante era deveras aconchegante, ambiente agradabilíssimo e almoço ótimo! Grande quantidade de frutas, verduras, sopa especial e muitas bebidas à disposição.

     Como não tomo mais refrigerantes nas refeições, aqui sempre saboreava o Ayran, uma bebida branca à base de água, iogurte e hortelã, muito gostosa, refrescante e muito comum nos restaurantes do Irã. É uma bebida muito saborosa de saber exótico, levemente salgada.

Ao sair do restaurante, às 14h22, nos dirigimos ao Tesouro Nacional de Joias, conhecido, também, como Museu de Joias, localizado no subsolo do Banco Central do Irã. Há o maior aparato de segurança para salvaguardar esse Patrimônio Nacional.  Passamos um tempo razoável esperando em diversas salas, para finalmente, chegarmos ao Museu das Joias. Para lá não se pode levar nada!
As joias coletadas pela monarquia durante os seus 2.500 anos de existência, foram transferidas, para a propriedade do Estado, no século XX. Essas joias, que nem sempre foram conhecidas pelos iranianos e se mantinham guardadas pelo governo, foram colocadas à disposição de todos, pelo Xá Mohamed Reza Pahlavi, que decretou que a coleção fosse colocada, em exposição, no Banco Central do Irã.

Ao entrar, surpresa! Lá está o Trono do Pavão, onde foi coroado Pahlavi, uma verdadeira joia coberta com esmeraldas e muitas outras pedras preciosas.
O Trono do Pavão também tem uma história:

Foi um famoso trono de joias usado pelos Imperadores do Império Mogol, que conquistaram o norte da Índia. Encomendado no início do século XVII pelo Imperador Shah Jahan e foi colocado no Forte Vermelho de Deli. O trono original foi posteriormente capturado e levado como um troféu de guerra, em 1739, pelo rei persa Nadir Shah, e depois disso desapareceu”.

Aí no Museu estava o diamante rosa do tamanho de uma caixa de fósforos, com 185 quilates. Esmeraldas, rubis, diamantes e outras pedras preciosas estão em lanças, espadas, coroas, broches, colares, tiaras, etc. Riqueza incalculável, enfim! No Globo de Joias, foram incrustadas mais de 50.000 pedras preciosas. As joias mais caras e mais lindas do mundo estão nesse museu.

Ao observar tantas joias finamente trabalhadas o que me veio à mente não é só que os artesãos que as fizeram tinham gosto refinado e muita criatividade, mas também as condições em que estas joias foram garimpadas e trabalhadas.   

     Esses dizeres abaixo, nos lembram este outro aspecto, a respeito destas joias deslumbrantes:

“Por um lado, esse tesouro retrata a cultura e civilização do povo iraniano que teve um passado aventureiro e, por outro, ecoa as lágrimas do povo oprimido que trabalhou duro, ao contrário dos seus dirigentes, que desfilavam arrogância com seu ouro e joias”. Sobre isto vale a pena refletir!
    
Saindo do Museu das joias, tomamos nosso ônibus às 16h20e fomos visitar um outro local imperdível, o complexo da ponte Tabiat.

Ao sair do ônibus já sentimos o vento frio e com algumas colegas, fizemos uma foto na escada que adentra a praça.
Aqui nos aguardava o prazer de ver a maravilhosa ponte peatonal Tabiat que honra sua linda tradução: “Natureza”, o local preferido de lazer dos Iranianos. A partir do plano arquitetônico da Iraniana Leila Araghian e, orientando ela mesma a construção, essa gigantesca obra começou em 2010 e foi inaugurada 2014.

É uma ponte de 270 metros que conecta dois parques públicos – o Taleghani Park e o Abo-Atash Park – passando pela Modarres Expressway, uma das principais rodovias do norte de Teerã.

Restaurantes e barzinhos estão localizados na parte inferior da ponte Tabiat
A grande praça fervilhava de turistas que aqui preferem passear, descansar e observar as obras de arte que embelezam este local. Vi monumentos em homenagem à água e ao fogo, estátuas, bancos, figuras esculpidas em madeira, lixeiros feitos de uma forma criativa, torre de circulação do ar, etc. Milhares de canos de aço num desenho arrebatador, transformados numa ponte que une os pontos extremos de dois parques. Lá, entre os dois parques que a esta estrutura religa, os cidadãos passeiam, fazem fotos, descansam, meditam, comem e desfrutam de uma incomum paisagem, livres em meio ao caos do trânsito nas ruas da cidade.

A ponte Tabiat alcançou, plenamente, o outro objetivo da arquiteta: “Não queria que fosse apenas uma ponte que as pessoas usassem para ir de um lado ao outro. Queria que fosse um lugar onde ficassem e meditassem, não só cruzassem”, disse Leila Araghian.

O desenho da ponte agrada o olhar e impressiona pela grandiosidade e, ao mesmo tempo, pela harmonia que ela nos transmite. Diariamente, 20 mil pessoas – número que duplica nos finais de semana – passeiam sobre a ponte e aproveitam a vista para a imensa Cordilheira do Elbruz.

Como já foi dito, a obra é assinada pela jovem arquiteta Leila Araghian, de 31 anos, que quando ainda era estudante, ganhou o concurso do projeto para a construção da ponte que ela mesma agora coordenou. O trânsito intenso de Teerã passa por baixo desta magnifica obra de arte.

Os restaurantes estavam ao longo do duplo espaço localizado na parte inferior desta ponte.
Do alto desta obra de arte se pode ver, a cordilheira de Elbruz que neste fevereiro, quando estávamos lá em Teerã, ostentava suas montanhas ainda cobertas de neve.

Fizemos muitas fotos neste inesquecível e belo lugar de Teerã.

     O trânsito intenso de Teerã passa por baixo desta magnifica obra de arte. Julgo a visita a esta ponte, imperdível pois vale a pena não só conhecer, mas percorrer todo o trajeto e até fazer lá, na parte inferior da ponte, alguma refeição. Ao caminhar pelo amplo espaço admirei, mais uma vez, as obras de arte que enriquecem e elevam esse ambiente à outra categoria. Fizemos muitas fotos e muitos selfs. O passeio a todo o ambiente desse maravilhoso recanto de Teerã poderia ser no período da tarde, reservando para isto, um tempo maior para o início da noite. Assim se tem a oportunidade ver a ponte em dois momentos distintos.

     E aqui faço um parêntesis para lembrar outro monumento que não visitamos, mas que valeria a pena conhecer aqui em Teerã, que é a Torre Milad.

     Construída em 2009, com uma antena de 100 metros de altura, a torre Milad é a sexta torre mais alta do mundo.  Possui um restaurante panorâmico, uma galeria de arte, um terraço e o Centro de Convenções Internacional de Teerã. O projeto inclui também restaurantes, torre de telecomunicações, hotel cinco estrelas, centro de convenções, um centro de comércio, etc. A Millad Tower tem uma base octogonal, simbolizando a tradicional arquitetura Persa. Percebi que nesta cultura, o número oito é muito valorizado e passou a ser muito utilizado na arquitetura.

     Milad Tower tem uma base octogonal, simbolizando a tradicional arquitetura persa. Percebi que nesta cultura persa o número oito é muito valorizado e passou a ser muito utilizado na arquitetura.
Voltando à ponte Tabiat, concluímos esta visita quando o crepúsculo anunciava o nascimento da lua e nós nos dirigíamos a um restaurante contíguo à praça. Num ambiente muito bem decorado e aconchegante jantamos, cada colega pedindo um prato diferente.

Nesta temperatura muito baixa, eu pedi uma sopa e, por sinal, estava muito bem apresentada e acima de tudo muito gostosa. Foi um momento muito interessante de congraçamento de nós excursionistas. Às 18h30 voltamos para o hotel num trânsito muito engarrafado na linda Teerã toda iluminada.  Tomei banho, e mandei por WhatsApp parabéns para meu sobrinho-neto Lucas, aniversariante neste dia 26 de fevereiro. Fui dormir. agradecendo o dia que nos tinha sido muito proveitoso.
   
Dia 27 de fevereiro de 2018 – terça-feira.
    
Levantei, fechei a mala e tomei café. Hoje uma longa viagem de 244km nos levará para a importante cidade de Kashan. Às 8h30 estávamos saindo e Mahsa aproveita sempre os momentos privilegiados da viagem para nos transmitir algo sobre a cultura do Irã. Hoje falou-nos a respeito das mulheres, não só quanto à obrigação do uso do véu como também, das regras rígidas impostas a elas, a partir das orientações do Aytolá Khomeini. As iranianas usam o chador que não cobre o rosto, mas somente o resto do corpo. Muitas cobrem só o cabelo. O Islã diz: as famílias que são religiosas devem usar o hijab= cobrir.

     E mais: Aiatolá Khomeini foi um líder que defendeu e ainda hoje defendem seus seguidores, uma interpretação ultraconservadora do Alcorão. Khomeini assumiu o governo do país na Revolução de 1979 e fechou o país, num regime conservador extremo. Governou o país até um ano depois da Guerra entre o Irã e Iraque (1980-1988), falecendo no ano seguinte, em 1989, com 86 anos e cinco anos mais tarde morreu seu filho. Defendia que as mulheres estavam aptas a casar a partir dos 10 anos de idade e ele defendia a pena de morte para quem abandonasse o Islã. Considerava o Ocidente a origem de todos os males do mundo. Com a Revolução, as mulheres perderam diversos direitos como o de cantar em público e andar de bicicleta. Mahsa nos diz que a Revolução foi muito severa no início, mas hoje, passados 40 anos, não há tanto controle como no início. Mais tarde, ainda sobre o impacto de todas estas proibições, quando vi admirada, na cidade de Yasd, adolescentes andando de bicicleta, tomei quase um susto, tão surreal me pareceu. Atualmente, durante as viagens na autoestrada, as mulheres podem tirar o véu, porém quando se chegar a um posto da polícia, o véu precisa ser reposto, nos alertou a guia, pois a polícia está lá para controlar tudo. A viagem continua e eu estou no estado de plena atenção, ao percorrer esses lugares estranhos. Agora chove! É muito agradável viajar com chuva. Uma fila de tamareiras e um trem que passa num lugar em que quase não se veem trens, chamam minha atenção.

Mahsa nos fala também sobre o cinema no Irã para o qual importa fazer um elogio. Aqui o turista não tem acesso a filmes, pois os filmes no Irã são todos passados em língua Persa.
É um país onde o cinema é profundo e tenta apontar para seus problemas. O filme “ O círculo” do cineasta Jafar Panahi por exemplo, premiado internacionalmente, após revolução foi censurado e o diretor não poderá filmar e nem fazer cinema durante 20 anos.    

Às 11h27 passamos pelos lagos do Sul de Qom, a mais religiosa das cidades do Irã. Lá há múltiplas madraças e muitas escolas de teologia do Islamismo. Visitaremos a cidade Qom no último dia da excursão.

     No deserto há algo que me chama a atenção: pedaços de plantações de vegetais de diversos tons de um verde muito vivo, plantado na região árida, em grandes quadrados ou retângulos. Não é possível identificá-los, não sei qual é o vegetal, mas vi, que às vezes, os rebanhos de cabras lá estavam pastando.

Conforme a região, essas plantações existem em número muito maior do que em outras. Às vezes essas plantações não existem. E aí me vem à cabeça a pergunta: de quem depende que em alguns lugares o deserto é tão fértil? Não saberia dizer se aqui também existe a técnica do gotejamento.
    
Após 40 km, nosso ônibus fez uma parada pois chegamos no lugar onde estão sendo construídos o Mausoléu e a Mesquita do líder da revolução de 1979, Khomeini.

É uma construção suntuosa em homenagem ao Líder Supremo do Islã e nós adentramos o complexo que é bastante grande, com muitas cúpulas e minaretes. Na parte anterior da Mesquita, estão os devotos que atendem aos visitantes e como sempre lhes entregam o chador. Vejo também algo que me surpreende: um guarda armado sentado dentro da Mesquita, perto da porta de entrada.

     Como em toda a Mesquita, lá dentro há pessoas rezando e outras descansando, às vezes estão deitadas dormindo. A grandiosidade e o brilho que ostenta este local chama a nossa atenção. No interior da Mesquita, num ambiente fechado, encontra-se também o Mausoléu de Khomeini, o líder da Revolução, onde se vê diversas pessoas tocando as paredes do mesmo com suas mãos em oração. Em frente ao Mausoléu fizemos uma foto de nosso grupo.

Não dá para avaliar os gastos que estão sendo feitos, para construir com tanto luxo essa Mesquita do Khomeini. Realmente é uma obra de arte que encanta. Fora da Mesquita, num grande espaço aberto! Estava muito frio!

Na saída, vimos, nos arredores, um quiosque que foi construído com muita criatividade. Nele, com alguns colegas do grupo, fizemos uma foto. 

Na sequência, dois momentos chamaram minha atenção:  o de uma iraniana vendendo perfumes num comercio próximo e o outro, de uma mãe iraniana e sua filha. Como sei que eles gostam de serem fotografados, pedi licença e fiz as fotos.

Às 13h17, já no ônibus, recebemos da guia Mahsa o mapa do Irã. Em meio à conversa com os colegas e apreciação das paisagens, chegamos a Kashan. A etimologia explica o nome da cidade. Vem da palavra persa Kashi, que em português significa “azulejos”. É uma cidade de 5.000 a.C., murada por paredes feitas de barro, feno e tijolos.  E desta mesma forma são também construídas suas casas. Essas estruturas de adobe são muito antigas e duram muito. Kashan tem 350.000 habitantes e fica a 950 m acima do nível do mar, é grande produtora de tecidos, carpetes e água de rosas. Pertence às cidades da antiga “Rota da Seda”. E aqui uma surpresa: dizem que os três reis magos que vieram visitar Jesus, em seu nascimento, eram de Kashan.
   
Em 1778, em Kashan, houve um sismo que arrasou e destruiu muitos dos edifícios da época do Xá Safávida Abbas. Mas a cidade foi reconstruída! Nesta cidade conhecemos quatro lugares interessantíssimos: um Jardim Persa inspirado pela religião de Zaratustra, uma Casa de banhos, duas mansões das 19 e mais o histórico Bazar de Kashan.

Iniciamos visitando o famoso Jardim Persa De Fin, que é o mais antigo existente no Irã. – elevado a Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2012, de 2,3 hectares. Foi concluído em 1590 e está belíssimo até hoje. É surpreendente estar no deserto e, de repente, atrás de um espaço amuralhado, fechado, encontrar um jardim com água abundante, plantas, flores, frutos, torre de vento, obras de arte, etc.
Um engenhoso uso da água que provém de um manancial natural a poucos quilômetros de distância, torna o ambiente muito agradável. Os jardins persas foram inspirados pela religião de Zaratustra e durante a história da Pérsia e sob a influência do zoroastrismo, a água na arte passou a ter uma grande importância. A água sempre um lugar especial. Importante saber que a cada nova ocupação da Pérsia por outros impérios ou mesmo outras dinastias, os jardins foram sendo aprimorados. Este Jardim Persa combina elementos arquitetônicos dos períodos das dinastias Safávidas, Zand e Qajar, dos séculos XVII, XVIII, XIX e exalta sobremaneira a harmonia dos quatro elementos da natureza, água, fogo, ar e terra. Tinham o propósito de serem lugares para relaxar, meditar, um espaço de lazer, ou seja, ser um paraíso no deserto. Na estrutura dos jardins persas, foram utilizadas técnicas para bloquear a luz solar e para melhor aproveitamento da luz, da sombra e do vento. A palavra iraniana comum para “espaço fechado” era pari-daiza- (Avestan pairi-daēza-). Este termo foi adotado para descrever o jardim do Éden ou o Paraíso na terra, descrito na Bíblia.

“Durante a ocupação árabe, o aspecto estético do jardim aumentou em importância, ultrapassando a utilidade. Durante este tempo, as regras estéticas que governam o jardim cresceram em importância. Um exemplo disto é o Bāgh Chahār, uma forma de jardim que tenta imitar o Éden, com quatro rios e quatro quadrantes que representam o mundo… O Império Mongol, levou a tradição dos jardins persas para outras partes do seu Império”.

Passamos bom tempo nesse Jardim que para nós era o próprio “paraíso terrestre”. Aqui fizemos muitas fotos e também descansamos. Saímos deste jardim encantados e veio à minha lembrança que o jardim descrito na Bíblia devia ter sido assim.

E aqui outro dado: em 1852, esse jardim de Fin foi palco de um assassinato que ‘tocou’ a Pérsia. O rei Nasereddin Shah mandou matar uma das mais capazes e inovadoras figuras do seu tempo, um grande reformador, o ministro Amir Kabir.
    
       Uma outra visita importante em Kashan foi a que fizemos à Casa Pública dos Banhos, que data do século XVI, construída durante a dinastia dos Safávidas. Em 1956, esta Casa Pública dos Banhos foi declarada Patrimônio Nacional e Cultural do Irã.
        O interior da Casa de Banhos é uma verdadeira obra de arte e de muita beleza.

Ao adentrar este ambiente, fui impactada pela beleza dessa casa de banhos, mandada construir pelo sultão Amir Ahmad. Ao entrar há uma grande sala em forma octogonal com uma piscina ao centro. Vemos magníficos tetos abobadados, lindos mosaicos e maravilhosas pinturas além de outros requintados enfeites nessa Casa de Banhos, que acima de tudo, era um local de encontro social. A área do banho propriamente dita fica no salão Sarbineh um local onde os banhistas descansavam e socializavam. As casas de banho não visavam só limpar a si mesmo, mas era o local para as pessoas se reunirem, conhecerem e conversarem. Aqui não havia somente manicure e peluqueira, mas horário e dias diferentes para homens e mulheres.

“É um edifício histórico imperdível e que mostra como até a ‘plebe’ tem (tinha) direito ao melhor desse Mundo”. Saindo do interior da Casa de Banhos, subimos ao telhado, onde estão abóbodas interessantes que projetam luz para o interior e lá, também, fizemos muitas fotos.

     No telhado tínhamos muito a conferir.
Há um outro aspecto que confere beleza a Kashan:  são as grandes e luxuosas mansões, residências dos ricos comerciantes do século XVIII, na época da dinastia Qajar.

Há 19 mansões persas muito grandes e de muito luxo, ainda preservadas nesta cidade e a maioria já foram transformadas em hotéis.
Em todas elas, belos jardins com um retângulo de água no centro. A água propicia um microclima fresco na aridez do deserto. Todas estas grandes mansões podem ser vistas na Internet. Aqui conhecemos duas.

Nesse dia conhecemos a mansão Khan Tabatabei. Sua porta de entrada não é muito alta, mas é muito larga com duas aldravas de ferro de pesos diferentes e fixadas em suas laterais opostas. Pelo seu peso elas produzem sons diferentes. Nossa guia Mahsa, nos mostrando as portas explica: para se anunciar um homem, o equipamento usado é o mais pesado e emite um som mais grave e, para a mulher o equipamento é menor e o som mais delicado. A porta de entrada é grande e forte e fica abaixo do solo.

Conforme o número de batidas e conforme o equipamento usado, o dono da casa sabe o número de homens ou mulheres, que estão esperando em frente à porta. Após ouvirmos as explicações da guia sobre a aldrava, para nós mais uma novidade cultural, nós descemos as escadas e vimos que na porta havia também círculos de ferro. A explicação dada por Mahsa: é a forma de evitar que os cupins comam a madeira. Muito interessante saber disso!

Descendo por pequena escada, entramos neste ambiente luxuoso, percebemos que a mansão é enorme e seu andar térreo fica abaixo da rua. Na casa há dois grandes pátios: um para a família e outro para as visitas. Do lado esquerdo dessa grandiosa casa, estão os quartos de verão e do lado direito, os quartos de inverno. No conjunto da construção há ainda lugares mais fundos e por isso mais frescos. Há ciprestes sempre verdes e por isso, o cipreste no Irã é símbolo da eternidade. Após conversarmos e fazermos fotos no pátio central, percebi um fato que se tornou recorrente em todos os hotéis onde nos hospedam: as flores, no caso mudas de rosas, estavam sendo substituídas pelo jardineiro. Nestas regiões desérticas há o cuidado para que as flores estejam sempre lindas e novas, a cada dia. Essas mansões trazem uma filosofia, trazem em si o amor à beleza, à natureza e à arte.
 
     Ao sair desta mansão, viemos para o hotel Aryana Raheb, que também era uma antiga mansão onde nos hospedamos. Nestes 11 dias de excursão, tive o grande prazer de dividir o quarto com Fernanda, sócia-diretora da Plazatur. 

     No caminho para encontrar o apartamento neste hotel, descemos uma pequena escada que à noite ficava iluminada e lá havia dois quartos com uma cama de casal e duas camas de solteiro, respectivamente. Tudo muito bem organizado, muito limpo, cada coisa em seu lugar, com muita arte e beleza e tudo muito quentinho, pois lá fora, nesta noite, estava muito Frio. Aqui nesta mansão vimos também os jardineiros trocando as flores, que aqui devem estar sempre novas e bonitas.
    
Às 19 horas estava programada uma saída para conhecer o Bazar de Kashan, construído na década de 1800, um importantíssimo e grandioso bazar onde se pode encontrar de tudo. Como em todos os bazares as ofertas de tecidos, frutos secos, doces, serviços, roupas etc. são múltiplos.  Aqui nos chamou a atenção um teto majestoso, composto por vários domos.

Ficamos lá conhecendo este ambiente durante um bom tempo e ´posso dizer que esta visita foi interessantíssima! Além da arquitetura de um teto muito artístico no estilo persa, nos foi apresentado um rico e sortido espaço de compra dos mais diversos produtos, muitos dos quais estávamos conhecendo pela primeira vez.
Voltando ao hotel, dormimos muito bem nesta antiga mansão onde tudo estava muito bem preparado para o hóspede.

Dia 28 de fevereiro de 2018 – quarta-feira.
    
Levantamos às 7 horas. Neste dia, nosso caminho através da história do Irã, nos levará até a importantíssima cidade de Yasd, a cidade dos seguidores de Zaratustra, a 400 km de distância. No caminho, fizemos uma vista à Meybod, um local repleto de construções em barro, onde sobressai o Castelo Narin, considerado a construção mais antiga do mundo. Seguindo de ônibus, neste dia nublado, nas minhas observações de paisagem, à esquerda vi uma praça em construção e mudas de árvores que estavam à venda. Logo percebi algo muito interessante: grandes e altas estruturas de ferro, futuros edifícios inacabados mas totalmente erguidos, onde não existe o perigo das construções enferrujarem, pois, o clima aqui é muito seco.

Ao longo do caminho, percebi também algo que não me agradou constatar: os ciprestes que ladeavam a estrada estavam muito feios, mal podados, irregulares, raquíticos, pois via-se que para eles, faltou não só água, mas também o cuidado no corte. Vi também caminhões cegonha que transportavam carros em dois andares, sem proteção nenhuma. Ao mesmo tempo, no horizonte, lá estavam montanhas e mais montanhas e o que mais se via era a aridez em tudo. No meio da secura total, vi árvores com flores e muito longe, as montanhas brancas de neve, que sempre atraíam nossos olhares, parecendo que seria impossível ver neve, nesta total secura do deserto!
    
Às 9 horas paramos num posto da polícia. Antes do posto, a guia pede que todas recoloquem os véus, no que foi imediatamente atendida. Na retomada do ônibus, Mahsa volta a nos falar sobre a cultura e o sistema de estudos no Irã onde o ensino público é gratuito. A partir de 6 anos, estuda-se 12 anos. O ensino privado é pago. Até a universidade, os alunos são separados de acordo com o sexo. As mulheres estudam mais que os homens. Os meninos têm professores e as meninas têm professoras. Os nômades também têm escolas. Este sistema é de 1930, desde o tempo do Xá Pahlavi. Anteriormente, no Irã havia madraças, escolas religiosas islâmicas.
     
     Quanto à divisão do islamismo entre Xiitas e Sunitas deve-se a um conflito político-religioso. A questão religiosa se refere ao processo da sucessão do profeta depois do assassinato de Ali, o quarto califa do Islã. Os Xiitas acreditam, ao contrário dos sunitas, que a sucessão é assegurada pela descendência. A partir da morte do Imã, os Xiitas passaram a formar um ramo separado do Islamismo, uma vez que acreditam que o Islã deveria ser governado por descendentes de Maomé. Os Xiitas são minoria no mundo. Houve também o problema político por ocasião das lutas dos Xiitas contra o Império Otomano que era Sunita. Com estas guerras se acirraram os ânimos entre Xiitas e Sunitas. Há diversas diferenças em suas práticas: rezar às sextas-feiras nas Mesquitas é obrigatório para os Sunitas e não para os Xiitas, por exemplo. Quanto aos Imãs, que são os líderes espirituais do Islã, são em número de 12. A partir do ano de 817 quando morre o 12º Imã, não houve mais Imãs, nos informa Mahsa.
     
     Às 10h27 fizemos como de costume, uma parada técnica e em seguida nosso ônibus parte e Mahsa nos mostra a dança persa. Muito bonita! Conversando com os colegas de excursão e observando esta paisagem árida, o tempo passa rápido!
    
    Mahsa, como de costume, no ônibus em movimento, fala sobre uma instituição milenar, importantíssima, que são os chamados Caravançarais que, nestas regiões, estão em toda a parte. Dario, o Grande, mandou construir dentro das capitais, o sistema postal e também, a cada 30 km, um Caravançarai, a infraestrutura para os grandes movimentos comerciais.
    
    São 12h e já chegamos a Meybod, uma cidade antiquíssima, totalmente construída de barro.

Neste dia fomos almoçar num Caravançarai!
    
“O Caravançarai designa um tipo de estabelecimento que tinha uma função importante que era dar o necessário apoio aos fluxos comerciais, assegurando segurança para comerciantes e suas mercadorias, bem como servia para o gado e para os seres humanos descansarem de suas longas viagens. Esse tipo de estabelecimento se encontra especialmente no Oriente Médio, na Ásia Central e no norte da África, mas também existiu um pouco por todo o Mediterrâneo e na China. Há dois tipos de Caravançarai: um que funciona dentro do bazar e outro que foi construído ao longo do caminho percorrido pelas caravanas”.

O almoço foi muito especial como também o ambiente do restaurante, não só pela construção em si, onde se vê a arte em tijolos, impecável em sua simetria, mas também pela disposição artística de mesas e cadeiras, dispostas em diferentes planos. 

No almoço, salada em buffet e grandes pratos com truta, arroz, cebola frita, carne de cordeiro e de frango. A carne de cordeiro é típica no Irã. Foi um momento de confraternização e descanso neste lindo e aconchegante ambiente. Na foto acima, nossa colega Sandra mostra o pão de pedra; pão este que aqui no Irã está presente na mesa em todas as refeições.

Após sair do restaurante, no espaço adjacente, visitamos as diversas lojas onde artesãos trabalham em cerâmica e também em tecelagem, entre outras criações. Este é o Caravançarai construído por Shah Abbas a dinastia religiosa Xiita dos Safávidas.

      Visitando ao bazar fiz uma foto desta artesã em cerâmica. Nesse espaço agradabilíssimo, ficamos até as 15 horas vendo e também comprando.

Saindo deste Caravançarai, aí perto aguardava nossa visita um local deveras estranho.

Tratava-se do chamado Yakh Dan, o surpreendente depósito de gelo, um tipo de construção que existe em muitos lugares no deserto.
São as célebres torres de gelo. Para se formar o gelo, este era o processo de trabalho necessário: enchiam-se de água duas piscinas rasas e retangulares localizadas na parte externa, que expostas ao frio da noite, no inverno, congelavam.

No início da manhã, todo o gelo era transportado para dentro do edifício, que se constituía de uma parte visível de forma abaulada e muito grande. A parte invisível era também de forma arredondada e profunda. Uma abertura no alto, recebia o gelo e após o local estar repleto, a abertura era fechada. O gelo lá era conservado por muito tempo, sendo utilizado conforme a necessidade da comunidade.

Nós participantes da excursão entramos e foi-nos explicado todo o processo da conservação e da utilização do gelo desta torre, pela população.
Foi muito gratificante conhecer este Yakh Dan, onde pode-se ver que o ser humano com sua criatividade, constrói a possibilidade de conviver em regiões extremas.

     Seguindo viagem, chegamos em Yasd ao Dad Hotel, onde fomos recebidos com um gostoso refresco de romã. 

À noite, fiz esta foto de Sandra do Rio de Janeiro e depois fui dormir, mas alguns colegas saíram e tiveram a oportunidade de conhecer um lugar importante, nesta chegada a Yasd. 

E aqui entendo que muitos colegas conheceram lugares interessantes, ao saírem á noite.  De minha parte deixei de sair muitas vezes, por ter aproveitado muito o dia e por estar cansada.

Gustavo, o coordenador das viajantes do Rio de Janeiro, sempre muito solidário, me mandou esta foto com as devidas explicações, da primeira noite em Yasd.

Graças ao seu gesto solidário, pude ter acesso a informações importantes.  Esta foto é do complexo Amir Chakhmagh, o conjunto arquitetônico mais emblemático de Yasd, onde há também uma loja de doces típicos e uma academia. A loja de doces é a célebre Haj Khalife Ali Ra; seus doces são vendidos em todo o Irã

A “Academia” é uma Zurkhaneh (Casa de Força) e os exercícios que se fazem lá, sempre acompanhados de música tradicional, remontam a mais de mil anos e tem suas origens na preparação física para a guerra.

Alguns estudiosos afirmam que estes exercícios são praticados pelos persas desde a época sassânica. A Zurkhaneh de Yasd que visitaram se chama “A Zaman Club” e é uma das mais tradicionais do Irã.
Fico grata ao Gustavo por estas preciosas informações.

1º de março de 2018 – quinta-feira.
    
Esse dia foi totalmente dedicado a Yasd, a capital da província homônima, uma das cidades mais antigas do Irã, com 3.000 anos de história, situada num oásis onde os dois desertos do Irã, Dasht-e Kavir e Dasht-e Lut, se encontram. Está construída sobre uma imensa planície de areia, nesse deserto. Ela tem uma das maiores redes de Kanats (aquedutos) do mundo.

Yasd é uma cidade Zoroastriana que nos lembra o profeta e poeta Zaratustra, nascido na Pérsia no século VII a.C. e que fundou a 1ª religião monoteísta e ética da história. A religião de Zaratustra se tornou a religião do primeiro Império Persa, o Aquemênida, fundado por Ciro no século V a.C. Esta cidade de Yasd permaneceu Zoroastriana mesmo depois da conquista árabe. Yasd era para os Zoroastrianos como Meca foi para os árabes. Yasd é pois, a cidade dos seguidores de Zaratustra e aqui nos informam que há 15.000 zoroastrianos.

     O nome Yasd é derivado de Yasdgerd I, um governante da dinastia Sassânida.  Yasd foi conhecida como “a cidade dos Badgirs” (a cidade das torres de vento). A cidade foi visitada em 1272 por Marco Polo que escreveu sobre sua grande indústria de tecelagem de seda. Historicamente, foi um refúgio para aqueles que, em outras partes da Pérsia, enfrentavam o terror dos Mongóis, com a invasão de Gengis Khan. Hoje Yasd é a maior fabricante de fibra ótica do Irã. Conhecida pela qualidade dos tapetes e sedas, é um dos centros industriais do Irã. As confeitarias de Yasd são muito famosas.
    
Nossa excursão saiu, neste dia de céu azul com poucas nuvens, caminhando pelas ruelas do Centro Antigo e o que mais nos chama a atenção é a verdadeira floresta de Badgirs (torres de vento), destinadas ao refrescamento dos ambientes.

As torres de vento capturam a mais leve brisa que possa aliviar o calor árido do deserto em uma espécie de ar-condicionado natural. Sob o chão, túneis interligam antigos reservatórios de água e ajudam a refrescar as casas, escondidas atrás e entre os muros de barro.

Como já foi dito, aqui há a presença dos Kanats, que são sistemas de água subterrânea criados pelos Aquemênidas persas. A cidade foi construída com tijolos de barro e palha, misturados com lama, reforçada com madeira. Esta estrutura é muito durável, tanto que estas cidades e construções milenares aí estão para comprovar. Neste primeiro passeio a pé que fizemos no centro antigo, visitamos a Mesquita Jameh, um marco arquitetônico em Yasd. Com um lindo portal de entrada, esta Mesquita está recoberta com os melhores mosaicos persas. A maioria dos mosaicos é de cor azul. Ostenta dois imponentes minaretes, muito altos, com 52 metros de altura, os maiores do Irã. Esta Mesquita foi reconstruída entre 1324 a 1365, no local onde havia um “Templo do Fogo” da religião de Zoroastro. Entrando na Mesquita há depois um pátio com uma sala principal, onde se pode admirar uma abóboda espetacular. Foi muito válida esta oportunidade de visitar esta linda Mesquita com belíssimos mosaicos.

     Mas aqui em Yasd o que considerei muito interessante a assinalar, tanto que me causou muito prazer, foi ouvir falar de Zaratustra, o místico e fundador da primeira religião monoteísta. A história conta que os povos que aqui habitavam, descendentes dos arianos, tinham uma religião politeísta em que o sacrifício de animais desempenhava um papel importante. Zaratustra reverteu esta situação. Sobre o nascimento de Zaratustra, enquanto uns dizem que nasceu em 767 a.C. outros dizem que foi em 1200 a.C. e outros, ainda, mencionam 640 a.C. A religião de Zaratustra não tem igrejas, mas tem “Templos de Fogo” e “torres de silêncio” e algo muito interessante também é a mística do respeito aos quatro elementos da natureza água, fogo, terra e ar, ou seja, a harmonia do Ser humano com a natureza e sua preservação é o ponto alto. A primeira religião oficial do Império persa foi, pois, o Zoroastrismo.

Os zoroastristas defendem a igualdade entre os sexos e a proteção aos animais e condenam qualquer tipo de opressão. Sobre a especial devoção pelos 4 elementos da natureza e por sua preservação, temos aqui a instituição das “torres de silêncio”. Para Zaratustra a terra não pode ser suja com a decomposição do corpo humano. Por esta razão se criaram as “torres do silêncio” na montanha, que são o lugar para onde são levados os cadáveres para que as aves de rapina os descarnem. O vento tem que vir da cidade para a cerimônia do sepultamento.

     No século XIX, a dinastia Qajar, construiu em todas as cidades as “torres do silêncio”. Cada três povos tinham uma torre, nos informa a guia Mahsa. Como religião ética, Zaratustra queria purificar os costumes e erradicar não só o politeísmo, mas também o sacrifício de animais e a magia. Sua mensagem baseava-se nos Gathas, que são cantos entoados com o objetivo de ser um guia para a humanidade e datam do final do segundo milênio a.C. Eles continham o triplo princípio de: boa mente, boas palavras e boas ações. No início, esses hinos, chamados Gathas, eram transmitidos oralmente e mais tarde, foram escritos e conhecidos como Avesta. Grande parte do Avesta foi destruída com a invasão de Alexandre Magno da Macedônia e depois, com a invasão dos árabes islâmicos. A religião de Zaratustra diferencia-se das demais por seu caráter escatológico. Zaratustra pode ser considerado o primeiro teólogo por ter organizado um sistema de fé religioso, bem estruturado. Diz-se que Zaratustra recebeu a mensagem através de visões. Entre os seus dogmas, além do dualismo da luz e do mal, há a imortalidade da alma, a vinda do Messias, a ressurreição dos mortos, julgamento final, o paraíso eterno para os bons ou para a escuridão eterna ou inferno ou para a “mansão dos pesos iguais” ou purgatório. Do zoroastrismo provém, por ex. o conceito de paraíso e também a proibição da adoração de imagens. Esta primeira religião de um monoteísmo ético influenciou outras religiões como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

     E aqui podemos nos perguntar: como foi que as ideias de Zaratustra influenciaram o judaísmo? Os estudiosos respondem que quando Ciro conquistou a Babilônia, libertou os judeus que lá estavam presos e escravizados por Nabucodonosor e aí o zoroastrismo que era a religião de Ciro, também foi valorizada pelo judaísmo. Todo o texto de Isaías na Bíblia é de origem zoroastriana.  Esta crença proclama a vida após a morte, os conceitos de céu e inferno e do julgamento final e do apocalipse. Tudo isto era muito diferente no judaísmo de antes da invasão persa.
    
     Zaratustra foi chamado de Zoroastro pelos gregos e o Zoroastrismo influenciou também os gregos: dizem os estudiosos que após as conquistas das terras gregas pela Pérsia, durante o auge do Império Aquemênida, a filosofia grega tomou um curso diferente. Os gregos que colocavam seu destino à mercê de muitos deuses, depois de conhecerem a religião e a filosofia de Zoroastro, começam a sentir que eram donos de seu destino e que as decisões de suas vidas estavam em suas mãos.
    
     Ser confrontada com os ensinamentos de Zaratustra foi deveras muito significativo para mim. Ao entrar em contato com Zaratustra conhecendo em Yasd o “templo do fogo” onde o fogo jamais se apaga, veio em minha mente a pergunta: a presença da lamparina acesa nas igrejas não seria a influência do Zoroastrismo sobre o catolicismo?
   
     Em 1941, o Xá Reza Pahlavi proibiu as torres do silêncio em Yasd e em 1961, em todos os lugares do Irã. Na Índia, para onde foram os persas em 651 d.C. com a invasão árabe, ainda existem “Torres de silêncio”.

Conhecendo uma “Torre do Silêncio”!

Em Yasd visitamos uma criação do Zoroastrismo, para o ritual da morte, a chamada “Torre do Silêncio”. Ao chegar ao local, num amplo espaço delimitado por um imenso muro, vimos a parte plana com as estruturas necessárias para realizar e receber as famílias para as últimas cerimônias. Ao chegar ao local, o que me chamou a atenção foi o espaço imenso delimitado por um muro igualmente muito grande. No alto uma torre e embaixo havia diversas construções.

Com o objetivo de conhecer as diversas partes deste amplo conjunto de construções, visitamos recintos adequados para acolher e realizar os rituais de despedida.
A guia nos explica como se desenrolava este processo: após as cerimônias realizadas na parte ampla aqui embaixo, duas pessoas levavam o cadáver para o morro. Mahsa nos diz que estas pessoas que trabalhavam na torre do silêncio de lá nunca saem.

Mas o meu desejo era subir os muitos degraus e chegar na torre do silencio. Com algumas colegas, começamos a subir os 100 degraus para chegar à “Torre do silêncio”. Para mim, foi muito cansativo, pois a cada degrau sentia o peso da subida e precisei de paradas frequentes. Não foi fácil, mas a vontade de ir até a torre era bem maior do que o cansaço. Na verdade, poucos turistas conseguiram subir. Chegando ao local lá em cima, eu vi o grande círculo e também o fosso profundo onde eram colocados os ossos após descarnados pelos abutres. Esta foi uma experiência tocante! Ao lado desta torre que estávamos escalando, existia outra montanha com outra torre. Lá as pessoas estavam subindo por um caminho sem escadas, mais longo e penso que mais fácil. São muitos os turistas que tem interesse em visitar esta instituição do Zoroastrismo, em Yasd.  

     Após conhecer as “Torres do Silêncio”, descemos e tomando nosso ônibus fomos conhecer outra instituição: o “Templo do Fogo”. Como já escrevemos aqui, o Zoroastrismo privilegia os quatro elementos da natureza. Entre os quatro elementos, o único que necessita de cuidado para conservá-lo, nos dizem, é o fogo. Constroem-se os “Templos do Fogo” onde a água não possa apagar o fogo. Há sacerdotes responsáveis para que o fogo nunca se apague. As pessoas podem levar o fogo para sua casa, quando assim o desejarem.

     Às 11h05 chegamos ao “Templo do Fogo”. Mahsa nos dá muitas informações: de 624 a 661, a dinastia dos Sassãnidas construiu três “Templos do Fogo”. O fogo é muito protegido, pois quando os árabes atacaram em 651d.C, o fogo foi escondido. Em Yasd, nós vimos o fogo que ardia há 1.500 anos sem apagar. O fogo é símbolo da luz e da pureza. Os seguidores da religião de Zoroastro sempre rezam em frente à luz. De dia rezam em frente ao sol e à noite, em frente à lua e em casa, em frente a uma lâmpada. A religião oficial conferia muito poder aos sacerdotes e houve dinastias cujos membros fundadores pertenciam a esta classe poderosa.
    
Ao chegar ao “Templo do Fogo”, admiramos em primeiro lugar a construção.

No alto vemos o símbolo de Zaratustra e Mahsa o explica: homem com barba quer dizer sabedoria, pois nós temos que ser sábios para poder eleger nosso caminho. A mão adiante segue Deus. Na esquerda, um círculo significa um contrato entre a pessoa e Deus. O círculo grande significa a circulação da vida. Tudo tem reflexo na vida ou karma. Há duas grandes asas e cada asa tem três partes! Significado: Pensar bem – Tratar bem e – Falar bem.  Deixar para trás as coisas más!  Arco com asas, sem corpo. Dentro, o sol dos egípcios!  No século XIX, esse símbolo de Zaratustra foi eleito pelos zoroastristas para ser o seu símbolo. O rei Dario já tinha usado este símbolo de Zaratustra como elemento de decoração na construção de Persépolis. O símbolo foi trabalhado em alto relvo, nas paredes de seu palácio. 

O Templo do Fogo

Ao entrar no “Templo do Fogo”, entre outros vimos um quadro de Zaratustra e foi maravilhoso ver uma grande pira, como se fosse um cálice imenso de metal, onde o fogo está queimando há 1.500 anos, alimentado por sândalos perfumados. Há uma emoção quando se escuta que este fogo nunca apaga.

Neste dia fomos almoçar no restaurante Khane-Dohad em Yasd, um ambiente muito sofisticado e acolhedor. A comida estava muito saborosa. E, no fim não faltou o costumeiro chá. Lembro que o que mais me agradou, foi que lá tomei uma bebida muito gostosa: água de rosas, o que é muito popular aqui, misturada com chia.

O restaurante tinha outras salas sofisticadas, onde aproveitamos para descansar e fazer algumas fotos.

A tarde, em Yasd, fomos visitar um jardim persa. O jardim foi construído em Yasd para ser um paraíso no deserto. Água, flores, verde, vento, chafarizes, frutas, etc.

Como já falamos, os Jardins persas do Irã carregam a tradição do zoroastrismo que diz que através da natureza, podemos alcançar nossa harmonia com Deus. Esse jardim, com uma torre de ventilação de 33 metros de altura, tem dois mil anos, a época quando os persas inventaram estas torres para amenizar o calor do deserto.  A torre com oito lados, tem uma vantagem: pode ser recuperada quando alguma parte se perde e também consegue captar o vento, seja de que lado venha. No mais, sempre o número oito!

      Neste Jardim Persa, abaixo da torre de oito lados, num ambiente muito bonito, no centro vê-se a água dentro de um tanque circular. Mahsa nos explicou como funciona a circulação do ar nesta torre: de noite a torre se enche de ar frio e de dia, o calor pressiona de cima para baixo e provoca a circulação, tornando o ambiente fresco.
    
Aqui neste local há dois pavilhões: de um lado é o lugar dos negócios do governo. No outro visitamos um local onde comercializam produtos típicos do Irã e entre estes lenços feitos a mão.
    
Após a visita ao Jardim Persa fomos conhecer uma Mesquita do tempo dos mongóis, cujos minaretes são muito altos, atingindo a altura de 55 metros. Os minaretes são como faróis na sua época e o significado de Minar=lugar do fogo. Dois minaretes é o símbolo de duas mãos, também.

Entrando nesta Mesquita do século XVIII, Mahsa nos lembra que enquanto os cristãos têm campanários, os muçulmanos têm minaretes. Aqui não há confessionário. Mas as mulheres podem falar com o Mullah num lugar reservado da Mesquita.

Mahsa mostra que aqui se reza, como em todas as Mesquitas, em direção à Meca.  Quanto à decoração, nos séculos IX, X e XI, usavam-se apenas ladrilhos. Aqui uma diferença entre as Mesquitas Xiitas e Sunitas: as Mesquitas Sunitas são decoradas com formas geométricas e as Xiitas têm muitas flores em seus desenhos de ladrilhos ou de mosaicos. Ao redor de tudo, estão escritas palavras do Alcorão.

Esta foto retrata um aspecto desta Mesquita e este detalhe da Mesquita é muito fotografado.

Lá no alto, vejo uma suástica, símbolo bendito que, em todas as civilizações, significava a circulação da Vida. Quando Hitler se apoderou da suástica para seu próprio intento, ele conseguiu transformá-la em algo maldito, negativo, proibitivo, símbolo de perigo e pesadelo.

Aqui Mahsa, dentro desta Mesquita, fala sobre a água subterrânea que passa por aqui e nos explica como foram feitos e como funcionam os Qanats, essa verdadeira sabedoria desenvolvida pelos Persas para tornar possível a vida no deserto, são também chamadas veias do deserto, pois sem água não há civilização!

Essa infraestrutura subterrânea, capaz de recolher e canalizar a água da chuva de aquíferos e vales, transportando-a para as cidades, usando a força da gravidade, espalhou-se, lentamente, por todo o Oriente e Ocidente. Em 2016, esse invento persa foi inscrito como Patrimônio Mundial da UNESCO por prover um testemunho excepcional das tradições culturais e civilizações em áreas de deserto com clima árido”.  Mahsa nos explica que os Kanats tinham às vezes 100 km, 300 m de profundidade e 2.115 fossos. Ela nos mostra a água de um Kanat que abastece a Mesquita. Nós descemos por escadas até chegar ao manancial da água.

“A técnica dos Kanats foi desenvolvida na Pérsia, no milênio I a.C. Essa maravilhosa invenção foi se estendendo a outros países áridos como Marrocos, Argélia, Líbia, Oriente Médio e Afeganistão. Primeiro, era escavado um poço principal em uma colina, até ser encontrado um aquífero subterrâneo. Depois, um túnel horizontal era construído, desde o pé da colina até a fonte de água”.

     E aqui, durante o caminhar a pé pelo centro de Yasd, Mahsa nos fala sobre outro aspecto da Pérsia que são também os rituais bizarros. Sobre estes rituais fiz pesquisas na Internet, ao voltar da excursão.  A história conta que em 680 d. C., houve a morte do terceiro Imã dos Xiitas, Hussein, neto do profeta Maomé, durante uma batalha no deserto perto da cidade iraquiana de Kerbala. Este momento de luto e reflexão para os Xiitas tornou-se ritual de flagelações, marchas de luto e reconstituições da batalha de Kerbala que ocorreu em 2 de outubro de 680 d.C. Os fiéis celebram com exaltação o “martírio” de seu Imã, no dia mais sagrado para os Xiitas, batendo com a mão no peito e, às vezes, se açoitando com correntes. Tomados por um sentimento de culpa, muitos se flagelam, batendo com facões na cabeça. É o chamado ritual da Ashura, o ritual de autoflagelo que pode ser melhor visto pelas imagens na internet. Esta prática do flagelo não é aprovada pelos Sunitas.

Neste festival, homens se aglomeram na praça central junto a uma enorme estrutura de madeira chamado Nakhl (significa palmeira) que representa o caixão de Hussein e seus 72 companheiros. Durante a Ashura cobrem o Nakhl com um tecido preto, os homens o transportam ao redor de uma área por 3 vezes, porque eles encontraram o corpo do Imã Hussein em Kerbala, Iraque, após três dias. Outro ritual é cobrir o corpo e a face com lama. Isto é mais comum entre mulheres da zona rural.

Às 16 horas fomos ao centro da cidade de Yasd, visitar uma residência de Adobe. A porta era baixa para que o ambiente da casa fosse mais refrescante. Na frente da porta mais baixa, dois lugares para sentar. Na parte externa vêm-se as antigas casas de barro e no interior as casas bem-arrumadas e bonitas visitadas por turistas. Subimos e conhecemos o ambiente e num pátio interno o grupo confraternizou tomando um café.

No alto da casa subi até o telhado e fiz esta foto no telhado, vendo todas s torres de vento. A foto ao lado é do interior da casa.

Fiz uma foto na cobertura da casa de barro de onde se pode ver a quantidade de torres de ventilação que existem nesta cidade de Yasd.

Ao descer, passamos por ruas em linhas tortuosas, assim construídas para dificultar a circulação do abundante pó do deserto. Na saída, nos encontramos com crianças que estavam negociando os seus produtos. Em seguida, o grupo se encontrou com simpáticos militares que conosco fizeram fotos.    

      Fomos também ver uma loja que comercializava tapetes. Diante de tanta beleza, a escolha foi muito difícil e demorada, tanto que nosso colega Heitor, conhecendo a excelência dos tapetes, aproveitou-os para um pequeno descanso.

      O dia, super aproveitado, estava chegando ao fim! Nessa hora, o crepúsculo anunciava a noite que logo chegou e as ruas se iluminaram. Muitos turistas compravam nos bazares ao longo da rua principal. Andando pela rua despreocupadamente, visitando algumas lojas, comprei dois lenços: um para minha amiga Clarice, todo bordado, e outro para minha sobrinha e afilhada Carla. Havia muitos turistas pela cidade. O atendimento nas lojas foi sempre muito respeitoso. Nunca insistiram para que se compre algo o que me chamou muito a atenção. Isso é muito diferente de outros lugares onde a insistência é grande e incômoda.  Nesse dia, ficamos até a noite sentadas num banco da praça conversando com nossos colegas de excursão. O ônibus veio nos buscar e nós voltamos ao bonito e simpático Dad hotel.

Dia 2 de março de 2018 – sexta-feira.
     
Saímos de Yasd para um longo caminho até Shiraz, berço da cultura persa. No caminho, visitaremos além do cipreste de 4.000 anos, as ruínas da cidade de Pasárgada. Durante a viagem, sentei com Sandra e na longa conversa, descubro um dado em comum. Sandra tinha trabalhado em Curitiba com Vera Lacombe Miraglia, uma colega do curso de Educadoras da Infância (1954-56), estudos feitos conjuntamente, no Rio de Janeiro, no Colégio Jacobina. Vera era sobrinha da proprietária do Colégio, a educadora e diretora, Laura Jacobina Lacombe. O objetivo de D. Laura Jacobina era preparar educadores para o ensino pré-primário no Brasil, isto na década de 50 do século passado. Após o curso, Vera veio morar em Curitiba, fundou o “Jardim da Infância Anjo da Guarda”, quando nos encontramos e nos reuníamos, muitas vezes para fazer planos de aula e compartilhá-los com outras professoras. Foi muito bom esse encontro com Sandra para recordarmos Vera, uma educadora por excelência!
 Mas estávamos viajando e faltavam ainda 430 km até Shiraz.

     À minha frente, ao longe, montanhas com neve e perto, casas de adobe de tempo muito antigo. Logo fizemos uma parada para uma visita importante: o cipreste de 4.000 anos – Sarv-e-Abarkooh. Foi muito interessante esta visita. Acredita-se que essa árvore seja o organismo vivo mais antigo da Ásia, contando com uma altura de 25 metros e circunferência de 18 metros.

Sarv-e-Abarkooh é um símbolo nacional e se encontra sob a proteção da Organização para a Proteção do Patrimônio Cultural do Irã. Neste espaço bem preparado, ficamos um bom tempo conhecendo seus arredores, tomando um cafezinho num barzinho típico e fazendo fotos.

A foto acima é de Helga e Uziel, queridos amigos que conheci nesta excursão. 

Retomamos a viagem e Mahsa sempre atenta, vai nos falando sobre a cultura do Irã. Sobre a possibilidade de os homens casar com mais mulheres, a explicação é a seguinte: quando os homens estavam na guerra ou morriam na guerra, as mulheres ficavam sozinhas. E assim, os homens sobreviventes poderiam casar com as mulheres que eles pudessem proteger e sustentar. Atualmente, esse casamento pode ser com até quatro mulheres, mas exigem-se estas condições:
1) a primeira esposa tem que permitir. Isso não quer dizer que as mulheres estão satisfeitas com este costume. Elas escolhem entre o mal e o pior, nos assegura Mahsa.
2) as esposas têm que ser tratadas da mesma forma. Na verdade, no Irã, não é muito comum este casamento poligâmico entre os persas. A poligamia não é bem-vista aqui no Irã.
3) há um livro de família sobre as formas de casar: onde se faz o registro da noite do matrimônio! Muito interessante conhecer essas formas de casamento numa sociedade muito machista.
4) Mahsa nos assegura que os homens encontram caminhos para enganar as mulheres. É o chamado “Matrimônio temporal”, que pode ser de um dia, um mês, um ano e tem que ser registrado num papel. Esse casamento não é considerado contra o livro sagrado do Alcorão. Por esta razão aqui não existe mãe solteira! Esta forma de casamento é aprovada pelos Xiitas e não pelos Sunitas, que o classificam como adultério.
5) No Islã todos devem se casar. No século XV e XVI crianças de 10 anos podiam se casar. A pessoa casada que tem relações fora do casamento é apedrejada em alguns países do Oriente como no Afeganistão. No Irã não é apedrejada. Aqui a família sempre foi muito numerosa e muitos filhos morriam. Hoje tem poucos filhos. As mulheres, anteriormente, não tinham o direito de escolher o homem.
E assim, o tempo passou e às 12h45 chegamos para almoçar num restaurante típico chamado a Akamenech, um restaurante simples, mas aconchegante.

Os pratos são servidos na seguinte sequência:
1. Uma tigela de sopa;
2. Arroz, carne e frango em camadas e cobertura vermelha;
3. Tomate e salada;
4. Tigela com carne, batata, milho verde. 
    Como sobremesa, sorvete de açafrão. Aqui o açafrão é muito usado na alimentação. Foi muito bom degustar a comida neste restaurante!

Saímos do restaurante Akamenech às 14h10, marcando este momento com esta foto.  

Viajamos um bom tempo pelo deserto. A um dado momento, placas indicavam que faltavam 175 km até Shiraz e 65 km para chegar à Pasárgada. Estávamos subindo montanhas, onde os autopistas corriam juntas e às vezes, bem separadas.
   
Às 15h30 enfim chegamos às célebres ruínas de Pasárgada, na província de Shiraz. O sítio abrange 160 hectares. Em 2014, Pasárgada foi considerada patrimônio Mundial da UNESCO. Aqui está a Tumba de Ciro, que foi salva do ataque da invasão dos Árabes.

Foi emocionante pisar lugares grandiosos da Antiguidade, como as ruinas de Pasárgada, a primeira capital dos Aquemênidas, com a tumba de Ciro. O Império Persa do século V a.C, governado por Ciro o Grande e seus sucessores, foi a maior potência da Antiguidade. Além de ser um dos maiores nomes da Antiguidade, Ciro foi um rei que inovou na maneira e de tratar os povos dominados. Ao contrário do que acontecia na época, onde prevalecia a violência, Ciro dava aos povos dominados, o direito de falar a própria língua, praticar sua religião e viver na própria cultura. Ciro elaborou a primeira carta dos direitos humanos, no que hoje conhecemos como “Cilindro de Ciro”, depois de sua conquista da Babilônia em 539 AC.

     O Cilindro de Ciro foi descoberto em 1879 e a ONU o traduziu em 1971 a todos seus idiomas oficiais. Lembro que nossa guia diante do túmulo de Ciro, nos fala sobre Pasárgada, a cidade que ele fundou e sobre o fato de que durante a conquista islâmica do Irã, os árabes tentaram destruir a tumba por “violar os princípios do Islã”, mas foram convencidos pelos guardas de que o Mausoléu não era em homenagem a Ciro, mas sim a mãe do rei Salomão. Diante disto os árabes desistirem de destruí-lo. Não à toa, até hoje permanece a inscrição em árabe “Qabr-e Madar-e Sulaiman” (Tumba da Mãe de Salomão) no Mausoléu, como é conhecido oficialmente.
Andamos olhando as poucas ruínas que sobram de Pasárgada. O tempo também estava muito ventoso e nós ficamos pouco nesse local.

      Na volta, passando por uma casa de comércio, comprei uma caneca com o símbolo de Zaratustra. Finalmente, chegamos a Shiraz, uma cidade situada a 1.580 metros de altitude e nos hospedamos no muito lindo hotel Shiraz, que tem a forma de um disco voador.

Dia 3 de março de 2018 – sábado.

Os ambientes deste hotel são muito sofisticados! Ao passar por eles, achei lindo este recanto com essas flores e por isso fiz esta foto.

Após o café saímos do “Shiraz Gran Hotel” às 8h30. A cidade de Shiraz está localizada ao sul do “rio Seco”, um rio sazonal. Se em 1775, Shiraz era a capital da Pérsia, hoje é a capital da cultura, do vinho, dos poetas e da literatura. E aqui em Shiraz, cabe uma pausa, para lembrar um dado muito interessante que é o lado poético do Irã!

Surpreendente e importantíssimo foi entrar em contato, através de leituras iniciais, com este lado poético do Irã e conhecer seus místicos e poetas, ainda hoje aqui, reverenciados.  Poetas como Hafez, Rumi, Ferdowsi, Omar Khayyam, Saadi são não só lembrados e celebrados no Irã, mas são também, mundialmente conhecidos. Eles influenciaram a literatura em vários países.  Além disso, a poesia está em todas as casas dos iranianos e seus versos são conhecidos e lembrados (em todas as famílias persas). Mesmo que estes poetas tenham vivido a mais de 1000 anos, as famílias dos iranianos aprendem seus poemas de cor e os usam como provérbios e ditados até hoje. Diz-se que durante a revolução de 1979 houve 10 dias em que os poemas foram celebrados em praça pública. Há, também, em muitas cidades, inúmeros monumentos, como mausoléus, erguidos em sua homenagem. Estes mausoléus são muito visitados pelos iranianos e pelos turistas. O místico e poeta Hafez é muito popular no Irã. Autor do “Divan”, a coletânea de suas obras escolhidas, foram traduzidas por Goethe, em princípios do século XIX, para o alemão. Em 1814 Goethe recebeu os recém-publicados volumes da primeira tradução integral do Divan, do poeta persa Hafez.
    
Nós visitamos seu Mausoléu em Shiraz, a terra onde ele nasceu e também morreu. Aqui em sua tumba muito visitada, fizemos fotos.

     Hafez, poeta lírico e místico persa, nasceu entre 1310 e 1337, nesta cidade de Shiraz. Os principais temas de seus poemas são o amor e a exposição da hipocrisia daqueles que se colocaram como guardiões, juízes e exemplos de retidão moral. Seus poemas líricos são notáveis por sua beleza, pelo fruir do amor, pelo misticismo e por temas místicos que haviam permeado a poesia persa. Eis algumas de suas poesias de conteúdo espiritual e místico:

No início, os pássaros não tinham o desejo de voar.
O que realmente aconteceu foi isto:
Certa vez Deus sentou-se perto deles tocando música.
Quando Ele partiu, eles sentiram tanto a sua falta
Que seu anseio fez asas brotarem neles, necessitando vasculhar os céus”.

“Eu aprendi tanto de Deus,
Que já não posso mais chamar-me Cristão, Hindu, Muçulmano, Budista, Judeu”.

“A Verdade compartilhou tanto de si mesma comigo,
Que já não posso mais chamar-me homem, mulher, anjo ou mesmo uma alma pura”.

“Não viemos aqui para aprisionar,
Mas sim para nos entregarmos cada vez mais profundamente à liberdade e alegria”.

“Fuja, meu querido, de tudo que possa não fortalecer as preciosas asas que estão brotando em você”,

“Pois não viemos aqui para aprisionar
Ou confinar nossos espíritos maravilhosos,
E sim, para experimentarmos cada vez mais profundamente
Nossa coragem, liberdade e Luz divinas”.

“Um dia, o sol admitiu: sou apenas uma sombra,
Quisera poder mostrar-te a infinita incandescência
Que lançou a minha imagem brilhante.
Quisera poder mostrar-te quando te sentires só ou na escuridão,
a surpreendente luz do teu próprio ser!”

“Por que apenas pedir para o asno em mim
Falar com o asno em mim,
Quando tenho internamente tantos outros animais lindos e pássaros coloridos brilhantes.
Que estão todos desejando dizer algo maravilhoso
E estimulante para meu coração? ”

Realmente impressionantes estas poesias, que são capazes de nos possibilitar profundas reflexões.

     Aqui em Shiraz está também a tumba do poeta Saadi. Este poeta recebeu homenagem em forma de belíssimos jardins que são pontos turísticos da cidade de Shiraz, também recheados de história.

Há outro poeta e escritor, Ferdowsi, que representa muito para os Iranianos, pois como já foi dito neste texto, ele salvou a língua persa da extinção! A Pérsia foi uma região muito cobiçada e, ao longo de milênios foi invadida muitíssimas vezes, ficando sob a dominação de muitos Impérios e muitas línguas diferentes. Isto fez com que, ao longo de sua trajetória, os persas quase perdessem sua história, sua cultura e sua língua. Nesses períodos instáveis, os grandes guardiães da identidade do povo foram os escritores e os poetas. Assim estes poetas ficaram para sempre na memória do povo, por aquilo que representaram para a conservação de sua língua, por exemplo.  Hoje o persa é a língua nativa, falada por 98% da população. Ferdowsi viveu 85 anos entre os séculos 10 e 11. E dedicou 35 deles a escrever o épico persa Shahnameh – O Livro dos Reis. E é por esta obra que ele é uma figura idolatrada pelos iranianos até hoje. Dizem que os poemas são tão consultados pelo povo, quanto o Alcorão. Ferdowsi reabilitou a língua persa versificando e atualizando a história dos reis persas até a derrubada da dinastia Sassânida pelos árabes em 651 d.C. O Shahnameh ou o “Livro dos reis” tem cerca de 60.000 dísticos.
    
Ferdowsi mesmo escreveu:

“Sofri muito durante 30 anos Ressuscitei a Pérsia com o meu Persa. Doravante não morrerei e ficarei vivo. Porque semeei e espalhei a língua Persa. Os que tem sabedoria, raciocínio e fé admirar-me-ão após a minha morte”. [Tumba de Ferdowsi]
    
O Mausoléu de Ferdowsi fica na cidade de Tus, a terra onde ele nasceu, sendo lá muito visitado. Não foi possível visitar esta cidade, mas almoçamos num restaurante em Teerã, que tinha o nome deste poeta. Como já oi dito, Ferdowsi é também o nome da rua onde estão as embaixadas estrangeiras em Teerã. Lá também há a Avenida Ferdowsi e o metrô também leva o nome deste poeta. Ferdowsi é também o nome de uma das 11 pontes em Esfahan. Este fato nos dá a dimensão do significado de Ferdowsi para os persas.
    
Quanto ao célebre poeta Omar Khayyam, eu já o conhecia pois foi sempre muito citado nos cursos da Unipaz, cursos estes às vezes, ministrados por Roberto Crema, reitor Universidade da Paz. Ouvi esta pérola de Omar Khayyam, nesta citação feita por Roberto Crema: “Não tenhas pressa: o caminho que tens a percorrer é só até a ti”. Fiz o curso da Unipaz, em Florianópolis, nos anos 2000 a 2002. Omar Khayyam, famoso pelos poemas de seu livro Rubayat, foi um dos maiores astrônomos, matemáticos e filósofos da Idade Média Oriental. Nascido em Nishapur, deixou tratados de mecânica, geografia e mineralogia e o mais célebre estudo de álgebra anterior aos tempos modernos.  No Ocidente, Khayyam tornou-se um ícone literário devido à pioneira tradução de 1859, feita pelo poeta inglês Edward Fitzgerald. A partir desta tradução, Omar Khayyam entrou também na poesia e obra de Fernando Pessoa. O livro Rubayat, deste poeta, construído com poemas cujas estrofes de duas linhas com dois hemistíquios, cada formando um quarteto, canta a existência humana, a brevidade da vida, o êxtase e o amor.

Alguns poemas
1- Olha, um dia a alma deixará o teu corpo / e ficarás por trás do véu, entre o Universo / e o desconhecido. Enquanto não chega a hora, / procura ser feliz. Para onde irás depois?

2- Rosas, taças, lábios vermelhos: / brinquedos que o Tempo estraga; / estudo, meditação, renúncia: / cinzas que o Tempo espalha.

3-Além da Terra, pelo Infinito, procurei, em vão, o Céu e o Inferno. Depois uma voz me disse: Céu e Inferno estão em ti.

4-Cristãos, judeus, muçulmanos, rezam, com medo do inferno; mas se realmente soubessem dos segredos de Deus, não iam plantar as mesquinhas sementes do medo e da súplica.

5-O oleiro ia modelando as alças e os contornos de uma ânfora. O barro que ele conformava era feito de crânios de sultões e mãos de mendigos.

Depois desta pausa para relembrar o valor que os iranianos dão aos poetas, vamos para uma especial visita em Shiraz.      

A visita na cidade de Shiraz

Neste dia tivemos o prazer de visitar o Santuário Ali Ibn Hamze, todo espelhado na cor verde. Conforme informação de nossa guia Mahsa, a construção original pertence ao século XI. O santuário existente hoje, foi construído no século XIX, depois de que um terremoto destruiu as construções anteriores. Dentro do santuário está o túmulo do Emir Ali, sobrinho de Shah Cheragh.

Como eu não havia feito anotações durante as explicações de Mahsa, recebi algumas informações da sempre atenciosa Fernanda, sócia diretora da Plazatur, que me informou o que lá a guia Mahsa nos tinha falado não só sobre o terço islâmico, mas, também, a forma como se portar, dentro da Mesquita, durante as orações.

Masbaha – Terço Islâmico

     O terço é comum não só entre os cristãos, mas também, entre os budistas, os gregos e os muçulmanos, sendo que cada um a reza de uma forma. Sobre o terço cristão também chamado rosário, todos nós sabemos como é rezado. Os muçulmanos o denominam Masbaha e é uma das ferramentas usadas para o dhirkr, uma técnica de memorização, por meio de repetição. A cada conta Deus é louvado com um adjetivo: “Al-Rahman” (O Misericordioso), “Al-Aziz” (O Poderoso), “Al-Hafiz” (O Protetor)! Dentro do Santuário, conforme lembrança de Gustavo, Mahsa, também nos falou sobre a forma de se comportar dentro da Mesquita onde todos os gestos dos muçulmanos são rituais. Lembro que na sala contígua ao santuário havia bancos e cadeiras para se sentar. Aí recolocamos os sapatos que tínhamos tirado para entrar no santuário. Foram-nos oferecidos alguns quitutes e bebida, num gesto de muita cordialidade, por um Mullah que lá estava atendendo.
 
Outra visita inesquecível em Shiraz foi a que fizemos à Mesquita Nasir al-Mulk.

A construção da Mesquita foi iniciada em 1876 e concluída em 1888, em Shiraz, por ordem de Mirza Hassan Ali Nasir al Molk, um senhor da dinastia Qajar. Os vitrais capturam a luz da manhã e criam um jogo glorioso de luz no chão da Mesquita, ganhando o nome de ” Mesquita Rosa “. Embora alguns dos azulejos que a decoram sejam de cor rosa, parece que a Mesquita inclui quase todas as cores sob o sol.

Fizemos muitas fotos admirando sobremaneira esta obra de arte.
          Neste dia fomos almoçar no restaurante “Sharzeh Traditional Restaurant”. Ambiente muito agradável, pratos excelentes, local repleto de iranianos e de turistas.

Visitamos depois o complexo Vakil que fica no centro de Shiraz, obra da dinastia Zand. Saímos a pé passando por uma fortaleza que depois identificamos como a fortaleza medieval Karin Khan.

Mohammad Karim Khan Zand (1705 -1779) foi um nobre iraniano sunita, o fundador epônimo da dinastia Zand. Importa dizer que a cidade de Shiraz floresceu durante o governo desta dinastia Zand.

“Durante o governo de Karim Cã, a Pérsia recuperou-se da devastação de quarenta anos de guerra, provendo ao país um senso renovado de tranquilidade, segurança, paz e prosperidade. Ele fez de Shiraz a sua capital e ordenou a construção de muitos projetos arquitetônicos na cidade”.

O complexo consiste em cinco construções principais muito bonitas
1. Karim Khan Arg (fortaleza)
2.Pars museum:
3- Museu de Antropologia!  
4- A famosa Mesquita Vakil
5. O Bazar Vakil que é parte comercial mais antiga da cidade que ainda está viva depois de 250 anos.

Destas importantes obras visitamos a magnífica Mesquita Vakil e logo ao lado, muitas lojas de artesanato iraniano da melhor qualidade. Shiraz é também importante pelos seus muitos bazares e pelo seu comércio!

Às 10h17 fizemos uma visita importante ao Narenjestan, Jardins dos Laranjais. Trata-se além de um lindo jardim, da casa da família Qavan que representa o estilo de vida da classe alta de Shiraz do século XIX. Este local é muito visitado por estudantes, pois foi o que vimos enquanto lá estivemos.

      Após visitar este local cheio de história, arte e beleza, saímos deste Jardim Narenjestan, fizemos fotos com as simpáticas alunas iranianas.
     
Terminado o passeio, fomos ao bazar Vakil, obra-prima da dinastia Zand.

No trajeto para o Bazar Vakil, umas cenas me chamaram a atenção e por isso fiz estas fotos, como flagrantes do cotidiano.

O Bazar Vikil

Este grande bazar é o principal de Shiraz e está localizado no centro da cidade. Possui de tudo o que se possa imaginar. Neste bazar, muitos do nosso grupo fizeram compras e, na banca de frutas secas, experimentamos figos pequenos, mas muito gostosos. Havia muitas castanhas em oferta. Parece que me estão faltando as fotos, mas a lembrança ficou muito forte em todos nós.

Continuando a caminhar pelo mercado encontrei lenços muito bonitos que comprei para mim mesma e também para dar de presente.
Gostei demais de conhecer o bazar Vikil de Shiraz.

4 de março de 2018 – domingo.
    
Neste dia fizemos uma longa viagem de Shiraz até Isfahan. Durante o trajeto fizemos uma visita inesquecível a um ponto importante da Antiguidade, as ruinas de Persépolis. Chegamos às 10h30 a este complexo palaciano, construído sob Dario, o Grande, em 518 a.C. Persépolis, foi a capital do antigo Império Aquemênida, inspirado nos modelos da Mesopotâmica. Em 1979, e a UNESCO a considerou Patrimônio da Humanidade.

“Tão genial e inovador para o seu tempo quanto os Kanats – elaborados túneis para a extração subterrânea e transporte de água –, que lançaram as bases, há mais de 3 mil anos, para a fundação em meio ao deserto do maior Império da Antiguidade, foi a construção de Persépolis – Takht-e Jamshid para os iranianos. Elevada num platô escavado no sagrado Monte Mithra, a joia do Império Aquemênida, que revolucionou os campos da arquitetura e da tecnologia para o planejamento urbano, absorvendo a influência cultural e tecnológica de 30 nações que compuseram o Império Aquemênida (550 a.C. – 330 a.C. ) ainda hoje grita ao mundo. Não apenas a genialidade persa. Mas a sua resiliência, apesar da brutalidade com que foi violada ao longo da história”.

     Dario o Grande, antes de subir ao poder, era um general na corte de Cambices II, filho de Ciro. Como monarca mandou construir Persépolis e a fez com monumentos estupendos e com colunas de mais de 30 metros de altura, com a finalidade de realizar com os povos de seu Império, as festividades do primeiro dia do ano, no caso, o dia 21 de março.

     A cidade de Persépolis permaneceu quase que totalmente soterrada por muito tempo e europeus, em diversos momentos históricos, por lá passaram e sobre estas ruínas, escreveram. No século XVIII, já havia se desenterrado uma parte da cidade, mas suas ruínas só se tornaram totalmente visíveis e foram apresentadas ao público após grandes trabalhos iniciados em 1930, feitos por arqueólogos alemães e estadunidenses.

Ao chegarmos ao complexo, nos dirigimos a uma sala, onde ouvimos explicações da
Guia Masha a respeito da maquete em exposição.

A guia vai explicando a Maquete e nós, com olhos de plena atenção escutávamos: os edifícios de Persépolis se dividem em três grupos: os quartéis, o Tesouro e os salões de recepção do rei. Entre alguns dos grandes marcos do complexo estão Portão das Nações, o Palácio Apadana de Dario e o Salão das Cem Colunas e outros palácios.  Dario, o Grande, iniciou a construção desse palácio em 515 a.C.
Em 330 a.C., Alexandre Magno invadiu e queimou essa cidade, dando um fim momentâneo ao Império Persa. Trinta das setenta colunas, com as duas gigantescas escadas, sobreviveram às invasões de Alexandre, o Grande e o tempo não conseguiu destruí-las.Acima vimos retratada na pedra, a celebração do Ano Novo, em que os representantes das trinta e três nações (diferenciadas visualmente nos relevos pelos cabelos e barbas dos homens) que constituíam o Império, oferecem presentes e tributos (animais, armas, joias e vasos decorados) ao Imperador, como forma de lealdade e gratidão. Há representações de divindades persas. 

Um dado interessante é saber que com os Aquemênidas não havia escravos (518 a.C. até 330 a.C.).

Passeamos por todas as ruínas destas construções simplesmente fantásticas.
    
     Mahsa, nos fala que em 1967, o Xá Pahlavi se autoproclamou legítimo sucessor da dinastia Aquemênida. Neste sentido em 1971, comemorou de uma forma suntuosa e dispendiosa, os 2.500 anos da civilização Persa. No deserto ele plantou 2.500 árvores e criou toda a infraestrutura para receber, em Persépolis, os mandatários do mundo. O luxo da Pérsia antiga foi comemorado e com esta festa onde se gastou 240 milhões de dólares na organização do evento. No entanto, o contexto já era outro e a Pérsia estava empobrecida e isto também colaborou, mais tarde, para o fim da dinastia Pahlavi. Em 1979, quando eclode a Revolução, os Pahlavi são destronados e expulsos. E neste momento após revolução de 1979, procura-se tirar da cultura do povo a memória da herança da História Antiga da Pérsia. Os novos dirigentes muçulmanos proíbem qualquer referência ao período pré-islâmico e qualquer evento que lembrasse os Reis da dinastia Aquemênida, extirpando assim do povo estas lembranças. Mas, algo aconteceu 25 anos mais tarde, quando o turismo aparece como uma oportunidade para sua economia. Aí precisou-se desenterrar os livros de história e relembrar o passado glorioso da Pérsia. Nessa situação, em 2002, o governo iraniano destinou 5 milhões de dólares para a restauração e promoção turística de Persépolis.
Atualmente no verão em Persépolis, há shows. 

Depois de conhecer este colosso das ruínas de Persépolis. dirigi-me ao ônibus e, no caminho, conversei com um pequeno grupo de trabalhadores que estavam descansando embaixo de uma árvore. Entre o grupo havia um que fala italiano e me conta que é arqueólogo estadunidense e que trabalhou 15 anos nos trabalhos em Persépolis.

Aproveitei para conversar sobre Persépolis e eternizar este encontro com esta foto.
    
Como era hora do almoço toda a excursão foi para um grande restaurante aí perto, onde havia diversos ambientes repletos de turistas de todas as partes do Mundo.

No frontispício havia a figura de um pavão. Muito interessante! Eu já me perguntava a respeito do significado que aqui no Irã é dado ao maravilhoso Pavão que volta e meia aparece em muitos lugares. E nas leituras que fiz, obtive algumas respostas:

O símbolo do Pavão é muito considerado mm muitas culturas. Cabem então algumas palavras sobre o simbolismo do pavão, este animal que impressiona a todos pela sua beleza e perfeição. Se para os cristãos o pavão representa onisciência do Deus que tudo vê, simbolizando imortalidade, eternidade e totalidade, para os hindus, o pavão era considerado um animal sagrado e antigamente, quem o matasse era condenado à morte. O pavão tem outra característica muito interessante: se alimenta de insetos e cobras venenosas e a eles é imune, transformando as toxinas que ingere nas lindas cores de suas penas. Na tradição sufi, ramo místico do Islamismo há esta explicação: os sufis dizem que quando a luz se manifestou e o Self (o Eu Superior) viu sua imagem refletida no espelho pela primeira vez, ele viu o pavão com a cauda aberta. Viu o Eu superior e sua magnificência através da figura de um pavão. Esta simbologia do Pavão é deveras digna de atenção.

     E aqui, neste restaurante, a figura do pavão está também no alto do edifício, levando-me a uma reflexão sobre seu significado.

     Havia salões diferentes, com grupos de turistas de diferentes lugares do mundo, todos muito alegres e alguns falantes. Neste local, nos arredores do restaurante havia esta estátua do soldado persa em seu uniforme.

     Em seguida, outro local, igualmente histórico nos aguarda: fomos para Nasqsh-e rustam, a Necrópole, nome dado a este lugar pelos gregos. Aqui vemos incrustadas nas montanhas, as tumbas dos monarcas Xerxes I (550 a.C.), Dario, o Grande (350 a.C.), Dario II; e Artaxerxes.

Foi interessante conhecer a Necrópole. Importante observar o tamanho das pessoas que caminham lá embaixo em relação aos túmulos no alto. Ficamos neste espaço um bom tempo, sentindo em nós a história da Pérsia, estudada no antigo ginásio, sendo relembrada in loco.  

Partimos daqui rumando para a cidade de Isfahan e no caminho ainda temos muita viagem. Vejo muito verde plantado em todo o vale e também três rebanhos de ovelhas, algumas comendo desta plantação verde. No mais, só montanhas peladas e boas estradas neste intrigante Irã.
    
Ao chegar ao posto policial recolocamos os lenços na cabeça e esperamos por 10 minutos. Passam por nós muitos ônibus de turismo e também bastante carros. Aqui vejo diversos túneis que possibilitam a passagem por baixo das muitas montanhas. Em pouco tempo já contei 3! 

Às 16 horas estou fotografando o sol, pois adoro fotografar o sol, no crepúsculo! O entardecer no deserto é muito bonito. E eu estou com sono. Meus olhos se fecham! Subida e descida de montanhas muito difíceis. Tenho vontade de escrever e escrevo o que segue:

Estou no deserto do Irã…
Estradas boas…
Às vezes, plantações delimitadas de um lindo verde-bandeira
Às vezes, muito movimento com caminhões, ônibus e carros
Às vezes, as estradas de ida estão muito longe das estradas de volta.
No caminho, de vez em quando, cartazes indicam a distância que ainda falta.
O sol na sua magnitude nos acompanha!
Hoje, é assim a viagem pelo deserto do Irã!

Estamos indo por um grande vale verde e eu uma árvore com flores cor-de-rosa! De todos os lados, montanhas e mais montanhas. Bifurcações das muitas estradas em todas as direções e todas muito bem conservadas.

São 16h22, novo posto da polícia e Mahsa lembra a todas para colocar o véu. À esquerda pela rua, pintados no muro, vejo fotos dos mártires da Guerra de 1980-1988, que foi contra o Iraque. Aqui no Irã, todos os que tombam pela causa Islâmica, são considerados mártires e suas fotos estão expostas. Às vezes, as fotos expõem um grupo, às vezes, um só mártir.

      A estrada desce contornando pequenas elevações.
    Agora são 16h34 e Isfahan fica ainda muito longe, a 335 km daqui. Às 17h50 fizemos uma parada técnica onde havia uma Mesquita e, na frente, grandes blocos quadrados e um também um quiosque.  O céu estava amarelo e fiz foto do sol que lançava seus últimos raios sobre o Irã. Aqui, numa ampla região plana, vejo muitas árvores frutíferas.
    
No trajeto da viagem, como de costume, Mahsa nos fala sobre a cultura iraniana e nesta, sobre a formação dos Mullahs, os guias espirituais no Islamismo. Eles estudam teologia, filosofia, e também a língua árabe e frequentam a Madraça durante 5 anos. Só no fim recebem o turbante que será preto, caso o Mullah tenha antepassados ligados aos Imãs e caso contrário, o turbante será branco.

São 19h30 e já está totalmente escuro e Mahsa nos fala sobre os transexuais que aqui, tem muita facilidade para fazer operação de mudança de sexo.

      Depois de mais uma parada técnica nos faltam 100 km para Isfahan.  Agora Mahsa nos fala sobre algumas consequências da Revolução:  no tempo de Pahlevi aqui era tudo igual à Itália ou Brasil e com a Revolução tudo mudou. Os artistas cantantes saíram do país sendo que a maioria foi para Los Angeles. Os políticos também saíram do país pois podiam ser mortos e eles não poderão mais entrar no Irã.  Aqui é ilegal comprar discos e há censura sobre as músicas que se quer gravar, se bem que, na verdade, não são mais tão radicais. Nestes 40 anos de Revolução aqui não há Facebook, nem novelas. O cinema é muito famoso e é apresentado na língua persa! Quanto à praia, na época do Xá se ia para o Mar Cáspio e para o Golfo Pérsico. Hoje homens são separados das mulheres tanto na praia quanto nas piscinas. Quanto à possibilidade de viajar, na época do Xá ia-se para todos os países e hoje é muito difícil sair do Irã. No dia 21 de março há aqui duas semanas de festa, pois se celebra o Ano Novo. 

Com tantas informações sobre o Irã pós Revolução, chegamos finalmente a Isfahan nos hospedando no hotel Abbasi, um hotel imenso, maravilhoso, um ambiente encantador de um antigo Caravançarai. Isfahan é uma parada imperdível no Irã e está localizada a 340 km da capital Teerã.
Isfahan é a terceira maior cidade do Irã e foi capital durante a dinastia dos Safávidas entre os séculos XVI e XVIII (1598 a 1722).

Em 1598, Abbas o Grande, escolheu Isfahan para ser capital e a remodelou, pois diferente das terras próximas de deserto árido, Isfahan é um oásis, fertilizada pelo rio Zayandeh, que é também um rio sazonal. Com esta transferência, a dinastia dos Safávidas que era Xiita, distanciava a capital de seu rival vizinho, o Império Otomano, que era um Império sunita. 

5 março de 2018 – segunda-feira.

Em Isfahan fomos visitar sua praça espetacular, um verdadeiro Jardim Persa, com grandes dimensões: 560m x 163m. É a praça Naqsh-e Jahan que está emoldurada por arcadas persas de muitíssimas lojas e ateliers ao seu redor. A Praça de Naqsh-e Jahan situada no centro da cidade de Isfahan é uma das maiores praças do mundo e está rodeada por importantes edifícios da era Safávida!

A primeira Mesquita que visitamos é conhecida como a Mesquita do Imã, no lado sul da praça e também é chamada Jaame`Abbasi Jameh, uma obra-prima da arquitetura persa.

Essa Mesquita já foi uma madraça, ou seja, foi escola corânica. Aqui os mosaicos têm sete cores e também vemos neles inscrições caligráficas. Foi construída pelo Shah Abbas II, entre 1611 e 1630 e possui minaretes de 42 metros. Levou 18 anos para ser concluída e em sua construção foram usados 18 milhões de ladrilhos. 
Diante desta beleza de ladrilhos e de flores, fizemos a foto do grupo. Esta Mesquita está retratada na parte inferior da nota de 20.000 riales iranianos e, com esta praça Naghsh Jahan, a Mesquita é patrimônio da UNESCO.

Quando chegamos na parte central da Mesquita, assistimos um espetáculo sonoro! Um cantor, estava no centro da cúpula e quando canta alcança um volume estrondoso, um fenômeno acústico espetacular.

Fizemos foto dos belos ladrilhos que nos encantaram e depois de ver a beleza destes magníficos ladrilhos, reunimo-nos, num pátio com um Mullah que após a sua fala nos ofereceu, gentilmente um dos tradicionais doces do Irã. Num certo momento chegaram escolares e se juntaram a nós para esta foto.

Às 10h45 fomos para outra Mesquita localizada ao redor desta grande praça: a maravilhosa Mesquita das mulheres ou Mesquita Sheikh Lotfollah.

Esta Começou a ser construída no período da dinastia Safávida, no reinado do Shah Abbas em 1603 e finalizada em 1619.  A Mesquita que não tem minaretes tem as escadas com degraus mais altos. Pertence à família real e seu histórico é o seguinte: Cherlofohe era Xiita e viveu no Líbano. Veio ao Irã para ministrar religião e casou com a filha do sacerdote. Esta Mesquita foi nomeada de Sheikh Lotfollah, nome do sogro do monarca. Acredita-se que a linda Mesquita Sheikh Lotfollah, por não ter torres e jardins, não era um lugar público, mas sim um espaço recluso para os membros da realeza ou para as mulheres. Nesta grande praça em Isfahan há também uma construção célebre, o palácio Ali Qapu, residência dos reis no século XVII.

“O Palácio Ali Qapu ou o Grande Ālī Qāpū é um Palácio Imperial em Isfahan, Irã. Ele está localizado no lado oeste da Praça Naqsh-e Jahan, em frente à Mesquita Sheikh Lotfollah e foi originalmente projetado como um vasto portal de entrada para o grande palácio que se estendia da Praça Naqsh-e Jahan até o Boulevard”.

Subir os seis andares nesta escada estreita e em espiral não foi fácil, pois nos faltava até a respiração, mas como queríamos muito chegar lá em cima, usei todo o meu esforço para conseguir no último andar. Neste palácio com 6 pisos, há 56 habitações.  O segundo piso, com 18 colunas era o local da Residência do Monarca e de onde a família assistia o jogo do polo na Grande Praça.  No último andar estão as salas para ouvir música.

Mas, finalmente, chegamos ao 6º andar, na sala de música posso dizer que o esforço foi recompensado.

Nossa guia Mahsa nos informou que Os Safávidas deram muito valor aos artesãos. Neste dia, nos arredores da Praça, visitamos um centro de miniaturas, cuja técnica foi herdada do tempo dos Mongóis. Desde o tempo dos mongóis temos pois miniaturas no Irã. Adentrando este espaço onde um artista estava pintando miniaturas, fomos recebidos com a especialidade destas regiões, os doces do Irã e enquanto os saboreávamos admirávamos as miniaturas expostas.

Em seguida, demos atenção ao artista que iniciou a pintar miniaturas e ao mesmo tempo, nos falou e demonstrou o processo que envolve este minucioso trabalho. Ele nos explica que o pincel com que está pintando é feito com o pelo de gato. Pinta-se até em cima de osso de camelo, pois aí a pintura não perde a cor. Quanto ao preço, o tempo que leva para pintar é o que conta, pois num pequeno quadrado pode-se levar uma semana pintando. Gostei de conhecer este processo que foi, aqui também, uma herança que deixaram os dominadores mongóis.
    
Às 13 horas, entramos para o almoço no lindo restaurante “Bastami”, um local cheio de arte e beleza.

Adentramos a um espaço de muita beleza!

Aqui degustamos um almoço típico, quase um ritual.
1º – Prato de sopa, trazida pelos garçons;
2º – Prato típico. Não consegui saber todo o processo de como é feito esse prato típico. O que vi: os garçons mexeram com muita força e rapidez, numa caneca preta, com vegetais e caldo e cada um de nós comeu colocando encima o célebre pão de pedra. Alguns colegas escolheram outro prato.

      Neste dia tivemos a tarde livre e o aproveitamos muito bem, passeando pela praça, observando mesquitas e também o modo de ser das pessoas, visitando as centenas de bazares onde, onde artesãos produzem e também comercializam.

Chamaram minha atenção os artesãos trabalhando o cobre, cujas peças aqui são muito procuradas. Visitando os bazares comprei doces, relógio e lenços e duas camisas com o símbolo de Zaratustra. Tudo isto para trazer do Irã pequenos presentes para bons amigos no Brasil.

Caminhando nos arredores da praça, adentramos uma elegante loja de açafrão. Eu estava com alguns colegas e todos tínhamos muito interesse em conhecer algo sobre esta sofisticada especiaria. A funcionária nos atendeu com muita presteza e entre as primeiras informações nos diz que uma vultosa percentagem (90%) dessa especiaria, vêm do norte do Irã. 

A funcionária nos mostra na prática como se prepara o açafrão. Para o chá se coloca muito pouco e o açafrão não pode ser fervido. Sobre a colheita do chá: a primeira colheita tem fins medicinais e a segunda, fins nutricionais. Cada homem recolhe 300 gramas de rizomas por dia. Foi muito interessante esta visita onde tivemos estas interessantes informações. Soubemos também que uma das especialidades de Isfahan é o exótico e delicioso sorvete de açafrão.

Nesta altura do dia, meu corpo pedia um descanso e por isso, com mais duas colegas, pegamos um táxi pagando 100.000 riales para chegar ao lindo hotel Abbasi, que ficava muito perto daqui. 

6 de marco de 2018 – terça-feira.

Neste dia fizemos em Isfahan, estas interessantes visitas: Mesquita Jameh (patrimônio pela UNESCO) minha foto deitada no tapete na praça; Chehel Sotu, o palácio das quarenta colunas; o Bairro Armênio, no distrito de Jolfa e a ponte Khaju.

“A Mesquita Jāmeh ou Grande Mesquita de Isfahan é um edifício no centro histórico da cidade, localizado a mais dum quilómetro ao nordeste da maravilhosa praça Naqsh-e jahàn (Meidan Naqsh-e jahàn ou Meidan Emam). Esta mesquita, que abrange uma área de mais de 20.000 metros quadrados, é uma obra-prima da arquitetura religiosa iraniana, porque a estrutura como resultado de construção e reconstrução contínua e contém mil anos de experiência arquitetônica. O edifício pode ser visto como um exemplo único da evolução da arquitetura de mesquitas iranianas durante um período de tempo, que se estende por mais de doze séculos. É uma das mesquitas mais antigas do país. Existem notícias duma mesquita neste lugar já a partir do século X d.C. sob o domínio da dinastia xiita buaihida. No entanto foi no século XII com o governo do Império Seljúcida, que a Mesquita foi reconstruída no estilo arquitetônico com uma planta com quatro “Iwan” ou “Ayvan” ao redor do pátio, colocando as quatro portas do edifício rosto-a-rosto. O “Iwan”, um elemento típico da arquitetura islâmica, é uma entrada dum palácio ou duma mesquita, que consiste dum espaço misto aberto e coberto na entrada, o qual está encimado por um arco. A Mesquita Jameh é o primeiro edifício islâmico, que adaptou o desenho do pátio com quatro Iwan (Chahar Ayvan) – típico dos palácios sassânidas pré-islâmicos – na arquitetura religiosa islâmica”.

Visitando esta Mesquita entramos num recinto eu pedi à Mahsa o nome desde recanto onde haviam duas escadas, ela me escreveu no bloco de anotações: MEHRAB DE ULJAYTO. Esta Mesquita é considerada uma obra-prima da arquitetura religiosa iraniana; contém 12 séculos de experiência arquitetônica.

     Nesta Mesquita vem a água de um Kanat e há uma cuba grande com água para beber. Este lugar no tempo da dinastia dos Sassânidas (224-651 d.C.) da religião de Zaratustra, diz-nos Mahsa, foi “Templo do Fogo”.  Do século XIII até o século XIX se fizeram aqui mudanças. Cada civilização que esteve dominando ou organizando o poder das dinastias persas, acrescentou algo. Cada parte foi planejada e construída, pois, em épocas diferentes.

Saímos da Mesquita e passamos pelo bazar, onde entre outras coisas interessantes, vimos os vestidos de festa que as iranianas usam em espaços fechados, pois no espaço público elas vestem o chador ou o hijab. Os trajes para serem usados nos espaços fechados são muito bonitos!
Saindo do bazar, a guia Mahsa ao mostrar as correntes que dividem o espaço, nos diz: “elas estão aí para dividir o espaço espiritual do espaço reservado aos comerciantes”.
 Em seguida, fomos conhecer o palácio das 40 colunas. Na verdade, são 20 colunas, mas como na frente há o espelho de água onde se refletem estas 20 colunas, transforman-se em 40, num determinado período de um dia de sol.
O palácio Chehel Sotoun, foi construído em 1647 em Isfahan, pela dinastia Safávida. Conhecemos o palácio no seu interior, admirando os grandes e lindos painéis com pinturas retratando a história do Irã. Numa parte do palácio, trabalhadores faziam restaurações e naquele momento que é muito agradável poder constatar que alguém está cuidando deste patrimônio.

Esta visita ao palácio das 40 colunas, nos propiciou, mais uma vez, admirar um Jardim Persa, com exemplares de diversos tipos de plantas muito verdes e bem cuidadas. Lá estava o retângulo de água, proporcionando frescor ao ambiente. Haviam muitas obras de arte neste espaço. Aqui fiz algumas fotos com colegas da excursão. Ao mesmo tempo, dentro deste espaço, à direita de quem sai, em algumas lojinhas, iranianas e iraniano oferecem com a amabilidade costumeira, os produtos típicos do Irã. Ao sair, a esquerda do Jardim Persa, visitamos um Quiosque que vendia lenços e trajes típicos que alguns colegas da excursão compraram.

      Às 13h08 um outo programa muito interessante nos aguardava: nós fomos a um restaurante do bairro armênio para almoçar. Chegamos num local muito aprazível e fomos servidos pelos garçons, individualmente. Foi um momento em que os armênios nos estavam mostrando não só sua cultura culinária, mas também a arte de bem servir.

Para este dia está programada uma visita ao Jolfa, o bairro armênio. Os armênios foram a primeira nação a se converter oficialmente ao cristianismo, no ano 301 d.C.

“Há 500 anos (no ano 1540, mais precisamente), cristãos arménios vieram para Isfahan trabalhar como ourives e no comércio. Mesmo estando em país islâmico, conquistaram o direito a exercer a sua fé cristã.

Criaram uma comunidade agora conhecida por bairro arménio (Jolfa), onde podemos encontrar várias referências à sua cultura e religião, destacando-se uma impressionante catedral: Vank”.
Nós visitamos o pequeno bairro Armênio. Os armênios eram ricos comerciantes e Mahsa nos diz que com o dinheiro dos armênios, os reis Safávidas construíram a capital Isfahan. Para matar a saudade os armênios nomearam o seu bairro de Jolfa. O fato que os armênios tiveram na uma convivência pacífica e criaram o seu próprio bairro, nos fala muito sobre os Persas que fazem questão de dizer que não são árabes apesar de islamizados. Fundaram aqui belas igrejas que podem ser vistas até hoje, como a Catedral de Vank construída em 1664. Ela é cheia de afrescos religiosos nas paredes, juntamente com mosaicos.

“A Vank também conhecida como Catedral Vanksky – é o principal templo da Igreja Armênia no Irã, localizado na cidade de Isfahan. As paredes do templo são ricamente decoradas com pintura policromada (murais), talha dourada e azulejos artísticos. A cúpula central é pintada de ouro e tinta azul sobre ele retrata a história bíblica da Criação e da expulsão do homem do Paraíso”.

Às 13h08 nos dirigimos a um restaurante armênio para almoçar. No local, encontramos um ambiente arquitetônico bonito leve e fomos surpreendidos com um restaurante muito bonito, com garçons atenciosos que serviram depois diversos pratos desconhecidos e interessantes. Foi um almoço espetacular onde experimentamos algo muito próprio da cultura da Armênia, onde tudo era delicado e bem preparado.

1º prato: entrada pão de pedra com massa de berinjela., coalhada, menta, cebola frita e nozes. Prato pequeno.
2º prato: carne de carneiro, batata fita, menta e tomate.
Prato coberto-arroz, carne de frango, limão e repolho.
3º pratinho com sobremesa: com garfo tiramissu com chá.

Muito bom o almoço e o tratamento recebido neste restaurante armênio.   A carne de carneiro aqui no Irã é muito apreciada, mas eu não pude me acostumar a seu gosto adocicado.
Um fato muito deprimente acontecido na Primeira Guerra Mundial é o chamado genocídio Armênio.
Nós fomos depois visitar um pequeno Museu em um prédio anexo que traz a história dos armênios no Irã e, entre outras coisas, conta em fotos, a triste história do Genocídio Armênio, ocorrido entre 1915 e 1923.

O Império Otomano exterminou 1,5 milhão de armênios que habitavam terras otomanas da atual Turquia. Esta história é pouco estudada nas escolas do Brasil, apesar de ser o segundo maior genocídio do mundo, após o holocausto perpetuado pela Alemanha de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

Gostei demais desta vista ao bairro armênio e senti profundamente reviver a lembrança de tanta violência contra este povo cristão. Fazendo um passeio nos arredores, deparei com esta linda porta armênia! Achei-a muito bonita e por isso dela fiz esta foto.

Voltamos para o nosso hotel Abbasi, e eu admiro cada cômodo e cada recanto deste antigo Caravançarai pelo bom gosto e pela beleza que ostenta. Aproveitei e fiz algumas fotos de recantos muito bonitos.

A ponte Khaju sobre o rio Zayahden

As pontes sobre o rio Zayahden são em número de 11. Nós visitamos a ponte Khaju e valeu muito a pena conhecê-la. As outras pontes, só as vimos quando passamos por elas de ônibus, pelas margens do rio. Impressionante a grandiosidade da ponte Khaju, que estava sobre o rio seco, mas que também represa a água no tempo em que o está cheio. Aqui na ponte e em seus arredores fizemos muitas fotos deste passeio inesquecível.
 
Valeu muito a pena conhecer a ponte Khaju, em Isfahan. Lá permanecemos um bom empo, admirando seus mosaicos e fazendo fotos.

Chegando ao hotel Abbasi vi uma grande quantidade de vasos de flores organizadas no chão, ao longo do caminho, que é também bastante extenso, desde a entrada no hotel até o quarto de dormir. Eram muitos vasos floridos e eu perguntei a mim mesma, o que fariam aí estas flores?

No dia seguinte vejo que as flores não estavam mais lá! Foram plantadas no jardim para substituir aquelas que não estavam mais tão bonitas. Diversos jardineiros estavam lá trabalhando.  Aqui no Irã, a presença de flores e o cuidado com as flores é incrível.  Elas devem estar sempre frescas e lindas! É muito comum ver jardineiros trocando as flores, em muitos lugares.
        
7 de março de 2018 – quarta-feira.

Helga, feliz com o amanhecer de tão lindo dia se dirige ao restaurante para o café da manhã e é flagrada pela minha câmera, quando registrei este momento bonito. 

No jardim do hotel vi que as árvores secas estavam brotando nos brindando com esta visão magnífica, onde as gotas de orvalho e os brotos verdes, embelezam as árvores e as tornam ainda mais lindas. Isto, por si só, já é um espetáculo neste lindo céu azul, com muito sol e sem frio deste amanhecer.

No penúltimo dia da nossa excursão, no programa tínhamos um percurso rodoviário até às alturas de Abyaneh, a Vila Vermelha e no fim do dia, uma visita à cidade de Qom , a mais Xiita do Irã.  Saímos do hotel Abbasi de ônibus, às 8h30. Mahsa nos fala que, daqui a 175 km vamos fazer esta visita importante à Abyaneh. No caminho observo: vejo um viaduto finamente pintado. O que me chama atenção, aqui, é que nos viadutos há muita arte e, em geral, tudo está enfeitado com lindas flores. Mais tarde percebo que, não só viadutos são artísticos, mas também as passarelas são sempre diferentes, sofisticadas, bonitas e feitas com muita arte.  Mahsa nos passa um livro onde se pode ver, como as mulheres do Irã, mudaram de vestimenta desde 300 a.C. até hoje.
Muito interessante perceber que as vestimentas das mulheres da Pérsia começaram a mudar com a invasão árabe em 651 d.C. No século XX, tempo do Xá Reza Pahlevi, as mulheres começaram a se vestir à ocidental.
Com a Revolução Islâmica de 1979 voltou a obrigação islâmica de cobrir todo o corpo com o chador ou cobrindo só a cabeça com o véu. Fiz fotos de algumas das vestimentas das mulheres do Irã, desse interessante livro.

Viajando e observando sempre, ao longe, vejo muitos blocos de prédios. Às 9h17 paramos num posto da polícia recolocando o véu a pedido da guia. Nessa paisagem quase lunar, vejo propaganda pintada na montanha desnuda e que é bastante pedregosa. No deserto, vejo a modernidade: grandes rótulas, grandes viadutos e muito asfalto nas bem cuidadas estradas que vão para todos os lados. Caminhos menores adjacentes ao asfalto possibilitam o deslocamento de pessoas, se bem que quase não vi ninguém andando por lá. Às 9h22, o ônibus pagou pedágio. Dentro do ônibus estava frio e nós subindo montanhas neste, acima de tudo, montanhoso Irã. Vi grandes cercados de pedras e ao longe, montanhas cobertas de neve. No céu azul algumas poucas nuvens solitárias. 
De repente, lá no alto, um aglomerado de casas e a cúpula de uma Mesquita. Estávamos a 1.000 metros acima do nível do mar. Aqui e ali corria um fio de água. Um espetáculo me chamava a atenção:  muitas árvores em que as flores enchiam os galhos que estavam sem folhas. Lá embaixo um povoado com casas sem telhas, cobertas com folhas de alumínio. Uma paisagem estranha e não familiar.
  
Estamos nos dirigindo para a antiquíssima vila Abyaneh. O asfalto também sobe à montanha. Há patamares de pedra que se repetem e também há estrutura para uma estufa e junto dela, também, pedra e água num reservatório. Parece que há casas escavadas na rocha. Tudo meio abandonado.  À esquerda, há outro povoado de adobe.

A estrada asfaltada serpenteia entre as montanhas peladas cheias de árvores com flores brancas. Às vezes um muro de adobe e, no alto da montanha, ainda neve. O calor é intenso. No caminho, vi, também, rebanhos de carneiros.
Por fim, eis que chegamos a Abyaneh, a Vila Vermelha, uma das mais antigas do Irã, que está situada a 2.000 m de altura. Ao sair do ônibus, sentimos muito frio neste lugar muito exótico cujo povo de hábitos e vestimentas sui generis, está registrado na UNESCO.

As montanhas são de barro vermelho e este povo usava este barro vermelho para fazer suas casas de adobe. Andamos olhando esta cidade tão exótica com as ruas quase todas vazias. De vez em quando aparecia alguma mulher com suas saias rodadas e seus grandes lenços sobre os ombros com motivos florais bem avantajados.

Visitamos o lugar e vimos estas casas sui generis. De vez em quando, nos encontrávamos com algum habitante. Eram poucos os que estavam na rua. Foi interessante ter este tempo para, tranquilamente, passar por esta vila.

Andamos pela localidade e conhecemos o local da Mesquita.

Parece que nesta cidade só ficaram os velhos. Os jovens da família só vêm para a vila por ocasião das festas especiais da comunidade, nos dizem.  Comprei doces, geleia de rosas da senhora que estava vendendo muitos quitutes. Conhecemos a Mesquita desta comunidade e muitos colegas foram fazer compras por lá.
As pessoas têm vestimentas típicas: as mulheres vestem saias rodadas e cobrem os ombros com lenços com grandes flores, e os homens usam calças pretas muito largas, de cima até os pés. Muitas pessoas da excursão compraram roupas típicas desta exótica vila persa.

Fomos almoçar num restaurante muito requintado, enfeitado com flores, mosaicos e espelhos, que nunca faltam numa decoração no Irã. Fernanda, que nos acompanha desde Florianópolis, teve um acidente e entrou no restaurante, carregada pela amorosa cadeirinha dos braços de André e Gustavo, coordenadores das turistas vindas de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.
Nossa mesa estava reservada para 22 pessoas neste restaurante festivo, repleto de turistas, com diferentes espaços de atendimento. Os garçons trouxeram os pratos:
1º prato: sopa apimentada, 
2º prato: coxa e sobrecoxa de galinha, batata, tomate e repolho.
    
Almoçamos e depois fomos a outro espaço muito interessante da casa, onde tomamos chá. Lá nos encontramos com outros turistas e após este descanso saímos, deixando para trás este patrimônio da UNESCO e da humanidade.

Foi muito bom conhecer Abyaneh.  Às 14h30 descemos por estradas que circundam as montanhas, que se cobrem de cores neste caminho sem fim. Grandes buracos na montanha me chamaram a atenção. Recebi a informação de que lá se acolhem, no inverno, as ovelhas e os animais em geral, pois aqui faz muito frio.

     Atravessamos, em seguida, uma zona de segurança nacional e vi soldados com armas. O Irã tem 3 centros de energia nuclear. O nosso próximo destino, daqui a duas horas, é a religiosa cidade de Qom, a mais Xiita do Irã. Enquanto isso, muitas estradas no deserto, as montanhas estão opacas e o sol não consegue ultrapassar as nuvens e há também muita neblina! Às 15h34 passamos por um pedágio onde sempre se espera um pouco para continuar a viagem. Neste momento vi uma pessoa sentada num tapete na calçada da rua. Aqui é comum ver pessoas sentadas no chão para comer e também para descansar. Foi o que também vi nas praças:  fazem piqueniques, dormem ou também estudam. Às 15h47 pagamos o pedágio.
        
     Às 16h42 chegamos a Qom, uma das 31 províncias do Irã, situada a 900 m acima do nível do mar. Nessa cidade Xiita por excelência, existem 85 mesquitas e 30 Mausoléus nos informa Mahsa. Aqui as pessoas de todo o Irã e até de outros países, vêm estudar para ser Mullah, nas 100 escolas de teologia onde há um total de 100.000 alunos.

     Antes de adentrar o espaço da Mesquita e Mausoléu colocamos o chador, ajudadas por diversas mulheres jovens, que aí estão para realizar esta obrigação religiosa.   
O espaço religioso é muito amplo! Um Mullah, de turbante branco, muito gentil, falou-nos em inglês, expressando alegria de ver aqui os brasileiros. Ficamos um bom tempo neste espaço não só escutando o Mullah, mas também circulando e observando!

Quando saímos, vi que nos arredores estão se fazendo grandes obras para a melhoria do transito, que aqui estava também muito engarrafado. Às 18h30 saímos de Qom e, em mais duas horas de viagem, chegamos a Teerã em nosso já conhecido hotel Abbasi, antigo Caravançarai.

     À noite, alguns colegas saíram com André e eu fui comprar uma mala pequena que pudesse carregar no avião. E aqui, mais uma vez, tive a comprovação da amável solidariedade das iranianas. Andando, nesta cidade, por locais com muitas pessoas, pedi à uma jovem iraniana, aonde eu poderia comprar uma maleta para avião. Ela pegou a minha mão e me conduziu à uma loja muito boa. Eu agradeci o gesto amigo desta iraniana que muito me comoveu. Saindo deste local entrei em outras lojas onde comprei água de rosas que aqui é abundante e gostosa demais, também umas lembrancinhas para trazer para o Brasil. Senti que aqui, também à noite, há muita segurança. 

Na hora de voltar ao Brasil!

Parti do hotel, às duas horas da madrugada após me despedir do simpático quarto e da amiga Sandra que me fez a foto.

Auxiliada por André, como sempre, muito atencioso, que me chamou um táxi, fui para o aeroporto de Teerã numa viagem de 50 km, nesta madrugada calma e sem trânsito.
Tomando o avião, cheguei a Istambul, após ótima viagem partindo dali para São Paulo e depois Florianópolis aonde cheguei neste mesmo dia 8 de março, dia da Mulher, às 23 horas, muito agradecida por esta maravilhosa viagem, que me permitiu fazer uma imersão na história e cultura da Pérsia, hoje Irã.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo feito esta maravilhosa viagem e entrado em contato com um tesouro cultural e histórico fabuloso, quando conheci um povo simples e agradável, posso afirmar que esta excursão superou todas as minhas expectativas e valeu a pena em todos os sentidos. Foi uma viagem que me trouxe alegria e enriquecimento histórico e cultural. Alegria por ter agregado à Vida, conhecimento sobre o Irã, a antiga Pérsia estudada na História Antiga no sempre lembrado ginásio. Alegria por ter conhecido colegas de excursão tão especiais! Alegria por viajar com empresas muito cuidadosas com os turistas e que contrataram bons guias que nos acompanharam com carinho e atenção, nos dando informações imprescindíveis à compreensão do que estávamos vendo, pela primeira vez. Alegria por poder socializar esta experiência, através deste relatório. De minha parte, com o trabalho de escrever e com as leituras feitas, consegui me aproximar um pouco mais, da história deste fantástico Irã do Oriente Médio, que parecia estar tão distante. Saber, pela prática, que os iranianos são extremamente simpáticos e acolhedores, foi uma experiência que não me deixa esquecer esta viagem! Conhecer a história milenar do Irã e as construções de sua cultura também foi muito gratificante. Recordar a importância da poesia, muito valorizada no Irã, também me agradou muito. Contemplar seus mosaicos belíssimos em suas Mesquitas e Mausoléus é, na realidade, se certificar que a beleza é fundamental e por isso inesquecível. Há certamente o grande controle sobre as mulheres que, no seu silêncio, às vezes interrompido por lutas sociais, irão, certamente, liberar-se pouco a pouco de uma carga cultural de domínio sobre as mulheres, que ainda persiste no Irã.

Graças à VIDA!

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