Africa

Viagem à Tunísia

       Um só objetivo me leva a escrever e publicar relatos de viagem, após ter tido a  possibilidade de fazer tantas imersões em realidades novas e gratificantes, aprofundar conhecimentos sobre o nosso mundo tão instigante quanto desconhecido, e compartilhar esta experiência com aqueles que também se deliciam com o tema das viagens. Certamente a profissão de professora que exerci durante toda a minha vida profissional durante mais de quatro décadas, quando tive que aprender sempre para poder ensinar, me levaram a valorizar as oportunidades de conhecimento que no meu sentir são uma das maiores fontes de prazer e alegria para o Ser humano. Por estímulo de querido amigo, me dei conta que não deveria ficar só para mim, aquilo que para mim eu tinha pesquisado, organizado e escrito. É o que eu estou fazendo, neste momento de minha vida, quando tenho ainda a oportunidade de viajar.

       Por que aceitei o convite de viajar para a Tunísia?

       Encontrei-me com a História da Antiguidade nos tempos dos meus estudos no curso ginasial do Colégio Coração de Jesus em Florianópolis na década de 50, estudo este do qual guardei alguns dados na minha memória. A lembrança de “Cartago” e a possibilidade de agora conhecer melhor a fascinante história desta terra milenar foram suficientes para despertar em mim a vontade de para lá viajar, quando me foi oferecida a oportunidade desta excursão. Foi na atual terra da Tunísia que existiu Cartago uma das mais importantes cidades da Antiguidade fundada pelos fenícios, um povo de origem semita, por volta do século IX a.C. A rica Cartago floresceu durante séculos por todo o Mediterrâneo sendo uma das maiores cidades da Antiguidade tanto em extensão quanto em fama. Destruída pelo Império Romano, na Terceira Guerra Púnica em 146 a.C., ressurgiu 100 anos mais tarde quando foi refundada a Cartago Romana que brilhou na história  ainda mais do que a Cartaginesa.

        Duas partes compõem este relatório: na primeira apresento um pano de fundo sobre a Tunísia e na segunda o dia a dia do extenso trajeto desta viagem de ônibus, onde conhecemos partes da Tunísia em sua geografia, história e cultura, acompanhados pelo guia tunisiano Riadh sempre imprescindível.

PRIMEIRA PARTE

        A Tunísia, cercada pela beleza do Mar Mediterrâneo, tem 1300 km de litoral com 163.610 km² de superfície e está localizada no norte do continente africano tendo como capital a cidade de Túnis onde vive ¼ da população de um total de 12 milhões de habitantes. A civilização Cartaginesa foi formada pelos povos berberes que habitavam há mais de 3 mil anos o norte da África no encontro com os Fenícios vindos de Canaan, atual Líbano. Os fenícios viviam em uma região pouco produtiva para agricultura ou criação de animais e, ao contrário das antigas civilizações que nasciam à beira de rios como a Mesopotâmia por exemplo, a Fenícia estava próxima dos mares. Por essa proximidade com os oceanos eles passaram a dominar as navegações e o comércio.

Abaixo o mapa da Fenícia.

       O nome “fenício” está ligado ao produto que comercializavam, a púrpura, um pigmento para tecidos. Em grego púrpura significa phoinikes, que passado para o latim fica poenicus e em português fenício.

A Fenícia se constituía de um grupo de cidades estados em número de 25 e cada uma tinha sua liderança política, sendo as mais conhecidas  Sidon, Biblos e Tiro. Os fenícios foram os primeiros a circularem pelo continente africano e seus melhores produtos de vendas eram o cedro e a púrpura que foi um grande achado deste povo. Com a proximidade do mar perceberam que conchas de moluscos que ficavam na praia soltavam um líquido que variava entre as cores, conhecidas hoje como violeta, lilás e roxo. A púrpura era um produto caro, que só os ricos comerciantes vendiam e à qual só os ricos compradores tinham acesso. Os fenícios eram politeístas e o  principal deus era Baal.

Dentre tantas inovações dos fenícios em relação à época e aos povos que viviam nesse momento do mundo, a criação do alfabeto é uma das mais relevantes. Até então a comunicação escrita era feita com hieróglifos e escrita cuneiforme. O alfabeto desenvolvido por eles era mais simples, mas dinâmico pois a intenção era ter um código para facilitar as vendas e tudo o que envolvia o comércio da época.

       Os berberes, um povo que é tido como o mais antigo do continente africano, foi assim denominado pela civilização greco-romana, significando estrangeiros a esta civilização. No entanto eles chamavam a si próprios Imazighen, que significa “homens livres” ou “homens nobres”. Os berberes eram nômades, usavam muito o camelo com meio de transporte numa economia que também tinha o comércio por base. Comercializavam alimentos, joias, tecidos e artesanato. E da união de esforços e saberes destes dois povos se desenvolveu a Civilização Cartaginesa, a qual atingiu o seu apogeu no século III a.C., antes de sucumbir ao Império Romano.

A Tunísia se compõe de 24 províncias e tem como moeda o dinar tunisiano. Na sua geografia apresenta três principais golfos: o primeiro é o golfo de Túnis, o segundo é o golfo de Hammamet e o terceiro é o de Gabes, que tem na sua proximidade no Sul, a ilha de Djerba.

Neste mapa vemos ao norte, abaixo do primeiro golfo de Túnis, o chamado Cabo Bon.

Na parte central deste mapa visualizamos  o grande Lago Salgado ou Chott el Djerid, que tem características interessantíssimas. Na observação do mapa nos damos conta que a Tunísia tem um litoral imenso embelezado pelo Mar Mediterrâneo.

No relevo da Tunísia temos as Cordilheiras Anti-Atlas, o Alto ou Grande Atlas e o Atlas Médio que são ricas em recursos naturais e como já foi dito, são habitadas principalmente por populações berberes que cultivam tradições milenares.

        Pelo mapa acima vemos que a Tunísia é um território pequeno se comparado aos vizinhos Argélia e a Líbia. E o  deserto do Saara cobre grande parte de alguns países da África entre os quais está a ocupação  território tunisiano em 40% de sua área geográfica.

Quanto aos símbolos da Tunísia: a bandeira é formada por um retângulo de fundo vermelho sobre o qual está posicionado um círculo branco centralizado com uma Lua crescente e uma estrela de cinco pontas no interior, ambas na cor vermelha.

Tais elementos remetem à religião islâmica, assim como o vermelho predominante na bandeira. Adotada ainda no século XIX, a bandeira da Tunísia não sofreu alterações na sua composição ou cor, mesmo após a dominação francesa e a independência, conquistada em 1956.

O brasão de armas da Tunísia exibe um navio, juntamente com um leão segurando uma espada e uma balança. No centro, apenas no âmbito do navio, existe uma faixa com o lema nacional, em árabe: Liberdade – Ordem – Justiça. O emblema central da bandeira nacional está acima do escudo.

        No século III a.C. os cartagineses que já dispunham de uma ampla rede comercial, que se expandiu por todo o norte da África, chegando a dominar parte da península Ibérica teve que enfrentar o Império Romano. Ambas as potências lutaram 100 anos pela supremacia do Mar  Mediterrâneo. Na última Guerra Púnica Cartago foi destruída pelo Império Romano que 100 anos mais tarde lá construiu a Cartago Romana.

A antiga Cartago Romana – uma paisagem deslumbrante, sempre!

       Se na época da civilização Cartaginesa, Cartago era uma grande capital, durante o período da Cartago Romana foi ainda mais esplêndida. Foi esquecida e soterrada durante o Império Árabe, sendo descoberta no século XIX pelas escavações feitas a partir dos franceses. Estas ruínas atestam a grandiosidade de Cartago!

       Abaixo vê-se no primeiro mapa o desenho do Império Cartaginês e no segundo o Império Romano e suas ilhas.

             Se hoje a Tunísia e o norte da África são regiões preponderantemente muçulmanas, é importante lembrar que a África foi o segundo continente em que o cristianismo foi estabelecido começando no final do século I no Egito , até o fim do século II na região em torno de Cartago que se tornou a verdadeira capital da África romana e da África cristã.

       A Tunísia é um pequeno território se comparado com a Argélia e a Líbia, mas tem uma economia bastante diversificada, sendo uma das principais do continente africano mantendo um comercio forte com a Europa. O setor primário é caracterizado pela produção de gêneros alimentícios como azeitonas, uvas, tâmaras e frutas cítricas. A exploração mineral e a comercialização de petróleo e gás natural constituem a base da economia da Tunísia junto do turismo, atividade essa que tem apresentado importante crescimento nos últimos anos. Já o setor secundário é bastante abrangente e possui indústrias de alimentos e bebidas, ferro e aço, produtos químicos, entre outras. O setor terciário tem como destaque os serviços diversos e o turismo, sendo a atividade turística um dos pilares da economia tunisiana. O carro-chefe da economia tunisiana é também a exploração e comercialização de produtos minerais, em especial o fosfato e combustíveis fósseis (petróleo e gás natural). Esses produtos são destinados principalmente à exportação tendo como compradores países europeus como a Alemanha, a Itália e a França. Politicamente falando, a Tunísia é uma República semipresidencialista tendo como capital a cidade de Túnis. O Presidente da República, chefe de Estado, é eleito por meio de voto direto em pleitos de dois turnos, se necessário, para exercer um mandato de cinco anos, com possibilidade de reeleição. O primeiro-ministro, que desempenha o papel de chefe de governo, é selecionado pelo partido ou coalizão majoritária, sendo nomeado pelo Presidente. O Legislativo é desempenhado no âmbito da Assembleia dos Representantes do Povo, órgão unicameral composto por 217 assentos, dos quais 199 são ocupados por membros diretamente eleitos.

O que chama  a atenção na Tunísia é o turismo. De acordo com dados das Nações Unidas, o número de visitantes internacionais que chegam nas fronteiras do país quase dobrou entre 2015 e 2021, chegando hoje a 9,5 milhões. Esse número significou uma forte recuperação do setor, que sofreu recessão com a crise econômica de 2008 e atentados registrados no país após 2011, quando se deu a Primavera Árabe. Outro setor que prospera é a indústria cinematográfica: na Tunísia foram feitos filmes muito célebres como, por exemplo, “Guerra nas estrelas”.

       Na Hidrografia da Tunísia, o interessante é saber que a maioria dos rios são temporários.

No quadro acima vemos ao norte, o rio Medjerda que é o único rio perene da Tunísia e que deságua no Mar Mediterrâneo próximo da cidade de Cartago. A partir do centro-sul do território tunisiano, os rios são intermitentes, ou seja, temporários em função do regime de chuvas característico do clima da região.

       Volto a relembrar a situação política da Tunísia nas duas últimas dominações a qual foi submetida: a do Império Otomano ( 1574-1881)  e a da França (1881 a 1956).

       A Tunísia, sob a estrutura administrativa do Império Otomano, foi governada por “beis”, vassalos do sultão de Istambul, por mais de 300 anos. Depois disso a França invadiu a Tunísia e em 1881, 30 000 soldados franceses entraram no país em um acordo com o Império Britânico e através do  tratado de Bardo, a Tunísia tornou-se oficialmente um protetorado francês, assim permanecendo durante 75 anos. Sob colonização francesa, assentamentos europeus no país foram ativamente incentivados; o número de colonos franceses cresceu de 34 mil em 1906 para 144 mil em 1945. Em 1910, havia 105 mil italianos vivendo na Tunísia. É muito bom se dar conta que os nacionalismos europeus se apossaram e dividiram a África entre si , e as respectivas lutas de independência destes povos dominados, foram muitas vezes sangrentas e sofridas. As colônias dominadas pelo nacionalismo francês na África até meados do século XX  foram essas: Marrocos, Tunísia, Guiné, Camarões, Togo, Senegal, Madagascar, Benin, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, República do Congo, Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores, Djibouti, República Centro Africana.

       Houveram muitos movimentos em prol da independência da Tunísia desde a década de 1920  e esta finalmente aconteceu após a primeira metade da década 1950. Durante a Segunda Guerra Mundial o país foi o palco da Campanha da Tunísia, uma série de batalhas entre as forças do Eixo e dos Aliados. A batalha começou com o sucesso inicial das forças alemãs e italianas, mas a superioridade numérica dos Aliados levou à rendição do Eixo em 13 de maio de 1943. Após 75 anos de dependência, a Tunísia se libertou da França , no dia 20 de março de 1956, transformando-se em uma República democrática semipresidencialista, um país que é considerado o mais democrático entre os países árabes.

       Na política, nas primeiras décadas do ano de 2000, a Tunísia enfrentou grandes distúrbios em razão de protestos populares marcados pela defesa da democracia conhecidos mundialmente como “Primavera Árabe”. Os protestos populares se iniciaram em 2010, conseguiram derrubar o governo ditatorial do então presidente Zine El Abidine Ben Ali. O movimento da assim chamada Primavera Árabe se estendeu para outros países do Norte da África e pelo mundo árabe como um todo. Sobre a Primavera Árabe falaremos mais tarde quando a excursão passará pela cidade onde o movimento começou.

       Diante das características culturais  podemos lembrar que a religião da Tunísia é 99% muçulmana e o  idioma oficial da Tunísia é o árabe e o berbere, porém o francês, em razão do domínio da França no período colonial, também é muito falado. O futebol é o esporte mais admirado pelos tunisianos; sua seleção de futebol masculina é uma das principais do continente africano. O liberalismo tunisino também tem muito que ver com a emancipação feminina desde a era de Bourguiba, o primeiro presidente. Aqui tanto se vê mulheres de cabelo descoberto como outras que o cobrem, pois “ninguém impõe nada a ninguém”.  O petróleo foi descoberto no sul da Tunísia no ano de 1964, na comuna de El-Borma. Esse campo é hoje um dos maiores do país e um dos principais produtores do país.

SEGUNDA PARTE:

A excursão de 16 de fevereiro a 1 de março de 2023

       Com este relatório de viagem à Tunísia pretendo não só apresentar alguns conhecimentos que obtive sobre a geografia, história e cultura desta terra milenar, mas também reafirmar que foi muito interessante a excursão da qual participei. No dia 16 de março de 2023 partimos do Floripa Airport às 7h35 acompanhados de Fernanda sócia proprietária da empresa Plazatur. Chegamos após ótima viagem ao aeroporto de Guarulhos em São Paulo às 8h55. A partida para Roma se deu às 15h40 e a chegada no aeroporto “Di Roma” às 7h10 da madrugada do dia 17, partindo então às 9h15 para a capital Túnis num voo da Alitalia onde chegamos às 10h35. Houve então o translado para o hotel El Mouradi África, localizado na Avenida Habib Bourguiba, nome este que homenageia o 1º Presidente da Tunísia após a independência. O hotel fica a 15 minutos do aeroporto de Túnis e pode ser localizado no edifício de vidros azuis, que na foto abaixo, sobressai acima das fileiras de árvores aparadas em forma de cubo.

       Neste primeiro momento de nossa chegada saindo para explorar os arredores do hotel, nos reunimos na parte exterior de um pequeno restaurante e degustamos o crepe tunisiano que é muito diferente do nosso e muito maior em seu formato retangular. Esta especialidade tunisiana é deveras muito saborosa. Em seguida num grupo menor caminhando na alegria de estar vivendo a beleza deste encontro com a histórica da desconhecida Túnis, fizemos um self pelas mãos da colega Darci festejando acima de tudo a gratuidade da Vida!

     Andamos depois conhecendo a ampla Avenida repleta de pedestres sendo que muitos como nós eram turistas. Inauguramos assim com chave de ouro a nossa chegada á capital da Tunísia.

Na Tunísia há inúmeras Mesquitas pois aqui 99% dos habitantes são muçulmanos e me surpreendi quando encontrei nesta Avenida, a Magnífica Catedral Católica São Vicente de Paula. Em frente a esta igreja há uma rótula, local onde está expresso em símbolo, o amor à Túnis.
Nesta Avenida Habib Bourguiba na altura da Catedral Católica percebi mais tarde, a existência do monumento ao intelectual historiador e sociólogo Ibn Khaldun, nascido em Túnis, em 1332. Da obra deste autor eu já tinha ouvido falar na oportunidade em que participei da excursão a Marrocos. Gostei de reencontrá-lo homenageado aqui também.

Retornamos ao hotel África e jantamos!

 18 de fevereiro de 2023 – Sábado –

Com um city tour em Túnis, guiada pelo tunisiano Riadh, começamos nossa excursão.

O texto que segue nos apresenta Túnis, a capital:

“Situada num grande golfo do mar Mediterrâneo — o golfo de Tunes —, do qual é separada pelo lago de Tunes e pelo porto de La Goulette, a cidade estende-se pela planície costeira e pelas colinas que a cercam. A Almedina é cercada por bairros mais recentes. Em torno da cidade encontram-se os subúrbios de Cartago, La Marsa e Sidi Bou Said, entre outros. A Almedina, declarada Patrimônio Mundial em 1979, é o centro da cidade: uma densa aglomeração de vielas e passagens cobertas, com cores e aromas intensos, comércio ativo e agitado e uma quantidade de bens em oferta que vão do couro ao plástico, do estanho à filigrana, das lembranças para turistas ao trabalho de pequenas lojas de artesanato”.

       Estamos no ônibus percorrendo a cidade e o guia de turismo Riadh mostra muito entusiasmo ao falar de seu país. A cidade de Túnis recebeu este nome no século XVI – XVII pois anteriormente o lugar se chamava África Menor. Cartago foi capital da Tunísia de 814ª.C até 1026 d.C. Durante o período árabe a capital foi a cidade de Kairouan. Uma das primeiras informações de Riadh foi sobre a origem do nome Túnis. As explicações sobre este fato são diversas. Túnis deriva “Tinas”, um nome de origem berbere que quer dizer “chave do continente”, pois para os romanos entrarem no continente Africano precisavam passar por Túnis. Por vezes, é associada à deusa púnica Tanit e também à antiga cidade de Tynes.

       Riadh nos fala algo fundamental para a sobrevivência humana nesta região: a importância das árvores como por exemplo os eucaliptos que estamos vendo e que foram plantados para serem refúgio contra sol nesta parte do mundo onde a ardência do mesmo é intensa. Natural da Austrália, o eucalipto também tem outros usos nos lembra Riadh: absorve o carbono, oferece o néctar de suas flores para as abelhas, tem uso medicinal e oferece madeira. Na minha mente fica a recordação: alguém pensou na grande importância das nossas irmãs, as árvores , nesta zona de muito calor, quando sua presença faz a diferença entre a vida e a morte. Pensei neste momento na quantidade de árvores que nos rodeiam no Brasil e de sua grande importância, às mais da vezes, tão esquecida esquecida por nós.

Eu estava contemplando a paisagem ao longo do lago de Túnis e fiz esta foto do conjunto das boas casas pelas quais estávamos passando.

       A segunda questão que Riadh apresenta diz respeito à solução que aqui foi dada a alguns lugares tornados antigamente inabitáveis pelo acúmulo de lixo. Observando à direita um local com prédios modernos, Riadh nos conta que esta era uma zona basurreira, mas que a questão do lixo foi resolvida de forma interessante: os terrenos onde se colocava o lixo foram vendidos à preços muito altos e com a compra destes surgiram as modernas construções que transformaram completamente o lugar.

Passamos também por uma rótula onde tremulavam ao vento 5 bandeiras que me chamaram a atenção. Eram os símbolos de 5 países da África do Norte: Marrocos, Mauritânia, Argélia, Tunísia e Líbia. Novamente a consciência que estávamos na longínqua África me emocionou!

A rapidez do ônibus permitiu que eu só registrasse 3 bandeiras.

       Às 10h55 nosso ônibus parou à beira Lago de Túnis que separa a cidade de Túnis do Golfo de Túnis, no Mar Mediterrâneo. O lago não é profundo e pode ser visualizado com facilidade neste mapa abaixo. Acredita-se que um leve tremor de terra possa ter aberto uma fissura que encontrou um bolsão de água subterrâneo e jogou toda essa massa líquida para a superfície.

Riadh nos aponta “La Goulette” que nós visualizávamos à nossa esquerda e nos informa que lá nasceu em 1938 a atriz tunisiana Claudia Cardinale de família cristã. Ao longe víamos o hotel África que era o edifício mais alto de Túnis na década de 1970 e onde agora estávamos hospedados.

       Aqui à beira do lago de Túnis, os que tivemos a coragem de sair do ônibus, pois além de ventoso o tempo era muito frio, fizemos algumas fotos.

       Continuando nosso tour passamos por um palácio com construção muito bonita, palácio este reservado para hóspedes célebres. Neste city tour vemos muitos edifícios na cor branca e também muitos identificados com nomes franceses. Riadh nos lembra que quando os franceses dominaram este país proibiram a ancestral língua berbere e o árabe e obrigaram a todos a aprenderem e a falarem francês. Hoje aqui quase todos entendem o francês e a maioria ainda o fala juntamente com a língua berbere e a árabe que após a independência voltaram a ser as línguas oficiais.

Riadh nos dá então outra informação, falando das muitas paisagens que encontramos na Tunísia, com seus 1100 km de comprimento, onde a cada 100km ou 1h30 de viagem, a paisagem muda. Às vezes vemos zonas só de oliveiras, às vezes só tamareiras e também amendoeiras ou regiões muito secas! Vê-se também regiões onde se plantam videiras e há lá grande produção de vinho. E em outras regiões aparece o deserto amarelo e o deserto vermelho, no sul da Tunísia.

Passamos também por uma parte da cidade que foi aterrada ao mar e na década de 1940 era uma zona comercial com depósitos, fábricas etc. Hoje está muito diferente explica Riadh.

Nesta rua por onde passamos vi, com alegria, algo inédito: 6 tendas repletas, onde se vendiam só botões de rosa. É um belo espetáculo da cultura tunisiana que nos mostra que em Túnis se compra e talvez se presenteie muito com botões de rosas. Em 1842 nesta zona foram plantadas 400 árvores, nos assegura o guia.

       Passamos também pelo cemitério muçulmano onde as sepulturas são marcadas com uma pequena lapide em forma de retângulo invertido. Aqui há cemitérios cristãos, muçulmanos e também cemitérios judeus. Durante os trajetos às vezes longos, Riadh tem muito a nos contar sobre sua terra que apresenta com sempre novo entusiasmo; além de Mestre em Artes Marciais, Riadh é Guia de Turismo há 30 anos.  Aqui os guias fazem questão de explicar a diferença entre Guia de Turismo que é o profissional e Guia Turístico que é o roteiro impresso com informações.

Nosso ônibus para e nos deixa na Medina, onde começamos nossa visita a pé para conhecer a parte mais antiga desta cidade milenar. É muito interessante caminhar por ruas estreitas, passar por velhas Mesquitas e por casas com pintura da cor azul e branco cujas portas muito criativas apresentam não só diferença nos formatos e desenhos, mas também em suas aldravas. Às vezes uma porta se abre em cima da rua estreita e uma pessoa entra ou sai de sua casa, muito discretamente. Aqui não se encontram duas portas iguais.

Suas aldravas sempre com formatos diferentes atendem ao que está estabelecido nesta cultura muito antiga. Os sons produzidos pela aldrava indicam se aquele que bate à porta é homem ou mulher e também o número deles.

        Aqui há ainda pessoas que vivem na Medina, pois, algumas vezes vemos pessoas saindo ou entrando pelas portas destas casas de uma forma muito contida e discreta. Isto me chamou a atenção! Mas sabemos que algumas casas estão  se transformando em hotéis ou pousadas.

       Logo no início de nossa caminhada pela Medina visitamos uma fábrica de perfumes onde um técnico nos explicou e fez a demonstração do processo da extração de perfumes das flores. Apresentando-nos um equipamento usado para este processo, nos disse que se se colocasse 300 quilos de flores cobertas com água se poderia extrair 400 gramas de essência para fabricação dos perfumes , que podem ser de limão verde, jasmim, cactos que é a base do perfume da Chanel e flor de Cartago base do perfume para a Christian Dior. Deixo aqui a flor de Jasmim, mas não consegui conhecer pela internet a flor de Cartago, apesar de a ter pesquisado!

Comprei alguns pequenos vidros dos perfumes fabricados aqui, dos quais gostei e após fiz esta foto com o comerciante que me as vendeu.

       Nesta passagem pela parte cultural da Medina, observei com prazer que tudo estava muito bem identificado o que nos deu a sensação do muito cuidado despendido para a conservação deste patrimônio. A todo o momento éramos surpreendidos com algo diferente, tanto que a caminhada pela Medina de Túnis foi também a oportunidade de conhecer uma grande casa transformada hoje em hotel cinco estrelas.  Subimos ao segundo andar recebendo as boas vindas do dono da casa.

       Num pequeno restaurante tomamos café e ficamos um bom tempo sentindo a ambiente e relembrando os anos antigos em que o hotel de hoje era uma residência de um rico tunisiano! Helga foi surpreendida sendo fotografada por mim e assim deixou um lindo sorriso para todos!

Continuando nosso passeio pelas estreitas ruas da Medina, Riadh nos fala de um dado cultural muito interessante: trata-se de duas plantas que são encontradas quase sempre em frente de uma casa tunisiana, sendo uma de jasmim e outra de buganvília.

E assim nossa atenção as procurava em cada porta e ao menos uma destas plantas era sempre encontrada.

       A flor do jasmim aparece aqui em toda a parte e desde muito tempo atrás é encontrada nas obras de arte! Tanto o jasmim é importante que a “Primavera Árabe” que iniciou aqui na Tunísia foi denominada “Revolução dos Jasmins” e teve também o nome sugestivo de “Revolução da Dignidade”. Na Tunísia oferecer jasmim branco a flor símbolo do país, é sinal de amor ou amizade. Interessante perceber que nas Revoluções há quase sempre o nome de uma flor que aponta para o perfume de liberdade. Nos países do Leste, os movimentos democráticos que derrubaram governos, evocam os nomes de flores. “Revolução do Jasmim” na Tunísia; na Geórgia chamou-se Revolução da Rosa (2003). Revolução das Tulipas (ou da Tulipa) foi um movimento democrático no Quirguistão; na Ucrânia Revolução da Laranja etc.

Nas antigas cidades árabes chamadas de Medina,  encontram-se lugares muito bonitos.

       Passamos depois para a parte comercial desta Medina e chegamos ao muito movimentado “Mercado de Ouro”, que substituiu o antigo Mercado de Escravos. Quanto à abolição da escravidão, esta se deu na Tunísia em 1846 e o processo desta libertação foi interessante: havia leis para que a mesma se desenvolvesse sem prejuízo para os proprietários: os donos podiam deixar que o escravo fugisse ou o deixassem ir embora e o governo garantia o pagamento do mesmo. Não tivemos informação se de alguma forma os escravos também foram ajudados a iniciar nova vida econômica. Aqui também visitamos lojas de artesanato cujos produtos à venda eram muito especiais. Havia objetos muito delicados, como carteiras, feitos de couro de camelo e uma dessas eu comprei e sempre que a vejo, lembro que o couro muito duro da pele do camelo do deserto por técnicas especiais e do “saber fazer” tradicional se transformam nestes objetos que nos encantam.

Passando nas diversas lojas da Medina, nossa excursão gostou de uma loja onde lindos chapéus nos chamaram a atenção.

       Almoçamos num bonito restaurante localizado no segundo andar do Mercado do Ouro, muito frequentado e com música ao vivo.

Os diversos pratos vinham prontos, trazidos pelos garçons.

O pastel de massa folheada com recheio, vinha como segundo prato pois o primeiro é sempre um prato típico da Tunísia que é a salada de diversos tipos. Como sobremesa doces ou frutas em calda ou uma fruta simplesmente!

Após o almoço subimos mais uma escada e fomos admirar a cidade do alto. Aí perto ergue-se imponente a Mesquita Ez-Zitouna a mais antiga da capital construída em 722, cujo nome significa “Mesquita da Oliveira”. E assim, depois de uma manhã bem aproveitada, voltamos ao hotel África. A tarde foi livre para que as excursionistas pudessem visitar a cidade e fazer compras nas suas lojas. Neste dia Darci, Salvelina e eu visitamos uma loja onde compramos alguns lenços de seda muito bonitos.

       À noite jantamos neste hotel como faremos nos demais dias que aqui estivermos. Algumas colegas que compraram os lindos chapéus na Medina de Túnis fizeram esta foto na entrada do Hotel África. O hall muito amplo nos convidava sempre a bons bate papos, pois à noite em geral não saiamos.

Dia 19 de fevereiro de 2023 – domingo.

       O plano deste domingo era conhecer o Museu Bardo o segundo mais visitado de toda a África, atrás apenas do Museu Egípcio no Cairo, com um acervo de cerca de 8.000 peças, mas neste período o Museu estava fechado. Deixo aqui algumas informações sobre o célebre Museu!

Ocupando um palácio do século XIX, era a Residência de um Bei, durante a vigência do Império Otomano. Destaques do acervo são a importante coleção de mosaicos romanos e outras antiguidades da Grécia Antiga, da Tunísia e do período Islâmico.

       O Museu também exibe objetos que vão de artefatos pré-históricos até joias modernas.

       A palavra Bardo me lembra o Tratado de Bardo que foi assinado em 12 de maio de 1881, entre os representantes da República Francesa e da Tunísia Otomana do Bey Muhammad Sadiq. A partir desta data, a Tunísia invadida foi dominada pela França. Todos sentimos não poder conhecer este Museu, mas a organização da excursão fez neste domingo uma substituição da qual muito aproveitamos.

       Saímos do hotel África às 9h30 para conhecer a montanha de Zaghouan, o local de onde vinham os Aquedutos que conduziam toda a água potável da montanha para a antiga Cartago Romana. No percurso que fizemos desde Túnis até chegar a Zaghouan, Riadh vai nos apontando na geografia do lugar a montanha sagrada de duas pirâmides dedicadas aos Deuses Fenícios e também o Monte Chumbo que tem este nome por causa de sua cor. Recordar a história in loco realmente é muito emocionante.

       Encantei-me com as grandes plantações de oliveiras sempre renovadas na paisagem tunisiana. Foi um espetáculo bonito de ver a alternância de plantações umas antigas com muita história para nos contar e outras recém-plantadas que nos levam a acreditar que o futuro espera por sua produção. Riadh nos dá mais algumas informações sobre a longevidade desta planta da qual se faz o azeite: na Tunísia há um pé de oliveira que ainda produz frutos e já tem 2.600 anos! Na Grécia também há uma outra produzindo e tem 4.000 de existência. Isto é comovente!!! Vejo que na Tunísia as oliveiras e as tamareiras continuam a ser plantadas em grande número. Aqui foram plantadas 3 milhões de oliveiras e os franceses, na Califórnia, plantaram 5 milhões de Tamareiras, nos diz Riadh que também nos afirma que a Itália, a Espanha e a Tunísia fabricam os melhores azeites de Oliva. Nosso ônibus passa célere por paisagens diversas e assim chegamos à “capital da Uva e do Vinho” a cidade de Grombalia. Numa rótula, o símbolo de um grande cacho de uvas sustentado por crianças identifica a valorização deste cultivo. A etimologia da palavra: “Gurum”, em árabe, quer dizer vinho e “balia”, cidade. Aqui se planta Uva e se faz não só muito Vinho mas também Champanhe.

       Na paisagem apareceram  locais com parreirais. Confesso que neste momento eu me interroguei sobre as razões deste cultivo num país muçulmano como a Tunísia!!!? O texto abaixo nos dá o esclarecimento a partir da análise da história da Tunísia e da última dominação pela França.

“… o peso dos vinhos tunisianos reside em sua história e vêm sendo elaborados, (embora de forma pouco consistente), há mais de 2000 anos. As vinhas foram levadas para a Tunísia pelos fenícios no período Púnico, ou seja, há exatamente 815 anos antes de Cristo e foram estabelecidas em torno a cidade de Cartago, a outrora capital da Tunísia. A história é longa e passa pela invasão romana no século III AC. quando foram saqueados e levados para Roma todos os compêndios vinícolas escritos pelo pai da vitivinicultura tunisiana, o Agrônomo Magon que era originário de Cartago. Com a expulsão dos romanos pelos árabes, a cultura do vinho foi praticamente abolida. Com a invasão dos franceses em 1881 e queda do Califado Otomano, a Tunísia passou a ser um protetorado francês, revitalizando a produção de vinhos”.

       Em 1956 com a independência da Tunísia os franceses deixaram o país e os anos que se seguiram foram difíceis para a economia do país sem a produção de vinhos. Nos anos 80/90 o país iniciou com apoio de investimentos estrangeiros um processo de modernização de sua indústria vitivinícola. Vale lembrar que mesmo sendo um país muçulmano, à diferença de seus vizinhos, a Tunísia não proíbe o consumo de álcool.

       Era uma explicação que eu precisava ter quanto ao meu entendimento sobre vinhos na Tunísia muçulmana. Aproveito para dizer também que a Tunísia é monogâmica, contrária à prática dos países árabes que são poligâmicos. Continuando o nosso percurso rodoviário, Riadh nos aponta ao longe, à nossa esquerda, algo inesperado: trata-se do Palácio ou o “Chateau de Mussolini”. Pareceu-me uma informação muito estranha que precisava de um esclarecimento e logo veio a explicação: na Segunda Grande Guerra, quando o Eixo parecia que estava vencendo, Mussolini mandou construir para si este palácio na Tunísia. Ele nunca foi ocupado pois a Guerra tomou outro rumo e o Eixo foi vencido. Na verdade, na Tunísia há o fato da presença de muitíssimos italianos especialmente porque, como já foi dito, desde 1881 a França possibilitou aos europeus comprarem terras aqui na Tunísia. Mais uma informação: durante a Segunda Guerra Mundial os italianos preferiram ficar na Tunísia para não precisarem ir lutar neste conflito, nos informa Riadh.

       Mostrando no mapa da Tunísia o acidente geográfico “Cabo Bon”, Riadh nos informa também que em 1960 após a crise da Segunda Guerra, muitos italianos encontraram trabalho neste cabo da Tunísia.

       As condições climáticas deste “Cabo Bon” são especiais.

Na continuação da nossa viagem até Zaghouan, vemos muitas casas brancas , laranjais e também muitíssimos cactos que se multiplicam apresentando um tamanho bastante grande. Observando sempre a paisagem que se metamorfoseia frequentemente, agora observo que a terra está seca. Lá longe nos acena a montanha onde fica Zaghouan! Riadh lembra que os nomes de cidades que tem o sufixo An, tem aqui o significado de que suas águas são termais.

       De nosso ônibus que desliza por ótimas estradas, passamos por um local muito interessante, quando o relógio marcava 10h40. Estávamos vendo o passado de uma infraestrutura construída pela incrível engenharia romana, ou seja, vemos as ruínas, algumas ainda bem conservadas, do aqueduto que partindo de Zaghouan levava água para Cartago, através da força da gravidade. Ao observar suas reais dimensões pode-se fazer a ideia do volume de água que por aí passava.

       Zaghouan cujo antigo nome latino era “Aquae”, cidade das águas, é província agrícola e tem também indústria e turismo. Na verdade, no tempo romano, a Tunísia produzia trigo e cevada e era considerada o graneiro de Roma.

       Neste trecho da viagem Riadh em suas costumeiras explicações sobre a realidade deste país, nos fala longamente de um problema grave e muito atual. Trata-se da catástrofe das sementes de oliveiras que hoje são oferecidas aos agricultores. Relembra o tempo em que os agricultores escolhiam as melhores sementes de uma safra para servirem de sementes para a próxima. Infelizmente essa realidade mudou e grandes empresas controlam a venda de sementes. As novas sementes produzidas não serão aproveitáveis. Aquelas sementes que vem dos Estados Unidos, por exemplo, produzem oliveiras que só duram e produzem durante 15 anos nos garante Riadh que continua: os agrônomos tunisianos estão trabalhando para reverter este processo e voltar na antiga forma de produção de sementes. Esta notícia nos fala da reação que está havendo na Tunísia e também atenta ao fato de que nem tudo está perdido.

Os táxis coletivos

Observando a paisagem do interior nosso ônibus o que me chama a atenção neste nosso trajeto até Zaghouan  são grandes táxis coletivos que podem transportar 9 pessoas. Aqui há uma regra a seguir, pois o táxi ou sai cheio com 9 pessoas ou se paga pelas 9 para que o táxi possa partir. Achei interessante a forma como resolvem o problema do transporte das pessoas!

Mais adiante nosso guia nos fala de um doce muito gostoso feito de amêndoas aqui em Zaghouan. Seu nome, penso que é na língua berbere, é Kaak Warka. E nós ficamos esperando a oportunidade para degustar esta especiaria tão elogiada por Riadh!!

Chegamos enfim a Zaghouan e Riadh nos fala sobre a solução que foi dada ao problema da falta de água.

       No século II d.C., sob o governo do Imperador Adriano, esta zona encontrava-se com o problema do abastecimento de água. Nesta situação foi decidido que se construiria o aqueduto de Zaghouan, para trazer água da montanha Djebel Zaghouan, o ponto mais alto da Tunísia oriental com 1.295m, para a zona de Cartago.

       Chegamos ao “Templo das Águas” encantado por muitos deuses romanos aqui reverenciados. Uma estrutura gigantesca servia para captar a águas da montanha e através de grandes e longos aquedutos abastecer a capital Cartago. Em meio a construções em honra a deuses está a surpreendente engenharia dos romanos, há cerca de 2000 anos. De sua nascente, na base da montanha de Zaghouan, o aqueduto percorre um total de 132 km, tornando-se um dos mais longos do Império Romano.

A engenharia Romana é admirável!

Fizemos fotos marcando os lugares interessantes neste sopé da montanha cheia de deuses romanos que cuidavam de um lugar tão importante e fundamental para a saúde do povo.

       Ficamos admirando este local interessantíssimo onde muitos visitantes como nós estavam nos seus arredores em espaços muito amplos, passando bons momentos observando tudo. Num pequeno restaurante tomamos café e descansamos como sempre fazendo boas conversas.

No caminho para tomar nosso ônibus tivemos a oportunidade de encontrar numa pequena banca a iguaria de Zaghouan, o doce de amêndoas chamado Kaak Warka feito em formato de uma argola. O doce não pode ser comprado em unidade e por isso a colega Darci, em sua gentileza costumeira comprou um quilo pois é só assim que é vendido. Mas era realmente muito gostoso!

       Às 12h16 saímos do “Templo das Águas” para visitar outro local histórico : as ruínas de Uthina, uma cidade romana construída para militares que se aposentavam depois de terem levado uma vida onde estavam acostumadas só a matar, no diz Riadh! Aqui em Uthina os militares jubilados começavam uma nova vida.

       Este sítio Patrimônio Humanidade pela UNESCO começou a ser escavado em 1997 e há ainda aqui há muitíssimo para escavar.  Passando por ruínas chegamos a um primeiro pequeno anfiteatro super bem conservado e o que lá nos chamou atenção foi o som que era de uma qualidade especial.

       E aqui aconteceu um pequeno incidente para mim: fazia fotos e ao ser chamada para uma foto da turma deixei meu celular nas pedras, quando a colega Neusa me chama trazendo o precioso celular. Agradecer foi o que pude fazer depois do susto de poder tê-lo perdido. Neste pequeno mas bem conservado anfiteatro, Riadh entre outras informações nos falou que os italianos aprenderam muito com o agrônomo tunisiano Magon, que tinha uma imensa biblioteca e que escreveu sobre o cultivo das Oliveiras e a fabricação do azeite. Percorremos as ruínas desta cidade e o guia ia identificando para nós os diversos locais de convivência . Observam-se muitas colunas nas construções e especialmente o sistema para armazenar água da chuva, o que era comum nas casas de Uthina.

Percorrendo as ruínas , subimos  a uma parte mais alta onde encontramos o Capitólio com templos dos deuses Júpiter (7 metros), Netuno e Minerva. Da altura da cidade de Uthina pode-se ver ao longe, Cartago à nossa direita e Túnis à esquerda.

       Riadh nos informa que no tempo da dominação europeia, um francês construiu sua casa em cima do Capitólio, que foi demolida por ocasião da Independência da Tunísia.

       Andando a pé pelo espaço  já escavado de Uthina passamos por  mosaicos que quais tapetes enfeitavam o chão das construções. Eles nos emocionam não só pela complexidade do trabalho e perfeita conservação mas também por sua grande beleza. Deixamos Uthina com a sensação de termos visitado um importante sítio histórico da cultura Romana.

Assim retomamos a nosso ônibus e às 14h40 chegamos a Cartago no restaurante Phenix, para o almoço . Este fica perto de um lugar interessante: os terminais dos aquedutos de Cartago.

É um restaurante muito bonito com diversos ambientes,  boa refeição e com garçons de meia idade. Sente-se pela simpatia com que nos servem, que estão trabalhando há muito tempo neste local.

       Às 16h15 saímos e observamos, mais uma vez, o local dos aquedutos e fizemos fotos nas redondezas. Senti que este domingo foi muito bem aproveitado.

       A janta foi como sempre no hotel África em Túnis num refeitório muito bem equipado. O que mais chama atenção nas refeições aqui na Tunísia é a variedade e quantidade de verduras típicas da cultura mediterrânea, que são servidas sempre em novas apresentações.

Dia 20 de fevereiro de 2023 – segunda-feira.

     Nesta segunda feira fomos conhecer diversos lugares muito interessantes nos arredores de Túnis e entre estes primeiramente as ruínas de Cartago. Riadh nos situa na História Antiga: a cidade começa no ano de 814 a.C. com a vinda de fenícios provenientes de Tiro, atual Líbano. As lendas e histórias da fundação de Cartago pelos fenícios são muitas e na internet são encontradas muitas versões e entre tantas, esta: o rei de Tiro Acherbas tinha uma irmã da qual o povo gostava muito. Este rei com ciúme iniciou uma série de atos para se livrar dela matando em primeiro lugar o marido e depois buscou-a para também a matar. A rainha então fugiu com seus soldados levando todas as joias que inteligentemente jogou no mar! Todos a acompanharam para Túnis, onde já havia um comércio entre esta cidade e a cidade de Tiro. A lenda conta que

“Quando ela pediu um pedaço de terra ao líder da tribo local ele jogou uma pele de boi no chão dizendo que ela poderia ter a terra coberta por esta pele. Num hábil movimento semântico e cirúrgico ela cortou a pele em tiras bem finas e circundou uma colina inteira logo acima do porto”. Abaixo a foto!

Este espaço foi o local onde começou a cidade que ganhou o nome de “Byrsa” que quer dizer pele de touro. Estamos na zona Norte de Túnis.

      É interessante também relembrar que  670 d.C. os árabes islâmicos invadiram a África do Norte e de lá expulsaram os Vândalos, povo germânico que havia sobrepujado os romanos dois séculos antes e tomado esta região em 439 d.C. Os árabes abandonaram Cartago e fundaram uma nova cidade Kairouan, numa região inóspita e sem água, que não tinha nada de especial para atrair invasores e a transformaram em capital em substituição a Cartago. Religiosamente falando, Kairouan foi considerada uma cidade santa e se  transformou em um centro de aprendizagem do Alcorão. Visitaremos mais tarde a cidade de Kairouan .

       Mas hoje nossa primeira visita é às ruínas da cidade de Cartago. Riadh nos relembra a história desta importante cidade de Cartago, uma cidade de comerciantes onde todos sabiam escrever e ler. Roma entrou em Guerra com os cartagineses nas chamadas Guerras Púnicas. A impressionante Cartago fez uma grande resistência aos romanos, já que a cidade era tão grande que Alexandre o Grande  não a atacou, completa o nosso guia. Na última Guerra Púnica os Romanos ficaram 3 anos para poder entrar em Cartago e ao entrar mataram 70.000 pessoas, 50.000 escravos, queimaram a cidade e com ela a sua biblioteca.

       Os romanos então cobriram Cartago com sal e proibiram as construções. No entanto, 100 anos depois, o Imperador Augusto começou a construir a nova Cartago Romana.

       Passeando pelas ruínas de Cartago na colina de Byrsa, perto da Igreja Católica, me causou espanto ver aqui também a estátua de São Luiz, rei da França, (1226-1270). Fiz então uma pequena pesquisa.

“Luiz IX, rei da França, suas ações foram inspiradas nos valores cristãos, comprando relíquias de Cristo para construir a Sainte-Chapelle e tentando converter os judeus franceses. Construiu inúmeros hospitais, leprosários, orfanatos e escolas e era notadamente conhecido pela sua caridade e cuidado com os pobres e doentes”.

“Em 1254, ordenou a expulsão dos judeus não convertidos da França, apropriando-se dos seus bens. No entanto, não terá sido feito um controlo muito eficaz para fazer cumprir esta medida, pelo que muitos permaneceram nos locais em que viviam. Alguns anos depois o rei anularia este decreto em troca de um pagamento em prata da comunidade judaica ao tesouro real. Em 1269, em aplicação de uma recomendação do Quarto Concílio de Latrão de 1215, impôs a obrigatoriedade de usarem sinais vestimentares distintivos. Para os homens a rouelle ou estrela amarela ao peito e para as mulheres um chapéu especial. Estes sinais permitiam diferenciá-los do resto da população e ajudar a impedir os casamentos mistos”.

E sua história continua na Tunísia:

“Luís IX partiu inicialmente para o Egito, que estava sendo devastado pelo sultão Baibars. Dirigiu-se depois para Túnis, na esperança de converter o governador da cidade ao Cristianismo. O governador Mostanser recebeu-o de armas nas mãos. A expedição de Luís IX redundou como quase todas as outras expedições numa tragédia. Não chegaram sequer a ter oportunidade de combater: mal desembarcaram as forças francesas em Túnis logo foram acometidas por uma peste que assolava a região, ceifando inúmeras vidas entre os cristãos, nomeadamente o rei Luís IX e um dos seus filhos”.

Morreu em Túnis, no norte da África, em 25 de agosto de 1270 e foi canonizado como santo pelo Papa Bonifácio VIII, em 11 de julho de 1297.

Este santo dá nome à cidade brasileira de São Luís no Maranhão.

Passamos nas redondezas da catedral de São Luís, onde havia muitas bancas vendendo verdadeiras obras de arte, em argila e mosaicos. Aí perto está também a catedral de São Luís.

       Esta Catedral de São Luís foi construída sobre as ruínas de um antigo templo dedicado a Eshmun, o deus fenício da cura e da renovação da vida; “era uma das divindades mais importantes do panteão fenício, e a principal divindade masculina de Sidon”.

        Quanto á construção da igreja Católica, na montanha de Byrsa durante a dominação do Império Otomano: Hussein II Bey autorizou o cônsul-geral francês a construir uma catedral no local da antiga Cartago, determinar onde seria situada e tomar todas as terras necessárias para o projeto. Suas palavras foram:

“Cedemos em perpetuidade a Sua Majestade o Rei de França um local no reino, suficiente para erguer um monumento religioso em honra do Rei Luís IX no local onde este príncipe faleceu. [Comprometemo-nos a respeitar e fazer respeitar este monumento consagrado pelo Rei de França à memória de um dos seus mais ilustres antepassados”. O cônsul encarregou seu filho Júlio dessa tarefa, que concluiu que a capela deveria ser construída na colina de Byrsa, no centro da acrópole púnica, onde antes ficava o templo de Esculápio. Descendentes de famílias de cruzados, companheiros do soberano, ajudaram a financiar a construção”.

Hoje a catedral não é mais usada para o culto, mas hospeda eventos públicos ou concertos de música tunisiana e música clássica. Esta catedral de São Luís, Rei da França, possui 284 vitrais criados por Édouard Didron que também são decorados com arabescos e deixam entrar a luz em tons de azul, amarelo ou verde.

       O artista Édouard Didron nasceu em Paris em 1836, projetou vitrais em inúmeras igrejas, escreveu muitos livros sobre arte e foi o editor dos Annales Arché logiques de 1867 a 1872.

       Os vitrais da nave central representam São Luís e Santo Agostinho, os dois padroeiros da catedral. Lembro aqui que que santo Agostinho era berbere, natural do Norte da África.

       Em seguida nossa excursão foi conhecer outro local emblemático: as ruínas Tohpet, um importantíssimo lugar religioso em Cartago onde havia templos dedicados à deusa Tanit e ao deus Baal. As escavações encontraram restos mortais de crianças e animais utilizados para sacrifícios às divindades. Uma reconstituição de Tohpet se encontra no Museu de Cartago, o qual não tivemos oportunidade de visitar.

       Visitamos Tohpet, o cemitério de crianças, que foi descoberto durante uma escavação em 1921. Aqui os antigos fenícios ofereciam sacrifícios de crianças à deusa Tanit e celebravam  cada um deles erguendo uma pedra gravada com seu símbolo (um círculo em cima de um triângulo, com os braços abertos). Dezenas dessas pedras estão agrupadas hoje em meio a uma gruta de palmeiras em um cenário plácido. Os cartagineses em tempo de guerra, crise, epidemia, faziam sacrifícios humanos com crianças primogênitas de 2 a 12 anos de famílias aristocráticas, como uma oferenda às divindades Baal Hammon e Tanit, a deusa da fertilidade. Foi muito interessante e também um tanto sinistro, conhecer este espaço da cultura fenícia. As ruínas que hoje vemos, foram salvas da destruição porque os romanos quando destruíram Cartago, as cobriram com terra  e  somente no século XIX, as escavações arqueológicas empreendidas pelos franceses fizeram vir à luz as ruínas antigamente invisíveis.

Às 10h22 tomamos nosso ônibus e fomos conhecer outro lugar imperdível da cultura romana: as termas de Antonino Pio ou Termas de Cartago localizadas  em frente ao Mar Mediterrâneo.

       São o maior conjunto de termas romanas construídas no continente africano e uma das três maiores construídas no Império Romano, depois das termas de Diocleciano e as termas de Caracalla, chamadas também termas Antoninas. Local de interesse histórico são Patrimônio Mundial da Unesco no Sítio Arqueológico de Cartago. Por volta de 1945 depois de sofrerem destruição devido a várias guerras e um terremoto, as ruínas foram escavadas.

A visão das Termas de Antonino Pio, impressiona!!

Antonino Pio, Imperador romano de 138 a 161, foi o quarto dos “cinco bons imperadores”, e foi denominado “Pio” pelo facto de seu predecessor Adriano e pai adotivo ter insistido na sua deificação.

Roma tinha diversas termas:
• Termas de Caracalla
• Termas de Diocleciano
• Termas de Nero
• Termas de Tito
• Termas de Trajano
Riadh nos aponta aqui, diversos espaços que faziam parte de uma terma,   que estão elencados abaixo:
• Apoditério – vestiário.
• Tepidário – banhos tépidos, banhos mornos.
• Prefúrnio – local das fornalhas que aqueciam a água e o ar.
• Caldário – banhos de água quente.
• Frigidário – banhos de água fria.
• Sudatório – espécie de sauna.

As ruínas dessas termas do Império Romano nos impressionam pois apontam para sua grandiosidade.

Neste espaço Riadh nos fala sobre algo que tem a ver com a relação da  Igreja Católica em sua resistência  à cultura muçulmana. Trata-se sobre o hábito dos europeus, antigamente, não tomarem banho. E a explicação é a seguinte: a Europa Medieval e Cristã proibiu às pessoas de tomar banho para não se confundir com os muçulmanos que se lavavam 5 vezes por dia, quando iam rezar nas Mesquitas. Se a pessoa se lavava era ainda porque era muçulmano, nos garante Riadh.

        Há aqui um amplo espaço que circunda as termas, onde se pode encontrar lugar para café e também para a venda de livros. Examinei alguns e comprei duas brochuras, um sobre Cartago e outra sobre Monastir.

       Aí perto visitamos outras ruínas, as da chamada “Vila Romana”; mas já li que era uma antiga vila de cartagineses ricos.  Para saber bem a história da Antiguidade é preciso estudar mais e pesquisar melhor.

Almoçamos, como ontem, no bonito restaurante Fhenix de Cartago.

       Este restaurante “Le Phenix” de Cartago oferece a possibilidade de eventos e cerimônias em seus múltiplos espaços cobertos ou ar livre com piscina, terraço, espaço de jantar e itens de decoração mediterrânea.
Valeu demais conhecer, mesmo que por poucos instantes , estes lugares de Cartago e relembrar e aprender um pouco de sua importante história. Riadh nos assegura que em Cartago pode-se passar toda a vida e todo o dia descobrir alguma coisa. Isto é fantástico!
Às 14h10 saímos para visitar outro lugar fantástico: a vila de “Sidi Bou Said”,  situada a 20km de Túnis , que ocupa  uma falésia sobre o mar Mediterrâneo e que domina o golfo de Tunes e a zona de Cartago.  A palavra Sidi, que se encontra em muitos nomes de lugares aqui na Tunísia, quer dizer: Senhor de…… A vila tem o nome de um santo muçulmano que viveu nos séculos XII e XIII — Abu Saïd Khalaf ibn Yahya el-Tamimi el-Béji, mais conhecido como Sidi Bou Said .

Esta cidadezinha na qual ficamos pouco tempo é magnífica e posso dizer mesmo que sua visita é imperdível!!!

É muito frequente ver fotografias da cidade de Sidi Bou Said em todo o tipo de material de promoção turística da Tunísia, tanto pelas suas casas brancas e azuis tradicionais como pela paisagem em que se insere. É também  conhecida como local de artistas. O filósofo Michel Foucault também viveu ali vários anos quando era professor na Universidade de Tunes e foi aqui que ele escreveu o célebre livro  “A Arqueologia do Saber”.

       O local que encantou a todos pedia fotos para marcar aqui nossa passagem e foi o que fizemos. Andando por suas ruas estreitas observando a belíssima paisagem , fizemos fotos em diferentes lugares e entramos em algumas lojas e  restaurantes.

       Foi assim que Salvelina e eu, entramos numa loja que tinha três andares e que era ao mesmo tempo uma residência, cujos espaços eram tomados com artesanatos e mercadorias de todo o tipo. O dono a tinha herdado de seus pais que também moravam aí por perto e com ele nos entretemos numa longa conversa. Ele como bom negociante nos mostrou muitas mercadorias, artesanatos e obras de arte e eu , que não queria comprar nada, comprei uma cerâmica que achei muito bonita e hoje enfeita o meu apartamento em Florianópolis.

Depois de fazer diversas fotos com nossa turma de excursão, às 16h saímos de Sidi Bou Said e chegamos à Túnis onde muitos excursionistas saíram para compras e para conhecer a cidade. Eu estava cansada e fui descansar.

      À noite saí para ir ao supermercado que ficava perto da Catedral e do monumento ao homenageado Ibn Khaldun. Este intelectual como sociólogo, historiador, filósofo é ignorado no mundo ocidental e ainda mais em nosso Brasil. Por este motivo, ao fazer este relatório de viagem, fiz uma pequena pesquisa e aqui deixo alguns dados sobre este intelectual tunisiano.

“Khaldun nasceu em 27 de maio de 1332 na cidade de Túnis e faleceu em 15 de março de 1406 na cidade do Cairo, Egito, aos 74 anos incompletos. Ele viveu numa época em que se iniciava um declínio lento e gradual do Império árabe. Khaldun publicou livros como História dos Berberes e das dinastias muçulmanas na África Setentrional em dois volumes, traduzida para o francês apenas em 1847. Sua autobiografia surge apenas em 1951, em inglês também publicada no Cairo. Aliás, registre-se, foi o primeiro pensador de renome internacional a ter escrito a sua própria autobiografia. “A Introdução”, uma história universal sócio-econômica-geográfica dos impérios e a mais conhecida de suas obras. O historiador Britânico Arnold J. Toynbee chamou-a “sem dúvida a melhor obra do seu gênero que alguma vez foi criada por alguém em qualquer tempo ou lugar”. Este elogio de Toynbee é a prova do grande valor de seus escritos.

Khaldun  é considerado um precursor de várias disciplinas sociais: demografia, história cultural, historiografia, filosofia da história e sociologia. Em um estudo sobre Khaldun pergunta-se se Maquiavel, Marx, Engels e outros estudiosos do mundo ocidental não teriam lido os seus livros.

21 de fevereiro de 2023 – terça-feira.

       Neste dia deixamos o hotel África, lugar que nos acolheu por primeiro em Túnis e cuja localização privilegiada na Avenida Habib Bourguiba, muito nos agradou. Às 8h partimos para chegar em 2 horas à cidade de Sousse conforme pode-se ver no mapa abaixo!

       Na área onde hoje está Sousse, havia a cidade romana de Hadrumetum cujo nome foi mudado para se chamar Sussa, que os colonizadores franceses depois chamariam de Sousse.

Na saída da cidade de Túnis, meu olhar atento percebe dois prédios que me chamaram a atenção: o edifício do Teatro Municipal, inaugurado em 20 de novembro de 1902 e que atualmente apresenta ópera, balé, concertos sinfônicos e dramas com vários atores tunisianos, árabes e internacionais e o 1º supermercado construído em Túnis, que tem o nome de “Le Palmarium”.

       A primeira parada neste nosso trajeto foi no “Porto Desportivo” cercado de campos de Golf. Com uma grande marina a cidade tem muitas lojas e foi muito agradável passear mesmo que por curto espaço de tempo por este bonito local.
Caminhando por este porto conheci pessoas do Brasil, como a empresária Leda de São Paulo, que como nós também estava em uma das três excursões brasileiras na Tunísia. Juntas fizemos foto no porto desportivo. De vez em quando nos encontrávamos com nossas colegas de excursão e assim marcávamos com uma foto nossa comum satisfação por mais esta visita.

       Às 12h fomos almoçar no restaurante “Belavue” da cadeia dos restaurantes “Sentido”, maravilhoso, imenso, espetacular e artístico acima de tudo. Valeu almoçar num local com tanta arte.

Às 14h seguimos viagem para a Medieval Sousse que começou como um porto fazendo comercio entre berberes e fenícios. Sousse tem 970.000 habitantes e 1 milhão de turistas por ano.

       Como toda cidade medieval árabe, Sousse tem a sua Medina (o centro antigo, com o mercado, becos e ruelas), muralhas, uma Mesquita e um Ribat (um forte), O que é interessante observar aqui na Tunísia é que aqui o que é medieval continua a fazer parte do dia-dia, ao contrário das construções medievais da Europa, hoje limitadas a serem pontos turísticos. As pessoas continuam a participar da Medina e da Mesquita como há 1000 anos atrás.
Aqui em Sousse vive-se de comercio, turismo, mecânica, eletrônica, aviões tunisianos, automóveis (4 modelos).

As árvores baixas e com grandes troncos estão assim porque são frequentemente podadas e por isso também estão sempre viçosas e verdejantes. Esta linda imagem chama a atenção!

Passeando neste espaço vi que aqui havia uma Mesquita que chamava pouco a atenção pelas duas pequenas placas de dizeres que a identificavam.

Tentei entrar na Mesquita, mas estava fechada aos turistas pois só abre na parte da manhã.

Em Sousse vimos o Ribat, uma bonita construção militar do século VIII, presente em todas as cidades árabes e cuja torre sempre serviu para comunicação rápida por muitos meios e às vezes através de jogos com espelhos. Em 2 horas se podia comunicar desta forma até 200k de distância, nos explica Riadh. Depois da Medina, passamos pela beira do mar Mediterrâneo, muito lindo em suas cores azul e verde sempre se alternando!! Seu encanto e sua beleza serão sempre relembrados.

       Em seguida fomos para o hotel Movenpick onde fomos recebidos com um gostoso suco de limão e depois jantamos. O que mais nos chama a atenção ao adentrarmos a este hotel é seu ambiente sofisticado e artístico. Aqui ficaremos hospedados por dois  dias.

22 de fevereiro de 2023 – quarta-feira.

       Além de ser imenso tendo muitas piscinas tanto externas quanto internas, o hotel está cercado por tamareiras, enfeitando os arredores, nesta beleza estonteante e inesquecível do Mar Mediterrâneo.

       Nesta 4ª feira, fizemos uma visita à historicamente religiosa cidade de Monastir, uma das principais cidades turísticas da Tunísia, que fica a 40 minutos de Sousse.  Neste trajeto como sempre Riadh nos transmitiu informações sobre o preço da gasolina que aqui é muito alto ou seja, custa 2,50 dinares. Na Argélia e na Líbia se enche o tanque por 8 dólares nos informa o guia. Este fato dá origem a muito contrabando de gasolina, pois as pessoas a vão comprar na Líbia por um preço muito baixo e ,  em galões expostos ao longo das rodovias, a vendem aqui na Tunísia. Durante o trajeto para  Monastir vimos plantações de oliveiras, algumas mostravam serem muito antigas com o tronco grosso e retorcido, mas sabe-se que produzem sempre e ainda irão produzir por muitíssimos anos.
Observo a paisagem e vejo a placa apontando “Monastir” à direita e, logo depois passamos pela Central elétrica de Sousse, onde produzem energia à base de gás Metano, naquilo que antes se usava óleo. Riadh continua a nos falar: há na Tunísia 124 tipos de tâmaras e aqui são usadas para tudo, inclusive para fazer pastel. Conforme a qualidade da tâmara o preço de um quilo vai de 3 até 14 dinares. O licor de tâmaras se chama “Thibarine”.

       Continuando a viagem, observamos depois uma grande salina.

       Monastir é a cidade natal do primeiro Presidente da República da Tunísia, a qual ele ajudou muito construindo aeroporto, marina, complexo desportivo, zona de hotéis nos informa Riadh!
Nesta região de Monastir houve sempre muitas lutas: durante as Guerras que opuseram os Impérios Espanhol e Otomano nos séculos XV e XVI, Monastir foi alvo de ataques dos dois beligerantes. A população conseguiu evitar a anexação pelos espanhóis em 1534, tendo então sido formada uma República popular, que foi tomada pelos espanhóis em 1550, os quais foram expulsos em 1554 pelos Otomanos. Estas guerras entre Otomanos e Espanhóis aconteceram em outros locais da Tunísia e isto foi algo que chamou minha atenção.

        Neste  trajeto para Monastir, Riadh nos fala sobre o motivo alegado pela França para invadir a Tunísia.  A razão é que o “Bei”, representante do Império Otomano  machucou o olho do embaixador francês ao abanar uma mosca. O Estado francês que já tinha ocupado a Argélia, decidiu então ocupar também a Tunísia e nesta data em 1881, a Tunísia se transforma num protetorado francês sendo dominada pela França. A invasão da Argélia e da Tunísia representou muita dor e sofrimento para o povo destes países, mas também dos muitos outros da África dominados pelos nacionalismos europeus no século XIX. Os franceses antes de ocuparem a Tunísia em 1881 haviam ocupado a Argélia em 1832. A Argélia vendia para a França e esta não pagava, nos assegura Riadh.

       Voltando a falar sobre Monastir:

É uma cidade universitária importante, onde os estudantes representam a quinta parte da população. Economicamente falando a cidade é um ponto de transbordo de azeite.

       A viagem continua tranquila e às 9h57, chegamos finalmente a Monastir tendo passado antes pelo aeroporto Habib Bourguiba. Caminhando por Monastir fomos primeiramente visitar o Mausoléu do primeiro Presidente da Tunísia, pois aqui ele nasceu em 1903, lutou muito pela independência do país e faleceu em 2000. Primeiramente, passamos pelas tumbas dos mártires e caminhamos sobre mosaicos que representam as folhas de tamareiras, num desenho artístico! Nos 30 anos de governo de Habib Bourguiba este fez muito pelo povo de sua cidade natal: sanidade, educação grátis, proibiu a poligamia, deu liberdade às mulheres, etc. Aqui Fernanda, nossa guia brasileira, faz um self da turma e este ficou bonito.

      Bourguiba foi nomeado Primeiro Ministro pelo rei que foi tirado do poder em 1957, um ano após a independência. As próprias filhas do rei ajudaram na resistência, nos assegura Riadh,  que também nos afirma que  aqui não havia experiência de democracia. O Mausoléu alberga o corpo de Habib Bourguiba e também dos membros de sua família. É um monumento muito bonito onde predomina o mármore, o dourado e azulejos coloridos num ambiente bastante sofisticado. Adentramos à sala onde em fotos se expõe toda a vida política de Habib Bourguiba, que além de ser aprisionado pelos franceses durante 11 anos por suas lutas a favor da independência foi novamente preso após a Segunda Guerra Mundial.

Em frente ao Mausoléu o desenho do corte desta árvore me chamou atenção! Observei que aqui na Tunísia se costuma fazer muitos desenhos diferentes no corte das plantas.

       Durante o domínio francês, de 1881 a 1956, Monastir foi esquecida, mas após a independência retomou o seu antigo estatuto.

Em Monastir  Bourguiba dá também nome a uma Mesquita construída em 1963  dando nome também ao aeroporto internacional.

       Após a visita ao Mausoléu do primeiro Presidente da Tunísia independente, fomos visitar o Ribat, o mais antigo construído pelos árabes no século VIII. Aqui nós pagamos 8 dinares para entrar no Museu da cultura árabe que fica dentro deste imenso forte. Foi muito interessante e elucidativa esta visita.

Na foto vemos a torre do Ribat a qual fomos convidados a subir. Alguns colegas subiram e eu que em muitas  excursões já aceitei o desafio de subir inúmeras e grandes escadas, desta vez resolvi não aceitar este convite.

       Ficamos eu e minha colega Ângela ao pé da torre, mas tivemos a criatividade de marcar o momento com este self que ficou na nossa lembrança!! Durante esta visita, Riadh nos fala de uma verdade, nem sempre lembrada: “quando falta o pão não se pensa em arte. Quando se faz arte é porque há também pão”.

       Aqui a arte muçulmana, começa no século VII, IX, XII, arte essa que corta a mentalidade da cultura anterior. Deus existe sim, mas não precisa ser visto, diz Maomé. Começa a arte com vegetais e arabescos. Vimos cerâmicas cuja pintura foi feita com tintas naturais. No século XIV ao XVII surgem a cores verde e a amarela!
Aí estava também o Astrolábio que é instrumento naval antigo, usado para medir a altura dos astros acima do horizonte. Convenciona-se dizer que o surgimento do astrolábio é o resultado prático de várias teorias matemáticas desenvolvidas por célebres estudiosos antigos. Entre os muitos objetos que estavam expostos apresento aqui alguns somente: a estrutura em madeira, onde permanecia aberto um livro para a leitura. Lá estava também cobertura de livros em madeira e fotos artísticas de contratos de casamento. Vimos cristal que era feito no Egito, na Tunísia e em Bagdá. O Egito não conheceu o algodão, nos diz Riadh.

       Deixo abaixo a foto de alguns objetos entre os muitos que estavam no Museu.

       Vimos, num trabalho em madeira, uma escultura de flores de jasmim e pinturas também estavam em tecido de seda e linho. E há muito mais para admirar se se tiver tempo disponível para se dedicar a observar o muito que este Museu do Ribat de Monastir possui sobre a cultura árabe. O tempo, durante as excursões é sempre pouco quando se trata da cultura.

       Assim findou esta quarta-feira cheia de boas aprendizagens! Regressamos a Sousse e o restante do dia foi livre!

Dia 23 de fevereiro – quinta-feira.

       Estamos ainda no bonito hotel Movenpick, mas hoje vamos deixá-lo. Depois de um ótimo café neste dia de sol que nasceu radiante, às 7 horas rumamos para a ilha de Djerba, onde chegaremos no fim da tarde. No caminho vamos visitar lugares históricos muito interessantes. Riadh nos diz que a alma da Tunísia está no Sul e é para lá que vamos agora.

A primeira parada da longa viagem de hoje será em El Jem, uma cidade que possui o maior Coliseu do Norte de África,  o maior do mundo após o de Roma.

       No trajeto sempre em ótimas estradas a paisagem nos fala. Vejo muita plantação de oliveiras que se apresentam em diferentes momentos de seu desenvolvimento.

      Umas são muito antigas tanto que seu tronco é volumoso e retorcido, enquanto outras são jovens e algumas acabaram de ser plantadas, nos comunicando assim que esta cultura aqui na Tunísia continua firme. Sempre na observação da paisagem algo me surpreende! Ao passarmos por uma rótula vejo uma mulher com roupas étnicas que está capinando sozinha este espaço público. Não entendi quais as circunstâncias de tal fato e nem se isto é algo corriqueiro. De outro lado, durante percurso no ônibus, também se conversa bastante com os colegas da viagem. Numa dessas conversas com Salvelina com quem divido o quarto me alerta sobre a mudança de significado que as palavras podem ter. Ela me faz uma pergunta: qual seria o significado primordial da palavra “emérito”. Diante de minha negativa ela responde: “sem mérito”! Nos tempos antigos o mérito era morrer na Guerra. O soldado que voltava da guerra tinha este qualificativo. Incrível! Gostei de saber! É o caso também da palavra “bastante” que no seu sentido primordial significava o quanto basta. Hoje a palavra bastante significa muito, em grande quantidade. E assim vamos aprendendo dia a dia mais um pouco com as pessoas com quem nos encontramos!
Na paisagem que observo há ainda cerração, mas ainda podemos visualizar as oliveiras! Há também muita plantação de cactos que, às vezes,  estão muito crescidos! Vejo caminhões transportando tijolos. À nossa frente se desenha o primeiro pedágio pelo qual se paga 1 dinar e meio. Após 200 km de boa viagem e de muita observação, finalmente chegamos a El Jem e lá está o Coliseu que sobressai majestoso diante de nós.

Tendo às nossas costas as grandes letras da palavra “El JEM” em vermelho, e também o imponente Coliseu, marcamos logo nossa presença em El Jem com esta foto.

       Neste dia de céu azul com poucas nuvens visitamos três locais deste complexo cultural de El Jem: o primeiro monumento a ser visitado é o majestoso Anfiteatro Romano; o segundo é o Museu de Arqueologia que guarda um tesouro em mosaicos belíssimos que cobriam o chão das casas dos cidadãos romanos e o terceiro é a Casa África, uma antiga vila romana que retrata o cotidiano nesta província africana de Roma.
El Jem foi uma cidade cartaginesa que era muito próspera durante o reinado do imperador romano Adriano (r. 117–138). Foi este imperador que ordenou a construção do Coliseu de El Jem, o 2o maior Coliseu do mundo em tamanho e em estética, hoje Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Na verdade, o Coliseu foi erguido só mais tarde, no século III. As pedras usadas para sua construção foram transportadas de Salakta, a 30 quilómetros de El Jem. Nesta zona de Azeite de Oliva, um local de muita riqueza que seria como hoje uma zona de petróleo, era o lugar certo para se construir uma obra de tal envergadura. E de acordo com que Riadh nos informou 63% dos senadores de Roma eram daqui, tal era a importância econômica dessa região do azeite! No anfiteatro havia 48.000 lugares, 6 mil a mais do que o Coliseu de Roma.

       Entramos no imenso ambiente deste histórico monumento inconcluso cujas dimensões nos surpreendem. Sua construção foi interrompida muitas vezes, por diferentes motivos. Em 238 D.C. a construção parou por morte de seu construtor. Quando os árabes chegaram, no século VII, aqui usaram o Coliseu como local de descanso. Parte da sua muralha desapareceu em 1695, durante a dominação turca para pôr a descoberto os lugares de abrigo dos dissidentes do Império Otomano. Sua construção foi também interrompida e atacada por obra dos vândalos e por bombardeios otomanos no século 18. Em 1832 os piratas usaram este Coliseu para deste lugar atirar. Mais recentemente, este Coliseu foi atacado pelos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O Coliseu tem 3 andares e os romanos haviam começado a fazer o quarto. Usavam dois anos de trabalho para cada andar, trazendo pedras, gruas etc. de muito longe. Durante a explicação que nosso guia Riadh fez no centro do Coliseu, o guia nos mostrou um pequeno pedaço de mármore que era o material que cobria todo o Coliseu. Para mim era muito novo saber que o mármore cobria inteiramente o Coliseu. Aqui havia jogos grátis e em caso de perigo era possível esvaziá-lo em 6 minutos , nos informa nosso guia.
Pergunta Riadh: para que servia o Coliseu? Servia para muitas atividades e também para matar chefes de tribos que não pagavam os tributos, para matar revolucionários, e para isto às vezes usavam animais ferozes que ficavam 2 semanas sem comer. E conclui: somos muito cruéis! Os gladiadores que aqui lutavam não tinham como objetivo matar, pois havia sempre um árbitro que acompanhava a luta. E no meio da longa e interessante explicação do guia houve uma surpresa: surgiram duas artistas que cantaram e isto nos demonstrou não só sua linda voz, mas também a excepcional acústica deste local da Roma Antiga. Pessoas vinham da Rússia, de Paris, para assistir os espetáculos e voltavam na mesma noite, nos afirma Riadh.
No Coliseu havia lugares específicos para cada classe e por último estavam as mulheres. Dando-nos muitas explicações Riadh fala também de um grande jogador chamado Darius que morreu aos 42 anos e era muito rico. Tão importante era este jogador que aqui na Tunísia há muitos mosaicos com a representação de Darius. Na Roma Antiga eram muito populares as corridas de bigas. Estas já aconteciam quando as Olimpíadas foram criadas em 680 acc., mas ninguém as levou tão a sério como os romanos, conclui Riadh.
Em “El Jem” as empresas trabalham diretamente com a China, nos comenta Riadh. Aqui há também diversos festivais: há o Festival dos Mosaicos, e o Festival de Música Sinfônica do Mundo. A acústica é ótima!
Diante do Coliseu fiz fotos com Leda e Gilberto, Renato e Lígia, com quem me havía encontrado no  “Porto Desportivo” e que estavam em outra excursão de brasileiros á Tunísia.

       Nas proximidades do Coliseu colocaram um Camelo à disposição para alguém que se dispusesse a dar um passeio por El Jem. E lá estava ele, como acontece em todos os lugares onde há turistas que desejam andar com com este animal adaptado ao deserto. Às 10h30 saímos do grande Coliseu e passamos por um pequeno Coliseu já quase todo destruído e cujas pedras foram aproveitadas na construção do anfiteatro maior. E nas redondezas do Coliseu num bar onde tomamos um cafezinho havia enfeites nas paredes com mosaicos. Não me lembro se eram só enfeites ou se estavam à venda. aqui o mosaico é muito utilizado.

Vi aí perto também uma buganvila em meio a casinhas brancas com as janelas azuis, que me chamou atenção por causa de sua cor, meio diferente das que conheço, amarelada em suas flores e por esta razão fiz esta foto.

       Retomando o ônibus nos dirigimos ao Museu de Arqueologia de El Jem que se situa na periferia da cidade. Este Museu começou a ser feito em 1970 para expor mosaicos belíssimos encontrados numa vila romana soterrada até então. Inúmeros e significativos mosaicos cobriam o chão em todos os cômodos destas casas romanas e desta forma, conseguiram ser salvos. Lá há também uma casa com o nome de África, que era o nome de uma Deusa Romana.
Na entrada vimos a estátua do Imperador Trajano que governou Roma de 98 a 117 e neste ano foi substituído por seu sobrinho e protegido, o Imperador Adriano.

       Entramos no Museu! Mosaicos lindos com diferentes temas referentes à cultura romana: pavões, natureza, dias da semana e meses do ano que iam de março a dezembro; deuses e deusas, imagem de Vênus nascendo de uma concha, etc.
A nossa principal pergunta foi: como conseguiram colocar nas paredes este material que cobria o chão?
Riadh explica: foram cortados em quadrados ao serem tirados do chão e depois estes quadrados foram colados nas paredes recriando os grandes tapetes. Fizemos fotos de alguns dos mosaicos que são simplesmente um encanto, tal é sua variedade e beleza! A criatividade empregada conta a história da cultura da sociedade romana e é algo fantástico! As explicações de Riadh foram muitas e ótimas!

       Realmente a visão destas admiráveis obras de arte da cultura romana me deixaram muito emocionada e feliz pelo fato de poder ter esta oportunidade ímpar de poder contemplá-los! Em 1970 foi descoberta também a Casa África, da deusa África dos ricos, nos diz Riadh.
“Anexa ao Museu, a “Villa d’Africa” é uma reconstituição didática de uma casa romana. Ali se encontram dois mosaicos notáveis, um deles representa a deusa África, encimada por um elefante morto e rodeada de bustos representando as quatro estações. O outro mosaico tem uma representação simbólica de Roma e das suas províncias”.

Todos os cômodos tinham no chão os mosaicos, verdadeiros tapetes, representando deuses, poetas, dias da semana, nome dos meses, cenas da vida cotidiana etc.

       Às 11h30 deixamos este lugar e assim nos despedimos da inesquecível cidade de El Jem. Do ônibus, mais paisagens das oliveiras. Riadh fala do significado da forma em que está disposta a plantação de oliveiras: onde observamos as oliveiras sendo mais separadas é porque há menos água para as raízes. Quando vemos oliveiras uma perto da outra é porque são irrigadas com gotejamento. Neste trajeto para o sul teremos 120 km só de oliveiras. Tunísia é o terceiro país na produção do azeite e tem 130 milhões de oliveiras. Por estes caminhos, além das muitíssimas oliveiras vi também grandes plantações de amendoeiras que estavam em flor. Um belo espetáculo!

       Às 12h30 almoçamos no Restaurante Tamaris onde como se costuma aqui, nos foram servidos pratos feitos.

Primeiramente nos foi oferecida uma sopa muito gostosa e eu agora não saberia dizer de que era feita, só me lembro que era muito especial. Depois veio o prato feito.

       A dúvida era qual seria este peixe que estava servido, e logo  pela consulta ao eterno Google soubemos a tradução: badejo. A colega Joyce mostrando uma garrafa de vinho Rosé, perguntou quem gostaria de participar no compartilhamento deste vinho tunisiano e, como se vê junto ao meu prato, a taça está assegurando que, junto com outras quatro pessoas, houve também a minha participação.
A sobremesa não lembro bem se só foi uma laranja ou se juntamente havia sorvete.

Saímos do Restaurante Tamaris, mas antes de partir, Neusa, Fernanda e eu registramos o momento nesta foto com os simpáticos guias da excursão.

       Agora vamos viajar mais 4 horas rumo à ilha de Djerba na estrada que estamos percorrendo, a Nacional 1 , com a qual podemos seguir e chegar na Líbia e depois no Egito. A tomada de consciência que estou perto do Egito e da Líbia novamente não deixou de me emocionar!
Aqui vejo também que estão expostos para a venda galões com gasolina que as pessoas buscam na Líbia a preço muito reduzido. É o contrabando sobre o qual o governo faz vista grossa pois nesta zona há muita pobreza e pouco trabalho. Aqui o dinar vale 1,67 reais e a gasolina custa 2 dinares e meio.
O caminho percorrido nos traz a cidade de Gabes que fica no terceiro golfo da Tunísia e que lhe dá o nome. Gabes é uma cidade que pertenceu à antiga Cartago tendo sido denominada de Tacape pelos Romanos e posteriormente passou a chamar-se Gabes. Esta cidade sofreu na pele várias guerras desde as Guerras Púnicas até à Segunda Guerra Mundial, nos diz Riadh. Hoje com 100.000 habitantes tem uma grande tradição industrial nomeadamente petroquímica e é famosa pelas suas praias.

       GABES é a cidade dos oásis, rodeada por vasto palmeiral. Aqui há mais de 300.000 tamareiras e é o único oásis costeiro do Mediterrâneo com tâmaras excelentes.

“A tâmara é considerada um dos frutos mais doces do mundo e por muito tempo foi conhecida como o fruto da empatia, uma vez que a história nos conta que pela ordem natural das coisas esta árvore demora de 70 (setenta) a 100 (cem) anos para começar a dar os seus primeiros frutos”.

       Nosso guia Riadh nos informa que as tâmaras que estão perto do mar, em geral não são boas. Na ilha de Djerba, por exemplo, há 1200 tamareiras que não produzem tâmaras boas e lá são dadas como ração aos animais. O único lugar onde se produz boas tâmaras estando perto do mar é neste oásis de Gabes.
Riadh fala também sobre dromedários:  estes não comem lixo, só verde, às vezes as folhas verdes do deserto e até comem espinhos. Na Tunísia temos dromedários selvagens que foram doados pela Arábia Saudita.
Seguindo rumo à ilha de Djerba passamos pela cidade de Mareth que ficou marcada na Segunda Guerra Mundial, pois aqui estava a Linha defensiva da Tunísia. Gostei muito de que Riadh nos situasse no acontecido da Segunda Guerra Mundial.

Ele nos apontou os bunkers, uma estrutura arredondada que eram em grande número e que apesar de não os visitarmos, os observamos de perto. A passagem pelo local foi rápida, mas não a emoção que senti por estar num lugar histórico marcado pela Segunda Grande Guerra.

Abaixo o mapa e uma explicação da internet:

“A Linha Mareth foi um sistema de fortificações construído pela França no sul da Tunísia, antes do início da Segunda Guerra Mundial. O seu propósito consistia em defender a Tunísia contra um eventual ataque da Líbia, na altura, uma colónia da Itália”. Lembramos que nesta data a Tunísia era ainda dominada pela França.

       Nosso guia nos conta mais sobre um fato que  aconteceu aqui por ocasião da Segunda Guerra e que se refere à passagem do General nazista Rommel pela Tunísia. Apelidado de a “raposa do deserto”  foi aguardado pelos Aliados em Mareth, mas ele se esquivou e voltou para a Europa atravessando o Lago Salgado com seu exército. Chegando à Alemanha, Rommel, o antigo aliado de Hitler, participou de uma tentativa para matá-lo, sendo essa malsucedida e assim, pelos serviços prestados, Hitler lhe ofereceu uma solução honrosa: o suicídio.

       Nesta cidade há o “Museu Militar de Mareth” que não visitamos. E aqui deixo mais alguns dados que julgo importante recordar por tratar-se sobre a Grande Guerra e os colonizados:

“A partir de 3 de setembro de 1939 quando a Grã-Bretanha e a França declararam Guerra à Alemanha, os Aliados recrutaram nas suas colónias cerca de meio milhão de soldados e operários que ajudaram a libertar a Europa do fascismo. Mas o reconhecimento por esta ajuda foi quase nulo. Os poucos que sobreviveram reclamam até hoje pelos seus direitos”.

Mais tarde, esses soldados recrutados nas colônias também combateram contra os japoneses na Ásia e no Pacífico. Isto é mais um aspecto a considerar nos acontecimentos da Grande Guerra.

        Às 18h57 quando vejo uns 50 camelos comendo, estando nós na estrada Nacional de número 16, uma flecha nos mostra a direção da ilha de Djerba.

       Quanto à ilha de Djerba,  esta tem muitos anos de ocupação humana e tem muita história para nos contar. Os judeus estão na ilha desde 586 a.C. pois aqui se instalaram depois da destruição do templo de Salomão, por Nabucodonosor II.  Conta-se que uma das portas desse templo teria sido incorporada na sinagoga de La Ghriba, ainda hoje um local de peregrinação para judeus norte-africanos. A capital de Djerba é Houmt Souk, que em árabe significa “vizinhança do mercado”. No mapa abaixo a ilha de Djerba.

       Às 19h30 chegamos finalmente à Djerba, uma ilha que tem 514 km2 de superfície, que é grande como Madagascar. Apresenta algumas características culturais únicas na Tunísia, como o facto duma parte da população muçulmana ser “ibadita”. Eles não seguem nem o ramo sunita e nem o xiita do islamismo. Djerba possui 336 Mesquitas e é um dos últimos locais onde ainda se fala berbere na Tunísia.

       A ilha está ligada ao continente na extremidade sudoeste por um ferryboat que liga a cidade de Ajim a Jorf e a sudeste por uma estrada que atravessa o estreito muito pouco profundo entre El Kantara e a península de Zarzis. Aqui a água é salgada e o clima é seco. Um aqueduto leva água potável pela estrada romana. Em todas as casas há a coleta da água da chuva, cuja cisterna às vezes tem a forma de cúpula, o que é típico ver aqui. Segundo a lenda, Djerba, esta ilha histórica,  foi visitada por Ulisses, tanto que o hotel onde nos hospedaremos se chama Ulysse.  Os cartagineses tiveram ali diversos entrepostos comerciais; os romanos fundaram várias cidades e desenvolveram a agricultura e o comércio portuário. Passou depois pelo domínio dos vândalos e dos bizantinos antes de ser uma possessão árabe. Todas essas culturas deixaram sinais na cidade. Desde os anos 1960,  Djerba é um destino turístico popular pelas suas praias, que alguns consideram as melhores do Mediterrâneo. Djerba tem uma das últimas comunidades judaicas no mundo árabe. É famosa pelo casario branco e azul que resplandece em contraste com o Mar Mediterrâneo, sobretudo com o sol de verão. A importância da ilha é tanta que, em fevereiro de 2012, o governo tunisino candidatou Djerba a uma futura inclusão na lista de Património Mundial da UNESCO.

Há duas possibilidades de chegar à ilha de Djerba: ou aproveitando a estrada romana ou o ferryboat. A calçada romana de 8 km de comprimento, construída pelos fenícios 1102 a.C , faz a ligação terrestre do continente à ilha.
Nós chegamos à ilha de ferryboat. Depois de 1h estávamos no moderno e imenso hotel Ulysse, onde nos hospedamos no dia 23 quando chegamos, aproveitamos o dia 24 para conhecer a ilha e saímos no dia 25 de fevereiro.

       Antes de escrever sobre as experiências na ilha de Djerba procurei na Internet ler um pouco mais sobre esta antiquíssima ilha. Na verdade, por ser tão antiga e com tanta história tem muito a nos comunicar, tanto em construções, como paisagens, Mesquitas, fortes, habitações, hábitos, museus e culturas diferentes que, de um modo geral, ainda são seguidas.
Do muito que a ilha tem a nos mostrar eu posso apresentar o que vi no pouco tempo que lá estivemos. Deixo aqui  uma orientação de leitura : ler na Wikipédia Djerba, o artigo escrito em francês e traduzido em português, que na sua abrangência, nos dá uma melhor visão sobre esta ilha. Só assim se poderá ter uma ideia da complexidade que esta ilha tem, habitada há milênios, pelos mais diferentes povos e dominações.
Na Ilíada se fala da Ilha de Djerba.
“Desde a Antiguidade que os historiadores mencionam Djerba, que identificam como a primeira ilha onde, na Odisseia de Homero, Ulisses e os seus companheiros encalham enquanto andam perdidos no mar no regresso da Guerra de Troia (c. 1 185 a.C. Por ter provado os lotos, «um fruto doce como o mel que mergulha todos os que o provam nas delícias de um feliz esquecimento que apaga todas as preocupações da existência», Ulisses «que esse fruto milagroso tinha mergulhado numa feliz amnésia resiste a deixar a ilha dos lotofagitas (comedores de lotos”).

Ao entrarmos na ilha de Djerba vemos, numa grande rótula, a estátua de uma mulher com os trajes femininos típicos. “Por ser Djerba uma ilha, os trajes são muito diferentes dos do sul da Tunísia. O vestido é bem mais colorido, adornado com listras multicoloridas: azul, vermelho, amarelo, laranja. As mulheres também usam grandes joias penduradas na cabeça”.

Quanto à vestimenta: as mulheres casadas se vestem de branco e as mulheres de modo geral usam chapéu e vestidos longos com muitos panos superpostos. Aqui se usa lã fina no verão e lã grossa no inverno. São pessoas muito ligadas à sua identidade.

        Na ilha existe hoje uma pequena comunidade de judeus que no passado chegou a contar com milhares de membros, na sua maioria especializados em ofícios artesanais, como os de joalheiros, sapateiros, alfaiates, etc., que também praticavam o comércio. A sua atividade contribuía muito para a prosperidade comercial pela qual a ilha era famosa. “Em 1946 o número de judeus djerbanos ascendia a 4 300, mas no início da década de 2000 estimava-se que só vivessem na ilha 1 500 judeus, uma parte deles ex-emigrantes que tinham regressado à terra natal”.

       O trecho abaixo sobre a cultura de Djerba me agradou muito ao lê-lo e por este motivo o deixo aqui.
“Os djerbanos deitavam muito pouca coisa fora: as cascas de figos-da-índia, melões, melancia, abóbora e de alguns legumes e as folhas (cenouras, rabanetes, etc.) eram cortadas em pequenos pedaços e usados na alimentação do gado. Os pepinos que não eram consumidos pelos humanos eram também dados aos animais. As rosas, alguns gerânios e as flores de laranjeira são destiladas e usados na cozinha, sobretudo em doces, bem como na cosmética e farmacologia tradicionais. As cascas de laranja são secas, piladas e usadas para aromatizar café e bolos. Os poucos dejetos de alimentação que restavam eram depositados numa grande fossa cavada na extremidade da propriedade familiar ou do pomar, a qual era coberta de areia quando ficava cheia.
Para a alimentação dos seus animais, os djerbanos armazenavam a erva da primavera e conservavam-na para estação seca e como anteriormente referido, trituravam e aproveitavam todos os restos alimentares difíceis de consumir diretamente. Todos os ramos secos e fezes de camelo eram sistematicamente amontoadas para serem usados como combustível. Os restos de tecido e roupa usada eram cortados e usados para fabricar esteiras (klim ch’laleg). As cascas de amêndoa serviam para fabricar uma tintura tradicional para o cabelo (mardouma). Os restos de papel (jornais, cadernos velhos, etc.) eram vendidos a peso. A loiça era lavada com água do poço, em geral salobra, não potável, e com areia, argila ou uma erva gordurosa espontânea chamada gassoul. As peças de cobre eram limpas com cinza e pele de limões espremidos. A água de lavagem da loiça servia para regar as romãzeiras e outras plantas resistentes à água salobra. O caulino e a argila verde existentes em Guellala eram usados em cosmética (lavagem de cabelos e máscaras para a face e corpo), à semelhança de outros produtos naturais com o feno-grego, o mel, a farinha de grão-de-bico, clara e gema de ovo, óleo de amêndoas”, etc. Penso que alguns destes hábitos ajudam demais à natureza e a nós também.
Aqui abaixo o hotel Ulysse em Djerba, onde nos hospedamos nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2023, à beira do Mar Mediterrâneo e entre as sempre de novo , tamareiras.

       Em Djerba há muitos festivais aqui abaixo elencados:

“O Festival Internacional Djerba Ulysse, que decorre entre julho e agosto, inclui espetáculos de música e de teatro e diversas atividades e animações que dão a conhecer o património local. Na mesma linha, o Festival da Olaria de Guellala, propõe um programa cultural que divulga as criações dos oleiros daquela aldeia do sul da ilha. O Festival das Músicas das Ilhas do Mundo e do Filme Insular acolhe grupos de músicos e cantores provenientes de diversas ilhas do mundo. Do seu programa fazem também parte projeções de documentários de carácter insular. O Comité Cultural de Houmt Souk e a Casa de Cultura Férid-Ghazi organizam o Festival Farhat-Yamoun, de teatro e de artes cénicas. O Festival de Mergulho e Vela Tradicional tem lugar todos os verões na localidade de Ajim e é um evento simultaneamente cultural e desportivo que mostra os métodos de mergulho dos pescadores de esponjas e inclui regatas de feluccas (espécie de faluas) e outras competições náuticas. Outros eventos são, por exemplo, o Festival do Filme Histórico e Mitológico, que decorre entre julho e agosto, uma regata de prancha à vela (setembro) e o Festival das Marionetas (novembro)”.
Realmente aqui temos muita cultura!

24 de fevereiro de 2023 – Sexta-feira.

       Estamos hospedados no bonito hotel Ulysse, cujo nome lembra Ulisses, um herói grego eternizado na Odisseia de Homero.

       A ilha de Djerba é conhecida pelas praias mediterrâneas e pelas cidades desérticas com casas caiadas influenciadas pelas culturas berbere, árabe, judaica e africana. Houmet Souk é a capital e principal cidade, famosa pelos mercados de artesanato, pelo porto de pesca e pela fortaleza Borj el Kebir do século XVI, conhecida como a “fortaleza espanhola” devido aos confrontos ocorridos aqui no século XVI entre os espanhóis e os otomanos, a qual não visitamos. Abaixo vemos uma paisagem onde pode ser observada uma das características na construção das casas, onde o lugar da coleta da água da chuva é fundamental.

       Riadh nos explica: o típico da ilha de Djerba é fazer as casas com cúpula, pois a cúpula é um isolante de calor. As chuvas aqui são de março a setembro e antigamente se fazia necessário coletar água da chuva, mas hoje há um aqueduto  que vem de fora como se pode ver nesta imagem ao lado.

       Neste dia fomos ver outra maravilha dos antigos habitantes que apesar de seu nome “Calçada Romana” foi construída pelos fenícios. São 10h10 e aqui ficamos algum tempo observando e fazendo fotos que guardamos como lembrança de ter estado neste lugar .

       Além da Estrada Romana, que por si só já é admirável, em Djerba conhecemos três lugares interessantes:
1- Visitamos o povoado de Guellala, famoso pela cerâmica e por suas lojas com produtos belíssimos
2- Depois visitamos a sinagoga de La Ghriba
3- E conhecemos Djerbahood, a antiga vila de Erriadh,  que ganhou este nome depois que artistas do mundo todo transformaram este cidade numa galeria a seu aberto.

       Guellala é um nome berbere que significa “Oleiros”.  Nosso ônibus nos deixou num lugar onde na rua se via uma grande ânfora de cerâmica que logo me chamou a atenção.

       Aqui a arte em cerâmica está no centro da questão e por várias razões históricas. A necessidade de contentores para o transporte e armazenamento de produtos agrícolas, em particular azeite, está na origem desta atividade conhecida em Guellala desde milhares de anos.

       Segundo o investigador Lucien Bertholon, citado por Salah-Eddine Tlatli,
«a cerâmica djerbana sofreu entre o terceiro e segundo milénio antes de Jesus Cristo uma influência egeia que se traduz pela introdução da roda; depois, entre 1 500 e 1 300 a.C. sofreu uma influência cipriota-cária que esteve na origem dos fornos dos oleiros; assim, pensa-se que os ancestrais dos oleiros de Guellala tenham começado a trabalhar a argila há quatro ou cinco mil anos. No entanto, os meios empregues, os processos de fabrico e os objetos produzidos pouco evoluíram desde a pré-história”.
Chegando a Guellala conhecemos primeiramente um atelier onde um mestre da cerâmica elaborava suas obras de arte numa mesa rotatória. Aqui, como já foi dito, se pratica a arte da cerâmica a partir dos depósitos de argila abundantes nesta região há milhares de séculos.

       Visitamos uma casa, com inúmeras peças à disposição. Em frente, muitas lojas com produtos de cerâmica! Ao mesmo tempo observo mulheres circulando com seus trajes típicos.

Nesta foto vemos  a colega Joyce aprendendo  a colocar um imenso pano que nesta cultura se transforma em vestimenta. As mulheres de Guellala reconhecessem-se também pelos seus chapéus caraterísticos (chamados tadhellalt), que fazem parte da indumentária tradicional e que distingue a mulher casada da solteira que geralmente não o usa.

       O chapéu é usado tanto de dia para proteger do sol como de noite para proteger da humidade. Valeu conhecer Guellala, prestar atenção na forma como organizam a vestimenta das mulheres e observar a imensa beleza resultante da história e da criatividade destes artesãos oleiros.

       O segundo lugar que vamos conhecer e sobre o qual Riadh nos fala é a sinagoga de Ghriba que tem uma bela história, pois os  judeus em diáspora chegaram aqui no ano de 596 a.C. trazendo com eles “alguns manuscritos das Tábuas da Lei que salvaram das ruínas do Templo de Jerusalém destruído por Nabucodonosor , bem como algumas pedras daquele templo, sobre as quais construíram o santuário. Todos os anos, três semanas após a Páscoa judaica, a sinagoga atrai peregrinos vindos do mundo inteiro, principalmente da Europa e da África do Norte. Chegando ao local fiz uma foto junto ao conjunto de construções onde se encontra a sinagoga. Mais adiante, com a cabeça coberta como se costuma fazer aqui, adentramos  à Sinagoga, onde um funcionário nos ofereceu um cartão com o retrato do local, por uns trocados. Estivemos observando este ambiente solene e bem caracterizado e depois lá fizemos uma foto. Os judeus de todo o mundo vêm visitar esta sinagoga no final de abril e começo de maio.

        Às 12h48 estamos terminando à visita à sinagoga La Ghriba.

Nos arredores da Sinagoga, havia oliveiras um pouco diferentes das que conhecemos, pois elas tinham diversos troncos. E por isso fiz esta foto!

Em seguida visitamos a Vila de Erriadh hoje chamada Djerbahood. Aqui observamos a galeria a céu aberto.

Na entrada de Djerbahood, um camelo preparado para levar turistas a passeio, espera pacientemente. Isto pode ser observado nos mais diferentes lugares por onde passamos. Fiquei pensando no sacrifício exigido destes animais!

Mas vamos contar a história deste projeto batizado de  Djerbahood:

        Em 2014, Mehdi Ben Cheikh, ofereceu aos habitantes de Erriadh, localizada no coração da ilha de Djerba, uma experiência extraordinária: transformar sua vila em um museu de arte de rua. Uma obra de arte total e coletiva ancorada em seu ambiente para sublimá-lo.  Artistas do mundo todo criaram 250 pinturas murais neste projeto  criado pela galeria Itinerante de Paris, do qual Mehdi Ben Cheikl era diretor. O sucesso alcançado foi total e Djerbahood retornou em 2022. Aqui tivemos a oportunidade de ver as obras de arte nas paredes e muros, onde  na verdade, cada uma destas fotos foi feita por artistas e diferentes países!

       Foi muito importante  entrar em contato com esta bonita realidade. Andamos pela cidade, conhecemos lojas e fizemos fotos com as amáveis pessoas do lugar.

Aqui algumas palavras sobre o “Museu de Guellala”, que não visitamos, mas sabemos que tem mais de 400 metros quadrados de representações da culturalidade da Tunísia.

“Em várias salas mostra os trajes de Djerba. O Museu foi inaugurado em 2001, tem igualmente em exposição coleções do património djerbano e é constituído por uma série de pavilhões independentes, cada um dedicado a um tema como festas, tradições e vestuário, artesanato, mitos e lendas, música tradicional, mosaicos e ainda uma coleção importante de caligrafia árabe. Em 2005 recebia anualmente uma média de cerca de 100.000 visitantes, 30% deles, tunisinos”. É um lugar que merecia ser visitado se para esta visita houvesse tempo.

Na paisagem vi também uma Mesquita que é baixa e tem muitas cúpulas.

 Aqui em Djerba observei que em algum lugar  o mar se retirou.

25 de fevereiro de 2023 – Sábado no Hotel Ulysse em Djerba.

       Estamos saindo do hotel Ulysse às 7h30 num dia com uma pequena cerração e Riadh nos fala algo que me surpreendeu: diz que o árabe é chamado “mar de línguas”, pois a língua árabe tem 12 milhões e duzentas mil palavras. Isto achei muito interessante  e me desafiou a pesquisar sobre este fato. Riadh nos explica também que há três tipos de deserto: o de areia, o de sal e o de rocha.

       Ao deixar o Hotel Ulysse em Djerba, nosso destino é conhecer, em primeiro lugar Matmata, uma típica aldeia berbere, com as tradicionais casas trogloditas escavadas na rocha. Em seguida Douz, o portão de entrada do deserto, e logo faremos a travessia do Chott El Jerid, famoso Lago Salgado da Tunísia, situado 25m abaixo do nível do mar e finalmente nossa chegada à cidade pré-histórica de Tozeur. Mas ainda estamos no território de Djerba.

       Riadh nos fala que as propriedades agrícolas típicas da ilha de Djerba se chamam Menzel e são camufladas. É o que vemos na foto acima.
“O conjunto espacial constituído pela habitação e parcelas agrícolas associadas é geralmente propriedade duma família alargada e tipicamente ocupa entre dois e cinco hectares plantados de palmeiras, oliveiras, árvores de fruto, sorgo, cereais e culturas hortícolas. Conforme a região onde está implantado, o Menzel dispõe de um ou vários poços ou cisternas destinadas à irrigação dos campos”.
Às 8h02 ainda estamos nos dirigindo à Estrada Romana. Vejo muitas tamareiras altas com mais de um tronco, com bela copa de folhas, neste atravessar a ilha no último dia de visita. Observo esta paisagem diferente e Riadh no informa que quando um tronco de tamareira não dá fruto, cresce outro que então frutifica. Como não se impressionar com esta maravilha da mãe natureza???   Observo também nesta paisagem que algumas oliveiras são de outra cor porque estão secas, mas vão ressurgir pois são muito resistentes, nos explica Riadh.

E nesta observação da natureza chegamos à célebre Estrada Romana que atualmente está sendo duplicada.

       Eu me emociono com esta possibilidade de atravessar esta “Estrada Romana” que foi construída pelos fenícios a qual hoje estão duplicando usando as mesmas técnicas dos que a construíram e por ela passam os grandes encanamentos que levam água potável para Djerba. Vejo que a metade desta estrada já está pronta, ou seja, duplicada.
Seguindo nosso trajeto de ônibus, às 8h51 passamos pela cidade de Medinine, onde vejo uma escola!

Novamente vemos os tradicionais galões de gasolina que significam não só contrabando, mas também subsistência para alguns.

       Para este fato os governantes fecham os olhos, pois também reconhecem ser uma forma de muitas pessoas desempregadas terem um ganho. Os galões de gasolina são vistos com muita regularidade em todo o trajeto de nossa viagem. A gasolina muito barata na Líbia é mais cara na Tunísia  por causa das taxas nos explica Riadh.

Às 9h15 foi feito uma parada e fomos tomar café no restaurante El Majless. Na entrada haviam conservado um pé de oliveira e eu senti que era como se eles nos apresentassem esta planta muito familiar e querida, ao abrigo do sol e da chuva, simplesmente num lugar de honra em frente ao restaurante.

       Muito significativo! Foi uma boa sensação que tive ao ver esta oliveira dando-nos as boas-vindas. Saímos do restaurante às 9h51 e daqui a uma hora e meia vamos fazer uma parada. Riadh nos informa que no norte da Tunísia espera-se neve nos próximos dias.

     No mapa abaixo vemos a localização de Medidine onde estamos e Malmata nas montanhas de Dahar, para onde estamos indo agora.

“O nome do lugar tem origem no povo Matmata, a tribo berbere que ali se instalou na Idade Média e foram longamente descritos pelo historiador árabe do século XIV, Ibn Khaldun, na sua obra “História dos Berberes e das dinastias muçulmanas da África Setentrional”. Gostaria de ler estas descrições!!

       Matmata se liga também a acontecimentos recentes:

“Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos habitantes de Gabes procuraram refúgio em Matmata no decurso dos bombardeamentos dos Aliados à cidade, então em mãos da Alemanha Nazista”.

       Estamos subindo a sinuosa montanha de Dakar, por uma ótima estrada que tem muitíssimas curvas, e vejo que aqui estão as comunidades berberes, cujas habitações que ficam mais abaixo, são de uma cor pastel e Riadh responde às minhas indagações: a cor pastel era para torná-las invisíveis pois assim se confundem com a própria terra. A estrada que segue o arredondado da montanha foi asfaltada no ano 2000. A vila berbere que vemos lá embaixo é Tougene onde se fabrica mel, cultivam-se figos e se trabalha com pedras brancas para decorar as casas.
Riadh nos conta que na década de 1960 e 1970, houve inundação e depois de 4 dias de chuva, muitos começaram a abandonar esta zona de casas trogloditas, naquele tempo sem estradas. Sinto que a história destes lugares é longa e foi certamente muito difícil.

Na subida da montanha passamos por um grupo de alunos geólogos acompanhados de um professor. No alto nosso ônibus fez uma pausa e nós aproveitamos para observar Tougene e fazer fotos! Tudo isto ficou na lembrança pela beleza desta paisagem berbere!!!

       Aqui o problema é sempre a água. Riadh nos diz que esta zona é de casas trogloditas,  feitas dentro da montanha. Com muita chuva e com estrutura fraca, muitos berberes abandonam estes locais, mas outros permanecem ainda.

       Estamos saindo com destino a Matmata, típica aldeia berbere, também famosa pelas suas tradicionais casas trogloditas, muitas delas ainda habitadas. A aldeia encontra-se a 40 km a sudoeste de Gabès. Matmata foi eleita para filmar parte de “Guerra nas estrelas”.
Continuando o trajeto, serpenteando a montanha, às 9h05 fizemos uma parada para visitar uma casa dos berberes, construída dentro da montanha. Ao chegarmos à casa troglodita vimos um poço de onde era retirada água e um forno cartaginês de 8 séculos antes de Cristo, onde era feito o pão. Uma porta azul indicava o banheiro que fica fora desta casa. Entramos no dormitório que tinha uma cama alta e a parede era pintada com cal também para a proteção contra os bichos. A temperatura nestas casas é fresca no verão.

Lá nós estávamos observando tudo, escutando o guia, fazendo fotos e as mulheres da casa trabalhando sempre.

Num certo momento nos ofereceram a comida deles: pão, mel, e outro preparado para o pão. Dizem que o melhor pão é feito na Tunísia e com isso concordo inteiramente. A roupa das mulheres é sempre um vestido longo e largo.

Aqui abaixo podemos ver os diversos cômodos da casa. Riadh nos fala da pintura das paredes e da cama mais no alto para a proteção.

       Abaixo as fotos nos mostram que as casas trogloditas são construídas de tal maneira que não se enxerga o interior a partir da porta de entrada. Saímos com a boa sensação de ter conhecido um lugar interessante desta cultura muito antiga, que apesar de em alguns lugares as casas trogloditas estarem já desocupadas,  aqui  tivemos a oportunidade de conhecê-las numa cultura que continua até nossos dias.

       Saindo deste local retomamos o ônibus onde quase sempre Riadh nos explicava algo pelo caminho. Desta vez apontando uma construção nos informa que aqui se guardam as tradições berberes, iniciativa de um professor que comprou esta casa e fez aqui este Museu. Pensei: que maravilha fazer aqui este trabalho cultural!!! Nossa excursão não teve tempo para visitá-lo, infelizmente, mas teria sido bom se o tivéssemos visitado pois museus assim são preparados para dar ao turista a visão cultural deste povo berbere. Continuando o trajeto,  passamos por casas semi trogloditas em Tamazeret, onde  estas são parcialmente  escavadas na rocha e depois se constrói mais uma parte na frente, conforme vemos na foto abaixo.
Estamos atravessando a montanha  sempre em ótimas estradas asfaltadas. O relógio marca 13h30.

       Chegamos a Douz, nome fenício que significa “colina verde” e que é um oásis do deserto do Saara, situado no sul da Tunísia, chamado o “Portão de Entrada do Deserto”. Interessante é saber que aqui o deserto se formou há 5000 anos. Antes era tudo verde, com lagos e rios nos explica Riadh. Aqui haveria a possibilidade de passeio com dromedário e era isto que tinha sido planejado.

       Ventava muito e por este motivo não foi possível realizar aqui este evento com os dromedários, mas fiz fotos! Aqui observei que a folha da tamareira é usada para muitas coisas e entre estas serve para construir limites nas propriedades e para se proteger do avanço da areia do deserto.
Deixo aqui algumas informações interessantes sobre Douz:
“Conhecida como “Porta do Saara”, Douz na Antiguidade foi o oásis mais importante da região e um ponto de passagem importante das caravanas transaarianas. Na cidade há um Museu etnográfico que mostra a vida tradicional dos povos do deserto. O período de maior animação da cidade é o do Festival internacional “du Saaara”, que desde 1970, usualmente em novembro ou dezembro, reúne tribos nómadas de todo o Norte de África e de alguns países do Médio Oriente. O evento folclórico desenrola-se como se fosse uma espécie de “Jogos Olímpicos do deserto”, com várias provas equestres e com camelos (corridas, combates, fantasias’, etc.). Uma das provas é uma maratona internacional de dromedários com 42 km de extensão. Inclui também espetáculos de música e dança tradicionais, leitura de poesia e corridas de cães de raça Saluki, alegadamente nativo do Norte de África”.
Há neste festival as carreiras de dromedários e estes apresentam entre suas características a que não afundam na areia! Além disso  podem ficar 2 semanas sem beber e nem comer.

Aqui inúmeras tamareiras verdes, espessas e exuberantes  embelezam este oásis.

        São 12h35 e estamos ainda nas estradas asfaltadas na montanha onde observamos o processo de desertificação, acontecendo em nossa  frente : a areia é soprada pelo vento primeiro da esquerda para a direita encima da estrada e depois o contrário. Aqui é comum tempestade de areia e agora estamos vendo a areia se acumulando na estrada. É por esta razão que se cobre não só a cabeça, mas o rosto também como fazem a tribo dos tuaregues, um povo nômade  do norte da África, praticantes da religião islâmica que chegou na região por volte do século XII.

        Admirei-me muito em conhecer aqui as pedras do deserto que são encontradas a um metro abaixo da camada de areia no deserto do Saara. Apresentam a forma de flor e se apresentam em diferentes tamanhos, desde as pequenas até as muito grandes, conforme vemos nas foto abaixo. Em quase todos os lugares podemos ver estas pedras.

       Estamos agora atravessando a Tunísia de Leste para oeste e às 16h45 nosso ônibus  fez uma parada no Lago Salgado, o Chott El Jerid, o maior lago de toda a África.

Os ventos sopravam muito fortes.

       Uma das características deste lago e que pode ser visualizada na foto é que em toda a extensão do lago, abaixo de 1 metro da superfície há água salgadíssima! E aqui reside o perigo de se atravessar  este lago!

       O Lago Salgado tem a incrível superfície de 5.800 Km2, é também chamado o “Lago das Palmas”, porque quando o seu nome é traduzido do árabe significa “rodeado de palmeiras”.  O lago permanece seco a maior parte do tempo; fica alagado quando chove e no verão se transforma numa paisagem branca de sal.

Faz 15 anos que uma empresa fez projeto para sacar o sal, que  serve de matéria prima para baterias de computador. Este sal não é comestível. Nós passamos por este lugar onde 50 caminhões de sal são exportados diariamente.

       Riadh nos informa que durante 1000 anos se o atravessava obrigatoriamente com  guia pois sempre foi perigoso. Conta-se na história que mil dromedários e pessoas simplesmente desapareceram nesta travessia. Mas Riadh nos coloca a par de uma travessia recente, que aconteceu durante a grande Guerra Mundial. Rommel, general de Hitler que tinha o apelido de “Raposa do Deserto”, passou por este Lago Salgado com todo os equipamentos de Guerra, esquivando-se de passar pela cidade de Mareth onde era esperado pelas Forças Aliadas escudados pela “Linha de defesa da Tunísia”. Como já foi digo, ao chegar à Alemanha o destino de Rommel mudou, pois participou de uma tentativa para matar Hitler. Devido à posição de Erwin Rommel como um herói nacional, Hitler preferiu eliminá-lo silenciosamente e, ao invés de uma execução, ofereceu a Rommel a opção de cometer suicídio. E foi pelo suicídio que Rommel desapareceu do cenário da Alemanha nazista. Isto para lembrar que a Segunda Guerra também aconteceu na Tunísia e o Lago Salgado foi também um horizonte onde se desenrolou este fato.
De volta ao ônibus fizemos a travessia do icônico Chott el Jerid, o imenso Lago Salgado, em uma longa e cuidadosa viagem com tração em 4 rodas, onde os condutores sabiam qual era o local mais adequado para seguir adiante.

Esta é a aparência do Lago Salgado quando não chove. Mas, depois da chuva cair, o lago se enche de água.

       A Argélia está muito perto deste Lago Salgado pois só fica a 150 km daqui, nos informa o guia . Atravessando o Lago Salgado de leste para oeste, chegamos finalmente ao nosso destino, a cidade de Tozeur e nos hospedamos no hotel Ras Ain Tozeur!

26 de fevereiro de 2023 – Domingo – Tozeur.

       A cidade de Tozeur, de origem berbere, é uma região povoada desde a Pré-história, que remonta pelo menos à cultura capsiana (10000–6000 a.C.) e que está situada no limite norte do Lago Salgado no deserto de Saara ao lado de um imenso palmeiral.
Riadh nos informa que aqui na turística Tozeur se alugam casas mobiliadas por 600 euros por pessoa. A vestimenta tradicional das mulheres é preto, azul ou branco. Paramos na prefeitura e depois fizemos um passeio pela Medina, a parte antiga da cidade. O que logo nos chama muito a atenção na primeira andança pela Medina é a forma artística com que lidam com os tijolinhos nas construções. Foi uma verdadeira surpresa perceber as bonitas decorações geométricas em todos os lugares onde se usam tijolos. Nesta Medina observamos também que devido ao grande calor do sol as ruas não são em linha reta mas serpenteiam, e por isso, em alguma parte sempre tem sombra e assim a temperatura fica mais amena. No verão o sol começa às 5 horas da manhã e vai até às 20h.

       No andar pela Medina passamos também por um grupo de alunos em frente à uma escola.

Esta muralha construída com os típicos tijolos de Tozeur, forma relevos com padrões geométricos muito interessantes.

 

       Sobre a produção de tâmaras especiais nesta região :

       A produção anual de tâmaras é de cerca de 35 000 toneladas. Aqui abaixo  podemos ver uma variedade de alta qualidade chamada “deglet nour”, uma das mais apreciadas, por vezes chamada de “rainha das tâmaras” e “sol em miniatura”. A Deglet Nour é a tâmara originária da Tunísia, cujas tamareiras crescem nos oásis tunisianos em condições climáticas ideais.

       Passeamos também por um espaço de feira onde o que sobressaía eram sempre as tâmaras, em grande quantidade.

Neste passeio por Tozeur, vimos também algo muito interessante: uma vassoura que era feita do que sobrava dos cachos de tâmaras, quando estas eram retiradas. E aqui nosso pequeno grupo fez uma foto para marcar a descoberta deste dado cultural.

E uma tamareira excessivamente alta me chamou atenção enquanto eu passeava pelos arredores da praça de Tozeur.

       Andamos pela feira e em seguida subimos a um bar onde tomamos café e descansamos conversando e olhando o movimento lá em baixo, durante um bom tempo. A média da temperatura neste dia era de 20 graus.

       Na cidade de Tozeur há três museus muito importantes:
1-Museu das crianças
2-Museu história da Tunísia
3-Museu Dar Cherai- O Museu de Artes e Tradições abriga uma coleção de arte que data do século XVII até o século XX.

      Infelizmente nós não visitamos nenhum deste três museus e considero este fato uma pena pois teria dado tempo.

       Porém, neste dia 26 de fevereiro às 13h20 começamos um dos passeios , posso dizer, inesquecíveis. Num veículo 4×4 partimos de Tozeur e percorrendo excelentes rodovias subimos as montanhas do Atlas e visitamos o Oásis de Chebika. O ônibus fez uma parada e os  excursionistas  que optaram por percorrer a pé a montanha, subiram. Alguns de nossos colegas preferiram não enfrentar a subida íngreme. De minha parte eu não queria perder esta oportunidade, mesmo sabendo que não seria fácil o trajeto. Fizemos este percurso em plena Cordilheira Atlas e no excelente vídeo abaixo, feito por Fernanda que nos acompanha pela Plazatur, podemos visualizar o quanto foi especial esta visita para conhecermos estas montanhas da Chebika.

Para assistir ao vídeo, clique nos controles.
Às vezes, depois de alguma caminhada pela montanha acima, eu descansava e não perdia a oportunidade de marcar o momento com uma foto. São momentos inesquecíveis onde se celebra a gratuidade da Vida!!

       O andar pelas montanhas Atlas é algo fantástico. Às vezes passamos por lugares agradáveis com a visão de diversos oásis dispersos onde sempre crescem tamareiras, e ás vezes passando por lugares difíceis de transpor!  O que se vê é sempre paisagens surpreendentes que nos emocionam muito e do nosso íntimo nascem sentimentos de gratidão por estarmos aqui. Incríveis cascatas jorram em diversos lugares da montanha, formando pequenos lagos, numa paisagem que jamais será esquecida, pois não se espera que da montanha árida e desnuda jorrasse tão abundante água cristalina!! Aqui vi e compreendi o que escutei por ocasião da viagem a Marrocos:  toda a água que abastece a zona litorânea marroquina vem das montanhas Atlas!! Mas escutar é uma coisa, mas ver o fenômeno é completamente outra.

 

       Subindo e descendo a montanha com tanta maravilha nesta paisagem eu só podia dizer: fantástico!!!
Chebika é um importante ponto turístico da Tunísia onde também foram gravados partes de diversos filmes, como “Star Wars”, “Nova esperança” e “O paciente inglês”.

       Tendo descido a montanha passamos por restaurante e casa onde também  se vendiam as pedras chamadas rosas do deserto e também roupas. Entrando no restaurante verifiquei que as colunas que sustentavam a construção  eram nada mais que troncos da tamareira ao natural. E assim recordei que cada cultura trabalha com os materiais que tem à sua disposição!

        Em Chebika não encontramos casas trogloditas  pois esta região foi abandonada após as inundações violentas e intermináveis do anos de  1969. Hoje os habitantes desta antiga vila berbere estão em acomodações mais modernas nas proximidades e o rio voltou ao seu curso original, nos informa Riadh.

       Às 14h20 partimos de Chebika mas sabíamos que nosso ônibus iria parar onde foram filmadas cenas do filme “Guerra nas estrelas”. Lá chegamos num cenário, posso dizer, lunar e logo tivemos a demonstração  da forma como estas populações do deserto assavam o pão: colocam a massa do pão encima das brasas e ao estar assado só sacodem as cinzas e se servem. Como aquele que saboreamos nas casas trogloditas em Matmata, este também estava muito gostoso. Aí fizemos muitas fotos e a última deste conjunto foi obra do nosso guia Riadh que ficou linda ao captar os últimos raios de sol neste vão que havia na pedra. Gostei demais desta foto!

       Foi muito interessante estar neste lugar onde foi filmado “Guerra nas estrelas”.

       Mas neste dia à noite , apesar de muito cansadas, ainda tínhamos um evento. Chegando em casa nos preparamos e saímos para participar, num lugar muito bonito e espaçoso de um jantar folclórico. Chegamos num local preparado para shows.

       Na parte externa assistimos a apresentação de show de cavalos e cavaleiros, e na parte interna, ao passar pelo local para irmos jantar, mulheres sentadas no chão, estavam demonstrando o “saber fazer” dos trabalhos de sua cultura como fiação, tecelagem etc. Adentramos depois ao restaurante onde um grupo de alguns músicos tocaram durante a janta!

       Na parte externa assistimos diversas apresentações culturais,  onde cavaleiros demonstram toda a sua destreza em mostrar seus saberes encima de uma cavalo.

Aqui desejo dizer que os pratos estavam interessantes mas a pimenta era tanta que nós não tivemos, infelizmente,  condições de saboreá-los!

No fim também dançamos com o grupo dos artistas locais, ao som da apresentação de alguns músicos que tocaram músicas de sua cultura com muito entusiasmo.

E assim com mais esta experiência, voltamos ao nosso hotel e descansamos mais uma noite em Tozeur.

27 de fevereiro de 2023 – Segunda-feira.

       Neste dia acordamos às 5h15 e às 7h30 estamos no ônibus. Deixando para trás a inesquecível Tozeur, chegaremos no fim do dia na cidade de Hammamet depois de passar pela de Kairouan e outras realidades e lugares dignos de serem conhecidos.

Através da janela do meu quarto contemplei as tamareiras em sua majestade e beleza pela última vez e por isso fiz esta foto da tamareira que amei ver de perto durante os dias que ficamos em Tozeur.

       Estamos rumando para Kairouan, também chamada a “cidade das cisternas”, uma obra fantástica construída nesta cidade que, acima de tudo, é considerada santa pelos muçulmanos. Em Kairouan visitaremos três locais: a Grande Mesquita, as Cisternas Aglabites e o Mausoléu do Barbeiro de Maomé.

       O nascer do sol nos brindava com paisagens iluminadas. Riadh primeiramente nos fala de uma das consequências da pandemia da Covid no turismo desta região: de 22 hotéis que havia entre Tozeur e Hammamet só restaram três deles, dando-nos uma ideia do grande problema com suas múltiplas consequências para as populações deste lugar.

       De outro lado, na paisagem que descortino ao passar por boas estradas, algo me surpreende e alegra: trata-se do aproveitamento da energia solar e aqui se investe muito neste tipo de energia. Mas ainda nos faltam algumas cidades importantes antes de chegar de volta a Tunis.

       Inicialmente passaremos pela cidade de Métlaoui, um município que faz parte da província de Gafsa cuja principal atividade é a mineração de fosfatos, descoberta essa feita nas suas redondezas em 1883. Este mineral se forma a partir de restos marítimos e é utilizado na fabricação de fertilizantes que são usados em terras pobres, nos detergentes, medicinas, explosivos etc. Em 1896 se abriram minas para industrializar o fosfato e a Tunísia foi o seu maior produtor até 1914.
São 8h25 e nós seguimos por uma rua asfaltada, serpenteando pelas  nossas já conhecidas Montanhas Atlas. Estamos chegando à Gabsa que é a cidade mais importante do oeste da Tunísia. Riadh nos dá algumas informações: aqui em Gabsa começou uma das civilizações mais antigas do mundo, os Capcianos que  usaram o fogo há 45.000 anos atrás e que na morte eram enterrados verticalmente. Aqui usavam a saliva do caracol também para mumificar mortos, pois era a proteção contra bactérias e insetos e hoje a usam para a maquiagem. A cidade é um ponto estratégico na Tunísia, pois apresenta a mesma distância entre o norte e o sul.

Nesta cidade de Gabsa vemos que muda a paisagem e o verde sobressai: oliveiras à nossa direita e também à esquerda ao longo da estrada onde também se veem, às vezes, plantações de eucaliptos por longas distâncias. As amendoeiras floridas estão sem folhas e na margem da rodovia continuam à venda galões de gasolina contrabandeada.
A cor verde bandeira sobressai numa grande plantação de alho e cebola à direita e à esquerda. Antigamente aqui se usava o alho para evitar gangrena e foi também muito usado na Primeira Grande Guerra de 1914, nos explica Riadh.
São 9h54 e estamos em Bir El Hfay na província de Zidi Bou Zidi, uma região agrícola onde o clima é quente e seco. Aqui planta-se trigo, cevada, cultivam-se  oliveiras e é desta região que vem 30% do azeite de oliva e 50% das amêndoas. Vejo uma grande plantação de pistache que é exportado. Também se produz um Azeite medicinal e estético, feito de figos da índia, que chega a custar 1000 dólares ao litro. Vejo nesta paisagem muita plantação de Cactos alguns muito altos que servem de muro para proteger o campo e também há o cultivo de seus frutos.

       Foi nesta região que começou um dos  importantes movimentos democráticos conhecido como “Primavera Árabe”, que se caracterizou  na luta pela democracia. Na crise econômica lutava-se por melhores condições de vida, como desemprego e falta de liberdade de expressão. Pergunta-se:  qual foi o estopim que possibilitou esse movimento de reação? Começou quando um jovem teve sua banca de frutas e legumes confiscada pela polícia e então ateou fogo em seu próprio corpo em protesto às condições de vida a que era submetido. Este evento foi só a gota d´água! A  população estava profundamente insatisfeita com os rumos político-sociais do país e clamava por democracia, exigindo o fim da ditadura de Zine El Abidine Ben Ali que se encontrava no poder há 23 anos. Podemos afirmar que, governos autoritários, truculência policial, desemprego e outras consequências da crise econômica de 2008, estão entre as principais causas da “Primavera Árabe”.
“Os protestos exigindo a realização de eleições diretas não duraram muito. O início aconteceu em dezembro de 2010 e o término ocorreu no mês seguinte, com a renúncia do ditador, que não ofereceu grande resistência. Essa rápida reviravolta no país, que passou a ser chamada de “Revolução dos Jasmins”, foi vista e admirada pela população dos países vizinhos que passavam pelas mesmas problemáticas dos tunisianos: governos ineficientes, ditatoriais e que não promoviam esforços para a melhoria das condições de vida do povo. Logo, a onda de protestos espalhou-se como um rápido vírus por todo o norte da África e em boa parte do Oriente Médio”.

       E aqui outro dado importante: as redes sociais desempenharam um papel considerável nos movimentos contra a ditadura nos países árabes. A propagação do movimento conhecido como “Primavera Árabe”, não teria sido a mesma sem os recursos proporcionados pela internet. A consciência deste fato nos colocou a par de mais esta realidade recente na política da Tunísia e do mundo árabe como um todo. É importante saber que em muitos países todo este movimento da “Primavera Árabe” foi sufocado. Hoje, a Tunísia é o país mais democrático de todos os países árabes.

       Nosso ônibus está a caminho e nosso destino é a célebre cidade de Kairouan, a primeira capital da Tunísia durante o Império Árabe em substituição a cidade de Cartago. Estamos na rua Nacional número 3 e, á nossa esquerda, no horizonte vejo novamente as Montanhas Atlas. Na paisagem próxima vemos casas em construção e Riadh nos explica que os tunisianos só constroem à medida que tem condições, ou seja, quando há dinheiro! Às vezes se leva de 4 a 5 anos para a construção da casa, pois ninguém compra um apartamento que custa 100.000 dólares e leva 25 anos para ser pago.

       À nossa esquerda há muita plantação de laranjeiras e também oliveiras espanholas e sobre estas há algo a dizer: na atualidade elas não duram mais do que 20 anos enquanto as antigas duram milhares de anos.
Depois de observar alunos que saiam de um colégio, passamos pela cidade de Jielma onde o forte é água mineral.

À esquerda vejo pessoas vendendo pimenta e também observo plantações de Romã e de Damasco! Aqui as amendoeiras estão floridas e as figueiras velhas  e retorcidas produzem olivas.

       Agora são 11h22.

Chegamos a Kairouan, uma cidade fundada em 680 d.C. numa zona quente, sem água, longe do mar e com muitos animais ferozes: leões, leopardos, cobras e escorpiões, um lugar ideal e estratégico para ninguém o invadir, nos garante Riadh.

       Esta cidade fundada pelos árabes por ocasião da conquista do Norte da África, foi escolhida como capital da Tunísia em substituição a Cartago que a partir desta data ficou abandonada, soterrada mesmo e caiu no esquecimento. Esta cidade está inscrita desde 13 de março de 1912, na lista de monumentos históricos classificados e protegidos na Tunísia e integra o “conjunto histórico de Kairouan”, o qual está classificado como Património Mundial pela UNESCO desde 1988.

“O seu rico património arquitetônicos inclui a Grande Mesquita, com belas portas talhadas em madeira e arabescos de estuque e as 400 colunas de mármore e pórfiro da sala de orações, com inscrições fenícias, romanas e árabes e a Mesquita das Três Portas, entre outras. A Almedina, com as suas muralhas imponentes e portas monumentais, abriga belas Mesquitas, um antigo poço e centenas de lojas onde as famosas carpetes de Kairouan, de lã pura, são tecidas e vendidas, para além do artesanato em cobre, latão e couro e dos trajes tradicionais, a jeba (jebba) e o burnus (burnous), com ou sem ricos ornamentos.  Visitamos o local onde se fabricam estes tapetes próprios desta região de Kairouan.

       No século X, a cidade foi embelezada pela dinastia dos Aglábidas, que governaram a partir dali o norte de África muçulmana entre 800 e 909. Apesar da transferência da capital política para Túnis no século XII, Kairouan continuou a desempenhar o papel de capital espiritual do Magrebe, com os seus treze séculos de cultura islâmica. Meca, Medina e Jerusalém e Kairouan, são as cidades mais importantes do islamismo. Aqui em Kairouan construíram a Grande Mesquita com o nome do fundador.

       Conhecemos a Mesquita em cujo pátio nosso incansável guia Riadh nos deu muitas explicações e também mostrou o local onde, neste pátio da Mesquita se recolhia e armazenava a água da chuva. Também visualizamos a belíssima sala de orações! Nas portas vemos esculpido na madeira as célebres flores de jasmim.

       Visitamos também as Cisternas Aglabitas , um sistema de tanques de armazenamento de água, construídos no século IX, compondo parte de extensa rede de hidrotécnicas a cerca de 36 km de distância. Um tanque tem 128 metros de diâmetro e 5 metros de profundidade, uma obra fantástica da engenharia hidráulica dos árabes. Fomos conhecer as “Cisternas Aglabitas” que no início eram em número de 15 e agora só restam algumas.

       A Cisterna maior comporta 164 milhões de litros de água, onde em a toda uma arquitetura foi usado cimento proveniente das cinzas vulcânicas. Colunas internas foram erguidas para que as ondas não derrubassem as paredes. Até hoje estas cisternas auxiliam no fornecimento de água. Valeu muito a pena conhecê-las.
Em seguida fomos almoçar no restaurante El Brija, belíssimo, cheio de arte, repleto de turistas. A comida estava bem preparada e bem apresentada em pratos feitos.

       Após o almoço fomos conhecer o Mausoléu do Barbeiro de Maomé, um amigo que ficou com Maomé 62 anos, desde criança, de 570 a 632. Depois da morte de Maomé,  ele foi até o norte da África e se juntou aos amigos. Neste complexo, além do Mausoléu do Barbeiro de Maomé e a Mesquita, há ainda uma escola e um albergue para acolher peregrinos. Foi no século XVI que foi construído este Mausoléu.

       Neste conjunto os magníficos quadros de mosaicos nos encantam, pois cada quadro é diferente onde os azulejos tem suas especificidades e motivos. Lá há também uma cúpula majestosa representando a Tamareira!
Retomamos o ônibus e finalmente às 17h43 chegamos à cidade de Hammamet, localizada a sudeste do “Cabo Bon”.
Nos hospedamos no hotel Royal Hammamet.

28 de fevereiro de 2023 – Terça-feira.

       Hammamet, situada na costa sul do Cabo Bon, é uma cidade que não tem oásis, mas sim tem muitas tamareiras. Esta cidade remonta à época dos fenícios, e é uma das pérolas da Tunísia, uma das estâncias balneares mais concorrida. Aqui chegam muitas pessoas de Túnis e também italianos para passarem as suas férias.
Apelidada de Saint Tropez da Tunísia, a antiga cidadezinha pesqueira tem praias de areia branca e é famosa pelo jasmim que cresce em toda a região – utilizado em larga escala na produção de artesanato.

       Aqui alguns dados históricos sobre esta cidade turística:
Se na  época púnica a região tornou-se rapidamente uma das partes mais férteis dos domínios agrícolas cartagineses, durante o período romano lá surge a primeira aglomeração urbana — Pupput — a qual conhece um desenvolvimento notável. Mas mudanças acontecem com a invasão dos árabes no século VII , e no século XVI com a invasão do Império Otomano:

“Em 678, com a conquista do Cabo Bon pelos muçulmanos, Pupput despovoa-se e cai em ruínas pois os Árabes, por razões estratégicas, preferem instalar uma nova cidade no que é hoje a Almedina, um pequeno cabo ao norte de Pupput. Em 1574, a cidade é conquistada pelo Império Otomano. Os jazízaros instalam-se na Kasbah e o número de Otomanos, de origem ou de adoção, cresce regularmente. A população local é relegada para segundo plano face aquela minoria privilegiada, mas este fenómeno não dura muito, pois os Otomanos sofrem influências dos autóctones e acabam por ser assimilados”.

       Continuando com as informações de Riadh:
“Hamman” quer dizer banho e o plural de banhos é Hammamet. Aqui cada família tinha o banho turco, pois tendo de 15 a 17 filhos, sairia muito caro levar toda a família para os banhos. Hammamet é, por excelência, a cidade dos “banhos turcos”, se bem que os banhos são anteriores à dominação dos turcos otomanos.

       Em Hammamet  chama atenção a grande fortificação militar, o Kasbah, construída para a proteção da cidade contra os espanhóis. Em 1632, os ataques foram permanentes e Riadh nos informa que, na oportunidade, 40.000 espanhóis morreram n a Guerra entre o Império Espanhol e o Império Otomano que dominava esta região.
No pouco tempo que estivemos nesta cidade, conhecemos alguns recantos dos muitos interessantes em Hammamet. Deixo aqui registros, pois apesar de conhecermos poucos dos lugares desta cidade, pois aqui ficamos pouco tempo, considero-os importantes:

A praça dos Mártires é o centro da cidade moderna e lá se ergue o monumento que recorda os Mártires da Independência. Desta praça partem os dois principais eixos urbanos: as avenidas Habib Bourguiba e a da República.

      

       A praça da Vitória, no centro, tem muitos edifícios públicos a seu redor. Nós visitamos esta praça e passamos em frente aos edifícios públicos em construções interessantes!

       Como fizemos em cada cidade, nesta também, passeamos pela Almedina e neste caminhar, visualizamos  o cemitério de fronte ao mar, onde vimos o túmulo do político italiano Benedetto (Bettino) Graxi, que nasceu em Milão em 1934 e de 1976 a 1993, foi secretário do Partido Socialista italiano. Foi Primeiro Ministro da Itália de 1983 a 1987.

       Craxi muda-se para a Tunísia em 1994 e morre em 2000 nesta a cidade de Hammamet.
Abaixo chama a atenção o túmulo deste político italiano.

       Depois da visita à Medina fomos ao restaurante Sidi Bou Hdid.

E aqui uma foto com Lígia , colega do Rio de Janeiro, em frente ao inesquecível mar Mediterrâneo.

          No belíssimo monumento perto do restaurante, as sereias ostentam nas mãos uma flor de jasmim e mais uma vez, o jasmim na arte chama minha atenção! O vento aqui estava muito forte quando fiz um self neste lindo monumento das sereias em Hammamet.

       Hammamet tem também num monumento este vaso cheio de laranjas em homenagem penso às muitas qualidades e à grande produção de laranjas na Tunísia. A três quilómetros do centro  da cidade encontra-se a antiga villa do milionário romeno George Sebastian, onde em todos os verões se realiza o Festival Internacional de Hammamet, de música e arte. Este palácio em 1943, durante a invasão na Segunda Guerra Mundial, foi requisitado por Rommel, o especial general de Hitler.

       Em Hammamet há o também o importante Museu das Religiões, que nós não tivemos a oportunidade e visitar.

Aqui a marina de Hammamet!

       À tarde fomos visitar a Nova Almedina, um conjunto de bonitas construções que na verdade é a recriação de uma Almedina árabe moderna. Valeu muito a pena conhecer este ambiente que não é a típica Medina mas é um ótimo lugar pra visitar. Lá há amplos espaços interessantes, bela arquitetura, lojas modernas e apresentação de locais muito criativos. Considero  imperdível em Hammamet conhecer esta Nova Almedina. Num clima de muita leveza no encontro com algumas comerciantes com suas lojas cujas poltronas e cadeiras  são cobertas com tapetes, onde tomamos chá com amendoim o que aqui muito comum , fizemos boas conversas e fizemos algumas fotos. Aqui abaixo deixo algumas fotos da Nova Medina.

   

Há sempre laranjas expostas e aqui vimos que costumam  acrescentar grãos amendoim ou similar ao chá.

Fiz esta foto com a dona da loja.

Este foi o último dia em Hammamet! Amanhã partiremos!!

01 de março de 2023 – Quarta-feira – HAMMAMET / BRASIL

       Café da manhã no hotel.
Ao nos dirigirmos para o aeroporto de Túnis aproveitamos para almoçar no restaurante La Victoire, na cidade de La Goulette, almoço este que foi uma cortesia da empresa turística em substituição ao jantar do show folclórico que por ser muito apimentado não tivemos condições de saborear. Num ambiente excelente a comida foi ótima e o atendimento muito bom também. Chegamos ao aeroporto e embarcamos com destino a Guarulhos em São Paulo, onde chegamos após ótima viagem e daí foi boa também a viagem até Florianópolis.
Finalizando este relato posso dizer, em poucas palavras, que valeu muito a pena nestes rápidos 11 dias, conhecer um pouco do muito que a Tunísia possui em história, arte, cultura etc. Deixo aqui  registrado o meu Graças à Vida!

Florianópolis, 17 de outubro  de 2023.

Anita Moser

9 Comentários

  • Anita Moser

    Ney, querido sobrinho, você me surpreendeu agradavelmente fazendo seu comentário sobre o relato da minha viagem à Tunísia. Sou muito grata! A excursão a este pequeno e ao mesmo tempo grande país da África do Norte me agradou demais! Se o país é pequeno em território é imenso em história. Quem não se lembra de Cartago? Recebi com gratidão e encanto o jasmim branco que você me ofereceu e que é a flor nacional da Tunísia. Para você Ney,um afetuoso abraço!

  • Nei

    Parabenizo pela riqueza das informações da história, da cultura e costumes, inclusive os detalhes que diferenciam este país em relação aos demais da região, ampliando nosso conhecimento e entendimento das diferenças que a história produz no desenvolvimento dos seres humanos.
    Um jasmim branco pra Você !

  • Camila Esmeraldino Daniel

    Querida Anita!

    Adorei conhecer um pouquinho sobre a história da Tunísia, e acompanhar as suas aveturas.

    Abraço da Nutri

    • Anita Moser

      Querida Camila, me sinto muito feliz por aquilo que escreveste em teu comentário,após teres lido o relato de viagem : teres conhecido um pouco da Tunísia e acompanhado minhas aventuras .Receba um abraço, também pela minha excelente nutricionista que és.

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