Conhecendo as Missões Jesuíticas do Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai
Viajar é alargar nossos horizontes!
Anita Moser
Na excursão, organizada pelo SESC, para os dias 4 a 10 de setembro de 2017, fui confrontada com um conhecimento que eu estava precisando adquirir, pois fazia muito tempo que sentia a necessidade de conhecer o assunto que diz respeito às Missões Jesuíticas.
Ouvindo os guias que orientaram esta rápida excursão de apenas 6 dias, bem como através das visitas às ruínas missionárias, abriu-se a possibilidade de aprofundar este importantíssimo conhecimento sobre fatos, ainda desconhecidos, mas importantíssimos, que fazem parte da história do Brasil e da América Latina. Ao voltar da excursão, fiz leituras na Internet, bem como conheci dois livros que comprei em Santo Ângelo, da autoria de dois estudiosos sobre o assunto:
Mario Simon -“Os sete povos das Missões- Experiência trágica”, editora Martins Livreiro.Ignácio Dalcim -“Fascínio e Mistério nas Ruinas das Missões”, editora Berthier.
Inicialmente me fiz a pergunta: em que contexto surgem as Missões Jesuíticas, tanto no Sul do Brasil, como na Argentina e no Paraguai?
O Contexto Internacional
No século XVI, um grande acontecimento atingiu a Europa, pois em 1517, houve a Reforma Protestante, quando populações e reinos inteiros se afastaram do poder absoluto da Igreja Católica. Neste contexto histórico, houve a fundação da Companhia de Jesus que desde o início se colocou inteiramente à disposição do Papa, sendo por ele encarregada da Contrarreforma da Igreja Católica.
Ao mesmo tempo, no despontar do Mundo Moderno e na era do Capitalismo Mercantilista, na Europa estavam em curso, grandes descobrimentos capitaneados pelas Monarquias Absolutistas e Católicas de Portugal e Espanha, onde trono e altar estavam unidos. Na recém descoberta América, a Europa começava as novas colonizações, não só à procura de ouro e prata mas também, no tráfico e comércio de uma preciosa mercadoria, escravos! E nesta expansão planetária e global dos séculos XVI e XVII, empreendida pelos reinos português e espanhol, os religiosos de modo geral, foram chamados a acompanhar regularmente as expedições marítimas de descoberta e implantação de colônias Ibéricas no mundo todo. As diferentes ordens religiosas tornaram-se os agentes qualificados da obrigatória Evangelização.
E neste caso, falando sobre as Missões Jesuíticas, nos vem outra pergunta: Como surgem os Jesuítas?
Aqui estão alguns traços biográficos do fundador dos Jesuítas, referente à sua trajetória física e espiritual.
Inácio de Loyola nasceu no Castelo de Loyola, em 1491, filho mais novo de um fidalgo basco, do norte da Espanha, numa família de 15 irmãos. Teve um trajeto de vida onde exerceu diversas atividades. O jovem Inácio era um homem de ótima saúde física, dedicando-se aos exercícios das armas, procurando honras militares.
Quando a cidade de Pamplona, que chegou a ser o Estado Cristão mais poderoso da Península Ibérica no século XI, era assediada pelos franceses, ele lutou como soldado e de lá saiu gravemente ferido. Passou meses no Castelo de seu pai. No período da recuperação, Inácio começa a ler a “Vita Christi”. Em 1522 pendurou seu equipamento militar perante uma imagem da Virgem, despiu-se de suas roupas vistosas, doou-as a um mendigo e passou a vestir-se com um tecido de saco. Entrou no mosteiro de Manresa, na Catalunha, e lá morou em um quarto, como hóspede. Assumindo uma vida de renúncia, teve diversas experiências espirituais e visões, que o confirmaram na fé, pois dizia ele :“se não houvesse Escritura que nos ensinasse estas verdades de fé, ele se determinaria a morrer por elas, só pelo que vira”.
Inácio também passou por diversas provações internas. Dentro desta vida dedicada às leituras de livros espirituais, de meditação, de oração e serviços comunitários e refletindo sua experiência espiritual, ele criou no ano de 1522, os “exercícios espirituais”, que na verdade, são uma metodologia de desenvolvimento espiritual. Assim empolgado com a ideia de uma vida dedicada a Deus, decidiu devotar a sua vida à conversão dos infiéis na Terra Santa. Era o tempo da Inquisição e durante suas atividades religiosas muitas vezes, em diferentes lugares, era chamado a prestar contas, sendo às vezes proibido de continuar seu apostolado. Sua trajetória foi de luta e de persistência. Após o domínio do latim, seu mestre o aconselhou a procurar a Universidade de Alcalá para prosseguir seus estudos. Lá permaneceu um ano e meio, onde além dos estudos, dedicou-se a pregar os exercícios espirituais. Aqui também foi perseguido pela Inquisição, ficando preso por um ano e meio e na prisão continuava a pregar e a ensinar.
Em 1528 entrou para a Universidade de Paris, onde ficou sete anos, aprofundando sua educação literária e teológica. Tentava sempre cativar o interesse dos outros estudantes para os seus exercícios espirituais. Em 1533, Inácio obtém a licença docente e, em 1534, tornou-se mestre em artes. Neste tempo ele tinha seis seguidores — Pedro Fabro, o único sacerdote do grupo, Francisco Xavier, Alfonso Salmeron, Diego Laynez e Nicolau Bobedilla, espanhóis, e Simão Rodrigues, português. A Companhia de Jesus foi fundada em 15 de agosto de 1534 por este grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Inácio de Loyola, em Montmartre, Paris, companhia esta que foi reconhecida pelo papa Paulo III, em 1540.
Considero interessante deixar, alguns dados sobre esse papa Paulo III e seus feitos, segundo leitura na Internet:
“Papa Paulo III, nascido Alessandro Farnese (1468-1549), foi Papa de 13 de outubro de 1534 até à data da sua morte. Recebeu educação de grandes mestres humanistas em Roma e Florença. Durante o pontificado de Alexandre VI e tendo grande tacto político e experiência, chegou muito novo a Cardeal . Eleito Papa em 12 de outubro de 1534, procurou reformar a Igreja. Em 1537, lançou a bula pontifícia Sublimis Deus, a favor da liberdade dos povos indígenas do Novo Mundo. Aprovou a criação da Companhia de Jesus de Inácio de Loyola, em 1540. Convocou o Concílio de Trento em 1545. Excomungou Henrique VIII de Inglaterra, mas não conseguiu travar a Reforma Protestante. Concedeu a Inquisição em Portugal a D. João III. Lançou as bases da Contra Reforma. Durante o seu pontificado, foi executada por Michelangelo a pintura Juízo Final . sobre o altar da Capela Sistina, obra realizada entre 1535 e 1541 e que havia sido encomendada pelo seu antecessor, Clemente VII. Da união entre o então ainda Cardeal Alexandre Farnésio (Alessandro Farnese) com Silvia Ruffini, uma mulher de origem nobre, nasceram quatro filhos: Constança (Costanza) (1500 – 1545); Pedro Luís (Pier Luigi) (1503 – 1547) que veio a ser o 1.º duque de Castro e 1.º duque de Parma; Paulo (Paolo) (1504 – 1513); Rainúncio (Ranuccio) (1509 – 1529)”.
Os Jesuítas
Os Jesuítas foram à Roma colocar-se à disposição do Sumo Pontífice e tiveram papel importante na Contrarreforma, indo em missões para diversas terras e catequizando a quem encontravam. Na época houve grande crescimento do protestantismo na Alemanha, Países Baixos, Áustria, Polônia e Santo Inácio enviou seus discípulos para estas regiões, com o objetivo de reconduzir as almas para a Igreja. O papel dos Jesuítas também foi essencial no Concílio de Trento, que foi convocado pelo papa Paulo III e durou entre 1545 e 1563. Teve este nome, pois foi realizado na cidade de Trento, região norte da Itália, por sinal, a terra de meus bisavôs. Os Jesuítas foram os responsáveis pela alfabetização do povo, como foi o caso aqui no Brasil. Seu fundador, Santo Inácio, foi venerado como santo ainda em vida, devido ao seu amor e cuidados com seus filhos espirituais. Tinha profunda vida de oração e passava muito tempo em recolhimento. Tinha repetidas visões a respeito de Deus e da Companhia de Jesus. Morreu em Roma, no dia 31 de julho de 1556. Sua canonização aconteceu no dia 12 de março de 1622, pelo Papa Gregório XV. A partir do século XVI, os Jesuítas estavam entre os mais respeitados intelectuais da cristandade e foi uma Congregação que se desenvolveu muito rapidamente, pois além de preparada teologicamente, estava atenta às ideias que revolucionaram o Mundo Moderno: a esfera científica, o novo método experimental nas Ciências naturais, além das novas descobertas no campo astronômico. Com esta preparação humana, os Jesuítas, que em seus quadros contavam com estudiosos em todos os campos do conhecimento, espalharam-se, desde o início da fundação de sua Companhia de Jesus, (1534) por todo o mundo, empreendendo as mais diferentes estratégias para expansão da cristandade. Levaram a religião fora do âmbito europeu e em 1541 chegaram em Goa, capital do Estado da Índia; ao Brasil também chegaram a partir de 1549 com a missão de evangelizar os índios. No Peru chegaram em 1567 e no México em 1572. Em 1580 os Jesuítas chegaram ao Japão. Em 1585 estavam no Paraguai provenientes do Peru, para contribuir na tarefa da pacificação dos indígenas, dando assim origem às Reduções Jesuíticas do Paraguai, iniciadas em 1588. A fundação efetiva da Província do Paraguai foi em 1607 e desta, estes missionários vieram ao Rio Grande do Sul e lá fundaram as Missões Jesuíticas no Brasil. Alguns célebres Jesuítas vieram diretamente de Portugal para o Brasil. E aqui lembro o nome de três Jesuítas entre muitos, que aportaram logo nos primórdios do descobrimento e que são conhecidos por todos os brasileiros: Manoel da Nóbrega, José Anchieta e Antônio Vieira, que trabalharam na catequese dos índios e fundaram colégios em todos os grandes centros do Brasil realizando notáveis trabalhos. Podemos afirmar que os Jesuítas permaneceram como mentores da educação brasileira, durante duzentos e dez anos até 1759, quando daqui foram expulsos.
Dados biográficos destes três Jesuítas:
Manoel da Nóbrega nasceu em Portugal em 1517. Estudou na Universidade de Salamanca, Espanha, entre 1534 e 1538, e bacharelou-se em direito canônico em 1539, em Coimbra. Em 1544, entrou para a Companhia de Jesus. Em 29 de março de 1549, chegou com Thomé de Souza, para fundação da Cidade do Salvador, junto com outros cinco Jesuítas e fundou a missão da Companhia de Jesus no Brasil. |
Construiu a Igreja da Ajuda, a primeira igreja dos Jesuítas no Brasil, que também foi a primeira Catedral. Fundou os colégios de Salvador, de Pernambuco, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Deixou muitos documentos escritos sobre as condições dos povos no Brasil, principalmente sobre os índios, sendo fonte importante para o estudo da História do Brasil.
José de Anchieta nasceu em 1534 em Tenerife, Ilhas Canárias (arquipélago Espanhol). Sua mãe era judia. Seu pai pertencia a uma família nobre e rica. Anchieta foi levado para Portugal aos 14 anos, para que tivesse formação intelectual e não sofresse as bem mais intensas perseguições do Tribunal do Santo Ofício, instalado em terras espanholas. Estudou filosofia no Colégio das Artes, pertencente à Universidade de Coimbra. |
Aos 17 anos ingressou na Companhia de Jesus, cuja principal missão era a difusão do cristianismo no então recém descoberto continente americano. Padre Anchieta veio para o Brasil acompanhando a esquadra que trouxe o governador-geral Duarte da Costa em 1553. Já no primeiro ano participou da fundação do primeiro colégio de São Paulo de Piratininga. Anchieta pregou e trabalhou muito no estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Faleceu em 9 de junho de 1597, na cidade de Reritiba, situada na capitania do Espírito Santo. Foi beatificado em 1980 pelo papa João Paulo II e canonizado pelo Papa Francisco, em 2014.
“Foi o primeiro dramaturgo, o primeiro gramático e o primeiro poeta nascido nas Ilhas Canárias. Foi o autor da primeira Gramática da Língua Tupi e um dos primeiros autores da literatura brasileira, para a qual compôs inúmeras peças teatrais e poemas de teor religioso e uma epopeia com o título: “Os feitos de Mem de Sá”. É o patrono da cadeira de número um da Academia Brasileira de Música. ”
Antônio Vieira (1608-1697) nasceu em Lisboa, filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. Seu pai era escrivão da Inquisição e foi nomeado para o cargo de escrivão em Salvador e só em 1614 sua família veio para o Brasil. Antônio Vieira tinha 6 anos na época. Estudou no colégio dos Jesuítas em Salvador, o único naquela época. Entrou para a Companhia de Jesus e, em 1626, ainda noviço, se destacou nos estudos de teologia, lógica, física, economia e matemática. |
Em 1627 começou a dar aulas de retórica em Olinda. Em 1633 começou suas pregações, visitando as aldeias indígenas, próximas da cidade. Os embates com os indígenas eram frequentes. Era preciso aculturar estas populações indígenas e integrá-las na cultura europeia. Escritor e orador, lutou contra a escravidão dos índios, numa época em que era normal ter escravos. Defendeu a liberdade religiosa, num tempo em que os suspeitos de heresia eram condenados pela inquisição. Antônio Vieira, por algum tempo esteve politicamente envolvido com a Inquisição, período no qual foi acusado até mesmo de traição por defender, além dos índios, os novos cristãos, principalmente os judeus. Ficou preso por dois anos (1665-1667). Dentro da congregação, ainda noviço foi indicado para redigir a carta com os relatos das atividades dos Jesuítas, enviada anualmente a seus superiores em Lisboa. Sua obra literária é imensa e para isso basta pesquisar na internet e ver esta vasta literatura.
Trago ainda o nome de Pierre Teilhard de Chardin, um outro jesuíta célebre, cujos estudos sempre admirei. Nasceu em Orcines, na França, em 1º de maio de 1881 e faleceu em Nova Iorque, aos 10 de abril de 1955, sendo teólogo, filósofo e paleontólogo francês, que é conhecido por construir uma visão integradora entre ciência e teologia.
Volto agora às Missões Jesuíticas na América espanhola, habitada então por inúmeras etnias indígenas, entre elas os índios guaranis que aqui viviam como nômades. Os Guaranis eram povos migrantes, originários da Amazônia que se expandindo na direção Sul, chegaram ao sul há cerca de 2 mil anos. Uma característica dos Guaranis é que sempre foram em busca da “Terra sem Mal que é antes de tudo a terra boa, fácil de ser cultivada, produtiva, suficiente e amena, tranquila e aprazível, onde os Guaranis podem viver em plenitude seu modo de ser autêntico”.
Na cultura Guarani, o trabalho e as decisões são comunitários; a economia é baseada na reciprocidade e inexiste o conceito de propriedade privada, apesar de haver áreas de cultivo individualizadas, estabelecidas pelo consenso do grupo. As atividades são culturalmente divididas entre homens e mulheres, sendo que as mulheres plantam e colhem e os homens caçam. No início das Missões, a primeira fase foi muito difícil, pelo fato do confronto das duas culturas tão diferentes, pois houve muita resistência dos guaranis à imposição da cultura européia e católica.
Os primeiros Jesuítas que trabalharam no Rio Grande do Sul, que, naquela época era terra espanhola, vieram, como já foi dito, da província espanhola do Paraguai e mesmo com alguma dificuldade, aqui nas missões os Jesuítas foram pouco a pouco sendo aceitos, pois a situação dos índios Guaranis, naquele tempo, era muito difícil. Isto não só pelas constantes guerras com tribos inimigas, mas também pelo fato de que eram objeto de escravização por parte dos europeus e dos bandeirantes que, não achando ouro, raptavam e escravizavam os índios.
Se os Jesuítas nas missões foram os primeiros catequistas, foram também os primeiros cientistas a produzir conhecimento sobre a região e sobre a língua dos índios. Seu trabalho envolveu inclusive a catalogação de fauna e flora, medições geográficas e astronômicas e a elaboração de mapas. Na América Espanhola, estas atividades foram executadas em grande volume como em nenhuma outra região de missão dos Jesuítas. Apesar de não haver uma formação específica para o ofício de cartógrafo ou um cargo de “geógrafo” na Ordem, os integrantes da Instituição tinham plenas condições para o desenvolvimento dessa atividade, com oportunidades de contato com ramos do conhecimento relacionados a esse ofício, em sua formação.
E aqui um dado sobre a defesa do ensino da matemática:
“O ensino da Matemática na Companhia tem como mais notório defensor o padre Cristóvão Clávio (1538-1612) que defendeu a sistematização desse tipo de conhecimento nos Colégios da Ordem, já no século XVI, época de definição da Ratio Studiorum, nome dado ao método pedagógico, aplicado nos colégios Jesuítas. Como ciência da esfera terrestre e de localização exata dos lugares e da representação da terra mediante mapas, a Geografia estava profundamente ligada a Matemática, como um ramo da Cosmografia, com presença possível na formação dos Jesuítas espalhados por todo o mundo”.
Os Dois Momentos Históricos das Missões Jesuíticas
Houve dois momentos da Organização das Missões aqui no Sul: na primeira fase que vai de 1609 a 1632, os Jesuítas da província do Paraguai, fundaram 18 Missões ou Reduções de Índios Guaranis, que foram atacadas e destruídas pelos bandeirantes paulistas. A escravização destes índios estava em curso, não só através dos bandeirantes que os vendiam no mercado paulista e carioca, mas também através dos europeus espanhóis e portugueses que aqui sequestraram mais de 200.000 índios, que foram levados para a Europa como escravos.
Nesta situação, mas também pelas condições adversas dos locais escolhidos, às vezes, próximas de tribos selvagens inimigas, pelo menos metade das reduções não logrou o pleno desenvolvimento e o esplendor que outras alcançaram. E neste contexto, nesta primeira fase, foram assassinados três missionários Jesuítas: o padre Roque Gonzáles que nasceu no Paraguai em 1576 e entrou na Companhia de Jesus em 1609, e teve como missão pacificar os índios guaicurus. Também foram assassinados o padre João de Castilho e o padre Afonso Rodrigues. Estes três missionários são hoje santos da Igreja Católica e foram canonizados pelo Papa João Paulo II, em 1988, no Paraguai.
O segundo ciclo das Missões inicia em 1682 com a fundação de São Borja e termina, após 86 anos, em 1768 com a expulsão dos Jesuítas. É no segundo ciclo que vamos encontrar os chamados “Sete Povos das Missões” que se desenvolveram e foram um sucesso , que pode ser verificado, também, pelas construções que deixaram e que hoje como ruínas podem ser visitadas.
A história registra tempos, em que as Missões receberam todo o apoio dos Reis, e no entanto, em outros tempos foram perseguidas por estes mesmos Reis.
“Na época em que Portugal e Espanha estavam governados por um mesmo Rei, a partir de 1607 houve uma série de decretos que protegiam as missões, dando-lhes total autonomia, desde que houvesse ali, um representante da Coroa. Ao mesmo tempo, se proibiu o acesso de mestiços e negros e se deram salvaguardas para os índios reduzidos, a fim de que não pudessem ser capturados pelos caçadores de escravos, os encomenderos. O resultado dessas novas medidas foi que grande número de indígenas buscou proteção dentro das Reduções, num período em que crescia aceleradamente a demanda por escravos e os ataques ilegais aos aldeamentos também se multiplicavam. Calcula-se que somente em 1630, tenham sido mortos ou aprisionados cerca de 30 mil nativos na região do Paraguai”.
Por esta razão é certo afirmar que não eram só os Jesuítas que procuravam reunir os índios, eram também os caciques dos índios Guaranis que procuravam os Jesuítas, para escapar do abuso da escravização de espanhóis e bandeirantes paulistas. Estas missões foram verdadeiras cidades construídas na selva, nos séculos XVII e XVIII. Reuniram mais de 100.000 Indios Guaranis, com hospitais, escolas, moradia, grandes plantações etc. Mais tarde estas Missões, orientadas pelos Jesuítas, dariam início à industrialização do ferro, produção de tecidos e criação de gado entre outras grandes realizações. Deixaram muitas heranças na música, artes, arquitetura e imprensa. Na arte, o barroco que serviu de sustentáculo à expansão da Cristandade, aqui também foi muito utilizado. Foi nesta segunda fase, sem o perigo do ataque de bandeirantes e dos escravocratas, que as missões foram realmente um sucesso!
A Guerra Guaranítica, a expulsão dos Jesuítas, a supressão da Companhia de Jesus
“A Guerra Guaranítica ou Guerra dos Sete Povos foi o conflito armado envolvendo as tribos Guarani das Missões Jesuíticas contra as tropas espanholas e portuguesas, como consequência do Tratado de Madrid que definiu uma linha de demarcação entre o território colonial espanhol e português na América”.
Uma das razões pelas quais as Missões Jesuíticas chegaram ao fim foi pois a aplicação do Tratado de Madrid (1750) através do qual as terras das Missões espanholas e seus habitantes índios, deveriam ser transferidas para a Colônia do Sacramento, colonizada por portugueses. Em troca a Colônia do Sacramento passaria para a Espanha. Houve resistência dos índios e foi isto que levou a esta Guerra Guaranítica em 1756, na qual morreram muitos indígenas e que marcou o começo do fim das Missões Jesuíticas. A história guarda a memória de um Cacique que lutou bravamente até o fim, contra Espanha e Portugal e o tratado de Madrid: trata-se do líder indígena Sepé Tiaraju, que tombou na Guerra Guaranítica, recebendo dos portugueses a flecha que o imobilizou e do espanhol o tiro de misericórdia que terminou com sua vida.
Em 3 de setembro de 1759, o Rei Dom José I, de Portugal, proclamou a “Lei de Extermínio, Proscrição expulsão dos seus Reinos e Domínios Ultramarinos dos Regulares da Companhia de Jesus”, que incluía o imediato confisco das suas casas e bens. Em 21 de julho de 1773, o Papa Clemente XIV, incitado por Carlos III, Rei da Espanha, suprimiu a Companhia de Jesus. No entanto, em países não católicos, principalmente na Prússia e na Rússia, onde predominava a autoridade dos Patriarcas Ortodoxos e a autoridade papal não era reconhecida, a ordem foi ignorada. A expulsão dos Jesuítas dos territórios portugueses ocorreu em 1759 e a dos espanhóis em 1767, acusados de controlar um “Estado dentro do Estado” e de insuflar os Guaranis contra o domínio português. Assim as Missões Jesuíticas ficaram abandonadas.
Importa, também dizer aqui que com a chegada dos conquistadores, iniciou-se o processo de transformação e extinção de povos, civilizações e culturas estabelecidas tradicionalmente em todo o Continente. A Restauração da Companhia de Jesus se deu em 1814, pelo Papa Pio VII, que era um monge beneditino e governou a Igreja durante 23 anos. Em 2014 os Jesuítas celebraram o bicentenário da Restauração da Companhia de Jesus.
As Ruínas Jesuíticas, Catalogadas
Atualmente, existem cerca de 30 ruínas catalogadas, sendo 15 na Argentina, 7 no Brasil e 8 no Paraguai. Entre as 30 ruínas catalogadas, sete são consideradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
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No atual Rio Grande do Sul, em 1706 fora fundada a última das sete reduções, a de Santo Ângelo Custódio, que veio unir-se às outras seis : São Nicolau, São Borja, São Lourenço, São João Batista, São Luiz Gonzaga e São Miguel.
Conceituando as Missões Jesuíticas
“Entre os anos de 1609 a 1818, nos territórios do Brasil, Argentina Paraguai e Uruguai, aconteceu um dos mais importantes episódios da história da humanidade: as Missões Jesuíticas, uma experiência social, cultural e religiosa única, no seu tipo, iniciada pela Companhia de Jesus. Uma organização que foi a admiração e o assombro para os que sonhavam com utopias, enquanto despertava suspeitas dos que desejavam o poder político. Enfraquecidas pela expulsão dos Jesuítas em 1767, destruídas pelas invasões portuguesas e paraguaias, ficou o extraordinário exemplo de uma experiência civilizadora inédita no mundo inteiro”.
Missões Jesuíticas que nossa excursão do SESC visitou:
No Brasil , São Miguel das Missões;
Na Argentina, San Ignácio Mini e Santa Ana;
No Paraguai, La Santíssima Trinidad de Paraná, San Cosme y Damian e Jesus de Tavarengue.
Relatório da Viagem às Missões Jesuíticas
4 a 10 de setembro de 2017
Segunda feira – dia 4 de setembro de 2017
Foi com prazer e expectativa que saímos da sede do SESC da Prainha, Florianópolis, SC em 4 de setembro, às 2h30 da manhã, após aguardar os passageiros que viriam de Camboriú. Iniciando a viagem, logo houve um imprevisto, e por este motivo, ficamos na sede da empresa em Forquilhas, mais duas horas e meia. Finalmente partimos. A lua cheia estava linda e a neblina cobria a paisagem! Neste trajeto, tomando café em Alfredo Wagner, passamos por Lages onde mais alguns turistas integraram nosso grupo, percorremos a BR 116 até Vacaria e depois de Vacaria viajamos pela BR 285.
A guia, que acompanha a excursão, se apresenta e inicia a viagem com a oração do Pai Nosso, logo acompanhada pelos excursionistas. Em sua fala inicial nos informa, que em Lajes há um monumento ao “Boi de Botas” e pergunta quem sabe o motivo desta alcunha. Cleci explica e acerta: durante a Guerra Farroupilha, em 1839, em pleno combate, os canhões e carroções puxados por bois, atolaram na lama e foram retirados pela comitiva lageana. Este é o motivo desse apelido do lageano! Bom saber!
A estrada vai descendo e às 10h20 passamos sobre a ponte do rio Pelotas, que faz divisa com o Rio Grande do Sul e em seguida, passamos pela cidade de Vacaria. Agora vamos subindo mais uns 10 km, neste dia que está deveras maravilhoso com o azul de um céu de brigadeiro! Viajamos até Lagoa Vermelha onde almoçamos no restaurante “Alto da Serra”. A estrada até aqui estava em ótimas condições e bem marcada. Vejo muitos pinus elliotis e também muitas lagoas, neste trecho do caminho. Perguntando pela razão do nome Lagoa Vermelha nos explicaram, que se deve ao fato de que, como a terra aqui é vermelha esta Lagoa ficou, por qualquer motivo, com esta mesma cor. Depois do almoço e de um pequeno descanso, quando os excursionistas conversavam entre si perto do ônibus aguardando as portas se abrirem, deixamos o local deste restaurante, às 13h30. A viagem estava muito boa e as estradas, ótimas! Aqui, além de muitas lagoas vejo muitos silos e me chamam a atenção as grandes estruturas para o retorno e possibilidade de seguir o caminho em diversas direções. A nossa excursão vai na direção da cidade de Passo Fundo.
A BR 285 nos leva até Carazinho, quando tomamos à direita. Vejo campos de ervilha em flor, pintando de amarelo a paisagem, enquanto os campos de trigo e outras plantações, cobrem de verde as coxilhas do Rio Grande do Sul. O pôr de sol que se anuncia, está simplesmente maravilhoso! Lindo de se contemplar e se perder na contemplação! Neste cenário, além das coxilhas verdejantes, há ainda a terra vermelha e preta, tão comum no sul do Brasil, a qual se repetirá depois, no Paraguai e na Argentina! Admirar essas paisagens se transforma num colírio para os olhos! É bonito demais!
Outra paisagem belíssima que se repete no Sul do Brasil, são os ipês amarelos! Tanto em Florianópolis, quanto nesta viagem, eles enfeitam a paisagem e alegram os que observam esta natureza primaveril de setembro em flor. Na observação desta paisagem há indicação de trabalho e pujança, ao vermos inúmeros silos para estocar os cereais destes campos gaúchos. Certamente aqui se planta trigo e soja! Como os campos estão verdes e os pés ainda estão pequenos, a pergunta que se faz, muitas vezes é: mas o que é esta plantação? Não é possível saber qual cereal está aí plantado.
Chamou-me atenção nestas planícies e coxilhas a perder de vista, as grandes rótulas, permitindo as manobras das enormes carretas e caminhões que por lá trafegam. A viagem continua e a linda paisagem se repete infindamente! É sempre a mesma planície, sem montanhas!
Às 18h45 chegamos em Santo Ângelo, após percorrer mais de 900 km em mais de 14 horas de viagem. Podemos dizer que, por incrível que pareça, estamos bem,neste ônibus tão confortável e neste ambiente humano tão agradável.
Adentramos ao hotel Maerkli, de propriedade do bisneto de suíços, que aqui chegaram na década de 40. O requinte e a beleza da arquitetura deste hotel me alegram. E não é para se admirar, pois, o hotel foi construído nos moldes de um hotel requintado da Suíça! |
Após receber as chaves do apartamento, sei que estou dividindo o quarto com a colega Sonia. Tomei banho e saí com minhas amigas Cleci e Antonina, para tomar uma sopa, num restaurante que fica nas redondezas, muito frequentado por turistas O preço individual pela sopa que estava muito boa, era de R$ 28,00. Voltando pelo mesmo caminho, sentei e conversei com pessoas que estavam vendendo comidas na rua, a partir de um trailer! Como estavam sem vender e sem serviço, deu para me sentar ao lado e fazer um gostoso bate papo com eles. Fomos dormir às 22h.
Terça-feira – 5 de setembro de 2017
Levantamos às 7h e tomamos um café, muito bem servido. Nossa guia é Stela Maris, que se apresenta e começa a nos introduzir na história das Missões Jesuíticas. Minha sensação de nada saber sobre este assunto, me deixa alerta para o que a guia vai falar, neste city tour na cidade de Santo Ângelo. Passamos pela rua Marquês do Herval, onde muitas árvores de Manacá estavam floridas e me encantaram, pois sou especialmente sensível ao perfume do Manacá e a visão dessa paisagem me alegrou demais. Amo a beleza e a delicadeza destas flores, especialmente o seu suave e especialíssimo perfume e posso dizer que nunca passo por uma árvore de Manacá, sem aspirar o perfume de suas pequenas e multicores flores. Desta vez, deixei este ritual, a cargo de minha imaginação.
A importante cidade de Santo Ângelo, tem uma população de 78.000 habitantes e muitas instituições educacionais. A guia relembra que o Sul do Brasil era espanhol e que,no Paraguai, havia uma província Jesuítica, sendo que de lá, os jesuítas vieram para fundar uma missão aqui no Brasil.
Em Santo Ângelo (Santo Anjo em português), estamos na última Redução Jesuítica, que foi fundada no início do século XVIII e foi uma das que mais prosperou, nos informa a guia. Trata-se da Missão de São Miguel Arcanjo.
As antigas Missões Jesuíticas após abandonadas ficaram mais de 100 anos perdidas entre as árvores e arbustos que lá nasceram e cresceram, mas que hoje foram recuperadas, continuam a ser conservadas e se transformaram em Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO.
Aqui abaixo está o que restou da Missão do Anjo Custódio.
Nem todas as Reduções deixaram ruínas, onde se pode reconhecer a organização espacial da época. Das sete antigas Reduções, foram três as Missões Jesuíticas que tiveram seus vestígios encobertos pelas cidades de Santo Ângelo, São Borja e São Luiz Gonzaga. Como exemplo, vemos aqui, na praça Pinheiro Machado nesta cidade de Santo Ângelo, as únicas pedras que sobraram da Missão Jesuítica.
Outras quatro, São João Batista, Lourenço Mártir, São Nicolau e San Miguel Arcanjo, apresentam remanescentes protegidos como Patrimônio Histórico e sua conservação exige o trabalho contínuo de diversos profissionais. Mas há algo maior a se levar em conta, nos dizem os guias, que é o Patrimônio Imaterial: o orgulho que se tem de pertencer a este povo missioneiro, e de seus 300 anos de história.
Depois de passar pela cidade com olhos de atenção plena, por fim desembarcamos do nosso ônibus, na praça Pinheiro Machado, no centro de Santo Ângelo! Em frente está a Catedral, que nos observa linda e majestosa! Chegamos finalmente na terra das Missões! |
O Emblemático Monumento da Experiência Missionária
O que nos chama a atenção em primeiro lugar, nesta praça Pinheiro Machado, é o monumento que lembra esta experiência das Missões Jesuíticas: são 30 colunas ou trinta arcos, cada qual identificado com nome e data, em homenagem à fundação de cada um dos trinta povos das Missões. |
Diante deste primeiro impacto, só nos restou nos sentirmos muito felizes por estarmos neste lugar, com a sensação de que a partir de hoje, iríamos vivenciar este histórico cenário das Missões. O desconhecimento de tudo nos motiva a olhar ao redor e a escutar o que nossos guias estão explicando.
Logo na chegada, nossa excursão fez algumas fotos individuais e coletivas.
Aqui a guia nos informa que em 2006, Santo Ângelo festejou os 300 anos da fundação da Redução mais próspera, no período áureo das Missões. Aqui houve a revitalização da memória das Missões de Santo Ângelo, cujos trabalhos levaram um ano e meio! Nesta oportunidade houveram muitos estudos para resgatar a história e a arqueologia desta Redução! Uma notícia interessante foi saber que, há aqui, a empresa “Caminho da Missão” que já existe há mais de 15 anos, programa caminhadas de 11, 12, 14 ou até 28 dias de peregrinação. Bom saber!
Quanto à sua arquitetura, esta Catedral apresenta uma mistura de estilos: estilo barroco missioneiro e um misto de barroco, renascentista e guarani. A guia explica: no local onde está erguida esta Catedral já tinham sido construídas duas outras igrejas. A primeira, em 1707, foi construída pelos índios Guaranis e pelos Jesuítas, na redução Jesuítica de Santo Ângelo Custódio (Santo Anjo da Guarda) A segunda igreja foi construída em 1888 já no tempo dos repovoadores, (imigrantes portugueses, alemães, italianos etc). Na fachada, em pedra grés ou arenito, colunas, arcos e lindas esculturas de Valentin Von Adamovich, homenageiam os padroeiros dos Sete Povos das Missões.
A Catedral Angelopolitana tem hoje espaço para acomodar 800 pessoas e dimensões que chegam a 50 metros de comprimento. Dedicada ao Anjo da Guarda, é semelhante ao templo construído na Redução de São Miguel, no século 18. |
Esta é uma das poucas igrejas a ter como padroeiro um anjo e não um santo! A ideia de construir a terceira igreja é de 1920, cuja pedra fundamental foi colocada em 1929 sendo que o fim das obras aconteceu em 1955.
Valentin Von Adamovich viveu parte de sua vida em Santo Ângelo, foi um imigrante austríaco, formado em Engenharia civil e Belas Artes. Veio para o Brasil atrás da obra de Pe. Antônio Sepp, que era seu conterrâneo. Na verdade, infelizmente, só encontrou os restos da cultura missioneira, iniciada por este sacerdote. |
Influenciado, Adamovich se apaixona pelas missões e sua história. Conforme informações pertencentes ao Museu Municipal Dr. Olavo Machado, Adamovich era filho de um governador de Tirol, região da Áustria. Quando veio para o Brasil se instalou em Cerro Largo e lá conheceu Dona Clarinda Lunkes, com quem criou sua família.
Também achei interessante e instrutivo deixar aqui outras informações sobre a história de vida deste artista Adamovich, este gênio das Missões. Trata-se do tempo da Segunda Guerra Mundial, quando a Violência do Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas, se insurgiu contra os que falam a língua de uma das nações do Eixo (italiano, alemão ou japonês). É claro que no momento da nacionalização do país, os guetos estrangeiros e o contexto da Guerra, representavam um ponto de alerta para os governantes. Mas, o que havia de perigoso, era a generalização que pesava sobre cidadãos de origem estrangeira, quando eram classificados como nazistas ou fascistas e assim passíveis de serem agredidos, desprezados e presos. E aqui se cometeram muitas torturas e injustiças, que foram relegadas ao esquecimento da História Oficial. Na condição de ser austríaco, o engenheiro e artista Adamovich, foi preso, torturado, ficou na prisão e sofreu nas mãos do Estado Novo, quando esta cultura de perseguição aos alemães, japoneses e italianos, se instalou em todo o Brasil e inclusive na terra das Missões. Após ficar meses na prisão, quando Adamovich voltou para casa, sua mulher não o reconheceu, tal era seu estado de desfiguração humana e premência física, pela desnutrição. E aqui podemos, afirmar: Tortura nunca mais!
Mas, mesmo com tanto sofrimento, passada a Segunda Guerra, ele continuou a fazer de sua arte uma forma de embelezar o ambiente Católico no Rio Grande do Sul. E parafraseando alguém, ele será sempre lembrado quando, ao se contemplar as estátuas que encimam a igreja de Santo Ângelo, alguém perguntar: mas quem foi que fez tão maravilhosas obras de arte?
Abro aqui um parêntesis para me referir ao fenômeno da Violência do Estado Novo da qual guardo lembranças da infância, em minha terra natal, Rodeio-SC e cuja questão foi objeto de uma pesquisa que realizei em 1990, aproveitando a licença sabática na UFSC, num trabalho intitulado: “A Violência do Estado Novo, contra os descendentes de italianos”. Pesquisei populações do Médio e Alto Vale do Rio Itajaí, sob a orientação do professor doutor e pesquisador da UFRGS, José Vicente Tavares. Na ocasião da perseguição não se podia falar italiano e as pessoas iam presas, caso falassem mesmo que fosse uma só palavra. Inclusive os velhos que não sabiam falar o português, eram submetidos a vexames aviltantes e eram também presos. Os policiais, cuja maioria vinha do nordeste do Brasil, às vezes, se escondiam debaixo das casas, para poder surpreender alguém falando italiano. Lembro que à noite, meus pais liam jornais e não se falava em casa. Claro que havia, como em toda a Guerra, os célebres delatores. Era tudo muito deprimente! A minha vida acadêmica me possibilitou entender este fenômeno, pois se fôssemos esperar pela história oral, silenciada entre os italianos que a viveram, esta se perderia. Eu queria conhecer, através de pesquisa, como foi que os italianos, sofreram a perseguição, por falarem sua língua materna. Ao Professor Pesquisador Dr. Vicente Tavares, deixo aqui minha gratidão, pois por esta pesquisa tirei do anonimato um fato que a história oficial não contemplava. Da parte dos italianos, ninguém gosta de relembrar, pelo sofrimento que causou a muitos inocentes. O silêncio sobre este sofrimento mostra o quanto ele foi doído, a ponto de aqueles que o sofreram, nunca mais quiseram falar sobre este fato. Como consequência desta perseguição a língua italiana foi silenciada e muitos pais não fizeram questão de ensiná-la a seus filhos. Aí está o fato de que muitos filhos, netos e bisnetos de imigrantes desconhecerem a língua materna. Mas a língua é viva! Em 1975 outro fato interessante aconteceu: a língua italiana foi reabilitada, quando uma tese de doutorado da Doutora Andrieta Lenard, enalteceu a bilingualidade dos imigrantes de origem italiana de minha terra natal, Rodeio. Este fato fez grande diferença: hoje a bilingualidade é enaltecida, o italiano é ensinado na escola e o dialeto é falado com muito orgulho por aqueles que são brasileiros, mas não podem esquecer, jamais, suas origens italianas. Aqui fecho o parêntesis. Este trabalho de pesquisa que realizei em 1990, ainda está esperando para ser publicado.
Voltando ao Valentim Adamovich, o grande artista que embelezou, com suas obras não só a igreja de Santo Ângelo, mas todo o Rio Grande do Sul, importa lembrar que ele também sofreu nas mãos da polícia do Estado Novo.
Por ocasião de sua morte, ele que tinha feito inúmeras obras artísticas para a igreja, não pode ser enterrado no cemitério católico, por questões das normas eclesiásticas. Em homenagem tardia a este grande artista, deixo aqui comovida, a inscrição de sua lápide! |
Mas nossa visita continua e nós entramos na Catedral, um lindo templo cuja arquitetura e decoração une o velho e o novo, pois foi construída nos moldes e por inspiração da primeira igreja da missão de San Angel Custódio.
Após a reforma, este templo possui a identificação de quem trabalhou e de quem colaborou para sua construção e beleza. Como janelas, vemos vitrais com desenhos e símbolos. Em cima do altar, os vitrais representam cada um dos padroeiros dos Sete Povos. Os vitrais em número de 86, foram criados para clarear o interior da igreja e levam o nome das famílias que os ofereceram. No seu interior, à esquerda, encontra-se também uma estátua de Cristo morto, esculpida pelos índios guaranis, na época da antiga Redução, datada de 1740. Pela igreja há também 12 lamparinas que nunca se apagam, representando os 12 apóstolos num simbolismo muito forte! À esquerda do altar mor, a escultura do Anjo da Guarda, do renomado artista de Treze Tilhas, Godofredo Thaler, que esculpiu esta lindíssima estátua em madeira, A delicada estátua do Anjo da Guarda protege três crianças: uma negra, outra índia e outra branca, simbolizando as três etnias que deram origem ao povo brasileiro – o negro, o índio e o branco.
À direita vemos o painel dos três mártires: Roque Gonzales, João de Castilho e Afonso Rodrigues, assassinados pelos índios, na primeira fase da instalação das Missões. O nome de Roque Gonzales é honrado em alguns lugares, bem como na ponte que liga o Paraguai à Argentina.
E falando em assassinato dos padres, como já foi dito aqui, a 1ª fase foi difícil pelo confronto das duas culturas: a Guarani e a Europeia. Na verdade, o plano dos índios era matar todos os padres, nos assegura a guia. Em 1934, o Papa Pio XI declarou a beatificação dos Três Mártires das Missões e no dia 16 de maio de 1988, o Papa João Paulo II, canonizou-os declarando-os Santos oficialmente.
Ao lado da igreja vemos as nove “janelas arqueológicas”, escavações cobertas de vidro anti-impacto, e mostram que a primeira igreja era mais larga e mais comprida do que a atual. Muito interessante este trabalho arqueológico. Aqui mais uma foto da recuperação do centro histórico, recuperação esta que durou mais de um ano. A estrutura do calçamento foi feita por meio de encaixes.
Em seguida nossa excursão se dirigiu ao Museu José Olavo Machado que, nesta oportunidade, apresentava também uma exposição temporária. Aqui tivemos boas informações da representante do Museu e praticamente começamos a ver e a entender um pouco, o que era a estrutura material de uma Missão Jesuítica. |
Pela primeira vez, vi uma maquete da redução de Santo Ângelo, com a Praça, a Igreja, a Casa dos padres, o Cabildo, a casa das oficinas, a escola dos índios, a casa das viúvas e das crianças e órfãos chamado Cotriguaçu e o cemitério. Todas as plantas arquitetônicas das Missões eram iguais, nos informa a guia. O que as diferenciava era o estilo que o arquiteto usava na sua confecção. Ás vezes usava arcos romanos, outras vezes estilo mourisco, ás vezes colunas coríntias etc.
O crescimento da Missão se dava pela expansão da agricultura. Exportava-se a erva mate, o couro e o sebo. Aqui não existia nem ouro, nem prata e nem moeda, pois tudo era feito através no escambo. Uma vez por ano, as missões precisavam prestar contas, tanto ao Geral da Congregação Jesuítica, quanto s coroas de Portugal e Espanha. De outro lado, os padres não eram só sacerdotes. Eram também músicos, arquitetos, agrônomos, médicos, artistas, farmacêuticos e geólogos etc. Em cada Missão havia somente dois padres. Eram ajudados na administração da Missão pelos índios cabrilantes (Cabildo-administração) em geral formado pelos caciques. Só os meninos eram alfabetizados e as meninas não, nos informa a guia!
Nos foi mostrada a planta de uma Missão: Agora, aqui nós tivemos, uma ideia clara do que seria uma Missão Jesuítica. |
Gostei de ouvir, detalhadamente, a explicação da guia sobre o funcionamento destes empreendimentos Jesuíticos. Era a primeira vez que ouvia algo sobre a constituição física de uma Missão. Ainda apontando a parede, onde uma parte mostra a antiga construção, a guia nos explicou sobre a existência de dois tipos de pedras que foram usadas nas Missões: uma de arenito rosa e outra, a pedra cupim, (pedra ferro) também chamada Itacuru pelos índios. Desta pedra extraíram o ferro na redução de São João Batista. Um personagem importante neste processo de extrair ferro foi o padre Sepp, o jesuíta, que veio de Innsbruk, na Áustria.
Aqui uma homenagem do artista Valentim Adamovich ao padre Sepp, na redução de São João Batista. |
Este padre austríaco, geólogo e minerador, de origem nobre, pode ser conhecido em alguns momentos de sua trajetória. Nasce no Tirol em 1655 — e falece em San Jose, Missiones, 1733. De origem nobre e com 19 anos, ingressa na Companhia de Jesus. Em 1691 está no Paraguai e no ano de 1697, transferiu-se para a redução de São Miguel, no Brasil, onde recebeu o encargo de organizar a redução de São João Batista, um dos Sete Povos das Missões, fundada por ele, neste mesmo ano, sendo o autor do traçado do aldeamento e dos edifícios, incluindo a igreja, decorada com requintes de luxo, inspirados em modelos europeus. Era um intelectual multi talentoso, revelando-se hábil arquiteto, escultor, urbanista e pintor e conduzindo com maestria a fabricação, pelos indígenas reunidos nas reduções, de inúmeros instrumentos musicais, arte esta muito apreciada pelos guaranis.
Ao Padre Sepp, geólogo e minerador é atribuído o mérito de ter extraído o primeiro ferro das Missões e criado a primeira fundição de ferro da América Latina. Aqui fundiam instrumentos variados e até os sinos da igreja do seu povo. A obra obra-prima do padre Sepp foi o relógio instalado no campanário da igreja que, ao dar as horas, fazia desfilar pelo mostrador, os 12 Apóstolos.
A guia nos fala sobre uma grande riqueza nas missões que era cultivo da erva mate. A erva mate veio do Paraguai para substituir uma bebida alcoólica e histórica, usada nos rituais dos índios, chamada Cauim. Esta bebida alcoólica tradicional dos povos indígenas do Brasil, era usada desde tempos pré-colombianos. Ainda hoje esta bebida é feita e usada em reservas indígenas da América do Sul. “O cauim é feito através da fermentação da mandioca ou do milho, às vezes misturados com sucos de fruta. Uma característica interessante dessa bebida é que a matéria-prima é cozinhada, mastigada e recozida para a fermentação, de forma que enzimas presentes na saliva humana possam quebrar o amido em açúcares fermentáveis (este princípio também era originalmente usado no Japão para se fazer saquê)”.
Ao sair tivemos um tempo livre para fazer algumas fotos, como esta, onde se vê, aos fundos, a Catedral e onde estou olhando para o interior da primeira sala de exposições temporárias do Museu.
A guia nos mostra o prédio da Prefeitura que está nas redondezas da praça, de estilo eclético, com forte influência no neoclássico. Foi inaugurado em 1929 e tombado como Patrimônio Histórico-Cultural do município, em 2006. Em seu interior, encontram-se expostas as telas que compõem o acervo artístico Tupambaé, do artista plástico Tadeu Martins.
Abaixo vemos o Monumento ao Índio Sepé Tiaraju.
A obra compreende três imagens esculpidas em pedra grés (arenito), representando a Família Guarani, de autoria do escultor Olindo Donadel. |
A frase “Esta Terra Tem Dono” escrita no monumento, é atribuída ao índio Sepé Tiarajú, durante a luta em defesa das reduções missioneiras. Saímos de Santo Ângelo, satisfeitos com o nosso primeiro encontro com a terra das Missões.
Às 11h45 a guia nos levou para o restaurante “Almanara“, um bem organizado restaurante repleto de turistas. A comida estava ótima e a atenção também e no fim do almoço todos aprovaram o ambiente descontraído e festivo. Aqui uma nota: neste almoço caiu o pivô de meu dente da frente. Além de me dar muito trabalho durante toda a excursão, atrapalhou demais o meu sorriso e minha gargalhada costumeira. Paciência!
Mas, temos que seguir, pois um programa extenso nos aguarda esta tarde. Saímos do restaurante “Almanara” às 14h em direção a São Miguel da Missões, onde à noite, nestas mesmas ruínas, teremos um show de luz, som e história.
No início da viagem fomos surpreendidos pela mudança do tempo! Começou a chover copiosamente. Ficamos preocupados! Mas confiantes também! A viagem continua.
Neste trajeto para São Miguel das Missões passamos pelo memorial da Coluna Pestes, mas não pudemos entrar. O Museu localiza-se, desde 1996, no prédio da antiga estação ferroviária do município. |
Num dos trevos de acesso ao município encontra-se a obra do renomado arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer que faz referência ao levante revolucionário comandado por Luís Carlos Prestes, conhecido como Coluna Prestes. |
Luís Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre em 3 de janeiro de 1898. Formou-se engenheiro militar pela atual Academia Militar das Agulhas Negras, no ano de 1919. Durante a década de 20, Prestes liderou o movimento chamado Tenentismo, que ganhou força entre alguns segmentos militares, pois tinha como objetivo, derrubar a oligarquia Café com Leite, da Presidência da República. Esta oligarquia caracterizava-se pelo revezamento de candidatos paulistas e mineiros na Presidência do Brasil, eleições fraudulentas e outras arbitrariedades. A marcha da Coluna percorreu mais de 25.000 km Brasil adentro, denunciando o modelo coronelista, corrupto e injusto do governo da “República do Café com Leite”. Foi também da Estação Férrea que em 1930 partiram as forças revolucionárias, que levaram Getúlio Vargas à Presidência da República.
E a excursão do SESC reinicia a viagem, percorrendo a bem cuidada RS-536 e, 16 km antes da sede do Município, avistamos o portal de São Miguel das Missões.
Às 16 horas nosso ônibus fez uma parada e nós saímos, respirando o ar puro neste local muito amplo, rodeado das verdes coxilhas gaúchas a perder de vista. Foi bom fazer esta pausa aqui e observar o portal, um trabalho não só simbólico, mas muito artístico. A guia explica: foi em 1687, que vieram padres espanhóis e escolheram terrenos planos, boa água, para instalar a redução de São Miguel Arcanjo. Este portal é uma homenagem ao povo guarani, aos Jesuítas e a todos que participaram do processo de colonização de formação de uma cultura nobre e única, que é a cultura missioneira. O pórtico possui esculturas que representam São Miguel Arcanjo, o Pe. Jesuíta e o Cacique Sepé Tiarajú. A frase dita por Sepé Tiarajú, na Guerra Guaranítica, está escrita em Guarani – e gravada no frontispício do pórtico, CO YVY OGUERECO YARA – Esta terra tem dono!
Hoje no município há muita lavoura e as culturas de inverno são trigo, aveia, azevém e as de verão, soja, milho, ervilha, canola e girassol. Gado de corte e de leite nas pequenas propriedades e nas grandes propriedades, gado de corte. Os monumentos impressionam, não só por aquilo que expõem e nos chamam a atenção, mas também pela impecável arte com que são apresentados e pela força e energia que transmitem.
Como por encanto, a chuva cessou! Graças a Deus já não chove mais e o céu está azul com algumas nuvens, como podemos ver nas fotos aqui postadas onde observamos a beleza do portal e também a o verde das lindas coxilhas a perder de vista!
Antes de continuar a viagem, fizemos esta foto. |
Chegamos ao nosso destino, estamos às portas das célebres Ruínas de São Miguel Arcanjo.
De inspiração barroca, a igreja de São Miguel Arcanjo foi construída pelo arquiteto italiano Gian Batista Primoli a partir de 1735 e levou 10 anos para ser construída: de 1735-1745. |
As pedreiras, de onde se buscavam as pedras grés, ficam a 15 km de distância. Após a expulsão dos Jesuítas, tudo isto ficou abandonado!
Em 1921 e 1922 os viajantes encontravam a igreja tomada por árvores que abraçavam as construções e sobressaiam na paisagem, escondendo o que tinha sido construído nas Missões. |
Ainda hoje pode ser observado parte deste fenômeno quando muitas pedras da antiga construção são interligadas por raízes que as abraçam a todas, num intrincado indissolúvel, como podemos observar na foto. Esta foi a primeira grande obra de limpeza e restauração realizada pelo IPHAN, tornando-se referência para a conservação de outros monumentos históricos. Em 1983 este complexo das ruínas de São Miguel foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Aqui, em São Miguel das Missões, os visitantes são recebidos com muita simpatia, de terça-feira a domingo.
Entramos no sítio.
Os guias nos mostram cada parte da estrutura desta redução. Mostra-nos, também, o lugar onde se faziam telhas e tijolos, tudo com a técnica de adobe (sem fogo). Junto da Igreja vimos os diversos outros componentes desta redução missionária que abrigou índios e jesuítas. Aqui há também a pedra cupim, ou a chamada pedra ferro. As paredes da igreja eram duplas e o forro era de madeira.
Chamou-me a atenção uma professora explicando a história das missões para uma turma de crianças pequenas, que, atentas, escutavam as palavras desta pessoa tão importante, sua professora. Senti, ao observá-las, que estavam muito ávidas por poder conhecer e saber esta história! Gostei de ver!
À medida que íamos visitando as ruínas e identificando cada recanto com sua especificidade, uma emoção de felicidade antecipava que, aqui, hoje, à noite, poderíamos não só ver as ruínas iluminadas, mas também, assistir o espetacular “Show Som e Luz”, que nos traz, nas vozes de nossos grandes artistas brasileiros, a história e a tragédia das Missões.
Na saída do espaço das ruínas, vemos dois monumentos: o primeiro é o Museu e, ao seu lado, a Cruz Missioneira de dois braços horizontais, uma autêntica relíquia das Missões. |
O Museu é um avarandado, que em 1938 foi construído pelo arquiteto Lucio Costa, o mesmo arquiteto que projetou Brasília.
Este museu que imita a casa dos índios e, ao mesmo tempo, os avarandados da tradição espanhola e inspirou a criação de outros museus regionais. O Museu abriga 120 peças da estatutária Barroca missioneira, feitas pelos índios Guaranis e coletadas nos 7 povos das missões. Os índios tinham sempre um mestre que lhes ensinava. Muitas vezes, os artistas índios imprimiam sua fisionomia nas imagens que esculpiam na madeira
Aqui em São Miguel está a única cruz de dois braços feita de um único bloco de pedra grés. A origem desta cruz tem diversas versões. Uma versão é que vem da cidade de Caravaca na Espanha. Mas há outras explicações sobre a possível sua origem.
Aqui vemos o artesanato indígena, à venda.
São os descendentes dos guaranis, tanto nos sítios das Missões, mas também em Florianópolis! Causa tristeza ver o abandono a que estão sujeitos. |
Parece que sua maravilhosa cestaria deveria ter, da parte da municipalidade, a importância e o valor, que merece. Para aqueles que herdaram de seus ancestrais esta arte e ainda hoje a cultivam, certamente mereceria ser mais valorizada. Acho deprimente a situação destes indígenas que são quase invisíveis. Não seria importante a valorização desse trabalho indígena?
A guia nos fala que em 1989 foram dadas terras para os guaranis do Rio Grande do Sul.
Após breve intervalo e muitas fotos, fomos visitar uma loja de lembranças que comercializavam, também, artesanato indígena.
Ao nos dirigirmos a este local, me chamam a atenção, árvores com raízes imensas expostas, e que cresceram fora da terra. Este volume de raízes é de um tamanho nunca visto. |
Em São Miguel Arcanjo há um este acontecimento diário, sui generis: o espetáculo “Som e Luz” uma maravilhosa celebração missioneira. Á noite, iremos assistir o esperado espetáculo Show de Som e Luz.
Às 20 horas da noite, sob o céu estrelado, num tempo muito frio e numa profunda escuridão, assistimos a este espetáculo, cujo texto de 1978 nunca foi modificado. Hoje se apresenta em espanhol e inglês. O texto em português, está no fim deste relato e vale muito a pena conhecê-lo tal é a beleza e verdade que apresenta.
Após receber dos guias o tíquete de entrada, fomos nos sentar nas bancadas preparadas para isso. Naquele silencioso descampado, fui tomada de muita emoção durante os 48 minutos em que voltamos ao tempo das Missões. Ouvindo a história de uma experiência onde a cultura européia em questão, com sua religião, ciência e arte se uniram à experiência da vida dos índios guaranis! Foi uma experiência de relações cooperativas, a partir da construção de cidades em pleno campo, onde alta performance da produção rural, conviviam com arte, ciência, religião, teatro, música e alfabetização dos guaranis. Durante estes 41 anos, a partir de 1978, as vozes dos artistas Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Juca de Oliveira, Rolando Boldrin, Armando Bógus, Paulo Gracindo não deixam morrer a memória de tão grande feito em terras do Rio Grande do Sul. Aos sons da música e as mensagens nas vozes dos artistas se unem, na noite estrelada, o espetáculo das luzes que iluminam as ruínas centenárias.
Saímos da Missão São Miguel com a consciência de termos vivenciado momentos muito significativos que não esqueceremos, certamente! Assim, com o coração feliz, nesta noite muito fria em que não choveu, nos despedimos de São Miguel das Missões!
Retornamos ao simpático hotel Merkli, em Santo Ângelo!
Dia 6 de setembro de 2017 – quarta feira
O programa do SESC, para o dia de hoje prevê saída para a Argentina, fazendo a travessia por balsa sobre o Rio Uruguai em Porto Xavier, prosseguindo em direção a San Ignacio Mini que visitaremos à tarde. Após, saída para o Paraguai, fazendo a travessia pela Ponte Internacional de Roque Gonzáles de Santa Cruz, com parada na cidade de Encarnación.
Levantamos muito cedo e no café, tive a oportunidade de falar com o gerente que estava à uma mesa, na entrada do refeitório e que me forneceu , durante a agradável conversa, algumas informações e entre estas falou que o hotel Mierkli faz parte da rede “Versare”, que congrega 15 hotéis, cada um com nome diferente. O construtor do Mierkli era suíço e construiu o hotel na década de 40, nos moldes da Suíça. Hoje, o hotel é administrado por seu bisneto. Agradecendo o papo, eu elogiei esse maravilhoso hotel!
Agora, às 7h30 a excursão está partindo para mais um dia de descobertas na Argentina e no Paraguai.
Na Avenida Brasil os ipês floridos embelezam esta rua que passa em frente ao hotel. Nossa guia Maristela, com mestrado em arqueologia, nos dá as primeiras informações sobre a diferença de exigência na formação de guias turísticos nos diversos países. Na Argentina, os guias têm nível superior, enquanto no Brasil, a formação é técnica, com 700 horas de curso. Nos informa também, que o Paraguai tem duas línguas oficiais: o espanhol e o Guarani.
Hoje nosso caminho é deveras longo pois vai até Encarnación, no Paraguai. Mas a atenção é plena, não só para ver a paisagem, mas também para escutar a guia, que reconta toda a história das Missões. A guia nos lembra que os Jesuítas fizeram um acordo com a coroa portuguesa e espanhola, possibilitando se fundirem aqui as duas culturas: a Europeia e a Guarani.
São 8h27 e estamos em Cerro Largo percorrendo a BR 392, onde se vê muitas plantações. É uma emoção observar a linda paisagem verde, muito trigo e soja no ondulado das coxilhas do Sul. Às 9h17 chegamos em Porto Xavier na fronteira com a Argentina.
Á minha frente vejo o exuberante e caudaloso rio Uruguai.
Aqui esperamos os trâmites burocráticos da alfândega do Brasil e, nessa espera, fizemos algumas fotos com a turma da excursão antes de tomar a balsa. | |
A travessia de balsa pelo rio Uruguai é algo diferente e por isso, emocionante, também. |
Chegando à outra margem, estamos em Porto Xavier na Argentina, e neste lugar permanecemos uma hora na Alfândega, de lá saindo, às 11h e agora estamos na província de Missiones. Vamos seguir viagem. No caminho que estamos percorrendo, olho a paisagem, onde vejo azaleias muito lindas! Chamam-me a atenção as casas dos pobres, onde não vejo telhas, mas folhas de amianto ou de alumínio como cobertura! Não é uma paisagem que me agrada! Nesta região pobre vejo muitas serrarias, erva mate e plantações de chá! A guia nos antecipa um conhecimento sobre a futura e derradeira Guerra Guaranítica que dividiu a história das Missões Jesuíticas, decretando, junto com a expulsão dos Jesuítas, o fim das Missões.
A história da Guerra Guaranítica começa em 1680, quando Portugal construiu um forte em terras da Espanha, atual Uruguai. Pelo tratado de Tordesilhas, no atual Uruguai, a Colônia do Sacramento, pertenceria à Espanha. |
No entanto, Portugal lá estava com seu forte. Pelo tratado de Madrid, esta Colônia do Sacramento passaria para a Espanha em 1750 e, em troca Portugal ganharia os Sete Povos das Missões. |
A resistência dos Guaranis a esta troca, provocou a Guerra Guaranítica, marcando o fim das Missões Jesuíticas. Nessa guerra morreram 1500 índios e mais o grande cacique Tiaraju, líder guarani, cuja sua célebre frase é sempre lembrada: “Estas terras tem dono”! Mais tarde foi assinado o tratado de Santo Ildefonso, que desfaz o tratado de Madri. Mas, pouco tempo depois, outro fato, mais determinante para as Missões aconteceu: em 1767, o Rei da Espanha, Carlos III, vai ao Papa e o convence que os Jesuítas não correspondem mais ao esperado. O Papa suspende a Ordem e os Jesuítas são expulsos de toda a parte onde o pontífice tinha jurisdição.
A guia também nos diz que nesta região que estamos atravessando, houve muito atrito com o Paraguai de Solano Lopes. E mais, que os índios eram vistos como bichos de estimação em Montevidéu e que na Europa, o índio era preso numa gaiola e exposto à visitação pública. A guia fala sobre a revolução Farroupilha (1835-1845) que durou 10 anos e que, quem nela lutou, foram os escravos. Fala também do Genocídio paraguaio quando o Paraguai era uma potência. Nessa guerra restaram só mulheres e crianças, muito poucos homens. Nesta situação foi permitido que cada homem pudesse casar com 14 mulheres. Passamos pela cidade de Leandro Além, que fica também na província de Misiones. Agora são 11h49 e nesta paisagem vejo muitas plantações de chá, de Pinus Elliotis e algumas madeireiras. Às 12h30, chegamos na zona das Missões Jesuíticas.
Na Argentina, os sítios arqueológicos Santa Maria La Mayor, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto e San Ignacio Mini, foram declarados Patrimônio da Humanidade em 1984, pela UNESCO.
Das Missões jesuíticas na Argentina, visitamos San Ignacio Mini e Santa Ana.
Ao adentrar às ruínas de San Inazio Mini, percebemos que estávamos num grande sítio missioneiro, e como nos informaram, este sítio é o maior desta região.
Logo na entrada visitamos o Museu, que com mapas, materiais e quadros explicativos e fotos históricas, mostra o estado em que as ruínas foram encontradas e o processo de recuperação das mesmas. O que aconteceu de importante na década de 40, é que o governo argentino promoveu a completa limpeza das ruínas das reduções, permitindo a visão global de seu traçado.
Entramos no ambiente da Missão a mais bem restaurada e conservada de todas! Aqui o que nos chama a atenção é sua preservação material, muito maior do que a do Brasil, tanto que podemos identificar muito bem sua estrutura material e sua decoração.
O templo era sempre a primeira e principal construção, defronte da grande praça central “espanhola”. A igreja está na posição central da praça principal e, ao lado direito, está o claustro dos padres missionários; do lado esquerdo, o cemitério, a escola, e as oficinas de carpintaria, de música e outras atividades ensinadas pelos padres aos Guaranis. Nos fundos da missão também era mantida a horta comunal. Ao redor da praça estão as casas dos moradores de cada tribo subdividida em bairros. Os caciques participavam na administração local e eram denominados “Cabildantes”. Sabemos que cada Missão que abrigava às vezes mais de 4.000 índios, só tinha dois Jesuítas. Visualizar esta missão nos possibilita um melhor entendimento desta planta que é muito maior do que a das outras missões. Aqui além de muita suntuosidade no frontal da igreja onde vemos muita riqueza de detalhes com esculpidos em pedra grés, as pedras desta construção de San Ignacio Mini, foram trazidas de muito longe, em carroças puxadas por bois, desde as barrancas do rio Paraná. É muito importante observar o elaborado trabalho de entalhe nas colunas, portas e janelas da igreja e do claustro. É um estilo artístico que combina elementos católicos com as referências e criatividade dos guaranis. Aqui o sitio arqueológico fica aberto das 7 às 19 horas, e, às 21h acontece o espetáculo “Música e Luz”, quando os turistas podem passear entre as ruínas sob iluminação especial, ao som de músicas sacras. Santo Inácio Mini atrai milhares de turistas da Argentina, Uruguai e do mundo. Aqui deixo as fotos que fizemos em San Ignacio Mini:
Saímos desta Missão às 15h30, muito impressionados com aquilo que vimos aqui. Vamos agora, durante meia hora, visitar a segunda Missão Jesuítica, chamada Santa Ana, uma das quatro reduções na Argentina, reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Este sítio arqueológico foi palco de parte da filmagem de “Mission”, Palma de Ouro em Cannes em 1978, filme este que está disponível nas locadoras. Estamos na Província de Misiones e no departamento de Candelária.
Missão de Santa Ana
A redução de Santa Ana foi fundada em 1633 e tinha como principal atividade agrícola o cultivo do algodão, milho e erva mate, muito apreciada pelos Guaranis. A praça central é gigantesca e está rodeada pelas casas dos indígenas e pela casa dos padres missionários. A Igreja, como em todas as missões, ocupava a posição central, defronte à entrada principal da missão. O que nos chamou atenção especial nesta visita, é que percorremos uma área coberta de grama e algumas árvores, onde pudemos visualizar um grande reservatório de água interligado por canais em toda a extensão da missão. Esta missão também teve a sua decadência que começou 1767, quando os jesuítas foram expulsos dos domínios da coroa espanhola.
A partir daí não houve progresso, mesmo que as missões fossem assumidas religiosamente, por padres de outras ordens e administrativamente por civis espanholes. Eles não tinham a mínima ideia e aculturamento. A isso se somam as guerras que se seguiram no período da independência paraguaia. Um guia que nos explicou que a erva mate era retirada de uma árvore alta, e acreditava-se que só crescia em meio à mata e à sombra das grandes árvores. Porém os jesuítas, muito observadores, aprenderam o segredo da semeadura de suas duras sementes, que precisam de uma preparação especial antes do seu plantio. Este segredo foi perdido com o tempo e apenas no início do século XX o mate voltou a ser cultivado.
Soubemos que a igreja foi construída no estilo barroco colonial e que seu interior estava rodeado de pinturas e esculturas, um altar, retábulos e molduras gravadas nas pedras. Aqui observamos uma escada de pedra feita em semicírculos. Passeamos com o guia por toda a extensão da Missão. Foi interessante observar o sistema hidráulico: a água da chuva era aproveitada e a água era canalizada, correndo entre construção de pedra. Assim fizemos muitas fotos. Do outro lado da Igreja ficava o Cemitério. Este foi utilizado pelos moradores deste lugar até os anos de 1980, quando outro cemitério foi inaugurado na cidade. Na época jesuítica os cemitérios das reduções estavam divididos em quatro setores para sepultarem separados homens, mulheres, meninos e meninas. Os sacerdotes jesuítas eram sepultados na Igreja.
O que mais me impressionou nas ruínas de Santa Ana foi poder observar o sistema hidráulico, onde se podia ver que aproveitavam a água da chuva e tinham toda uma infraestrutura para as questões ligadas, à água. Ao sair desta Missão tomamos a ruta 12, e rumamos para a cidade de Encarnation no Paraguai, onde chegamos atravessando a Ponte San Roque González, às 18h30, e com um fuso horário de uma hora a menos, aqui agora são 17h30.
A cidade de Encarnacion é chamada também a “Pérola do Paraguai”, uma cidade muito forte no Carnaval, como nos falam os guias. Nos hospedamos no hotel Gardenia.
Dia 7 de setembro de 2017
É o dia da Independência! Feriado Nacional no Brasil!
No programa de hoje, temos a visita à Redução Jesuítica de San Cosme y Damian e Centro Astronômico do afamado cientista Jesuía, Pe. Buenaventura Suárez. |
À tarde retorno para Encarnacion, passando pela cidade de Cel. Bogado – Capital da Chipa.
Neste dia, no hotel Gardenia, no café, percebi um dado muito interessante da cultura paraguaia. À mesa havia muitos sucos: suco de beterraba, vitamina verde (maçã, pepino e limão), vitamina de banana e sucos de outras frutas. Percebi que faz parte da cultura do Paraguai haver diferentes sucos de vegetais à mesa do café. Tomei diversos sucos e pedi um ovo mole, pois um dente da frente tinha caído, ao quebrar-se o pivô! Daqui para frente só líquido, pensei. Antes de partir com a excursão, em frente ao hotel, vejo um quiosque que faz sucos verdes socando as ervas e atendem muitos carros que param para comprar os mesmos. Gostaria muito de ver de perto esta forma de fazer sucos verdes, mas agora o ônibus já está saindo. Espero que ainda haja tempo, amanhã, para visitar este quiosque.
As Missões no Paraguai são: La Santísima Trinidad de Paraná, San Cosme y Damián e Jesús de Tavarengue.
Passamos pela Costaneira, uma linda beira-mar, ás margens do Rio Paraná. |
Ao lado, há a ponte do rio Paraná.
Entramos na Ruta 1 e o primeiro pedágio foi às 8h50, onde os carros pagavam 5.000 guaranis e os ônibus, 20.000 guaranis. Hoje vamos ver a Missão de São Cosme e Damião, restaurada pelo governo alemão, nos informa a guia. Observando o entorno, vejo que aqui, não se usa capacete ao dirigir as motos e de outro lado, vejo pontos de ônibus com mais proteção. Até agora vi estes pontos de ônibus só com uma simples cobertura. O caminho foi longo e só às 11 horas chegamos às ruínas Jesuíticas de São Cosme e Damião. Estes dois santos foram homenageados em 1632 pelo missionário Jesuíta padre Adriano Formoso que fundou esta missão, num pequeno lugarejo localizado perto da ilha de Yacyretá. Os santos Cosme e Damião, devotados à fé, eram médicos e foram decapitados no século III, por volta de 300 d.C. pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso. A Igreja Católica celebra esta festa no dia 26 de setembro! Interessante foi saber que hoje, a população de 9.000 pessoas, assistem às missas na igreja construída em 1632 e que foi agora restaurada. Na internet encontrei um texto de Nelson Lopes que considerei importante apresentar aqui.
“As ruínas de São Cosme e Damião, são um lugar que nos transporta no tempo mágico e intenso, este local merece a visita de todos, pois faz parte da história do Paraguai. Cuidado e mantido com o esforço e dedicação de jovens estudantes da área de turismo, tudo aqui permanece quase que intocado, é visada a conservação, visto que as verbas para novas escavações arqueológicas não existem. É pedido ao visitante uma contribuição para ajudar na manutenção e preservação do local. Não é necessário agendamento de horário, unicamente os visitantes que queiram assistir às missas que ainda aqui são realizadas, devem se informar dos horários. No mesmo local, pode ainda ser visitado o único planetário do Paraguai. Modesto, mas muito bem cuidado, é um local que também vale uma visita. A astrônoma Idalia Villar, não poupa esforços com o pouco equipamento que tem disponível, para mostrar a todos o nosso espaço sideral, constelações e até como os povos antigos interpretavam os símbolos do zodíaco. Vale muito a pena! Ainda aqui, podem encontrar algumas peças de artesanato para levar de recordação”.
A guia astrônoma, Idalia Villar, que nos acompanha, fala o Guarani como 80% da população do Paraguai, nos informa. Quanto à valorização da língua materna: o Guarani, falado pela maior parte desta população, passou a ser ensinado nas escolas na década de 70. Em 1992, isto passou a constar na Constituição e a língua Guarani foi considerada oficial ao lado do espanhol. Ao nos encaminharmos para assistirmos o vídeo, perguntei sobre o preço da gasolina, que varia de 4.800, 5.000, 6.000 e 8.500 guaranis.
A guia nos leva a assistir um vídeo que fala da história da Missão, onde fomos informados sobre as atividades do padre Boaventura Suarez, um grande inventor e astrônomo. |
A Missão São Cosme e Damião recebeu ajuda da Alemanha para a recuperação das ruínas. Depois de assistir o vídeo, fomos ao planetário, assistir à projeção das constelações e os mitos dos índios, a respeito das mesmas. Vimos como os Jesuítas e os índios Guarani interpretavam os planetas e constelações para tocar seu dia a dia nas Missões.
A guia, começa a falar, com muita competência, sobre os mitos que são tantos quantas são as múltiplas etnias, diz ela. Entre muitas informações que recebemos nesta projeção das Constelações, destaco: os Guaranis chamavam a Constelação do Cruzeiro do Sul de “El Tapir”. A via Láctea era o caminho do Tapir, por onde seus avós vieram. No céu viam também uma família com frio. Interpretavam as “três Marias” como uma mãe com duas filhas viúvas. Na lua minguante falavam que o tigre tinha comido a lua. Certamente na observação do céu estrelado à noite, eles iam construindo seus mitos e as explicações sobre os mesmos.
Saindo do planetário fomos ver a Esfera Armilar que é um instrumento de astronomia, aplicado em navegação.
A Esfera Armilar apresenta um modelo reduzido do Cosmos. Um dado interessante é que só existem três destas esferas no mundo, e esta aqui está. Estima-se que a Esfera Armilar foi desenvolvida ao longo do tempo, através de observações minuciosas do movimento aparente dos astros em torno da Terra. Recebemos explicações e diversas demonstrações muito interessantes na Esfera Armilar, que é um elemento importante no brasão de armas português, desde o século XV e que foi de grande auxílio durante a era dos descobrimentos. Foi utilizado nas bandeiras de várias colônias, incluindo o Brasil.
Em seguida fomos ver o colégio e a igreja, ambos restaurados em 1989, pela comunidade católica alemã. Foi um padre alemão que, entre 1985 e 1992 fez estas reformas. |
Perguntei à guia paraguaia, o por quê destas verduras no jardim. Me respondeu que é pedagógico: ensinar que se pode plantar verduras em qualquer lugar. Excelente! Gostei muito!
A excursão fez uma foto nesta ruína, na interessante missão de São Cosme e Damião.
No interior observamos, 22 esculturas e santos originais, obras de arte em madeira, executados pelos índios. Ainda no recinto desta igreja, em um canto à esquerda, vejo diversas cadeiras, que são verdadeiros tronos. Estas falam de uma época em que trono e altar estavam unidos.
Um trono, onde sentou o papa, tinha pintada uma flor de maracujá, que é própria desta região, sendo esta a cadeira dos padres. Na outra cadeira, postada ao lado, se sentava a autoridade da Espanha. Interessante é saber que aqui na igreja, o padre repartia o sermão com a autoridade da Espanha.
Depois fomos ver a outra parte onde estavam as salas de aula e demais lugares da Missão. Admirei as pinturas do teto que são originais e bem conservadas. A praça verde, bem conservada, tem um piso de pedra. O guia começa a nos dar as informações sobre esta missão: informa que esta construção pertence à Igreja e não ao Estado. Até 2004 esta escola funcionou como Colégio São Cosme. E sobre a conservação da cultura missioneira, nos relatou que aqui vai ser feito um Museu e as pessoas que têm estátuas do tempo das missões irão fazer doações. Outra informação interessante que recebemos da guia é que no tempo de Solano Lopes-pai, os índios viraram paraguaios e mudaram seu nome guarani. Isto daria uma boa pesquisa! Sobre o significado do nome guarani, “Yacyretá”: Yacy=lua; reta=país, nome de uma ilha paraguaia e também da hidrelétrica binacional que começou a ser construída em 1984. Diz também que o significado de Itaipu quer dizer em guarani, “pedra que canta”.
Às 12h estávamos no refeitório do Conjunto Turístico onde, nós participantes da excursão, muito felizes, fomos servidos inclusive, com um gostoso suco de laranja natural. Ao nos dirigirmos ao refeitório passamos por uma praça onde estavam expostos estes dizeres, exaltando a vida e a obra do padre astrônomo e cientista, Boaventura Suarez.
Saímos do restaurante às 13h14 e a excursão partiu retomando o ônibus . No caminho fizemos uma parada num boteco onde conhecemos a célebre Chipa, um pão de queijo diferente. Fomos muito bem recebidos pelos simpáticos donos do bar e lá passamos bons momentos descansando, conversando, conhecendo, comprando e saboreando a cultural Chipa.
Continuando o caminho, ao chegar em Encarnación, fomos orientados que aqui poderíamos fazer compras. O tempo foi pouco, pois lá as lojas fecham muito cedo. Mas assim mesmo alguns excursionistas fizeram boas compras. De minha parte, comprei alguns perfumes e conheci esta zona franca do Paraguai. Chegamos ao hotel e muitos colegas saíram, mas eu preferi descansar pois o dia tinha sido muito intenso e também cansativo.
Dia 8 de setembro de 2017
Neste dia saímos de Encarnación às 7h30 , num dia de sol com algumas poucas nuvens. para visitar a Redução Jesuítica de Jesús de Tavarengue e a Santísima Trinidad.
Antes de sair, ainda no ônibus, observei novamente a moça no quiosque, amassando as folhas verdes medicinais. Não pude visitar o quiosque que vendia estes sucos, pois a memória recente tinha falhado e quando me dei conta, já era hora do ônibus partir.
Atravessamos a ponte dupla.
A guia nos fala que hoje, vamos visitar dois Patrimônios da Humanidade: Jesús de Tavarengue e Trinidad do Paraná, a mais bela do Paraguai pois é a única igreja que tem no centro, uma cripta. Saímos da ruta 6 e estamos entrando, às 8h20, para visitar a Missão Jesús de Tavarengue. |
Aqui as ruas estão com as pedras da época e como um lugar privilegiado de turismo, vemos muitos ônibus e também estudantes de Assunção. Aproveitei para falar com um grupo de estudantes e quando propus a eles fazermos uma foto para marcar este encontro , eles concordaram muito felizes. Tirei também foto com Antonina.
Inicialmente fomos visitar o museu.
Jesús de Tavarangue é uma redução Jesuítica no Paraguai com estilo mourisco, único em todas as reduções e bem diferente do estilo da Missão Trinidad , que é românico. As três portas de acesso ao templo são excepcionalmente muito bonitas. É a influência árabe na arquitetura. O teto não seria de madeira ou de pedra como em outras, e sim de estilo misto com muros de apoio e grandes pilares centrais. Devido a não ter teto a igreja não chegou a ser acabada devido à expulsão dos jesuítas, Jesús de Tavarangue escapou ilesa aos saqueadores, pois não possuía ouro ou imagens valiosas no altar. Foi fundada em 1685 e apresenta atualmente uma igreja restaurada, oficinas e casas de Guaranis, também em restauração. A Igreja tem 70 m x 24 m e tem 12 colunas representando os 12 apóstolos. Após a expulsão dos jesuítas os dominicanos e os franciscanos assumem a missão, mas não tiveram êxito. O trato dos Jesuítas era outro. Aqui houve muitos anos de abandono.
Aqui aparece também a flor de Liz. Os índios se comunicavam com fumaça, espelhos e sons. Agora são dez horas e aqui há muitos ônibus de turistas que visitam esta missão. Após visitar e admirar esta missão e seu museu a céu aberto, saímos e chegamos às 10h12 na Missão Trinidad, que dista 12 km de Jesus de Tavarengue. A Missão Jesuíta de Santíssima Trindade do Paraná é a redução Guarani mais bem preservada do Paraguai e a maior. Ela está localizada em uma colina 28 km a nordeste de Encarnacion, no distrito de Trinidad em Itapú . A visita à Missão da Santíssima Trindade foi especial. Na recepção, além da venda do ingresso, válido paras as três reduções, existe uma sala, onde é passado um vídeo, uma pequena exposição com dados referenciais, para então começar a visita. Neste Museu há diversas fotos que atestam o estado em que as ruínas foram encontradas antes da restauração, bem como o processo usado para sua recuperação. O folheto “Roteiro Jesuítico” distribuído na entrada, nos mostra Trinidad com uma grande praça e uma igreja maior, o colégio, as oficinas, as casas dos indígenas, o cemitério, a horta etc. Na chegada começamos a assistir o vídeo sobre a Missão Jesuítica de Santíssima Trinidad del Paraná, missão esta, fundada em junho de 1706 e em 1728 já continha uma população de 3.000 índios guaranis. Ficou abandonada,e após 2 séculos , hoje é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
“A principal igreja tem itens valiosos, tais como a pia batismal, um púlpito bem trabalhado, a porta de entrada para a sacristia, gravuras, estátuas (em que apenas uma permaneceu sem ser decapitado, pois pensaram que havia ouro dentro de suas cabeças), e outros elementos arquitetônicos. Este templo era o centro da vida na Redução. Entre os elementos que merecem atenção especial, estão o púlpito de pedra, cujas peças somam mais de mil; é ornamentado com figuras dos Evangelhos e ainda podem ser vistos restos de cores. O friso de anjos músicos é outra peça enorme e impressionante. Na mesma linha de anjos em atitudes musicais podem ser observados; executando instrumentos como o cravo, órgão de tubos, trompetes, clarinetes, flauta e harpa paraguaia; evidência visual da sofisticação da música sobre os cortes. Especial atenção para as duas tampas que dão acesso à sacristia, que, por sua proporção e sobretaxa sobre o conjunto, são influência Portuguesa e Espanhola”.
Aqui os arcos lembram os aquedutos romanos. Anjos executando instrumentos como o cravo, órgão de tubulação, trompetes, clarinetes, flauta e harpa paraguaia
A missão da Santíssima Trindade foi fundada em 1706, com 1.200 índios tomados da missão São Carlos Borromeu. É a 29ª Missão Jesuítica, onde o estilo é romano e a igreja é barroca. Politicamente atuavam os caciques. A guia fala dos violinos de boa qualidade que aqui eram feitos. Com sua venda, mais tarde, estes violinos serviram para comprar armas, já que as Missões eram frequentemente atacadas. Durante este processo em que as Missões prosperaram e se transformaram em grandes produtoras de diferentes produtos que eram exportados. A guia nos fala que, às vezes, pagavam imposto menor que a produção da erva que conseguiam vender, por ex. 20 arrobas de verde mate como imposto, mas, a verdade produziam 200.000 quilos.
O sucesso da Missão despertou inveja. A riqueza estava nas mãos dos jesuítas e não na mão dos Reis. As missões tinham homens preparados. Como exemplo do cuidado na escolha dos que iriam trabalhar nas missões, em 1585, 14.000 Homens se apresentaram para as missões. Foram escolhidos 80 e deviam ter mais do que 60 anos e deviam ser homens muito bem preparados.
Quanto aos Guaranis e sua cultura, a guia nos fala: a constituição de 1997 consagra duas línguas para o Paraguai. E sobre sua cultura: os guaranis eram enterrados em urnas em posição de feto pois deviam chegar na outra vida, como chegaram aqui. Alimentavam os mortos e estes levam as armas. Em 1932 a 1935 houve guerra do Paraguai contra a Bolívia. As disputas resultaram em um conflito que provocou a morte de 60 mil bolivianos e 30 mil paraguaios, tendo como resultado a derrota dos bolivianos, que mesmo possuindo um exército bem maior em número, perderam seu território.
São 11h36 estamos saindo das ruínas da SS Trindade e temos de percorrer mais 7 km até chegar no restaurante para o almoço. O nosso objetivo é , neste trajeto de ônibus, chegar numa município chamado Hohenau, cujo nome repete um lugar na Alemanha. Às 11h45 chegamos numa construção muito bonita e aconchegante, propriedade de gaúchos brasileiros, o restaurante “El Wagon” que possui dois sofisticados ambientes. Os donos servem os turistas e lhe dão as informações sobre sua região, com muito prazer. É visível a ânsia que a dona do restaurante tem, para nos informar e nos contar um pouco da história de sua aprazível terra de imigração de inúmeras etnias. Assim ficamos a par da história e da cultura deste lugar e começa o entendimento sobre a colonização desta região paraguaia, que é crisol de raças e nacionalidades.
Hohenau está localizado bem ao sul do Paraguai, na fronteira com a Argentina. |
As primeiras 8 famílias no total de 50 pessoas vieram do Brasil em 1900. Muitos ficaram e alguns voltaram ao Brasil. Entre os que ficaram os sobrenomes Dressler, Kuschel, Scheunemann, Fritze, Jacobs e outros. Mais tarde, na década de 40, vieram japoneses, russos, belgas e franceses, ucranianos e poloneses. São ao todo 18 comunidades que formam as chamadas “Colônias Unidas”. A cooperativa tem o nome de “Cooperativa as Colônias Unidas”. A dona do restaurante, muito atenciosa e simpática, nos fala de uma agricultura e pecuária muito fortes. Diz-nos também que aqui quase todos falam em alemão, guarani e espanhol. Aqui há muito gado e muita agricultura! Os habitantes de Hohenau plantam soja, algodão, milho, mandioca, erva mate, tung, sorgo, cítricos, poroto, maní e melancia.
O tungue é uma planta que dá origem a um óleo muito utilizado há séculos para conservação de madeira: o Óleo de Tungue.
Em 1944 Hohenau foi elevada a categoria de distrito.
Minha admiração foi grande quando encontrei na internet que nesta casa, viveu escondido, o nazista Mengele. Nos informa, também, que nos dias 28,29,30 de setembro há aqui em Hohenau a Festa das Nações. Nestas festas cada etnia apresenta a sua cultura. Gostei muito de saber, ao menos, um pouco da história dessa vibrante e forte colonização. |
A dona do restaurante nos serviu um ótimo almoço, excelente mesmo! Todo o grupo gostou muito do ambiente, da comida e dos funcionários e donos deste restaurante. Nos divertimos muito, tanto que, como meu caderno de anotações de viagem ficou em cima da mesa, quando retornei não mais o encontrei. E aí aquela coisa boa de ver quem o tinha tirado etc. Mas afinal o caderno apareceu. Quem o tirou, ainda hoje não o sei. Quem sabe que ao ler este relatório, o simpático ladrão do caderno apareça!
Saímos às 14h43 e logo estávamos na fronteira do Paraguai. Passamos muito rápido por esta fronteira
A ponte estaiada Roque Gonzales apresenta um espetáculo à parte: grande número de vendedores nesta ponte, totalmente tomada por um grande número de carretas, ônibus, motos parados e gente que caminha a pé. Às vezes os veículos se movimentam! Nosso ônibus segue no mesmo ritmo. |
Quando está tudo parado inúmeros vendedores ambulantes surgem, oferecem e vendem inúmeras mercadorias. E a paisagem? Mesmo opaco, o sol que não consegue romper as nuvens, prateia as águas do rio Paraná como se pode ver nesta ao lado. É emocionante ver este espetáculo!
Nesta ponte estaiada internacional, de 2.550 metros de comprimento e 18 metros de largura, denominada, San Roque González de Santa Cruz , além de duas pistas de tráfego rodoviário, como podemos observar esta foto, acomoda também, a linha de trem Internacional Posadas-Encarnación, em uma das laterais de seu longo trajeto. |
A Ponte atravessa o Rio Paraná e liga a Argentina ao Paraguai, entre as cidades de Posadas, (capital da Província de Misiones), Argentina e Encarnación (capital do departamento de Itapúa), Paraguai. A ponte foi projetada em 1977, sua construção começou em 1981 e só foi concluída em 1990, por meio de um acordo entre os governos da Argentina e do Paraguai. Ficamos muito tempo na ponte, tanto que agora o sol enfraqueceu e não mais prateia as águas do rio Paraná.
Às 15h55 chegamos na fronteira da Argentina. Aí outro desagradável espetáculo nos impressiona. Trata-se de ver grande número de carretas, ônibus, carros, motos e pessoas a pé, parados na alfândega da Argentina. O que surpreende é que nesta longa fila, parece que só uma pessoa está atendendo. Lá ficamos parados, pacientemente, 3 longas horas, esperando que chegasse a nossa vez.
A foto mostra bem o caos. Como pode todo este povo ser submetido a este martírio diário? |
Às 19h conseguimos sair da alfândega. Realmente penso que, ninguém, fará esta travessia pela segunda vez, submetendo-se a tal desgaste desnecessário.
Nos hospedamos no hotel Julio Cesar, em Posadas e à noite, um novo programa nos espera: haverá um jantar com um show num sítio. A excursão se preparou para o jantar e a festa e, em seguida saímos novamente com nosso ônibus, percorrendo km e mais km, num caminho sem fim, onde a cada possível chegada éramos surpreendidos com a promessa de mais caminho! Mas como na excursão tudo é leve, aguardamos pacientemente a chegada ao local do jantar e do show. Enfim, chegamos num lugar muito escuro, mas ao entrarmos, vimos que o local era iluminado e gracioso, onde água que corria em cima das pedras e as árvores iluminadas, festejaram conosco, com som e luz, esta última noite em terras argentinas. Durante o especial jantar, houve um Show de uma cantora Ucraína e os participantes da excursão estavam em festa, por esta oportunidade. No fim da janta, troquei algumas palavras com a artista e, antes de sair, elogiei o bonito show dessa cantora!
Voltamos cerca de meia noite para o hotel O caminho da volta foi mais curto. Desconfio que na ida, o chofer foi pelo caminho mais longo!
Dia 9 de setembro – sábado
Hoje vamos partir para o Brasil e no caminho faremos uma parada num local chamado São Pedro do Butiá/RS. Visitaremos o monumento de São Pedro, com mais de 30 metros de altura, junto ao Centro Germânico Missioneiro. Em seguida, após o almoço, retorno a LAGES/SC: Levantamos neste sábado e fomos tomar café. Tudo muito bom! O céu está nublado, o sol não apareceu e começou a ventar muito. Às 7h34 ladeando o rio Paraná, estamos saindo de Posadas. Do lado contrário, a fila imensa para passar a fronteira da Argentina vai repetir a nossa experiência de ontem. Penso novamente: como podem tantas pessoas repetir, diariamente, este sufoco, pois muitos trabalham e passam pela alfândega todos os dias! |
Nosso objetivo agora é chegar ao rio Uruguai, atravessar com a balsa, para chegar ao Brasil. Temos que nos apressar, pois o guia nos fala do horário das balsas nos fins de semana: a última balsa, na parte da manhã, trabalha até às 10h30 e de tarde, inicia às 16 horas. Nesta fronteira os trâmites alfandegários demoram menos. Neste trajeto, antes de chegar às balsas que nos possibilita voltar para o Brasil, o guia nos informa sobre diversos assuntos referentes a lugares que poderemos visitar no Rio Grande do Sul, bem como nos dá outras informações sobre missões Jesuíticas. Em primeiro lugar, nos fala sobre a região de São Pedro do Butiá, região que tem um centro germânico e que hoje vamos visitar. Aqui o que aconteceu aqui foi algo muito interessante, pois, para resgatar a cultura alemã, o prefeito fez um projeto, apresentou-o, foi aprovado e assim recebeu ajuda da Alemanha.
Estamos na Ruta 12, distantes 285 km da Foz do Iguaçu e a guia, como de praxe, continua a nos dar mais informações, como: o Ministério de Turismo uruguaio anunciou sua ideia de incorporar dois importantes pontos emblemáticos do patrimônio Jesuíta no Uruguai, à famosa rota dos Jesuítas. Trata-se da Calera de las Huérfanas e a Calera de los Jesuítas, os dois localizados no Departamento da Flórida. A Calera dos Jesuítas está localizada na Estância Nuestra Señora de los Desamparados, a 160 quilômetros de Montevidéu. A estância foi fundada em 1746 pelos Missioneiros Jesuítas e se orgulha de ter sido um dos primeiros centros de criação de gado e plantações organizadas na região centro-sul do país. Nestas terras encontra-se também a famosa estância turística San Pedro de Timote, uma das principais estâncias turísticas do país. Um lugar espetacular, reconhecido em 1997 como Monumento Histórico Nacional. Continuando, ouvimos da guia que, quando terminam as missões, o gado ficou abandonado e continuou reproduziu-se livremente pelos pampas, formando uma grande reserva de animais no Sul do atual território gaúcho.
O guia fala sobre outro assunto que é a ideia de que, em Pelotas, tem muitos gays. A explicação é a seguinte: os filhos dos pelotenses ricos, no século XIX, foram estudar na Europa. Voltavam requintados, usando rendas. Ficou a fama de gays de Pelotas. Sobre a origem de tomar chimarrão em roda, esta tradição é guarani. Os padres diziam que o chimarrão era uma erva maldita. Aqui há o fato de uma bebida alcoólica chamada o Cauim, de tradição guarani. As mulheres dos guaranis mascavam a mandioca e faziam esta bebida. Os guaranis tomam o chimarrão começando pelo mais velho, pois o idoso é uma pessoa experiente e respeitada nesta tradição. O nosso guia continua a falar sobre a cultura guarani: quando nascem gêmeas, mata-se a mais fraca, espírito ruim. Outra informação é que os guaranis ofereciam suas mulheres aos brancos. Quanto à educação das crianças, eles deixam que as crianças chorem. Sobre o batismo dos Guaranis: até os dois anos a criança é chamada menino ou menina e o Pajé não tem contato com a criança. Aos dois anos há uma festa. Se for menina recebe nome de flor e se for menino, nome de animal. Quanto à vida cidadã, o Guarani nunca teve problema com a justiça. E mais: o Guarani aprende línguas com muita facilidade, como por exemplo, o japonês aprendem muito rápido. Aqui eles falam 3 línguas: o espanhol, português e guarani. Fala-nos que em Córdoba, no Uruguai, houve as estâncias Jesuíticas. Em uma delas se criavam mulas para adquirirem força, para trabalhar nas minas de Potosi na Bolívia.Sobre as minas Potosí, e a exploração do trabalho indígena, achei interessante o que li na internet:
As Minas de Potosí localizam-se no cerro de Potosí, no Alto Peru, atual Departamento de Potosí, na Bolívia. Constituíram-se no principal centro produtor de prata em toda a América, durante o período colonial.
“A cidade foi fundada em 1546. Em 1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha à volta de 150 000 habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século XVII, tornando-se a segunda cidade mais populosa (atrás de Paris) e a mais rica do mundo, devido à exploração de prata enviada à Espanha. No entanto, em 1825, a maior parte da prata tinha se esgotado e a sua população desceu até os 8 000 habitantes. No começo do século XX, a exploração de estanho se incrementou pela demanda mundial e, como consequência, Potosí voltou à experimentar um crescimento importante”.
O sistema de exploração mineira era baseado no trabalho indígena, por meio da ’mita”, uma espécie de trabalho compulsório herdado dos Incas, pelos espanhóis. Os indígenas até dormiam na mina e lá ficavam por até quatro meses. A diferença foi que na mão dos espanhóis se transformou num trabalho insano e desumano, causando aos indígenas doenças e morte prematura.
Frei Domingo de Santo Tomás, um padre que viveu à época, escreveu: “Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e sangue dos índios”. A cidade de Potosí na Bolívia foi a cidade mais rica de seu tempo. Aqui a imagem de uma porta da Igreja de São Lourenço, nesta cidade. |
São 9h12, pouco movimento nesta estrada reta, onde vejo um cachorro abandonado e isso me toca, pois mudei o meu olhar sobre estes seres tão especiais!
Agora chegamos em Porto Xavier , na balsa que fará o trajeto sobre o Rio Uruguai e como hoje é sábado, a última balsa é às 10h30. Enquanto aconteciam os trâmites burocráticos nós fomos comprar alfajores e bebidas numa pequena loja que fica aqui perto da balsa. Comprei uma caixa de 21 alfajores por R$ 23,00. Comprei também um vermute, de nome Carpano, elogiado por um colega da excursão, bebida esta criada em Turim em 1876. Também comprei um litro de Pinacolada. E conversa vai conversa vem, após meia hora de espera, a balsa está dando sinal que vai fechar. Tive que correr para não perder a oportunidade!
Após meia hora, já no Rio Grande, grandes extensões de trigo cobrem de verde as coxilhas da terra vermelha. Muito gado! O espetáculo emociona! Aí a excursão fez uma pequena entrada para comprar queijo suíço. Muito bom!
Agora vamos fazer uma parada em um local agradável, São Pedro do Butiá onde fizemos um ótimo almoço num restaurante e hotel do ex-prefeito. O prefeito atual também estava presente e nos dirigiu a palavra antes do almoço, contando um pouco da história deste lugar, que conseguiu recuperar a história e a cultura alemã. Após o almoço fomos recebidos no Centro Missionário de Butiá com música e dança do grupo folclórico do lugar. No centro missioneiro visitamos a grande estátua de São Pedro, com 30 metros de altura. Logo na entrada estava uma cruz de dois braços horizontais, chamada de Cruz Missioneira. Subimos no interior da estátua, até o terceiro andar. Estava chovendo! Mesmo assim, lá fomos nós para visitar também os diferentes imóveis reconstituídos neste lugar, apresentando a cultura alemã. Neste Centro Missioneiro visitamos a escola rural, do tempo da colonização transportada para este centro e reconstruída aqui. Também já há uma casa de família, com todos os utensílios e equipamentos daquela época. Foi muito interessante visitar São Pedro do Butiá. Nosso ônibus partiu e nós nos despedimos do coral, cujas pessoas nos apresentaram a cultura através de cantos e danças alemãs, herança de seus antepassados.
No caminho, nosso guia nos dá outras informações: o Uruguai também teve Estâncias Jesuíticas, E assim viajando e parando nos diferentes restaurantes a cada duas horas, chegamos a Lajes onde alguns excursionistas desceram e finalmente, chegamos a Florianópolis, com o coração agradecido por mais esta excursão , onde tudo transcorreu muito bem, como costumam se desenrolar as excursões organizadas pelo SESC.
Considerações Finais
Vou tentar dizer algumas palavras sobre o que significou para mim esta excursão com o SESC. A companhia dos participantes desta excursão foi muito agradável, bem como os conhecimentos que adquirimos escutando os simpáticos e bem preparados guias que nos acompanharam durante a viagem, tão instrutiva apesar de muito curta, pois só foram de seis dias. Admirar a belíssima paisagem de todo o Sul foi também algo inesquecível.
Consegui incorporar ao meu conhecimento sobre História do Brasil e América latina, fatos que considero da maior importância. Também pude ler sobre a história da Companhia de Jesus e seu desenvolvimento no mundo. Não foram só as visitas às Missões Jesuíticas que foram o alvo do nosso interesse maior, o que nos agradou, mas todos os conhecimentos da história que pudermos relembrar fazendo este relatório. As Missões Jesuíticas, foram um importante acontecimento. Verdadeiras cidades estavam realizando utopias possíveis e estavam encantando o mundo. Reunindo em cada Missão ou Redução mais de 4.000 índios, sob a administração de dois padres e muitos Caciques, podemos ter uma ideia do que foram estas cidades na selva. Além do trabalho no campo, os índios guaranis se dedicavam a aprender a ler e escrever, saber sobre música, cantar, tocar instrumentos, fazer teatro, pintar e esculpir etc. Dedicavam-se não só à indústria do ferro, mas também, à indústria de instrumentos musicais.
Um dado que me chamou muito minha atenção: foram especialistas na fabricação de violinos, mais tarde trocados por armas, necessárias para poderem se defender dos ataques externos. Conheci, viajando, mas um pouco sobre a geografia do sul do Brasil. Vi os rios e as pontes que unem países. Cheguei encantada com esta excursão tão curta e tão verdadeira!!!
Gracias a la Vida!
Florianópolis, 20 de novembro de 2017
Anita Moser
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Anexo I
Em São Miguel das Missões
O Espetáculo Som e Luz,
Criado em 1978 pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul e repassado para o Município de São Miguel das Missões, é uma narrativa que conta o surgimento, o desenvolvimento e o final da experiência jesuítico-guarani. A história das Missões é contada diariamente, ao anoitecer, no Sítio Histórico São Miguel Arcanjo, declarado pela UNESCO Patrimônio da Humanidade.
A história é narrada por duas personagens da experiência missioneira ainda presentes no local: a igreja e a terra. Contada ao longo de 48 minutos, a narrativa envolvente imerge o espectador em uma viagem pelo tempo, mostrando um pouco do cotidiano, da política, da arte, da guerra e da fé de uma sociedade que vivenciou um desenvolvimento harmonioso, baseado em relações sociais cooperativas.
O texto e o roteiro de Henrique Grazziotin Gazzana são reproduzidos nas marcantes vozes de Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Paulo Gracindo, Juca de Oliveira, Rolando Boldrin, Maria Fernanda e Armando Bógus, resultando em uma experiência inesquecível.
O Espetáculo Som e Luz possuía a mesma estrutura desde sua primeira apresentação, em 12 de outubro de 1978. É apresentado diariamente e, do seu gênero, é o mais antigo em exibição no Brasil.
• Sobre
Elenco – vozes:
1 – Terra: Fernanda Montenegro.
2 – Catedral: Maria Fernanda
3 – Fundador – Antônio Sepp: Paulo Gracindo.
4 – Construtor – Giovani Primoli: Juca de Oliveira
5 – Escultor Giusepe Brasanelli
6 – Emissário
7 – Jesuíta – Pe Antônio Sepp: Paulo Gracindo
8 – Marques de Valdelírios – Armando Bogus *
9 – Gomes freire de Andrade – General
10 – José Joaquim Viana – Gov de Montevideo: Rolando Boldrin
11 – Sepé Tiarajú – Lider guarani: Lima Duarte
TERRA
Quem vem lá? Quem vem lá? Profanar minha ondulante pradaria? Estrelas, gritos de dor cristalizados pelo infinito vazio desta celeste cobertura, testemunhas dos dolorosos massacres daqueles dias em que a insegurança e o ódio arrancaram-me do dorso a melhor comunidade que em mim germinou.
Ah, estrelas, vento irmão, afastai o novo intruso.
RUÍNAS
Um momento, vos pedimos, calmo leito sobre o qual repousamos a tanto tempo, fecunda terra, berço e sepultura, nós ruínas desgastadas, estaremos dentro em breve confundidas com lodo em vosso ventre. Antes, porém, atendei! Permiti que estes estranhos que voltam a passear aqui, sem a mesma graça, é claro, dos antigos Guaraní, saibam o que foi feito àquele povo tão belo. Que os estranhos aqui presentes, pelos motivos mais diversos, do mais leviano ao mais penetrante, dividam conosco a mágoa universal de ter assistido a um massacre no qual o inimigo colonialista, por cobiça, raiva e inveja moralista, matou com tiro e lança o legítimo habitante destes campos, os braços construtores desta igreja.
Libertai, serena terra, o espírito de um povo cuja história épica encerra verdades que servem de novo. Os estranhos ora atentos, com seus olhos assustados, podem ser talvez isentos da culpa dos crimes aqui consumados. Mas já que vieram aqui, devem ouvir nos ventos a verdade que encerrais: como foram arrasados vossos filhos, nossos pais, os tranquilos Guaranis
TERRA
Palpita em mim o casamento ensanguentado de dois reinos da península europeia: Espanha, amante da beleza e da aventura, mas tão cruel em suas guerras e conquistas, e Portugal, dono de vasto território àquele tempo, mas pouco hábil para mantê-lo a seu contento, conceberam num tratado o triste intento de trocarem entre si as Missões e Sacramento. Ordenaram aos Guarani e Jesuítas que migrassem com o sol, para além do Rio Uruguai. E ante a recusa de meus filhos em abandonarem minhas colinas consumaram em algazarra sanguinária suas bodas assassinas.
RUÏNAS
Não assim! Oh, terra dolorosa de meus pais, sejamos também mais brandas com os estranhos. Não assim!, pois em nossas palavras está rugindo o tigre da vingança contra um passado de maldade. Devemos tomar cuidado, Terra, com este felino que num bote traiçoeiro pode trair a verdade.
TERRA
Pediste para contar-lhes, não foi isso? Para fazê-lo sentir o sofrimento que ainda tenho.
Devo ser branda no relato de minha própria desventura?
Acaso a mágoa de ter visto destruída a própria cria não deixa doido o mais plácido e cego mais consciente?
De que outra forma quereis que eu me torne agora ouvida?
RUÏNAS
Compartilho convosco este noturno desespero, pois estamos demais ligadas a tudo que aqui foi feito, e já temos a sentença do julgamento da História. Nós, Ruínas, e vós, Terra, vimos brotar uma flor incomum e solitária na primavera humana.
Parimos e acalentamos a nação dos Guaranis. Sentimos o cheiro acre de sua luta cotidiana, em que homens eram irmãos prá colher e moer o trigo.
Aspiramos o perfume de um milhão de pães na hora das refeições igualmente divididos. Amiga Terra, por aquelas mãos reunida e trabalhada e aconchegada de novo, em adobes empilhada, e ergueram moradias, pra manter agasalhado o fogo de suas vidas, de seus sonhos e repousos.
Nós fomos assim de vós refeitas e recriadas. Sobre vós corria, em estrondoso alarido, o gado numeroso, por eles naturalmente criado. Cavalgavam sobre vós, corpo a corpo em seus cavalos, com seus gritos estridentes nos dias de festa ou trabalho. E dentro de mim cantavam de tal forma melodias, que encontravam novos tons em nossa terrestre harmonia.
Eram de terra seus corpos, sem desejarem diferentes, de água seus sonhos cantando líquidas elegias, de ar e formosura de suas vestes do dia a dia, e a vontade de viver e seus amores, como fogo eram ardentes. Sejamos, portanto, Terra amiga, apenas palco novamente. Que os estranhos nesta noite, vindos para nos ver, participem do drama antigo que os fez morrer.
TERRA
Começo a compreender as vossas intenções. Quereis de novo a coxilha de Santa Tecla assaltada por legiões unidas de Espanha e Portugal. O fluir mortífero daqueles dias de 1756. O golpe fatal desferido contra o povo Guarani, na batalha de Caibaté. A vitória dos bandidos… A morte do índio Sepé…
RUÏNAS
É isso o que quero, e vos digo que, para melhor apresentar esse passado amortecido ao estranho que a escutar estiver nos assistindo, é melhor deixar falar os homens daquele tempo. Invocai-os que eles jazem, dentro de vós, adormecidos. Chamai-os à tona, que venham todos aqui reunidos.
TERRA
Deveis compreender o coração humano, pois por ele fostes construída. Quanto a mim, sou mãe e sempre primitiva matéria prima. Sei da substância, do interior do universo. Já tenho tudo dito em montanhas e planícies. Prá falar a seres vivos há que ser mestre em superfície.
RUÍNAS
Invocai aqueles homens!
TERRA
Infinita alga espiralada da História no oceano no oceano do Tempo, erosão interminável que em mim tudo converte, eu apelo a vossa volta neste momento solene. Amantes do movimento natural, homens francos de pele avermelhada, vozes sonâmbulas pela noite espalhadas, eu vos chamo. Venham também os homens que reuniram as tribos Guaranis sem corromper sua existência, os Jesuítas de variada procedência, que, convivendo com a cultura nativa, enriqueceram-na com a sua. Do meu peito ardente em chamas, saiam também os mestres da traição e da inveja. Saiam portugueses e espanhóis daquele tempo. Que de todos os que falo, ao menos um aqui esteja.
PADRE ANTÔNIO SEPP
Que vento há nesta noite.
RUÍNAS
Seja benvindo, padre Antônio Sepp.
TERRA
Filho meu, Antônio Sepp, libertai vossa lembrança. As ruínas sugeriram que a palavra certa alcança, contra aqueles que nos feriram, a mais rápida vingança.
PADRE ANTÔNIO SEPP
Belas músicas tocando… Não me apraz falar do sangue que afogou nossa alegria. Ouvi! Estais ouvindo a melodia? Quem poderia ser violento consigo mesmo ou com os outros, se dentro de si trouxesse tão sublime harmonia. Sim, eu vos falo e faço gosto, mas dos Guaranis dos meus dias.
A morte veio depois, quando eu já não existia. Que vos falem dela seus autores, pois eles fizeram dela seu cotidiano guia. Mas quando eles vierem, tentai compreendê-los, pois a morte é sempre grata hospedeira nos frios compartimentos de uma vida vazia.
Deixai vossos olhos correrem pelo que agora é ruína. Vede que ainda há beleza mesmo depois da chacina. Libertai vossos olhares Da realidade do que está aqui. Vamos reconstruir os lares dos musicais Guaranis. Deixai-me conduzir os vossos olhos e enriquecer vossas visões com a ofuscante São Miguel, centro de nossas Missões.
Caminhemos pelas ruas sem o menor constrangimento. Estais ouvindo esta música? Pois cá foi feito o instrumento. Os Guaranis os fazem todos: violoncelos, violinos, violas, órgãos, flautas, que mais vos direi…?! Ah, até uma espécie de harpa que eu próprio inventei. E agora ouçam o coral dos meninos… Se eu ainda vivesse diria que eram divinos.
Mas vamos deixá-los e seguir pela cidade. Podemos andar sob estes telhados sem apanhar sereno. Os avarandados cobrem todas as ruas, de dia nos fazem sombra e também protegem da chuva. Andemos por aqui todos, que o lugar não é pequeno.
Ali está a escola, e os meninos aprendendo a ler e escrever, enquanto as meninas educam o bordar e o tecer. E são tão hábeis nisso tudo, progridem tanto no estudo, que em breve nos fazem alunos.
Ah, ouçam novamente os cantores, estão afinando a voz: barítonos, baixos tenores. E os contraltos, e os sopranos. Iguais ou melhores que os germânicos, e nem são arianos.
Olhem só, eles agora estão dançando! Mas vamos continuando…
Ali está a padaria, e a escola de instrumentos. Mais lá em baixo a olaria. Ao construirmos encaixamos os tijolos não usamos cimentos. Lá o moinho, aqui a oficina dos escultores. Quase pegada a ela está o atelier dos pintores.
Ao longe está o matadouro, onde lidam os carneadores. Esse barulho nos vem do trabalho dos ferreiros. Mas, no meio desse ruído, notai que há sempre uma música. Ela está sempre conosco, no trabalho, nas festas, e em nossas preces litúrgicas.
A natureza musical dos Guarani é pouco propensa aos crimes de roubo ou assasinato. Quando raramente um fato assim acontece, reunimos um conselho de índios que tudo logo esclarece. O próprio governo é um conselho de índios que exerce, do qual também fazemos parte. A esse governo se obedece. As idéias políticas, com suas variantes individuais, tomam vários coloridos, e somam-se num só conjunto, em suma, não há partidos.
O diabo deve detestar esse lugar, se eu estivesse vivo diria: aqui não existe se quer burocracia.
O que os torna assim tão hábeis, e lhes traz tanta harmonia, é um instinto incomparável de vida e de companhia. O trabalho já é um fim: realiza-se em si próprio, isso transforma o trabalho em sempre nova poesia.
São Miguel crescia tanto, quase a perder de vista, que decidimos fundar outra redução nas cercanias. Partimos. Junto comigo os primogênitos de quase oitocentas famílias. Depois de um ano de lutas estava pronta a cidade de São João Batista…
CATEDRAL
A redução de São Miguel Batista foi estabelecida em 1700. O tempo prosseguia, acrescentando prosperidade aos povos Guarani, dos quais a Companhia de Jesus se orgulhava de ser apenas pastora, fundindo sua cultura artística e política com a habilidade dos índios que se deslumbravam com os frutos de sua união. Mais índios vinham juntar-se às comunidades dos Sete Povos. Elas cresciam. Em 1706 fora fundada a última das sete reduções, a de Santo Ângelo Custódio, que veio unir-se às seis outras: São Nicolau, São Borja, São Lourenço, São João Batista, São Luiz Gonzaga e São Miguel, a capital.
Em 1720, no resplendor dos Sete Povos…
TERRA
Catedral, desculpai-me a interrupção, mas há um cavalheiro insistente, dentro de mim inquieto e ansioso prá falar aos estranhos assistentes.
CATEDRAL
Pois se apresente então o cavalheiro.
TERRA
É o senhor Gean Battista Primoli. O arquiteto que vos edificou
CATEDRAL
Senhor Giovani
GIOVANI PRIMOLI
Sim, sim. Vamos logo com isso. É preciso que todos saibam como era esta minha obra prima, hoje quase toda destruída. Dez anos de trabalho contínuo. E sempre junto comigo, dispostos e tão bonitos
cem operários índios. Ora, senhores, ouçam menos minhas palavras e olhem mais esta rainha. Suas linhas ondulantes, dramáticas ou verticais obedecem o rítmo de mística ladainha. Estão vendo as paredes? Parecem coladas por forte adesivo. Pois então agora eu digo, não há uma gota de cal ou cimento entre tijolos maciços. São de tal forma trabalhados, que a saliência de um se ajusta à depressão do vizinho. Dez anos neste trabalho, nos fazia gosto assistir à lenta explosão de pedra do nosso sacrifício. Em 1743, estava concluído o início. Passaram-se mais dois anos, de lenta ornamentação. Na torre maior, à direita, um galo de estanho dourado encimava o campanário, onde cantavam muitos sinos. Ao passo que na torre da esquerda, que seria construída, seu observatório astronômico, bisbilhotaria estrelas. O relógio da grande torre, que correto media o tempo, foi arrastado por ele, depois de muito vento. E como era bela por dentro… sobre isso, pode falar melhor o artista Giusepe Brasanelli. Hein Giusepe, venha contar aos estranhos a história de suas esculturas.
GIUSEPE BRASANELLI
Não, não, amigo Giovani. O que eu tinha a dizer já foi dito. Quem quiser saber, que aprenda a ouvir com os olhos o que disseram minhas mãos. E ouçam também a melodia das formas talhadas pelos índios. Eu silencio. Que cantem vossos sentidos.
CATEDRAL
Em 1750, os embaixadores de Portugal e Espanha reuniram-se em sigilo na cidade de Madrid.
EMISSÁRIO
“No dia 13 de janeiro de 1750, os reinos de Espanha e Portugal executaram o seguinte tratado: a colônia de Sacramento, situada ao sul da colônia de São Pedro do Rio Grande, será entregue aos espanhóis, em troca dos Sete Povos das Missões, localizados a leste do Rio Uruguai. Os habitantes destes povos, índiios e missionários, deverão tomar apenas os seus bens móveis e semoventes, e emigrar para o outro lado do rio, na direção do ocidente.
CATEDRAL
O Tratado de Madrid varreu a nação dos Guaranis como um vento gelado. Os índios não acreditavam que o mesmo rei da Espanha, que sete anos antes lhes havia reconhecido o papel de servidores fiéis, e lhes entregara diplomas e condecorações, tornando-se amigo, estivesse agora manipulando suas terras e suas vidas sem a menos consideração pelo que haviam construído. Os Jesuítas, por sua vez, tentaram evitar a guerra pressentida. Com palavras, tentaram inutilmente abrandar a revolta dos oprimidos e atenuar a pressa dos colonialistas.
JESUÍTA
Senhor Marquês de Valdelírios, responsável pela execução desse tratado, devo confessar-vos, com muita humildade, meu espanto.
MARQUÊS DE VALDELÍRIOS
Vossa Benção, padre. E que Deus abençoe o Rei da Espanha, enquanto eu estiver ao lado dele.
Com que então estais espantado… Com o Tratado de Madrid?…Ora… Devo crer que vossa vivência com Nosso Senhor Jesus Cristo não vos deixou tempo o bastante para vos ter educado nas artes da nossa sinuosa política…
JESUÍTA
Nestas artes, senhor Marquês, devo me crer atrasado, pois me escapa à compreensão as razões desse tratado. Nossas missões só tem legado à coroa espanhola riquezas, orgulho e trabalho. Os índios tem sido amigos, e mesmo fiéis vassalos, lutando como soldados nas guerras que vós, espanhóis, criais com vossas palavras. Os Sete Povos têm espantado a todos que os visitam e estudam, foram na França exaltados por Voltaire e Montesquieu. Tem sido um terreno fecundo onde florescem mais belas as plantas da arte e da vida. E porque trocá-los, senhor, pela colônia de Sacramento, lusitana há tanto tempo e sem o menor esplendor?
MARQUÊS DE VALDELÍRIOS
Logo vejo que há exagero no elogio aos vossos índios. Os Jesuítas confundem ruídos e gritos, com música e poesia. Para exercer o poder, é preciso picardia. Então não sabeis que os portugueses tem feito do roubo a indústria que lhes dá mais rendimentos, contrabandeando riquezas pela colônia de Sacramento?
JESUÍTA
Nesse caso, senhor, conscientes do que eles fazem, não podem os espanhóis evitar a ladroagem?
MARQUÊS DE VALDELÍRIOS
Aqui vos falta, caro padre, a malícia necessária. Pense um pouco, mas antes, deixai-me fazer uma observação: devo prevenir-vos do perigo que fazem certas companhias…
JESUÍTA
Perdão, Senhor Marquês, mais uma vez eu falho em decifrar vosso enigma. Não sei qual companhia tem assim me ameaçado.
MARQUÊS DE VALDELÍRIOS
A companhia poética, caro irmão Jesuíta, de um cavalheiro antigo, jovem, de origem semita.
JESUÍTA
Falais de Cristo…
MARQUES DE VALDELÍRIOS
É evidente que sim. Vós me pareceis tão ingênuo quanto ele. E vos previno: sendo assim, cuidado, irmão Jesuíta, podeis ter o mesmo fim.
JESUÍTA
Que espada cruel de palavras. Com vossa permissão, voltemos àquele assunto.
MARQUES DE VALDELÍRIOS
A bacia do Prata é o ponto final de três rios e inicial de mil conquistas. De norte a sul convém ser nossa. E…deixemos de rodeios… Se portugueses hoje fazem fortuna em Sacramento, mudando de dono a colônia mudam de cofre os proventos!
JESUÍTA
Vossas palavras me fazem duvidar de meu entendimento. Quereis dizer que o contrabando continuará a ser feito, desta vez por espanhóis, roubando colônias portuguesas?
MARQUES DE VALDELÍRIOS
Cuidado, irmão, cuidado que há muito perigo em deixar assim tão claras verdades discretas. Certas atitudes são melhor sucedidas, quando não explicadas, principalmente em política. A visão crítica, o esclarecimento, causam à execução do poder muito aborrecimento.
JESUÍTA
Eu já compreendi muito bem, senhor Marquês de Valdelírios, a sutileza de vossos desígnios. Venho, no entanto, em nome da minha irmandade, pedir-vos mais algum tempo afim de proceder a mudança. São mais de trinta mil índios, apegados à sua querência há mais de 130 anos. É preciso convencê-los de que devem deslocar-se. Além do mais é preciso trabalhar a nova terra, construir as moradias, isso tudo leva tempo. O prazo determinado para que tudo isso aconteça, não chega a inteirar um ano. Pedimos, portanto, paciência, e o tempo de mais três anos.
MARQUES DE VALDELÍRIOS
Admito que seja assim difícil a transferência, aumentarei o dito prazo. No entanto… três anos é muito tempo. Vós sabeis mais do que eu que, pela Sagrada Escritura, o Bom Deus fez esse mundo em apenas seis dias… Sendo vós companheiro de Cristo, algumas orações apressarão a transferência. Prorrogarei o tal prazo, e vos darei mais seis dias, afim de colaborar com a Divina Providência…
TERRA
Os Guaranis não admitiram o Tratado de Madrid.
CATEDRAL
Portugal e Espanha enviaram para combater os rebeldes, demarcadores de terra armados por um exército com soldados dos dois países.
TERRA
Em 1754 chegavam eles à coxilha de Santa Tecla. No comando dos portugueses estava o general Gomes Freire de Andrade. Os espanhóis eram liderados por Adonaegui e José Joaquim Viana, governador de Montevidéu.
JOSÉ JOAQUIM VIANA
São belas estas paragens… Não me agrada saber que vamos trocá-las pela Colônia de Sacramento.
GOMES FREIRE DE ANDRADE
Bem, senhor Joaquim Viana, devo considerar sua falta de motivação responsável pela nossa ineficiência na luta. Com canhões e artilharia temos conseguido bem menos do que esse bando de selvagens armados de lanças e flechas.
JOSÉ JOAQUIM VIANA
O senhor está subestimando o poder de nosso adversário. Esquece que nossos soldados lutam mais pelo salário, ao passo que os Guaranis, defendem seus territórios. Conhecem bem o terreno, sabem onde atocaiar-se, preparam boas armadilhas. Além de tudo são mestres na técnica das guerrilhas.
GOMES FREIRE DE ANDRADE
São bárbaros, no pior sentido. Queimam os seus povoados quando os crêem perdidos. Lutam como feras feridas, cavalgando sempre aos berros, sem pudor, quase despidos…
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Ora, general Gomes Freire de Andrade, estamos em plena guerra, ensopados de sangue até os olhos, e o senhor fala em pudor com tanta dignidade!
GOMES FREIRE DE ANDRADE
Pois preservo minhas virtudes, senhor Joaquim Viana, tanto nas batalhas de campo, quanto naquelas de cama…
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Bravo, Freire de Andrade… já basta tanto cinismo… Sejamos ao menos honestos dentro da nossa maldade.
GOMES FREIRE DE ANDRADE
Se quer chamar assim… Não esqueça, todavia, a nossa cumplicidade.
CATEDRAL
A luta prosseguia, favorecendo muitas vezes os Guaranis, que estavam solidamente unidos sob a chefia dos índios Sepé Tiarajú, e Nicolau Nhanguiru.
SEPÉ TIARAJÚ
Companheiros! Temos freado o inimigo! É preciso continuar lutando sempre, unidos, defendendo nossa querência, e acima de tudo a nossa vida independente! O pelotão de lanças está pronto?
ÍNDIOS
Impaciente e firme para qualquer batalha!
SEPÉ TIARAJÚ
Então, avancemos nessa trilha!
Viva a Nação dos Guaranis!
ÍNDIOS
Viva! E viva Sepé Tiarajú!
SEPÉ TIARAJÚ
Há um bem maior a ser louvado! Algo que vencerá mesmo que percamos a batalha: Terra que circula em nossos corpos, é teu o nosso trabalho. Ventos claros, rios prateados, independência natural, esposa comum, Liberdade, é por ti a nossa luta, e toda nossa lealdade!
ÍNDIOS
Em nome desta Terra, fora com a tirania dos colonizadores!
TODOS
Fora! Fora! Fora! Fora! Fora!
SEPÉ TIARAJÚ
Abaixo a opressão! Viva a Liberdade!
ÍNDIO
Companheiro Sepé vem de lá, novamente, um soldado portugues, com uma bandeira branca.
EMISSÁRIO
Venho em nome do General Gomes Freire de Andrade. Ele quer conceder-lhe uma conversa amigável.
SEPÉ TIARAJÚ
Gostam muito de palavras, estes nossos invasores. Se delas fizessem bom uso não seriam traidores.
EMISSÁRIO
Meu General lhe garante toda a segurança possível. E lhes entrega dez soldados, como reféns até sua volta.
SEPÉ TIARAJÚ
Já sei, já sei. É a vigésima vez que me vens esta semana. Desta vez aceito, vamos ao teu General.
GOMES FREIRE DE ANDRADE
Ora, ora, então é esse o grande chefe. Tão jovem e tão despojado de defesa. Agora não usa sequer camisa o pobre bárbaro.
SEPÉ TIARAJÚ
Me chamaste aqui, general de mercenários. Invadiram nossas terras. Assassinaram nossos irmãos.
És um intruso, mais do que eu, tu és um bárbaro.
GOMES FREIRE DE ANDRADE
Indígena insolente… Mas…mesmo assim… Sepé Tiarajú, eu te perdôo… Anda, apeia do teu cavalo. Podes beijar minha mão fidalga. Agradece por minha piedade em nome do Reino de Portugal, verdadeiro dono destas terras.
SEPÉ TIARAJÚ
Esta Terra já tem dono! Deus e São Miguel a entregaram aos animais que a tem povoado. Portanto, General assalariado, ajoelha-te tu e beija os cascos do meu cavalo.
TERRA
As batalhas continuavam, a cada dia mais flores de sangue em meus campos brotavam.
RUÍNAS
No dia sete de fevereiro de 1756, um esquadrão hispano lusitano chefiado pelo governador de Montevidéu, José Joaquim Viana, defrontou-se com Sepé Tiarajú e alguns outros índios.
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Soldados! Lá está o índio Sepé. Contra ele. Ataquem! Morto o líder, o adversário esmorece.
SEPÉ TIARAJÚ
Sempre em frente companheiros! Lutemos em nome desta terra, e da nossa liberdade! Fora com os invasores!
RUÍNAS
Um soldado português atingiu Sepé, cravando-lhe uma lança nas costas.
SEPÉ TIARAJÚ
Ah…Deixem-me, eu me recupero. Nicolau Nhanguiru assume o comando…podem ir. Vão, deixem-me…
JOAQUIM VIANA
Sepé! Sepé Tiarajú, ainda está vivo?
SEPÉ TIARAJÚ
Nunca…Sempre…
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Está delirando.
SEPÉ TIARAJÚ
Fora daqui…destruidores assassinos…
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Sepé Tiarajú! Sou o seu inimigo José Joaquim Viana. Antes de morrer, ouça…
SEPÉ TIARAJÚ
Morrer…Impossível…Quero viver…
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Ouça-me! Preciso falar-lhe. Eu me senti honrado por ter alguém tão bravo como inimigo. Preciso matá-lo agora.
SEPÉ TIARAJÚ
Fora daqui, maldade cínica… assassinos…eu quero viver…
JOSÉ JOAQUIM VIANA
Você não pode viver, Sepé. Não posso deixá-lo vivo. A lança que tem cravada é portuguesa. Aqui vai o tiro da Espanha.
TERRA
Tres dias depois travou-se a mais cruel batalha daquela guerra. Mil e duzentos Guaranis foram massacrados na batalha de Caiboaté. Nas lutas morreu Nicolau Nhanguiru, líder como fora Sepé.
CATEDRAL
Iniciava-se assim a destruição da Nação dos Guaranis.
TERRA
Basta! Basta! Não é preciso mais palavras. Os estranhos que vos olhem, catedral de vento. É eloquente o bastante a imagem de vossa ruína.
RUÍNAS
As estrelas continuam no céu, quer se vejam ou não. Assim continuará a luta do cacique de São Miguel e de seus irmãos assassinados. Enquanto sobreviver no coração do homem o desejo infinito de ser livre, de lutar contra a opressão, há de se ouvir no dia a dia o grito do índio Sepé.
SEPÉ TIARAJÚ
Terra que circula em nossos corpos, é teu o nosso trabalho. Ventos claros, rios prateados, independência natural, esposa comum, liberdade, é por ti a nossa luta, e toda nossa lealdade.
6 Comentários
Anita Moser
José Hamilton,
Santo Ângelo tem uma linda história que orgulha as pessoas que a conhecem e que, como você , aqui nasceram. Que todos a possam conhecer é o que considero muito importante! Obrigada pelo seu comentário!
Salvelina da Silva
Querida amiga Anita. Parabéns por esse expressivo e alentado relato sobre as Missões Jesuíticas, que equivale a um curso sobre esse assunto.
É o retrato de quem vive o sentido amplo da paixão pelas viagens, pela história e pela cultura. Tanto o texto como as fotos, pela exuberância e abrangência, nos prendem por completo e mesmo depois que chegamos ao final da leitura, o relato ressoa e continua repercutindo em nosso pensamento e somos agraciados com uma gama surpreendente de conhecimentos. Um abraço, amiga Anita.
Salvelina
Anita
Querida Salvelina!
Li com prazer o comentário onde dizes que ler o relato das Missões é como fazer um curso sobre o assunto. Sim, sinto que tudo o que se observa é fruto de um grande emaranhado de tempos, filosofias e realizações humanas. Concordo que há sempre muitos fatos interligados, processos esses a nível mundial e nacional que precisam ser revisitados para podermos entender, em maior amplitude, os fatos sobre os quais estamos dirigindo nossa atenção. Há também muitas lacunas em nosso conhecimento e esta postura de poder traçar um pano de fundo sempre me cativou e nada é pesado e difícil quando o que está em questão é descobrir o horizonte maior. Como vamos compreender uma linha, um monumento, qualquer coisa se não pudermos traçar um pano de fundo que nos dê condições de colocá-lo no tempo, no espaço e na cultura da época? O conhecimento é acima de tudo , um grande prazer! Muito grata por teu instigante comentário. Abraço grande!
Nei
Anita,
Parabenizo e agradeço pelo relato reunindo aspectos tão relevantes da nossa história, a partir da tua visita às Missões Jesuíticas.
Uma aula para lembrar de que muito do que temos e somos hoje, está alicerçado nos ombros daqueles que nos antecederam. Apesar de eventuais retrocessos que tem na sua origem os conflitos na luta pelo poder, visíveis do ponto de vista material pelas ruínas; fica o legado de quanto o esforço e criatividade do ser humano promovem avanços e superam obstáculos através da educação, interação e compartilhamento.
PARABÉNS!
Grato,
Nei
Anita
Querido Nei, sou muito grata pelo seu comentário! Você escreve, que esta viagem oportunizou reunir aspectos importantes de nossa história. Concordo com você, pois mesmo sendo tão importantes, ficaram no desconhecimento para a maioria de nós, estando ausentes dos nossos estudos escolares. De outro lado, como é salutar lembrar o muito que fizeram aqueles que nos antecederam! Certamente, não podemos deixar que este legado caia no esquecimento, mas sirva de estímulo para todos nós! Obrigada pelos parabéns!
josé hamilton minuzzi
Parabéns pelo relato, a narrativa histórica dos fatos que antecederam a criação de minha terra natal Santo Ângelo, mais uma vez, foi parabéns!